TODOS OS ESPÍRITOS PASSAM PELO UMBRAL APÓS A MORTE?

Antes de responder esta pergunta, primeiramente devemos compreender o que é o umbral.

Segundo o Espírito André Luiz, "O Umbral (...) começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.

Quando o espírito reencarna, promete cumprir o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta, é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo. Assim é que mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos.

(...) O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena.

(...)Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. (...) Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie.

(...) Pois o Umbral está repleto de desesperados. Por não encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos, após a morte do corpo físico, e, sentindo que a coroa da vida eterna é a glória intransferível dos que trabalham com o Pai, essas criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificações. "Nosso Lar" tem uma sociedade espiritual, mas esses núcleos possuem infelizes, malfeitores e vagabundos de várias categorias. É zona de verdugos e vítimas, de exploradores e explorados. 

(...)A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher. Uma certeza, porém, posso dar-lhe: - não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. Cada espírito lá permanece o tempo que se faça necessário.

(...) E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso."  (Nosso Lar. Cap. 12. O Umbral. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier).  

Portanto, segundo a explicação acima, nem todos os espíritos após desencarnarem passam pelo umbral ou zonas inferiores,  pois aqueles que cumprem seus deveres sagrados estão em outra situação.

Na obra "O Céu e o Inferno" (Cap. 2 à 7) de Allan Kardec, há exemplos de que existem espíritos em diversos graus de evolução (espíritos felizes, espíritos em condições medianas, espíritos sofredores, suicidas, criminosos arrependidos, espíritos endurecidos), que estão em diversas condições e locais após sua morte.

Os Espíritos felizes e medianos não passam por zonas inferiores, como por exemplo, o Umbral. No entanto, espíritos sofredores, suicidas, criminosos arrependidos ou espíritos endurecidos, podem ficar por determinado período em regiões inferiores de sofrimento ou até mesmo em locais piores, que correspondem ao clássico inferno.

Vejamos alguns exemplos:

Ao ser evocado, o Sr. Sanson, um Espírito feliz, que era um antigo membro da Sociedade Espírita de Paris e sofria de atrozes padecimentos, disse que morava em outro mundo melhor e que sua pátria era o espaço, afirmando:

"-R. Oh! certamente, eu não sou mais desse mundo, porém, estarei sempre ao vosso lado para vos proteger e sustentar, a fim de pregardes a caridade e a abnegação, que foram os guias da minha vida. Depois, ensinarei a verdadeira fé, a fé espírita, que deve elevar a crença do bom e do justo; estou forte, robusto, em uma palavra - transformado. Em mim não reconhecereis mais o velho enfermo que tudo devia esquecer, fugindo de todo prazer e alegria. Eu sou Espírito e a minha pátria é o Espaço, o meu futuro é Deus, que reina na imensidade. Desejara poder falar a meus filhos, ensinar-lhes aquilo mesmo que sempre desdenharam acreditar." (O Céu e o inferno. Cap. 2. Questão 5. Allan Kardec)

Ao ser evocada, a Sra. Hélene Michel, um Espírito mediano, que desencarnou com 25 anos de idade, esclarece que residia na sua própria casa e que não era infeliz, dizendo:

"- Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões conseqüentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la. Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência." (O Céu e o inferno. Cap. 3. Allan Kardec)

Ao ser evocado, Novel, um Espírito sofredor, conhecido do médium, revela o sofrimento que passou em zonas inferiores após sua morte,  dizendo:

" - Vou contar-te o meu sofrimento quando morri. Meu Espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande dificuldade em desembaraçar-se - o que já foi, por si, uma rude angústia. A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa que eu não podia crer na sua perda. Por isso procurava o corpo, estava admirado, apavorado por me ver perdido num turbilhão de sombras. Por fim, a consciência do meu estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma luz implacável me iluminava os mais secretos âmagos da alma, que se sentia desnudada e logo possuída de vergonha acabrunhante. Procurava fugir a essa influência interessando-me pelos objetos que me cercavam, novos, mas que, no entanto, já conhecia; os Espíritos luminosos, flutuando no éter, davam-me a idéia de uma ventura a que eu não podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas umas em tedioso desespero; furiosas ou irônicas outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre a terra a que me chumbava. Eu via agitarem-se os humanos cuja ignorância invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas, ou antes reencontradas, invadiram-me simultaneamente. (...)Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar, invejando os eleitos cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos que me perseguiam com remoques, desprezando os humanos cujas torpezas eu via, passei de profundo abatimento a uma revolta insensata." (O Céu e o inferno. Cap. 4. Allan Kardec)

Ao ser evocada, o Espírito de uma jovem suicida, que se suicidou com o seu amante, relata também que o local onde vivia era escuro, sentia frio e que ouvia vozes horrendas, ao responder as seguintes perguntas:

 "Vedes o vosso amante, com o qual vos suicidastes?

- R. Nada vejo, nem mesmo os Espíritos que comigo erram neste mundo. Que noite! Que noite! E que véu espesso me circunda a fronte!

Que sensação experimentastes ao despertar no outro mundo?

- R. Singular! Tinha frio e escaldava. Tinha gelo nas veias e fogo na fronte! Coisa estranha, conjunto inaudito! Fogo e gelo pareciam consumir-me! E eu julgava que ia sucumbir uma segunda vez!

(...) Acreditais na perenidade dessa situação?

- R. Oh! sempre! sempre! Ouço às vezes risos infernais, vozes horrendas que bradam: sempre assim!"  (O Céu e o inferno.  Cap. 5. Duplo suicídio, por amor e por dever. Allan Kardec)

Ao ser evocado, Benoist, um Espírito de um criminoso arrependido que morreu em 1704 como um frade sem fé, afirma que vive num verdadeiro inferno, ao descrever a sua história,  a seguir:

" - Pobre e indolente, ordenei-me para ter uma posição, sem pendor aliás para tal encargo. Inteligente, consegui essa posição; influente, abusei do meu poderio; vicioso, corrompi aqueles que tinha por missão salvar; cruel, persegui os que me pareciam querer verberar os meus excessos; os pacíficos foram por mim inquietados. As torturas da fome de muitas vítimas eram extintas amiúde pela violência. Agora, sofro todas as torturas do inferno, ateando-me as vítimas o fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciáveis perseguem-me; cresta-me a sede os lábios escaldantes, sem que uma gota lhes caia em refrigério. Orai pelo meu Espírito." (O Céu e o inferno.  Cap. 6. Allan Kardec)

Ao ser evocado, um Espírito aborrecido e endurecido,  relata que vive no mundo espiritual com outros Espíritos entediados e sofre muito,  ao responder as seguintes perguntas:

"P. Estais há muito em tal situação? - R. Faz cento e oitenta anos mais ou menos. - P. Que fizestes na Terra? - R. Nada de bom.

P. Qual a vossa posição entre os Espíritos? - R. Estou entre os entediados. - P. Mas isso não forma categoria... -R. Entre nós, tudo forma categoria. Cada sensação encontra suas semelhantes, ou suas simpatias que se reúnem.

Por que permanecestes tanto tempo estacionário, sem que fosseis condenado a sofrer? - R. É que eu estava votado ao tédio, que entre nós é um sofrimento. Tudo o que não é alegria, é dor. (...)

Qual poderia ter sido a causa desse aborrecimento de que vos acusais? - R. Conseqüências da existência. O tédio é filho da inação; por não ter eu sabido utilizar o longo tempo de encarnação, as conseqüências vieram refletir-se neste mundo." (O Céu e o inferno.  Cap. 7. Allan Kardec)

"Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo presas de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que possa aproveitar ao exercício da sua maldade - o que os desespera, visto como o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.

Não elevam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos.

Não lhes bastando esse motejo, atiram-se para a Terra quais abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que lhes dê fácil acesso às tentações. " (O Céu e o inferno. Cap. 4. Allan Kardec)

Na série de livros " A vida no mundo espiritual" ditados pelo Espírito André Luiz e psicografados por Chico Xavier, confirma-se  esta teoria de que os Espíritos após morte sofrem um período mais longo ou curto em zonas inferiores , vivem em cidades espirituais ou em esferas superiores (sendo possível visitar a Terra ou conviver com os parentes), segundo o mal ou o bem que fizeram enquanto estavam encaranados.

No caso do Espírito André Luiz, que morreu de suicídio inconsciente, devido ter encurtado a sua vida pela falta de cuidado com a saúde (ausência de automínio,  pelo excesso de prazeres, relativos a alimentação e bebidas alcoólicas),  temos a seguinte informação:

"(...) sua permanência  nas esferas inferiores  (umbral) durou mais de oito anos consecutivos." (Nosso Lar. Cap. 7. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier). Somente depois deste período, em que demonstrou arrependimento, foi resgatado e levado para colônia Nosso Lar, cidade espiritual de transição, onde foi submetido a tratamento espiritual, realizou alguns estudos e começou a trabalhar, podendo visitar o planeta Terra.

No entanto, outros personagens deste livro, vivenciaram situações diferentes.   Eloísa, por exemplo, precisou apenas ficar pouco tempo no umbral, como menciona a sua avó Laura, que reside na colônia Nosso Lar:

"Minha neta demorou-se no Umbral quinze dias, em forte sonolência, assistida por nós. Deveria ingressar nos pavilhões hospitalares, mas, afinal, veio submeter-se aos meus cuidados diretos." (Nosso Lar. Cap. 19. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

No caso da mãe de Eloísa, há relatos de que permaneceu somente algumas horas no umbral, conforme descrição abaixo:  

"A mãe de Eloísa não tardará. A passagem dela através do Umbral será somente de algumas horas, em vista dos seus profundos sacrifícios, desde a infância. Pelo muito que sofreu não precisará dos tratamentos da Regeneração." (Nosso Lar. Cap. 21. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

No entanto, há informações de que outros personagens, narrados em outro livro, não precisaram passar pelo umbral: os amigos Evelina e Ernesto, que morreram no hospital devido a doenças, despertaram num outro hospital no mundo espiritual,  conforme o trecho transcrito abaixo:

"- Há quantos dias aqui?

- Positivamente, não sei - adiantou Ernesto, denotando fome de conversação.

E completou:

- Tenho matutado bastante naquele nosso entendimento de Poços de Caldas, acalentando sempre a esperança de revê-la...

- Gentileza de sua parte.

Evelina confidenciou a perplexidade em que vivia. Despertara naquela instituição de saúde que desconhecia de todo, obviamente transferida de casa por imposição da família, porquanto o único fato de que se recordava com clareza era justamente o desmaio em que descambara no tope de uma crise das piores que havia atravessado.

E salientou, sorrindo, que tivera a impressão de morrer...

Quanto tempo desacordada? Ignorava." (E a vida continua. Cap. 6. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)

Além disso, há outras revelações de que existem espíritos que vivem em esferas superiores. Quando o Espírito André Luiz, perguntou para o assistente de enfermagem onde estava a sua mãe, obteve a seguinte resposta:  

"- Não vive em "Nosso Lar" - esclareceu Lísias -, habita esferas mais altas, onde trabalha não somente por você.& (Nosso Lar. Cap. 7. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

Segundo Allan Kardec, " Pelo estudo da situação dos Espíritos, o homem sabe que a felicidade e a desdita, na vida espiritual, são inerentes ao grau de perfeição e de imperfeição; que cada qual sofre as conseqüências diretas e naturais de suas faltas, ou, por outra, que é punido no que pecou; que essas conseqüências duram tanto quanto a causa que as produziu; que, por conseguinte, o culpado sofreria eternamente, se persistisse no mal, mas que o sofrimento cessa com o arrependimento e a reparação; ora, como depende de cada um o seu aperfeiçoamento, todos podem, em virtude do livre-arbítrio, prolongar ou abreviar seus sofrimentos, como o doente sofre, pelos seus excessos, enquanto não lhes põe termo." (A Gênese. Cap. 1. Item 32. Allan Kardec)

"Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na realidade não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: - punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-se à figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a realidade. A palavra purgatório sugere a idéia de um lugar circunscrito (1): eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação." (O Céu e o inferno. Primeira parte. Cap. 5. Item 9. Allan Kardec)

"O Espiritismo não vem, pois, negar as penas futuras; vem ao contrário, confirmá-las. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis." (O Céu e o Inferno. Primeira parte. Cap. 5. Item 8. Allan Kardec)

"Embora estejam os Espíritos por toda parte, os  mundos  são os lugares onde de preferência se reúnem, em razão da analogia que existe entre eles e aqueles que os habitam. Em torno dos  mundos  adiantados abundam os Espíritos superiores; em torno dos   atrasados  pululam  os Espíritos inferiores. A Terra é ainda um destes últimos. "(Revista Espírita. Março de 1865. Onde é o céu? Allan Kardec)

Por que muitos dizem que a maioria dos espíritos após desencarnarem passam por zonas inferiores?

Pois a maioria da humanidade não cumpre com seus deveres morais e materiais aqui na Terra. De acordo com o Espírito André Luiz, "(...) É indispensável considerar que setenta por cento dos administradores terrenos não pesam os deveres morais que lhes competem, e que a mesma porcentagem pode ser adjudicada a quantos foram chamados à subordinação."  (Nosso lar. Cap. 22. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier).

Obs.(1): Segundo Paulo Neto,  "A explicação de "não haver região determinada e circunscrita no espaço" nada tem a ver com a existência ou não das colônias espirituais ou mesmo do Umbral, porquanto a questão que o Codificador apresenta aos Espíritos superiores se refere ao conceito, ainda entranhado na crença popular e, infelizmente, em uma parcela de espíritas, de que "o céu" e "o inferno" seriam locais circunscritos, ou seja, teriam um espaço físico delimitado para "gozo" e "penas" após a morte." (Umbral, há base doutrinária para sustentá-lo? Paulo da Silva Neto Sobrinho)

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