Psicanálise*

P – A psicanalista Karen Horney afirma que enquanto dormimos verifica-se oculta atividade mental inconsciente, fazendo com que, ao acordarmos, encontremos a impensada solução para esse ou aquele problema que nos preocupava até antes de adormecermos. Como no caso do famoso problema matemático, cuja solução aparece pronta pela manhã... Acha que essa imperceptível atividade onírica, que tantas vezes nos oferece soluções surpreendentes, é de ordem puramente mental, da própria pessoa, ou pode ter o concurso de Espíritos afins?

R – Respeito a interpretação da ciência psicológica com referência à nossa vida mental inconsciente, entretanto, creio que, na maioria dos casos em que despertamos após o sono comum com determinadas “soluções prontas” para problemas que nos inquietavam, isso se deve ao amparo de Espíritos Amigos e Benfeitores que nos estendem auxílio, quando a nossa mente repousa entre as atividades de vigília.

Aliás, não nos seria lícito esquecer que os magnetizadores, mesmo entre nós, os espíritos encarnados, conseguem prestar valioso auxílio aos companheiros por eles magnetizados, enquanto se encontram esses, no estado de hipnose, sem que eles, os magnetizados, conservem, pelo menos temporariamente, qualquer lembrança dos benefícios recebidos.

P – Mais ou menos dentro dessa mesma teorização Karen Horney denomina de insight o fenômeno conscientizador da mente humana, termo que em nossa língua equivaleria ao famoso “estalinho do Padre Vieira”. Por exemplo, segundo Horney: se eu sinto medo de lugares altos, no instante em que me dou conta desse temor, tenho um primeiro insight conscientizador. Se, eventualmente, mais tarde consigo descobrir as causas desse medo das alturas, tenho um novo e mais amplo insight, capaz até mesmo de diluir o medo que me atormenta. Á luz da Espiritualidade, como definiria o enfoque dessa lúcida psicanalista?

R – Compreendemos o fenômeno não só por socorro indireto de amigos desencarnados, como também por impacto de recordações instintivas, decorrente de circunstâncias em que a personalidade reencarnada recapitula experiências pelas quais haverá passado em existências anteriores.

P – De acordo com teorias psicanalistas, a neurose é uma anomalia que induz o paciente a sentir exagerada necessidade de afeto e aprovação por parte das pessoas e do meio em que vive. Qual o remédio eficaz para as afecções neuróticas e as obsessões da alma?

R – Admitimos que o conhecimento dos princípios reencarnacionistas, auxiliando-nos a aceitar com paciência e coragem os problemas e provações criados por nós mesmos, com o aprendizado e prática da tolerância recíproca nos imunizará contra os prejuízos das neuroses, auxiliando-nos, igualmente, na cura das obsessões.

P – Que diria aos pais que inconscientemente suscitam em suas crianças a idéia de que seu direito à vida de certa forma depende exclusivamente de que elas, como filhos, correspondam às expectativas nelas depositadas pelos pais?

R – Com a maturidade espiritual necessária, o homem perceberá que os filhos são espíritos imortais, independentes dos pais, que lhes são tutores perante Deus e a Vida.

Isso desfará a ilusão de que os filhos são cópias dos genitores que lhes propiciaram a formação de novo corpo, na Terra, conquanto saibamos que, em numerosos casos, os filhos se parecem extraordinariamente com os pais, conforme os princípios da afinidade, compreensíveis em nossas vivências comuns.

P – Goethe afirmou certa vez que no mundo só existiu e existe um único conflito: o conflito entre a incredulidade e a fé. Você concorda com tal síntese?

R – Cremos que o admirável poeta condensou todo um mundo de pensamentos complexos na síntese apresentada, porque renteando com esse conflito entre a incredulidade e a fé, somos induzidos a reconhecer outros, como sejam os conflitos entre o ódio e o amor, entre o equilíbrio e o desequilíbrio, e outros muitos, entre os quais lidamos e lutamos, todos, nós, à busca de nosso próprio burilamento.

P – Você concorda com a teoria freudiana quando diz que problemas afetivo-sexuais mal resolvidos na infância e na mocidade criam problemas ao longo de toda a existência?

R – A educação do impulso sexual é trabalho não só para a infância e para a juventude, mas para todo o tempo da existência terrestre, continuando além da morte para as inteligências desencarnadas.

P – Acha válido o dogma psicanalítico que diz que até a idade de 3 ou 4 anos TUDO está formado na personalidade da criança, sendo o restante da existência nada mais que uma continuação do que até ali ficou construído dentro dela?

R – Ao que nos parece, o conteúdo da personalidade, formada na criança, é um testemunho eloqüente da reencarnação, compelindo toda criatura humana a ser educada e a educar-se no curso da existência berço-túmulo.

P – Acha que a mamadeira, dada desde muito cedo à criança, pode criar um clima de artificialismo entre a mãe e o bebê, suscitando neste uma senda de insegurança que poderia prolongar-se pela vida a fora?

R – Um assunto para a pediatria que merece consideração.

P – Por que as crianças não têm medo da morte?

R – A amnésia parcial ou total em que se encontra o espírito encarnado no período da infância equivale a um estado de semi-consciência no qual a criança não dispõe de recursos para raciocínios mais profundos.

P – Há pais que a pretexto de uma educação liberal e sem tramas preferem nada esconder dos filhos, em termos de educação sexual. Alguns chegam a tomar banho despidos junto aos filhos, apesar de que isso poderia suscitar complexos de inferioridade ou outros. Alguns pais se permitem acariciar seus rebentos de maneira inconveniente, originando nestes uma espécie de pudor doentio. Peço consideração sobre isso.

R – Somos partidários do respeito recíproco entre pais e filhos, adultos e jovens, em todas as fases da vida. Cada espírito é um mundo por si, com a obrigação de descobrir-se a aprimorar-se, conquanto deva e possa receber o auxílio de outrem para isso, mas sempre na base do apreço mútuo.

P – Afirmam os médicos que uma criança já nascida sente inconscientemente, por intuição ou telepaticamente, quando seus pais tentam rejeitá-la sendo que tal fato transparece nos desenhos e criações infantis pois ela considera o fato um assassínio embora nem justo nem injusto.

R – Verdade. O espírito do nascituro, mais ou menos conscientemente, conhece as disposições dos pais a seu respeito.

P – Que é pior para a criança ou para o adolescente: a violência que vê na televisão ou no cinema, ou a que presencia ao redor de si?

R – Qualquer violência, em qualquer lugar e em qualquer tempo, é prejudicial ao autor e aos que lhe assistem a exteriorização, seja qual for a idade do espectador.

P – No livro Amor e Sexo, Cap. 21, Emmanuel nos fala dos problemas das minorias sexuais e a necessidade de respeito fraterno para com esses irmãos em prova. Observa-se na sociedade atual que a predominante maioria dos heterossexuais habitualmente ridiculariza aqueles que não lhe seguem a prática, o mesmo acontecendo com certos núcleos religiosos que vêem o problema sob o prisma de endemonianamento no plano da unicidade da existência. Acha você que, no futuro, as religiões irão compreender melhor a situação de resgate desses irmãos, amparando-os mais adequadamente?

R – Em matéria de relacionamento sexual tão só o tempo com a maturidade espiritual das criaturas encarnadas na Terra é que solucionará problema da compreensão necessária ao equilíbrio e segurança dos grupos sociais.

P – De todos os relacionamentos entre seres humanos (materno-paterno, amistoso, social, profissional, de companheirismo, etc.), nenhum me parece mais conflitante que o relacionamento entre homem e mulher. Por que são tão raros os casais que vivem num clima de harmonia perfeita?

R – O relacionamento entre os parceiros da vida íntima no lar, na essência, é uma escola ativa de aperfeiçoamento do espírito. Até que duas criaturas alcancem o amor integral, uma pela outra, sob todos os aspectos da individualidade, é compreensível o atrito mais ou menos freqüente entre ambas, visando ao burilamento recíproco.

P – Quando um dos cônjuges não assume a responsabilidade na parte que lhe toca na sustentação do equilíbrio recíproco, qual a responsabilidade do outro que for buscar fora do lar vinculações extraconjugais?

R – Alguém que fira outro alguém, depois dos compromissos afetivos devidamente assumidos em dupla, é responsável pela lesão psicológica que cause, criando para outrem e para si mesmo dificuldades que só pelo amparo do tempo conseguirá resgatar.

P – Por que nunca há divórcio entre os Espíritos sublimados no Bem?

R – Os espíritos sublimados nas leis do Bem aprenderam a amar sem exigência e a aceitar as pessoas amadas como realmente são ou estão. (Emmanuel)

(Janelas para vida. Chico Xavier e Fernando Worm)

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