Fatalidade ou destino são dois termos que se empregam, para expressar a força determinante e irrevogável dos acontecimentos da vida, porém, conforme o verdadeiro sentido da palavra, a fatalidade só existe no momento da morte.
Somos nós que construímos o nosso próprio destino, em decorrência do nosso livre-arbítrio desta vida e, devido as consequências das escolhas feitas em existências passadas.
"Se todas as coisas estivessem previamente determinadas e nada se pudesse fazer para impedi-las ou modificar-lhes o curso, a criatura humana se reduziria a simples máquina, destituída de liberdade e, pois, inteiramente irresponsável." ( As leis morais. Cap. 36. Rodolfo Calligaris).
Vejamos algumas questões abaixo de "O Livro dos Espíritos" que explicam com mais detalhes sobre este assunto:
Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?
"Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de agir. Sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina." ( O Livro dos Espíritos. Questão 843. Allan Kardec)
Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentido ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso em que se torna o livre arbítrio?
" A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la, ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja, inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave. "(O Livro dos Espíritos. Questão 851. Allan Kardec)
Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós?
"Todas, não é bem o termo, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o gênero de provas; os detalhes são consequências da posição escolhida, e frequentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslize se expunha, mas não conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua vontade ou do seu livre arbítrio: O Espírito sabe que, escolhendo esse caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, que influem no destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante prudente. Se ao passar pela rua uma telha te cair na cabeça, não penses que estava escrito, como vulgarmente se diz. "(O Livro dos Espíritos. Questão 259. Allan Kardec).
O homem que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará assassino?
"Não. Sabe apenas que, ao escolher uma vida de lutas terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque depende quase sempre dele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o Espírito soubesse com antecedência que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso. Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre arbítrio. De resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas: os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa está fora de vós e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade." (O Livro dos Espíritos. Questão 861. Allan Kardec).
Pode o Espírito enganar-se quanto à eficácia da prova que escolheu?
"Pode escolher uma que esteja acima de suas forças e sucumbir. Pode também escolher alguma que nada lhe aproveite, como sucederá se buscar vida ociosa e inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos Espíritos, verifica que nada ganhou e pede outra que lhe faculte recuperar o tempo perdido."(O Livro dos Espíritos. Questão 269. Allan Kardec).
A que se devem atribuir as vocações de certas pessoas e a vontade que sentem de seguir uma carreira de preferência a outra?
"Parece-me que vós mesmos podeis responder a esta pergunta. Pois não é isso a consequência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas e sobre o progresso efetuado em existência anterior?" (O Livro dos Espíritos. Questão 270. Allan Kardec).
Pessoas existem que nunca logram bom êxito em coisa alguma, que parecem perseguidas por um mau gênio em todos os seus empreendimentos. Não se pode chamar a isso fatalidade?
"Será uma fatalidade, se lhe quiseres dar esse nome, mas que decorre do gênero da existência escolhida. É que essas pessoas quiseram ser provadas por uma vida de decepções, a fim de exercitarem a paciência e a resignação.
Entretanto, não creias seja absoluta essa fatalidade. Resulta muitas vezes do caminho falso que tais pessoas tomam, em discordância com suas inteligências e aptidões. Grandes probabilidades tem de se afogar quem pretender atravessar a nado um rio, sem saber nadar. O mesmo se dá relativamente à maioria dos acontecimentos da vida. Quase sempre obteria o homem bom êxito, se só tentasse o que estivesse em relação com as suas faculdades. O que o perde são o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam da senda que lhe é própria e o fazem considerar vocação o que não passa de desejo de satisfazer a certas paixões. Fracassa por sua culpa. Mas, em vez de culpar-se a si mesmo, prefere queixar-se da sua estrela. Um, por exemplo, que seria bom operário e ganharia honestamente a vida, mete-se a ser mau poeta e morre de fome. Para todos haveria lugar no mundo, desde que cada um soubesse colocar-se no lugar que lhe compete. "(O Livro dos Espíritos. Questão 862. Allan Kardec).
Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?
" Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos."
Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?
" Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência." ( O Livro dos Espíritos. Questão 853. Allan Kardec).
"Tendo o homem o seu livre-arbítrio, a fatalidade não participa de suas ações individuais; quanto aos acontecimentos da vida privada, que por vezes parecem atingi-lo fatalmente, têm duas fontes bem distintas: uns são conseqüência direta de sua conduta na existência presente; muitas pessoas são infelizes, doentes, enfermas por sua falta; muitos acidentes são resultado da imprevidência; ele não pode queixar-se senão de si mesmo, e não da fatalidade ou, como se diz, de sua má estrela. Os outros são completamente independentes da vida presente e, por isto mesmo, parecem devidos a uma certa fatalidade; mas, ainda aqui, o Espiritismo nos demonstra que essa fatalidade é apenas aparente, e que certas situações penosas da vida têm sua razão de ser na pluralidade das existências. O Espírito as escolheu voluntariamente na erraticidade, antes de sua encarnação, como provações para o seu adiantamento; elas são, pois, produto do livre-arbítrio, e não da fatalidade. Se algumas vezes são impostas, como expiação, por uma vontade superior, é ainda em razão das más ações voluntariamente cometidas pelo homem numa precedente existência, e não como conseqüência de uma lei fatal, pois ele poderia tê-las evitado, agindo de outro modo." ( Revista Espírita. Julho de 1868. A ciência da concordância dos números e a fatalidade. Allan Kardec).
Segundo Carlos Toledo Rizzini, "Para cada filho de Deus, os instrutores da Esfera Superior preparam um roteiro ou programa de vida, no qual estão especificados os serviços a prestar e os lances mais importantes para a evolução espiritual...(...) Conjugue, filhos, profissão, doenças, dia da morte e coisas assim estão previstas e relacionadas com o passado. (...)Defeitos físicos numerosos enfeiam o organismo, como conseqüências de causas anteriores." (Evolução para o terceiro milênio. Parte 2. Cap. 4. Carlos Toledo Rizzini)
Sabemos, porém, que nem sempre é assim. Há reencarnações compulsórias, onde não há uma programação prévia, e há também espíritos que não cumprem as provas que escolheram antes de reencarnar para seu aprimoramento moral.
Vejamos o relato da queda de Otávio, que no livro "Os Mensageiros", descreve a sua triste trajetória, dizendo:
"Depois de contrair dividas enormes na esfera carnal, noutro tempo, vim bater às portas de "Nosso Lar", sendo atendido por irmãos dedicados, que se revelaram incansáveis para comigo.
Preparei-me, então, durante trinta anos consecutivos, para voltar à Terra em tarefa mediúnica, desejoso de saldar minhas contas e elevar-me alguma coisa. Não faltaram lições verdadeiramente sublimes, nem estímulos santos ao meu coração imperfeito. O Ministério da Comunicação favoreceu-me com todas as facilidades e, sobretudo, seis entidades amigas movimentaram os maiores recursos em benefício do meu êxito.
(...) Permaneceria junto das falanges de colaboradores encarregados do Brasil, animando-lhes os esforços o atendendo a irmãos outros, ignorantes, perturbados ou infelizes. O matrimônio não deveria entrar na linha de minhas cogitações, não que o casamento possa colidir com o exercício da mediunidade, mas porque meu caso particular assim o exigia. Nada obstante, solteiro, deveria receber, aos vinte anos, os seis amigos que muito trabalharam por mim, em "Nosso Lar", os quais chegariam ao meu círculo como órfãos. Meu débito para com essas entidades tornou-se muito grande e a providência não só constituiria agradável resgate para mim, como também garantia de triunfo pelo serviço de assistência a elas, o que me preservaria o coração de leviandades e vacilações, porquanto o ganha-pão laborioso me compeliria a não aceder a sugestões inferiores nos domínios do sexo e das ambições incontidas. Ficou também assentado que minhas atividades novas começariam com muitos sacrifícios... (...) Tudo combinado, voltei, não só prometendo fidelidade aos meus instrutores, como também hipotecando a certeza do meu devotamento às seis entidades amigas, a quem muito devo até agora.
Otávio, nesse momento, fez uma pausa mais longa, suspirou fundamente, e prosseguiu:
- Mas, ai de mim, que olvidei todos os compromissos! Os benfeitores de "Nosso Lar" localizaram-me ao lado de verdadeira serva de Jesus. Minha mãe era espiritista cristã desde moça, não obstante as tendências materialistas de meu pai, que era, todavia, um homem de bem.
Aos treze anos fiquei órfão de mãe e, aos quinze, começaram para mim os primeiros chamados da esfera superior. Por essa ocasião, meu pai contraiu segundas núpcias e, apesar da bondade e cooperação que a madrasta me oferecia, eu me colocava num plano de falsa superioridade, a respeito dela. Em vão, minha genitora endereçou, do invisível, apelos sagrados ao meu coração.
Eu vivia revoltado, entre queixas e lamentações descabidas. Meus parentes conduziram-me a um grupo espiritista de excelente orientação evangélica, onde minhas faculdades poderiam ser postas a serviço dos necessitados e sofredores; entretanto, faltavam-me qualidades de trabalhador e companheiro fiel. Minha negação em matéria de confiança nos orientadores espirituais e acentuado pendor para a crítica dos atos alheios compeliam-me a desagradável estacionamento.
Os beneméritos amigos do invisível estimulavam-me ao serviço, mas eu duvidava deles com a minha vaidade doentia. E como prosseguissem os apelos sagrados, por mim interpretados como alucinações, procurei um médico que me aconselhou experiências sexuais. Completara, então, dezenove anos e entreguei-me desenfreadamente ao abuso de faculdades sublimes. Desejava conciliar, à força, o prazer delituoso e o dever espiritual, alheando-me, cada vez mais, dos ensinos evangélicos que os amigos da esfera superior nos ministravam.
Tinha pouco mais de vinte anos, quando meu pai foi arrebatado pela morte. Com a triste ocorrência, ficavam na orfandade seis crianças desfavorecidas, porquanto minha madrasta, ao se consorciar com meu genitor, lhe trouxera para a tutela três pequeninos. Em vão implorou-me socorro a pobre viúva. Nunca me dignei aceitar os encargos redentores que me estavam destinados.
Após dois anos de segunda viuvez, minha desventurada madrasta foi recolhida a um leprosário. Afastei-me, então, dos pequenos órfãos, tomado de horror. Abandonei-os definitivamente, sem refletir que lançava meus credores generosos, de "Nosso Lar", a destino incerto. Em seguida, dando largas à ociosidade, cometi uma ação menos digna e fui obrigado a casar-me pela violência. Mesmo assim, porém, persistiam os chamados do invisível, revelando-me a inesgotável misericórdia do Altíssimo.
Contudo, à medida que olvidava meus deveres, toda tentativa de realização espiritual figurava-se-me mais difícil. E continuou a tragédia que inventei para meu próprio tormento.
A esposa a que me ligara, tão somente por apetites inconfessáveis, era criatura muito inferior à minha condição espiritual e atraiu uma entidade monstruosa, em ligação com ela, para tomar o papel de meu filho. Releguei à rua seis carinhosas crianças, cuja convivência concorreria decisivamente para minha segurança moral, mas a companheira e o filho, ao que me pareceu, incumbiram-se da vingança. Atormentaram-me ambos, até ao fim da existência, quando para aqui regressei, mal tendo completado quarenta anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos, sem nada haver feito para meu futuro eterno... Sem construir coisa alguma no terreno do bem..."
Enxugou os olhos tímidos e concluiu:
- Como vê, realizei todos os meus condenáveis desejos, menos os desejos de Deus. Foi por isso que fali, agravando antigos débitos... "(Os Mensageiros. Cap. 7. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)
"O homem tem em si sua consciência que o adverte quando fez o bem ou fez o mal, cometeu uma ação má ou negligenciou de fazer o bem; (....)A consciência produz dois efeitos diferentes: a satisfação de haver agido bem, a paz que deixa o sentimento do dever cumprido; e o remorso que penetra e tortura quando se praticou uma ação reprovada por Deus, pelos homens ou pela honra.
(...) se falirdes, apressai-vos em reparar o mal, pois do contrário o remorso seria vossa punição. Quanto mais tardardes, mais penosa será a punição e mais prolongado o suplício." (Revista Espírita. Agosto de 1867. Jean Ryzak, a força do remorso. Um Espírito. Médium, Sra. B.../ Allan Kardec)
"Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 5. Item 12. Allan Kardec)