D. Genoveva era poderosa fazendeira e senhora de muitos escravos no início do século XIX.
Certa tarde, porque desaparecera uma de suas jóias de estimação, reuniu os escravos que trabalhavam no interior da casa grande e ordenou com voz aterradora:
– Se o ladrão não for descoberto até a noite, todos vocês serão duramente castigados.
Todos conheciam a impiedade da poderosa senhora. Ninguém escapava dos seus acessos de raiva, nem os velhos, nem as crianças.
Apavorados, retiraram-se. Cochicharam entre si. Rememoraram fatos à procura de algum indício.
Poucos meses antes desse fato, havia sido comprada uma escrava, ainda jovem, para os serviços da cozinha. Quase não falava com ninguém porque tinha um filho pequenino, com quem se ocupava nos pouquíssimos momentos de descanso. Alguns escravos estranhavam a sua maneira de ser, tão silenciosa e afastada de todos, embora fosse indelicada.
Naquela tarde de aflição, três escravos procuraram D. Genoveva denunciando a jovem escrava como a mais provável autora do furto.
D. Genoveva chamou o capataz e ordenou que lhe trouxesse a cozinheira. Acusou-a severamente. A jovem defendeu-se com humildade. Suplicou piedade; mas nada valeu diante da sentença da rica senhora: cem chicotadas até que revelasse onde escondeu a jóia.
O capataz cumpriu a ordem recebida. A cada chicotada, a escrava instintivamente recuava.
Em certo momento tropeçou numa grande pedra, desequilibrou-se e caiu nas águas de caudaloso rio que atravessava a fazenda e onde eram habitualmente jogados os escravos que morriam. Em pouco tempo, desapareceu o corpo da infeliz, ficando impune, diante dos homens, mais este crime da escravidão.
* * *
Entretanto, para a Divina Justiça nada passa em vão.
Um dia D. Genoveva desencarnou e sofreu terrivelmente os remorsos da consciência. Via-se deformada, medonha... Dia após dia, ano após ano...
Cansada de tanto sofrer, suplicou a Deus o esquecimento de seus atos do passado. E foi encaminhada para a nova encarnação.
Nasceu novamente, não mais na condição de pessoa poderosa e rica, mas em família humilde do nosso interior.
Seus pais morreram quando criança, Rebeca - esse era o seu novo nome - foi conduzida a uma casa de família onde, desde a adolescência, fazia os serviços domésticos. Mais tarde casou-se e recebeu no lar três filhinhos.
Certa noite, depois de retornar a sua casa, desabou violento temporal. As águas dos rios transbordaram invadindo muitas casas da região.
Rebeca e a família tentaram sair mas era impossível. Na sua aflição de mãe, desejando salvar os filhos, Rebeca tentou alcançar um pequeno bote guardado em local próximo.
Repentinamente uma correnteza arrastou-a para longe e Rebeca, perdendo as forças, desapareceu na torrente de água e lama.
Havia chegado o tempo de resgate do crime cometido, quando Rebeca ainda era a poderosa Sinhá Genoveva.
(Fonte: Apostila Lar Fabiano de Cristo)