POR QUE O LIVRO "BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO" PSICOGRAFADO POR CHICO XAVIER É CONSIDERADO MUITO CONTROVERSO?

        Há neste livro vários indícios de que o médium Chico Xavier tenha sido vítima de mistificação (1).
        Uma dessas evidências, pode ser percebida quando o autor retrata Jesus profundamente amargurado e desanimado, no trecho a seguir:
        "Helil — DISSE A VOZ SUAVE E MEIGA DO MESTRE a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra — MEU CORAÇÃO SE ENCHE DE PROFUNDA AMARGURA, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O Coração do mundo. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        "É estranho que Jesus pareça amargurado, desanimado. Os Mentores espirituais de André Luiz, por exemplo, são sempre cuidadosos ao tratar dos mais complexos problemas com pensamento positivo, buscando não criar impressões negativas nos interlocutores e nos eventuais leitores. "(Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho? Uma análise crítica. Leonardo Marmo Moreira / Jorge Hessen). Aliás, no Evangelho, o próprio Jesus nos recomenda: "Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo". (João 16:33) Portanto, esta atitude descrita na obra é contrária aos exemplos e ensinamentos do Querido Mestre.  
        Em outro trecho, Jesus faz uma afirmação estranha, dizendo, em outras palavras, que o Brasil será o "Coração do mundo, a Pátria do Evangelho", conforme o título do livro, e ainda esclarece que os conflitos políticos serão secundários, pois não atrapalhariam a missão destinada ao país. Vejamos o que o autor diz:  
        "Jesus, porém, confiante, por sua vez, na proteção de seu Pai, não hesita em dizer com a certeza e a alegria que traz em si: — Helil, afasta essas preocupações e receios inúteis. A REGIÃO DO CRUZEIRO, ONDE SE REALIZARÁ A EPOPÉIA DO MEU EVANGELHO, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração. AS INJUNÇÕES POLÍTICAS TERÃO NELA ATIVIDADES SECUNDÁRIAS, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. A Pátria do Evangelho. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Estas palavras menosprezam o trabalho do restante do mundo, que também possui a tarefa de Evangelizar toda a criatura, conforme recomenda o próprio  Cristo no Evangelho: " Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." (Marcos 16:15) "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações..."(Mateus 28:19) "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor. " (João 10:16) "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim." ( Mateus 24:14)         Será que o Brasil terá condições de Evangelizar o mundo inteiro sozinho, tornando-se o exemplo de país cristão? Isto não seria uma demonstração de vaidade patriótica? Será que os conflitos políticos ideológicos-partidários, durante as eleições de 2022, que misturaram política com religião não prejudicaram o Movimento Espírita Brasileiro e outras religiões "cristãs" do nosso país, fazendo com que muitas caíssem em descrédito? Os médiuns Divaldo P. Franco e Carlos A. Baccelli, contrariando os princípios espíritas, mostraram publicamente apoio a determinado candidato político, misturando ideologia política partidária com o Espiritismo, causando conflitos e confusões no Movimento Espírita Brasileiro.  Segundo Herculano Pires, " Os espíritas são cidadãos como os demais e têm direitos e deveres no plano político, mas não têm o direito de envolver uma instituição doutrinária nas disputas eleitorais. (...) Para bem entendermos isso devemos lembrar que o Cristo nunca exerceu nenhuma função política, nunca pretendeu assumir posições políticas, recusou-se até mesmo nas lutas pelas libertações de Israel dominada pelos romanos (questão que os judeus consideravam como sagrada, pois misturavam as coisas do Céu  com as da Terra), mas apesar de sua total abstinência política conseguiu injetar nas estruturas políticas do Mundo a seiva divina da orientação evangélica." (O Centro Espírita.  Cap. 8. J. Herculano Pires) "Para os Espíritos elevados, a pátria é o Universo. Na Terra, a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes  são simpáticas." (O Livro dos Espíritos. Questão 317. Allan Kardec)

        Num outro trecho, Ismael (dirigente espiritual da Terra do Cruzeiro, ou seja, do Brasil) disse que teríamos que buscar na Igreja elementos para a regeneração da humanidade, veja a seguir:
        "Temos de BUSCAR NO SEIO DA IGREJA AS ROUPAGENS EXTERIORES de nossa ação regeneradora. (...)Somente as grandes dores realizarão a fraternidade no seio da INSTITUIÇÃO QUE DEVERÁ REPRESENTAR O PENSAMENTO DO SENHOR NA FACE DA TERRA, a igreja que, desviada dos seus grandes princípios pela mais terrível de todas as fatalidades históricas, FOI OBRIGADA  A PARTICIPAR DO ORGANISMO MUNDANO e perecível dos Estados." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Os missionários. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Uma das missões do Espiritismo é combater os dogmas do Catolicismo, que deturpou os verdadeiros ensinos do Cristo. Então, como esta instituição (a igreja católica) poderia representar o pensamento do Senhor na face da Terra? Segundo Allan Kardec,"O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar."  (Obras Póstumas. 2° parte. Futuro do Espiritismo.  Allan Kardec)  É, portanto, contraditória a proposta de que os Espíritas devam buscar seguir as tradições de culto exterior da Igreja. Além disso, segundo os Espíritos Superiores, "O homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não "estavam escritos"; os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino. Ele pode, como prova e como expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. Assim, o livre arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos."  (O Livro dos Espíritos. Item 872. Allan Kardec). Portanto, a história mostra que os líderes religiosos cederam à tentação de compactuar com o poder humano, ocasionando graves prejuízos para a divulgação do verdadeiro Cristianismo.
        Num outro trecho, o autor diz que o Brasil possui uma proteção espiritual maior em relação aos outros países e que os escravos negros tiveram maior auxílio:
        "A filantropia dos brasileiros cedo começou o movimento abolicionista, e a prova da PROFUNDA ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL que acompanhava essas ações na Pátria do Evangelho é que NUNCA TEVE O BRASIL UM CÓDIGO NEGRO, à maneira da França e da Inglaterra." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. No tempo dos vices-reis. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Por que os escravos brasileiros teriam uma proteção espiritual maior em relação aos demais escravos de outros países?          Isto não condiz com a justiça divina, pois todos são iguais perante Deus. Segundo os Espíritos Superiores, "Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos seus olhos, são  iguais." (O Livro dos Espíritos.  Questão 804. Allan Kardec) "Os  privilégios  de raças têm sua origem na abstração que os homens geralmente fazem do princípio espiritual, para considerar apenas o ser material exterior. Da força ou da fraqueza constitucional de uns, de uma diferença de cor em outros, do nascimento na opulência ou na miséria, da filiação consanguínea nobre ou plebeia, eles concluíram por uma superioridade ou uma inferioridade natural." (Revista Espírita. Junho de 1867. Emancipação da mulher nos Estados Unidos.  Allan Kardec) "A suposta “prova da profunda assistência espiritual” chega a ser um comentário até “irônico”, considerando o que os negros  sofreram por quase quatro séculos seguidos de escravidão, com repercussões em termos de preconceito até hoje. Se o Brasil tinha tamanha proteção e se a nossa “escravidão foi tão abençoada assim”, porque o Brasil tem a VERGONHA HISTÓRICA de ser um dos últimos países a abolirem a escravidão?"(Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho? Uma análise crítica. Leonardo Marmo Moreira / Jorge Hessen)
        Num outro trecho,  o autor novamente enfatiza que o Brasil será o "Coração do mundo, Pátria do Evangelho",  esquecendo de mostrar a importância dos outros países na propagação da Boa Nova:
        "JESUS TRANSPLANTOU DA PALESTINA PARA A REGIÃO DO CRUZEIRO A ÁRVORE MAGNÂNIMA DO SEU EVANGELHO, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Esclarecendo. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Por que não seria o caso da árvore ter sido transplantada da Palestina para França e depois para o Brasil ao invés de ter saído diretamente “da Palestina para o coração do Brasil"? Por que o autor não faz nenhuma menção ao codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, que reuniu os Ensinamentos dos Espíritos Superiores, presididos pelo Espírito de Verdade, que é o próprio Cristo? O Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus, surgiu na França com a publicação de "O Livro dos Espíritos " em 1857. A base fundamental do Espiritismo é Jesus Cristo, que nasceu em Belém na  Palestina, e o codificador Allan Kardec, que nasceu em Lyon na França. Chico Xavier e Yvonne A. Pereira, que nasceram no Brasil, são exemplos de médiuns sérios e continuadores do Espiritismo. No entanto, o próprio Chico Xavier, que não se considerava infalível, nos disse:  (...) "Que se um dia, Emmanuel aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que deveria PERMANECER COM JESUS E KARDEC, procurando esquecê-lo."   (Livro: No mundo de Chico Xavier. Elias Barbosa) Além disso, apesar do Brasil ser considerado o país onde mais se expandiu o Espiritismo, o Movimento Espírita Brasileiro está sofrendo grandes obstáculos. Grande parte das instituições Espíritas não seguem com fidelidade os seus fundamentos, pois estão sofrendo a influência das religiões afrobrasileiras e da própria Igreja.
        Num outro trecho, o autor comenta sobre os missionários que auxiliaram o codificador Allan Kardec:
        “Segundo os planos de trabalho do mundo invisível, o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a COOPERAÇÃO DE UMA PLÊIADE DE AUXILIARES DE SUA OBRA, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de JOÃO BATISTA ROUSTAING, que organizaria o trabalho da fé; de León Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica, e de Camille Flammarion, que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na Codificação kardequiana no Velho Mundo e dilatando-a com os necessários complementos”. (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Fim do primeiro reinado. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Realmente, Léon Denis (1846 - 1927), Gabriel Delanne (1857- 1926) e Camille Flammarion (1842-1925), foram os principais continuadores do Espiritismo após a morte do Codificador. No entanto, Allan Kardec era contrário a hipótese de João B. Roustaing, que afirma em sua obra "Os quatro Evangelhos",  que Jesus era um agênere, isto é, em vez de um corpo carnal, teria apenas um corpo fluídico, tendo todas as aparências da materialidade. Diante deste fato, como Roustaing pode ser considerado um colaborador espírita, um auxiliar do Codificador?  Na Revista Espírita de 1866, Allan Kardec mostra que conhecia "Os quatro Evangelhos" e fez uma crítica sobre esta obra:  
        "O autor desta nova obra julgou dever seguir outro caminho; em vez de proceder por gradação, quis atingir o fim de um salto. (...)  Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todo o caso, necessitam da sanção do controle universal, e, até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita." (Revista Espírita. Junho de 1866. Notas Bibliográficas. Os Evangelhos Explicados. Allan Kardec )
        Então, em 1868, Allan Kardec contradiz a hipótese de Roustaing e faz a seguinte afirmação: "Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as conseqüências lógicas desse sistema, conseqüências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico,  que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência."  (A Gênese.  Cap. 15. Item 66. Allan Kardec)
        Segundo Herculano Pires, "Outros chegam a criticar Kardec por essa capitulação e outros, mais ingênuos, chegam ao cúmulo de alegar que essa tarefa cabia a Roustaing, o infeliz fascinado de Bordeaux, que lançou a obra de evidente mistificação Os Quatro Evangelhos, em que os evangelistas se contradizem a si mesmos e tentam forçar um retrocesso católico do religiosismo popular. A tese espúria, levantada pela Federação Espírita Brasileira, de que Roustaing estava incumbido do problema da fé é simplesmente alucinante. O pobre fascinado não foi discípulo de Kardec, jamais militou ao seu lado e teve sua obra rejeitada pelo mestre." (Evolução Espiritual do homem.  O homem no mundo como ser na existência. J. Herculano Pires)
        Num outro trecho, percebemos um texto totalmente contraditório sobre a guerra do Paraguai:
        "OS MILITARES BRASILEIROS ILUSTRAM  O NOME DA SUA TERRA EM GLORIOSOS FEITOS, que ficaram inesquecíveis. Mas, o país do Evangelho sempre foi INFENSO ÀS GLÓRIAS SANGUINOLENTAS."  (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. A guerra do Paraguai. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        O texto segue uma linha confusa e contraditória de raciocínio lógico, pois ao mesmo tempo que valoriza as vitórias militares no Brasil, considerando os combates que geraram muitas mortes violentas como "gloriosos feitos", diz que o Brasil é  contrário às glórias sanguinolentas, pois, afinal, o nosso país é o “Coração do mundo, a Pátria do Evangelho”.
        Num outro trecho,  na época em que Ismael e suas falanges procuravam orientar os movimentos republicanos e abolicionistas, para evitar derramamento de sangue, o autor fala sobre  importância da Federação Espírita Brasileira:  
        "A esse tempo, já ISMAEL POSSUÍA A SUA CÉLULA CONSTRUTIVA DA OBRA DO EVANGELHO NO BRASIL, célula que hoje PROJETA  A SUA LUZ DE DENTRO DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, e de onde, espiritualmente, junto dos seus companheiros desvelados, procurava unir os homens na grandiosa tarefa da evangelização. Esperando o ensejo de se fixar na instituição venerável, que lhe guarda as tradições e continua o seu santificado labor ao lado das criaturas, a célula referida permanecia com Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio, desde 24 de setembro de 1885, até que Bezerra de Menezes, com os seus grandes sacrifícios e indescritíveis devotamentos, eliminasse as mais sérias divergências e aplainasse obstáculos, utilizando as suas inesgotáveis reservas de paciência e de humildade e consolidando a Federação para que se formasse uma organização federativa." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O Movimento Abolicionista. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Naquela época, "Os Centros Espíritas, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia sua atividade em um determinado setor, despreocupado em conhecer as atividades dos demais. Esse estado de coisas levou-os à fundação da Federação Espírita Brasileira (FEB).  Nessa época, já existiam muitas sociedades espíritas, porém as únicas que mantinham a hegemonia eram quatro: a Acadêmica; a Fraternidade; a União Espírita do Brasil e a Federação Espírita Brasileira. Entretanto, logo surgiram entre elas rivalidades e discórdias. Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando importantes instruções, dadas por Allan Kardec, através do médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso Centro Espírita. Porém, nem por isso deixava Bezerra de dar a sua cooperação a todas as outras instituições. O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro viu-se desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico. "(Vida e Obra Dr. Bezerra de Menezes.Antonio Nóbrega Filho. Humberto Mauro Mendonça Machado)
        Segundo Allan Kardec, realmente deveria ter sido criado uma comissão central ou um conselho superior para que haja unidade dos princípios espíritas:   " Em vez de um chefe único, a direção será confiada a uma comissão central ou conselho superior permanente – pouco importa o nome – cuja organização e atribuições se definam de maneira a não dar azo ao arbítrio.         Essa comissão se comporá, no máximo de doze membros titulares, que deverão, para tal efeito, preencher certas condições indispensáveis, e de igual número de conselheiros. " (...) Cada membro presidirá por sua vez durante um ano, e aquele que preencher esta função será designado por sorteio. (...) A comissão central, ou conselho superior, será, pois, a cabeça, o verdadeiro chefe do Espiritismo, chefe coletivo, que nada poderá sem o assentimento da maioria e, em certos casos, sem o de um congresso ou assembléia-geral. (...)Os congressos serão constituídos por delegados das sociedades particulares, regularmente constituídas, e colocadas sob o patrocínio da comissão por sua adesão e pela conformidade de seus princípios (...)A fiscalização dos atos da administração pertencerá aos congressos, que poderão decretar a censura ou uma acusação contra a comissão central, por infração do seu mandato, por violação dos princípios estabelecidos, ou por medidas prejudiciais à Doutrina." (Revista Espírita. Dezembro de 1868. Constituição Transitória do Espiritismo.  Comissão Central. Allan Kardec)
        No entanto, essa comissão central, que no Brasil foi chamada de Federação Espírita Brasileira, não segue as recomendações de Allan Kardec e os fundamentos do Espiritismo, além disso,  a fiscalização dos seus atos, na prática, não funciona.
        De acordo com a FEB, "O Conselho Superior, cujo mandato durará cinco anos e cujos membros poderão ser reeleitos, compõe-se de quarenta sócios efetivos – sendo dez indicados pelo Conselho Federativo Nacional –, eleitos nos termos do artigo 18, parágrafo 2º, do Estatuto da FEB, e de todos os membros do Conselho Diretor, da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal, além dos ex-presidentes." (Fonte: https://www.febnet.org.br/portal/2019/06/12/como-e-constituido/) Portanto, o número de pessoas indicadas para o conselho superior, não está conforme sugerido por Allan Kardec.
        Além disso, a Federação Espírita Brasileira é um palácio de amplas dimensões, totalmente contrário às recomendações do Codificador, que faz a seguinte orientação sobre como deve ser a estrutura de um Centro Espírita: "Sem lhe dar um luxo desnecessário e, ao demais, sem cabimento, precisaria que nada aí denotasse penúria, mas apresentasse um aspecto tal, que as pessoas de distinção pudessem estar lá sem se considerarem muito diminuídas." (Obras Póstumas. Projeto 1868. Allan Kardec).  "As melhores comunicações são obtidas em  reuniões   pouco   numerosas , nas quais reina a harmonia e uma comunhão de sentimentos. Ora, quanto maior for o número, tanto mais difícil será a obtenção dessa homogeneidade. (...) os pequenos grupos serão sempre mais homogêneos. Nos pequenos grupos, todos se conhecem melhor, estão mais em família, e podem ser com melhor critério admitidos aqueles que desejamos. (...) Os maus Espíritos que buscam incessantemente semear a discórdia, irritando suscetibilidades, terão sempre menos domínio num pequeno grupo do que num meio numeroso e heterogêneo. Numa palavra, a unidade de vistas e de sentimento será aí mais fácil de se estabelecer."  (Revista Espírita. Outubro de 1860. Banquete - Oferecido pelos espíritas lioneses ao Sr. Allan Kardec, a 19 de setembro de 1860.  Allan Kardec)
        De acordo com Herculano Pires, "As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem, nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. "(O Centro Espírita.  Introdução. J. Herculano Pires)
        Em outro trecho, o autor, indevidamente, enaltece as entidades da Umbanda e suas práticas místicas:
        "Não é raro vermos CABOCLOS, que engrolam a gramática nas suas confortadoras doutrinações, mas que conhecem o SEGREDO MÍSTICO DE CONSOLAR AS ALMAS, aliviando os aflitos e os infelizes..." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O Movimento Abolicionista. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        É verdade que há caboclos (índios) e pretos-velhos (antigos escravos) que também se manifestam em Centros Espíritas, trazendo consolo para muitas pessoas, porém o Espiritismo não acredita que todas as entidades da Umbanda sejam espíritos de luz, pois existem também caboclos, assim com pretos-velhos , com sinais de inferioridade, ainda apegados às sensações terrenas. Segundo Herculano Pires,  "Negros e índios dotados de humildade, não apegados às suas religiões de origem selvagem, formam na linha humilde dos voluntários de boa-vontade que nada querem para si mesmos e tudo almejam de verdadeiro e bom, de legítimo e puro para toda a Humanidade. Igualam-se na simplicidade natural dos povos primitivos. "(Ciência espírita e suas implicações terapêuticas. Cap. 9. J. Herculano Pires) Além disso, que "segredo místico" seria este que tais espíritos possuem para consolar as almas? O Espiritismo não acredita em nenhum tipo de misticismo,  rituais ou magia, que são ideias contrárias as leis da natureza. Allan Kardec recomenda: " Em geral, desconfiai das comunicações que tragam caráter de  misticismo  e de singularidade, ou que prescrevam cerimônias e atos extravagantes. " (O Livro dos Médiuns. Segunda parte — Das manifestações espíritas . Cap. 31. Allan Kardec)
        Em outro trecho, o autor diz que Ismael sempre vencerá todas as forças do mal, que atrapalham "os ambientes do Espiritismo no país", ou seja, o Movimento Espírita Brasileiro:
        "(...) a Terra não é um paraíso e nem os homens são anjos, as entidades perturbadoras se aproveitam dos elementos mais acessíveis da natureza humana, para fomentar a discórdia, o demasiado individualismo, a vaidade e a ambição...(...)A essas forças, que tentam a dissolução dos melhores esforços de Ismael e de suas valorosas falanges do Infinito, deve-se o fenômeno das excessivas edificações particularistas do Espiritismo no Brasil, particularismos que descentralizam o grande labor da evangelização. Mas, examinando semelhante anomalia, somos forçados a reconhecer que ISMAEL VENCE SEMPRE. Construídas essas obras, que se levantam com pronunciado sabor pessoal, o grande mensageiro do Divino Mestre as assinala imediatamente com o selo divino da caridade, que, de fato, é o estandarte maravilhoso a REUNIR TODOS OS AMBIENTES DO ESPIRITISMO NO PAÍS, até que todas as forças da doutrina, pela experiência própria e pela educação, possam constituir uma frente única de espiritualidade, ACIMA DE TODAS AS CONTROVÉRSIAS." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O Espiritismo no Brasil. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Talvez fosse melhor enfatizar que “Jesus vence sempre”, pois é um Espírito perfeito, e, portanto, não comete equívocos. O Espiritismo, realmente, jamais será ultrapassado, pois as leis de Deus são imutáveis. No entanto, não é possível dizer o mesmo sobre o Movimento Espírita Brasileiro, que está se desviando da proposta principal, que é manter-se unificado, preservar a pureza dos ensinamentos revelados pelos Espíritos Superiores e divulgar os verdadeiros princípios do Espiritismo.
        Certa vez, perguntaram ao Dr. Inácio Ferreira:
        " - O senhor acredita que o Espiritismo possa vir a se complicar?
         - O Espiritismo, não. A codificação em todo tempo, poderá ser consultada. A codificação e a sua obra complementar, que é a obra da lavra mediúnica de Chico Xavier(*). Agora, não nos esqueçamos do que aconteceu ao próprio Cristianismo. "(O pensamento vivo do Dr. Inácio. Pág. 149. Espírito Inácio Ferreira. Psicografado por Carlos A. Baccelli)
        Segundo o Espírito Angel Aguarod: " Não é possível erigir um monumento doutrinário, como é o da Revelação Espírita, deixando-nos levar, a cada dia, por ideias que sopram de todos os lados, sem direção, qual vendaval que tudo derruba na sua passagem. Estamos sendo alertados do plano Mais Alto sobre esse aspecto do nosso Movimento, pois, dizem nossos superiores, se não nos fizermos vigilantes nesse sentido, em pouco tempo o Movimento Espírita, embora conservando o nome, nada terá de Espiritismo. Reiterando despretensiosa sugestão, recomendaríamos uma grande campanha, para usar nomenclatura moderna, em torno da importância do estudo das obras básicas da Doutrina Espírita.” (Angel Aguarod – mensagem recebida, pela médium Cecília Rocha, na FERGS, em 1978)
        De acordo com Léon Denis, " O Espiritismo será o que o fizerem os homens. "(No invisível. Introdução. Léon Denis)
        Num outro trecho, o autor inseriu uma opinião ideológica política , contrariando os fundamentos do Espiritismo, que recomenda não misturar ideologia política com religião:
        "Nesta época de confusão e amargura, quando, com as mais justas razões, se tem, por toda parte, a TRISTE ORGANIZAÇÃO DO HOMEM ECONÔMICO DA FILOSOFIA MARXISTA, que vem destruir todo o patrimônio de tradições dos que lutaram e sofreram no pretérito da humanidade, AS MEDIDAS DE REPRESSÃO E DE SEGURANÇA DEVEM SER TOMADAS A BEM DAS COLETIVIDADES E DAS INSTITUIÇÕES, a fim de que uma onda inconsciente de destruição e morticínio não elimine o altar de esperanças da pátria." (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O Espiritismo no Brasil. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)
        Esta opinião do autor é totalmente absurda, pois segundo a Doutrina Espírita : "O objetivo da Sociedade é o estudo da ciência espírita, principalmente no que concerne à sua aplicação à moral e ao conhecimento do mundo invisível. As questões políticas e de economia social lhe são interditas, bem como as controvérsias religiosas." (Viagem espírita em 1862.  Projeto de regulamento para uso dos grupos e pequenas sociedades espíritas. Allan Kardec)
        Alguns defendem esta psicografia, alegando que trata-se de um fato histórico, porém um acontecimento histórico deveria ser relatado de forma imparcial. Portanto, o autor não poderia dar uma opinião pessoal sobre uma ideologia política e dizer o que deveria ser feito para combatê-la, e muito menos recomendar fazer uso de violência, ou seja, utilizar "medidas de repressão", métodos que  Jesus sempre foi contrário.
        O Cristo nunca se envolveu em questões políticas da sua época, sempre foi pacífico e jamais deu algum tipo de opinião de ideologia partidária, mas pelo contrário, Ele disse: " Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. (Mateus 22:21). Allan Kardec seguiu o mesmo exemplo.
        Diante do exposto,  não podemos considerar esta psicografia como uma obra propriamente espírita, pois muitas informações deste livro não são confiáveis. Como é possível perceber, existem muitos trechos  controversos. Aliás, numa análise mais profunda desta obra, é possível encontrar outros textos contrários aos princípios espíritas. Portanto,  o livro “Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho”, ditado pelo o Espírito Humberto de Campos, possui grandes indícios de que Chico Xavier tenha sido vítima de mistificação.
        Chico Xavier foi um médium humilde, caridoso e muito sério (Obs.*: a grande maioria das suas obras psicografadas são confiáveis, na minha opinião, cerca de 99%). Ele é considerado um dos principais continuadores do Espiritismo no Brasil, porém em uma entrevista, ele afirmou que não se considerava um médium infalível e que já havia sido vítima de mistificação várias vezes. Ele deu a seguinte resposta, quando lhe perguntaram sobre o assunto:        
        "Por que sucede isso a você, que já psicografou quase cem livros?         
        — Decerto que o Mundo Espiritual permite que eu passe por essas provações para mostrar-me que receber livros dos Instrutores Espirituais não me cria privilégio algum, que estou apenas cumprindo um dever e que sou um médium tão falível quanto qualquer outro, com necessidade constante de oração e trabalho, boa vontade e vigilância." (No Mundo de Chico Xavier. Cap. 2. Questão 37. Chico Xavier/ Elias Barbosa)
        Diante deste fato, Chico Xavier fez a seguinte  recomendação: "Que se um dia, Emmanuel aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que deveria PERMANECER COM JESUS E KARDEC, procurando esquecê-lo"   (Livro: No mundo de Chico Xavier. Elias Barbosa).
        Portanto, devemos permanecer  com os ensinamentos do Cristo e dos Espíritos Superiores, codificados por Allan Kardec, e tudo que estiver contrário, devemos rejeitar, conforme o Codificador nos recomenda:  "TODA  TEORIA  EM MANIFESTA  CONTRADIÇÃO COM O BOM SENSO, com uma lógica rigorosa e com os dados  positivos já adquiridos , DEVE SER REJEITADA, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura. (...) Uma só garantia séria existe para o ensino  dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Foi essa unanimidade que pôs por terra todos  os sistemas parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. (...) Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princípio da doutrina." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução. Allan Kardec)

Obs.(1): Mistificação [do francês mystifier] - 1. Ato ou efeito de mistificar. 2. Logro; burla; engano. 3. Espíritos mistificadores mostram-se normalmente de forma enganadora, podendo usar identidade usurpada e discorrer até sobre o que não sabem, aproveitando-se da boa fé ou da ignorância dos que os recebem. (Fonte: https://www.portalkardec.com.br/livros/dicionario%20espirita.htm - Data da consulta: 09-10-22)

(Estudo baseado no livro: Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho? Uma análise crítica. Leonardo Marmo Moreira / Jorge Hessen)

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