Para comprendermos este assunto controverso, analisamos alguns trechos do Antigo Testamento em que Abraão e Moisés conversam supostamente com Deus, o Senhor:
"E eis que veio a palavra do Senhor a ele dizendo: (...) Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência." (Gênesis 15:4,5)
"Naquele mesmo dia fez o Senhor uma aliança com Abraão, dizendo: tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates; E o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, E o heteu, e o perizeu, e os refains, E o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu. "(Gênesis 15:18-21)
"Disse mais o SENHOR a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que fizeste subir da terra do Egito, à terra que jurei a Abraão, a Isaque, e a Jacó, dizendo: À tua descendência a darei. "(Êxodo 33:1)
"E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada um príncipe entre eles." (Números 13:1,2)
" E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto. O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Anaque. Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam junto do mar, e pela margem do Jordão.
Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e disse: Certamente subiremos e a possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela. Porém, os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." (Números 13:27-31)
Entretanto, o livro de Josué contém a história da conquista da Terra Prometida pelos filhos de Israel, liderada por Josué, após a morte de Moisés. A história é marcada por batalhas e estratégias militares usadas para tomar as cidades dos cananeus. As batalhas incluem a queda de Jericó (Josué 6), a derrota em Ai e a vitória em Betel (Josué 7-8), a conquista da cidade de Gibeão (Josué 9), e a conquista da cidade de Hazor (Josué 11). Depois de Hazor, houve ainda muitas outras batalhas e conquistas de cidades antes que toda a terra prometida fosse completamente tomada e divididas entre as 12 tribos de Israel, que descendiam dos doze filhos de Jacó, conforme diz as escrituras:
"Assim Josué tomou toda esta terra, conforme a tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés; e Josué a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões, segundo as suas tribos; e a terra descansou da guerra." (Josué 11:23)
"O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos." (Naum 1:2)
Agora façamos a seguinte reflexão: Será que Deus prometeria uma terra que já era habitada, principalmente pelos cananeus, ao povo de Israel? Será que Deus, sendo justo, determinaria o extermínio de um povo em detrimento de outro, sendo que todos são seus filhos? Será que Deus mandaria matar cruelmente os povos que habitavam Canaã para dar esta Terra ao povo de Israel? Será que Deus é a favor da guerra e da vingança contra os inimigos pagãos, que acreditam em outros deuses?
Segundo Herculano Pires, "O Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a "palavra de Deus". Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com Javé ou Jeová, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do Deus-Pai do Evangelho. Devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens."
(...) "Jeová era o espírito protetor de Israel, que se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os espíritos eram considerados deuses." ( Visão Espírita da Bíblia. Itens 4 e 9. J. Herculano Pires)
"Para tais homens, precisava-se de crenças religiosas assimiláveis à sua natureza ainda rude. Uma religião completamente espiritual, toda de amor e caridade, não se podia aliar com a brutalidade dos costumes e das paixões." (O Céu e o Inferno. Cap. 6. item 3. Allan Kardec)
Emmanuel confirma esta teoria e faz a seguinte explicação: "Moisés trazia consigo as mais elevadas faculdades mediúnicas, apesar de suas características de legislador humano. É inconcebível que o grande missionário dos judeus e da Humanidade pudesse ouvir o Espírito de Deus. A Lei ou a base da Lei, nos dez mandamentos, foi-lhe ditada pelos emissários de Jesus, porquanto todos os movimentos de evolução material e espiritual do orbe se processaram, como até hoje se processam, sob o seu augusto e misericordioso patrocínio." (O Consolador. Questão 269. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier).
Sendo assim, se o quinto mandamento dizia: " Não matarás." (Êxodo 20:13), é absurdo acreditar que o próprio Deus ou os verdadeiros mensageiros do Pai Celestial teriam mandado matar os povos que habitavam Canaã para o povo de Israel ocupar esta terra.
De acordo com Allan Kardec, " Os Espíritos sérios não se contradizem nunca. Sua linguagem é sempre a mesma com as mesmas pessoas. Se algum deles diz coisas contrárias tomando o mesmo nome, ficai certos de que não é o mesmo Espírito que fala ou, pelo menos, que não é um bom Espírito. Reconhecereis o bom pelos princípios que ele ensina, pois todo Espírito que não ensina o bem não é um bom Espírito. (...) Infelizmente, o homem é mais levado a prender-se à forma do que ao fundo. É essa forma que frequentemente interpreta conforme suas ideias e suas paixões e dessa interpretação podem nascer contradições aparentes que, também elas, se originam na insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas extra-humanas." (Revista Espírita. Agosto de 1858. Contradições na linguagem dos Espíritos. Allan Kardec)
Em vista disso, Abraão e Moisés fizeram uma interpretação errônea da mensagem espiritual recebida. Quando o Senhor disse que lhes prometeria uma Terra aos seus descendentes, os profetas alteraram e deformaram o pensamento do Espírito protetor, conforme as suas convicções materialistas e primitivas, dizendo que era uma terra material.
Segundo o Reverendo Ronald Ranko, "Se o pacto com Abraão como uma terra prometida envolvia a promessa de uma nação terrena, então essa promessa nunca foi cumprida para com o próprio Abraão.
A Palavra nos diz em Atos 7:5 que " Deus não lhe deu nenhuma herança aqui, nem mesmo o espaço de um pé. Mas lhe prometeu que ele e, depois dele, seus descendentes, possuiriam a terra, embora, naquele tempo, Abraão não tivesse filhos." Não pode existir, em nossa avaliação, prova mais clara que a terra prometida e todas essas promessas no Antigo Testamento tenham um cumprimento espiritual." (Reformed Free Publishing Association, pp. 172-173. Reverendo Ronald Ranko. Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto)
Em outras palavras, Allan Kardec confirma esta ideia, quando faz uma elucidação sobre um outro mandamento divino. Vejamos a seguir:
Deus disse: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará ."(Êxodo, 20:12).
"Por que promete ele como recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: "que Deus vos dará", as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à situação e às ideias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. Achavam-se eles ainda no deserto; a terra que Deus lhes dará é a Terra da Promissão, objetivo das suas aspirações. Nada mais desejavam do que isso; Deus lhes diz que viverão nela longo tempo, isto é, que a possuirão por longo tempo, se observarem seus mandamentos.
Mas, ao verificar-se o advento de Jesus, já eles tinham mais desenvolvidas suas ideias. Chegada a ocasião de receberem alimentação menos grosseira, o mesmo Jesus os inicia na vida espiritual, dizendo: "Meu reino não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas boas obras." A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material, transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância daquele mandamento: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe", já não é a Terra que lhes promete e sim o céu. "(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 14. Item 4. Allan Kardec)
Por que os hebreus receberam a mensagem espiritual com a promessa de que iriam receber uma terra, se ainda tinham ideias materialistas? O povo de Israel eram descendentes da raça adâmica (Adão e Eva), que foram expulsos do paraíso, ou seja de um mundo melhor. Eles aguardavam e tinham uma vaga lembrança de regressar para o orbe de Capela (pátria perdida), ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos. Segundo o Espírito Emmanuel, " (...) as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no seio das massas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros. Eis por que as epopeias do Evangelho foram previstas e cantadas alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário." (A Caminho da luz. Cap. 3. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Onde fica a terra de Canaã, que foi confundida com uma pátria feliz, onde mana leite e mel?
Canaã é a antiga denominação da região correspondente à área do atual Estado da Palestina (inclusive as Colinas de Golã), da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, de parte da Jordânia (uma faixa na margem oriental do Rio Jordão), do Líbano e de parte da Síria (uma faixa junto ao Mar Mediterrâneo, na parte sul do litoral da Síria) e Israel (Números 34:1-15 e Deuteronômio 3:8). (Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Cana%C3%A3)
Por que há tantos conflitos atuais entre palestinos (árabes muçulmanos) e israelenses (judeus) na antiga terra de Canaã?
Pode-se dizer que tudo começou com Abraão, que é a personagem bíblica citada no Gênesis, a partir do qual teriam se desenvolvido as religiões abraâmicas, as principais vertentes do monoteísmo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Sabe-se que o primeiro filho de Abraão não foi Isaac, este era filho que teve com Sara, sua esposa (Gênesis , 21:1-8), gerado após o nascimento do primogênito Ismael com a escrava egípcia Agar (Gênesis, 16:1-16). Maomé, o profeta responsável pelo surgimento do Islamismo, é descendente de Ismael. Dos descendentes de Isaac, que foi considerado o herdeiro legítimo de Abraão (Gênesis, 25: 5), surgiram a religião judaica e, posteriormente, o Cristianismo, pois Jesus também era seu descendente. Portanto, todos têm origem nesta terra.
Entretanto, no decorrer dos anos os judeus foram expulsos da terra de Canaã durante a ocupação exercida pela Babilônia e, também, durante a dominação do Império Romano, e esta a região ficou sob o domínio do Império Turco-Otomano. Entretanto, após o fim deste império, a Liga das Nações, antecessora da ONU, transferiu o território para o Reino Unido, que passou, então, a exercer controle sobre aquelas áreas. Tal mudança foi favorável aos judeus, que, em 1917, haviam obtido o apoio britânico para a criação de um Estado de Israel. Diante deste fato, durante a segunda guerra mundial cresceu a migração deles para a Palestina, pois os nazistas também perseguiram os judeus, e a resolução das disputas territoriais passou a ser delegada para a recém-criada ONU, que determinou a partilha do território entre os judeus e os árabes em 1947, com base na Resolução 181. A partir daí, surgiram os conflitos territoriais e religiosos. (Fonte: Texto baseado no site : Brasil Escola "Questão Palestina")
No entanto, segundo os Espíritos Superiores, os que promovem a guerra santa, "São impelidos pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra aos seus semelhantes, contravêm à vontade de Deus, que manda ame cada um o seu irmão, como a si mesmo. Todas as religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Por que então há de um fazer guerra a outro, sob o fundamento de ser a religião deste diferente da sua, ou por não ter ainda atingido o grau de progresso da dos povos cultos? Se são desculpáveis os povos de não crerem na palavra daquele que o Espírito de Deus animava e que Deus enviou, sobretudo os que não o viram e não lhe testemunharam os atos, como pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando lhes ides levá-la de espada em punho? Eles têm que ser esclarecidos e devemos esforçar-nos por fazê-los conhecer a doutrina do Salvador, mediante a persuasão e com brandura, nunca a ferro e fogo." (O Livro dos Espíritos. Questão 671. Allan Kardec)
Diante deste triste conflito nesta terra, o Espírito Mardochée recomenda:
"Povos! erguei-vos para assistir à aurora desta vida nova, que vem para a vossa regeneração; que, enviada por Deus, vem para vos unir numa santa comunhão fraterna. Oh! como serão felizes os que, ouvindo esta voz abençoada do Espiritismo, seguirem sua bandeira e cumprirem o apostolado, que deve reconduzir os irmãos extraviados pela dúvida e pela ignorância, ou embrutecidos pelo vício!
Voltai, ovelhas desgarradas, voltai ao aprisco; levantai a cabeça, contemplai o vosso Criador e rendereis homenagem ao seu amor por vós. Retirai prontamente o véu que vos ocultava o Espírito da Divindade; admirai-o em toda a sua bondade; prostrai a face contra a terra e arrependei-vos. O arrependimento vos abrirá as portas da felicidade: as de um mundo melhor, onde reinam o amor mais puro, a fraternidade mais estreita, onde cada um sente alegria na alegria do próximo.
Não sentis que se aproxima o momento em que vão surgir coisas novas? Não sentis que a Terra está em trabalho de parto? Que querem esses povos que se remexem, que se agitam, que se aprestam para a luta? Por que vão combater? Para romper as cadeias que estancam o progresso de sua inteligência, absorvem a sua seiva, semeiam a desconfiança e a discórdia, armam o filho contra o pai, o irmão contra o irmão, corrompem as nobres aspirações e matam o gênio. Ó liberdade! Ó independência! nobres atributos dos filhos de Deus, que alargais o coração e elevais a alma, é por vós que os homens se tornam bons, grandes e generosos; por vós nossas aspirações se voltam para o bem, a injustiça desaparece, os ódios se extinguem e a discórdia, envergonhada, foge e apaga seu facho, temendo irradiar seus sinistros clarões. Irmãos! escutai a voz que vos diz: Marchai! marchai para esse brilhante objetivo que vedes despontar mais além! Marchai para esse brilhante raio de luz que está à vossa frente, como a coluna luminosa adiante do povo de Israel; ELE VOS CONDUZIRÁ À VERDADEIRA TERRA PROMETIDA, ONDE REINA A ETERNA FELICIDADE, reservada aos Espíritos puros. Armai-vos de virtudes; purificai-vos das impurezas e, então a rota vos parecerá fácil e a encontrareis coberta de flores; percorrê-la-eis com um inefável sentimento de alegria, porque, a cada passo, compreendereis que vos aproximais do alvo onde podeis conquistar as palmas eternas." (Revista Espírita. Outubro de 1861. A terra prometida. Enviada pelo Sr. Rodolfo, de Mulhouse. Allan Kardec)
"O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo."(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.16. Item 9. Allan Kardec)