TODAS AS OBRAS ESPÍRITAS PSICOGRAFADAS POR MÉDIUNS DEVEM SER CONSIDERADAS VERDADEIRAS?

Os Espíritas devem analisar as comunicações espirituais ou psicografias dos médiuns, conforme a recomendação de Allan Kardec, que diz assim: "Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, senão aquilo que vos é de uma evidência certa. Desde que surja uma opinião nova, por pouco duvidosa que vos pareça, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. Aquilo que é reprovado pela razão e pelo bom senso deve ser rejeitado firmemente. Mais vale repelir dez verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa." (Revista Espírita.  Agosto de 1861. Da influência moral dos médiuns nas comunicações. Allan Kardec)

Em " O Livro dos Médiuns", Allan Kardec faz algumas perguntas sobre este assunto e obtém as seguintes respostas:

Visto que as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, como é que um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas, ou grosseiras?

"Conheces, porventura, todos os escaninhos da alma humana? Demais, pode a criatura ser leviana e frívola, sem que seja viciosa. Também isso se dá, porque, às vezes, ele necessita de uma lição, a fim de manter-se em guarda."

Por que permitem os Espíritos superiores que pessoas dotadas de grande poder, como médiuns, e que muito de bom poderiam fazer, sejam instrumentos do erro?

"Os Espíritos de que falas procuram influenciá-las; mas, quando essas pessoas consentem em ser arrastadas para mau caminho, eles as deixam ir. Daí o servirem-se delas com repugnância, visto que a verdade não pode ser interpretada pela mentira."

Será absolutamente impossível se obtenham boas comunicações por um médium imperfeito?

"Um médium imperfeito pode algumas vezes obter boas coisas, porque, se dispõe de uma bela faculdade, não é raro que os bons Espíritos se sirvam dele, à falta de outro, em circunstâncias especiais; porém, isso só acontece momentaneamente, porquanto, desde que os Espíritos encontrem um que mais lhes convenha, dão preferência a este."

Qual o médium que se poderia qualificar de perfeito?

"Perfeito, ah! bem sabes que a perfeição não existe na Terra, sem o que não estaríeis nela. Dize, portanto, bom médium e já é muito, por isso que eles são raros. Médium perfeito seria aquele contra o qual os maus Espíritos jamais ousassem, uma tentativa de enganá-lo. O melhor é aquele que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido o menos enganado."

Se ele só com os bons Espíritos simpatiza, como permitem estes que seja enganado?

"Os bons Espíritos permitem, às vezes, que isso aconteça com os melhores médiuns, para lhes exercitar a ponderação e para lhes ensinar a discernir o verdadeiro do falso. Depois, por muito bom que seja, um médium jamais é tão perfeito, que não possa ser atacado por algum lado fraco. Isto lhe deve servir de lição. As falsas comunicações, que de tempos a tempos ele recebe, são avisos para que não se considere infalível e não se ensoberbeça. Porque, o médium que receba as coisas mais notáveis não tem que se gloriar disso, como não o tem o tocador de realejo que obtém belas árias movendo a manivela do seu instrumento." (O Livro dos Médiuns. Cap. 20. Item 226. Allan Kardec)

Sendo assim, de acordo com Allan Kardec, "TODA  TEORIA  EM MANIFESTA  CONTRADIÇÃO COM O BOM SENSO, com uma lógica rigorosa e com os dados  positivos já adquiridos , DEVE SER REJEITADA, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura. (...) Uma só garantia séria existe para o ensino  dos  Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Foi essa unanimidade que pôs por terra todos  os sistemas parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. (...) Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princípio da doutrina. " (O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Introdução.  Allan Kardec)

"O ESPIRITISMO É A TERCEIRA  REVELAÇÃO DA  LEI DE DEUS, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma MULTIDÃO INUMERÁVEL DE INTERMEDIÁRIOS."  (O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Cap. 1. Item 6. Allan Kardec)

"Allan Kardec teve a oportunidade de estudar em O Livro dos Médiuns, na parte em que apresenta as dissertações mediúnicas (capítulo 31º), diversas mensagens, das quais ele, depois de tê-las analisado, anota que jamais poderiam proceder de Vicente de Paula, de Maria de Nazaré e de outros tantos espíritos respeitados e considerados pela Humanidade. É o caso em que certas entidades banais dão nomes de vultos que gozam ou que gozaram no mundo de respeitosa projeção." (Diretrizes de segurança. Cap. 95. Raul Teixeira / Divaldo Franco)

Segundo J. Herculano Pires, "A facilidade com que a maioria das pessoas aceita livros de evidente mistificação, como os Evangelhos de Roustaing, as obras de Ramatis, e tantas outras, eivadas de contradições e de passagens ridículas, destinadas especialmente a ridicularizar a Doutrina, provém dos milênios de sujeição das massas à mistificação clerical." (O Centro Espírita. Cap. 3. J. Herculano Pires)

Portanto, devido a venda indiscriminada de livros com falsos conceitos, o Espírita deve utilizar critérios rigorosos de seleção dos livros que serão usados para o estudo, rejeitando sem hesitação tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso.

Em uma entrevista, o próprio Chico Xavier afirmou que não se considerava um médium infalível e que já havia sido vítima de mistificação várias vezes. Ele deu a seguinte resposta, quando lhe perguntaram sobre o assunto:
"Por que sucede isso a você, que já psicografou quase cem livros?
 — Decerto que o Mundo Espiritual permite que eu passe por essas provações para mostrar-me que receber livros dos Instrutores Espirituais não me cria privilégio algum, que estou apenas cumprindo um dever e que sou um médium tão falível quanto qualquer outro, com necessidade constante de oração e trabalho, boa vontade e vigilância." (No Mundo de Chico Xavier. Cap. 2. Questão 37. Chico Xavier/ Elias Barbosa)

De acordo com Raul Teixeira, "É importante, porém, que nos lembremos de que todas as nossas ações, como se reporta O Livro dos Espíritos, são conduzidas pelos espíritos. Normalmente são eles que nos dirigem, conforme o item 459, da citada obra. Logo, quando se começa a fraudar, a mistificar por quaisquer interesses, no início é o próprio indivíduo com a sua mente doente, mas, a partir daí, passa a atrelar-se a entidades mistificadoras, submetido, então, à influência espiritual. A princípio, a criatura é mistificadora sem ser propriamente médium. Depois advém a “sociedade” de forças, surgindo o engodo. No primeiro impulso era fruto do encarnado, depois os espíritos complementam. "(Diretrizes de segurança. Cap. 95. Raul Teixeira / Divaldo Franco)

Diante do exposto, devemos seguir a orientação do próprio Chico Xavier que nos disse,  (...) "Que se um dia, Emmanuel aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que deveria PERMANECER COM JESUS E KARDEC, procurando esquecê-lo."   (No mundo de Chico Xavier. Chico Xavier/ Elias Barbosa)

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