O Espírito André Luiz estava ouvindo a palestra do instrutor espiritual Alexandre, que estava próximo a crosta terrestre, quando fez o seguinte relato:
Não havia terminado, quando se acercou de nós, inesperadamente, uma velhinha simpática.
— Justina, minha irmã, que o Senhor a abençoe! — saudou-a o orientador, gentil.
A entidade amiga, que demonstrava muita inquietude no olhar, respondeu com afetuoso respeito e explicou-se:
— Alexandre, tenho necessidade de seu auxílio urgente e vim ao seu encontro. Desculpe-me.
E, antes que o instrutor pudesse sondar-lhe verbalmente a aflição, a interlocutora prosseguiu:
— Meu filho Antônio encontra-se em estado gravíssimo...
Agora era Alexandre que a interrompia:
— Adivinho o que se passa. Quando o visitei, no mês findo, notei-lhe as perturbações circulatórias.
— Sim, sim — continuou a mãe aflita. — Antônio vive no círculo de pensamentos muito desregrados, apesar do bom coração. E hoje trouxe para o leito de repouso tantas preocupações descabidas, tanta angústia desnecessária, que as suas criações mentais se transformaram em verdadeiras torturas. Embalde auxiliei-o com os meus humildes recursos; infelizmente, é tão grande o seu desequilíbrio interior, que toda a minha colaboração resultou inútil, permanecendo-lhe o cérebro sob a ameaça dum derramamento mortífero.
E sentindo a gravidade do minuto, acrescentou, triste:
— Ó Alexandre, bem sei que devemos subordinar nossos desejos aos desígnios de Deus. Entretanto, meu filho necessita de mais alguns dias na Terra. Creio que, em dois meses, conseguirei dele, indiretamente, a solução de todos os problemas que lhe afetam a paz da família. Sua autoridade pode auxiliar-nos! seu coração edificado em Cristo permanece em condições de fazer-nos semelhante bem!...
Reconhecendo a urgência do assunto, exclamou o orientador:
— A caminho! não temos um segundo a perder! Daí a poucos instantes, penetramos na residência confortável. A velhinha, aflita, conduziu-nos a uma alcova espaçosa, onde o filho, chefe da casa, repousava metido em alvos lençóis, dando-me a impressão característica dum moribundo.
Antônio parecia próximo dos setenta anos e exibia todos os sinais do arterioesclerótico adiantado.
O quadro era agora profundamente educativo para mim, que entrara num círculo valioso de observações novas.
Identificava perfeitamente o estado pré-agônico, em todas as suas expressões físico-espirituais. A alma confusa, inconsciente, movimentava-se com dificuldade, quase que totalmente exteriorizada, junto do corpo imóvel, a respirar dificilmente.
Enquanto Alexandre se inclinava paternalmente sobre ele, observei que estávamos diante de uma trombose perigosíssima, por localizar-se numa das artérias que irrigam o córtex motor do cérebro. A apoplexia não se fizera esperar. Mais alguns instantes e a vítima estaria desencarnada.
Alexandre, que centralizara todas as atenções no enfermo, tocou-lhe o cérebro perispiritual e falou com autoridade serena:
— Antônio, mantenha-se vigilante! Nosso auxílio pede a sua cooperação!
O moribundo, desligado parcialmente do corpo, abriu os olhos fora do invólucro de carne, dando a entender vagas noções de consciência, e o instrutor prosseguiu:
— Você foi acidentado pelos próprios pensamentos em conflito injustificável. Suas preocupações excessivas criaram-lhe elementos de desorganização cerebral. Intensifique o desejo de retomar as células físicas, enquanto nos preparamos a fim de ajudá-lo. Este momento é decisivo para as suas necessidades.
O interpelado não respondeu, mas observei que Antônio compreendera a advertência, no imo das forças da consciência, colocando-se em boa posição para colaborar em favor de si mesmo.
Em seguida, o orientador iniciou complicadas operações magnéticas, no corpo inanimado, ministrando energias novas à espinha dorsal. Decorridos alguns instantes, colocou a destra ao longo do fígado e, mais tarde, demorando-a no cérebro físico, bem à altura da zona motora, chamou-me e disse:
— André, mantenha-se em prece, cooperando conosco. Convocarei alguns irmãos em serviço, nesta noite, para auxiliar-nos.
E acentuou, após meditar por alguns segundos:
— O grupo do Irmão Francisco não pode estar longe.
Dito isto, Alexandre assumiu atitude de profunda concentração de pensamento.
Não passou mais dum minuto e pequena expedição de oito entidades, quatro companheiros e quatro irmãs, penetrou o recinto doméstico, em religioso silêncio.
Saudamo-nos todos, ligeiramente, e o instrutor dirigiu-se, atencioso, à entidade que guardava atribuições de chefia.
— Francisco, precisamos aqui das emanações de algum dos nossos amigos encarnados, cujo veículo material esteja agora em repouso equilibrado.
E ao passo que o novo irmão observava, cuidadoso, o agonizante, Alexandre acrescentava:
— Conforme observa, estamos diante dum caso gravíssimo. É preciso muito critério na escolha do doador de fluidos.
O dirigente dos socorristas pensou um momento e obtemperou:
— Temos um companheiro que nos atenderá razoavelmente. Trata-se de Afonso. Enquanto vou buscá-lo, nosso grupo auxiliará sua ação curativa, emitindo forças de colaboração magnética, através da prece.
Francisco ausentou-se imediatamente.
Nesse instante, a velhinha aproximou-se do instrutor e falou, respeitosa:
— Se há necessidade de fluidos de irmãos encarnados, quem sabe poderíamos empregar o concurso de minhas netas que repousam nos aposentos próximos?
— Não — respondeu Alexandre, delicadamente —, não atenderiam as exigências em curso. Precisamos de alguém suficientemente equilibrado no campo mental.
A mãe inquieta afastou-se, enxugando os olhos.
Atendendo a sinal afetuoso do orientador, aproximei-me, observando o doente de mais perto, mantendo-me embora na íntima atitude de oração.
— Antônio é viúvo faz vinte anos — explicou Alexandre — e está nas vésperas de vir ter conosco, no Plano espiritual. Nosso amigo, porém, necessita de mais alguns dias na Esfera da Crosta para deixar alguns problemas sérios devidamente solucionados. O Senhor nos concederá a satisfação de colaborar no reerguimento provisório de suas forças.
E fosse porque me detinha a observar o grupo de entidades que oravam, silenciosas, ou em razão de pretender beneficiar-me com novos ensinamentos, o instrutor esclareceu:
— Temos aqui o grupo do Irmão Francisco. Trata-se de uma das inumeráveis turmas de serviço que nos prestam cooperação. Muitos companheiros consagram-se aos trabalhos dessa natureza, mormente à noite, quando as nossas atividades de auxílio podem ser mais intensas.
Verdadeiro mundo de interrogações assomava-me ao cérebro, a fim de solucionar as questões do momento; contudo, compreendendo a gravidade dos minutos, em face da tarefa para a qual fôramos chamados, resolvi silenciar.
Não decorreu muito tempo e Francisco voltava seguido de alguém. Tratava-se do companheiro encarnado a que Alexandre se referira.
Não houve oportunidade para saudações. O orientador, tomando-lhe a destra, conduziu-o imediatamente à cabeceira do moribundo, dizendo-lhe com autoridade afetuosa:
— Afonso, não temos um segundo a perder. Coloque ambas as mãos na fronte do enfermo e conserve-se em oração.
O interpelado não pestanejou. Dando-me a impressão dum veterano em semelhantes serviços de assistência, parecia sumamente despreocupado de todos nós, fixando-se tão somente na obrigação a cumprir.
Foi então que vi Alexandre funcionar como verdadeiro magnetizador. Recordando meus antigos trabalhos médicos nos casos extremos de transfusão de sangue, via-lhe perfeitamente o esforço de transferir vigorosos fluidos de Afonso para o organismo de Antônio, já moribundo.
Na qualidade de discípulo, acentuando minhas faculdades de análise, junto de preciosa lição, observei que o semblante do enfermo transformava-se gradualmente. À medida que o instrutor movimentava as mãos sobre o cérebro de Antônio, este revelava sinais crescentes de melhoras. Verificava, sob forte assombro, que a sua forma perispiritual reunia-se devagarinho à forma física, integrando-se, harmoniosamente, uma com a outra, como se estivessem, de novo, em processo de reajustamento, célula por célula.
Depois de um quarto de hora, segundo meu cálculo de tempo, estava finda a laboriosa intervenção magnética e Alexandre, chamando a velhinha, acentuou:
— Justina, o coágulo acaba de ser reabsorvido e conseguimos socorrer a artéria com os nossos recursos, mas Antônio terá, no máximo, cinco meses a mais, de permanência na Terra. Se você pleiteou o auxílio de agora para ajudá-lo a resolver negócios urgentes, não perca as oportunidades, porque os reparos deste instante não perdurarão por mais de cento e cinquenta dias. E não se esqueça de preveni-lo, pelos processos intuitivos ao nosso alcance, quanto ao cuidado que deverá manter consigo mesmo no terreno das preocupações excessivas, mormente à noite, quando ocorrem os fenômenos desastrosos mais sérios de circulação, em vista da invigilância de muitas pessoas que se valem das horas sagradas do repouso físico para a criação de fantasmas cruéis, no campo vivo do pensamento. Se o nosso amigo despreocupar-se da autocorrigenda, talvez desencarne antes dos cinco meses. Toda a cautela é indispensável.
A genitora agradeceu, comovida, em lágrimas de contentamento.
Alexandre recomendou ao “socorrista” encarnado que retirasse as mãos de sobre a fronte do enfermo e vi, então, o inesperado. O doente grave, reintegrado nas funções orgânicas, com a harmonia possível, abriu os olhos físicos, como se estivesse profundamente embriagado...
(Missionários da Luz. Cap. 7. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)