POR QUE O ESPIRITISMO NÃO SE DIFUNDIU NA FRANÇA, MAS EXPANDIU-SE NO BRASIL?

De acordo com Allan Kardec, "Como se sabe, as manifestações ocorreram em todos os tempos, tanto na Europa quanto na América, e hoje, que nos damos conta da coisa, lembramos uma porção de fatos que tinham passado despercebidos, muitos dos quais consignados em escritos autênticos. Mas esses fatos eram isolados; nestes últimos tempos eles se produziram nos Estados Unidos numa escala bastante ampla para despertar a atenção geral dos dois lados do Atlântico. A extrema liberdade existente nesse país favoreceu a eclosão das ideias novas, e é por isto que os Espíritos o escolheram para primeiro teatro de seus ensinos.

Ora, acontece muitas vezes que uma ideia surge num país e se desenvolve em outro, como se vê nas ciências e na indústria. " (Revista Espírita. Maio de 1864. A escola espírita americana. Allan Kardec)

O Espiritismo, logo após as manifestações dos espíritos na América e Europa, fundou-se na França, com a publicação de "O Livro dos Espíritos" por Allan Kardec, em 1857, porém, depois de alguns anos desenvolveu-se no Brasil. O jornalista Luís Olímpio Teles de Menezes é considerado um dos pioneiros do Espiritismo no país, no qual fundou o primeiro  "centro espírita" em 1865, em Salvador, Bahia.

De acordo com o pesquisador espírita Carlos Seth Bastos, "Estabelecida a doutrina, Kardec retorna à pátria espiritual e a obra prossegue a cargo dos discípulos. Todavia, sabemos que as gerações sucessivas do movimento espírita não lograram manter acesa aquela chama ardente que era a ideia de a Doutrina Espírita renovar espiritualmente o mundo, a começar pelo seu berço: a França. Bastou cerca de meio século apenas para o esfriamento dos ânimos e para a desarticulação praticamente completa daquela campanha outrora tão promissora em solo francês e demais nações europeias, fora outras tantas localidades ao redor do mundo; até mesmo o grande tesouro documental espírita - manuscritos de Allan Kardec e outros arquivos que o Mestre juntara com a intenção de, entre outras coisas, preservar a Historiografia Espírita - viria a se tornar mera mercadoria. Felizmente, sem dúvida, sob os auspícios da espiritualidade, uma geração renovadora de espíritas veio se situar no cone sul das Américas, notadamente no Brasil, encontrando aqui um solo mais fértil para as sementes "kardecistas" - para não dizer o único. Eu dou fé do que, nesse particular, disse o querido Chico Xavier: os mais devotados confrades das primeiras gerações espíritas alistaram-se para reencarnar nas terras tupiniquins a fim de reavivar a flama do Espiritismo. Com efeito, malgrado todas as dificuldades e controvérsias, temos um movimento espírita brasileiro ativo, para o qual temos a graça de conhecer abnegados trabalhadores. "(Espíritos sob investigação: Resgatando parte da história. Carlos Seth Bastos)

"Estima-se se que existam cerca de 15 milhões de seguidores no mundo. O Brasil é o país onde a religião mais se difundiu, muito graças ao médium Chico Xavier, que psicografou mais de 400 livros...."(Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/04/quatro-perguntas-e-respostas-para-entender-o-espiritismo.html)

De acordo com os fatos históricos, a guerra Franco-Prussiana, que iniciou-se em julho de 1970, após a morte do codificador Allan Kardec,  pode ter sido um dos fatores que impediu a expansão do Espiritismo na França.

Carlos Seth Bastos afirma: "Durante a guerra, ocorreu o início do cerco de Paris em 19 de setembro de 1870. Não foram localizadas mais informações sobre o cotidiano da SPEE (*) entre a posse de Bonnemère em 1870 (por um ano) e a posse de Charles Boiste em 1872. Talvez, a entidade tenha paralisado suas atividades no período, enquanto a SA resistia apesar das duras provações." (Espíritos sob investigação: Resgatando parte da história. Carlos Seth Bastos)

Chico Xavier e Waldo Vieira confirmam estas informações, por intermédio do espírito André Luiz,  quando aproveitaram a presença de Gabriel Delanne, um dos mais destacados continuadores de Allan Kardec, em uma das suas reuniãos durante a noite, para formular respeitosamente para ele algumas questões sobre este assunto:

1. Caro amigo, estimamos colocar-nos na posição de nossos, ainda encarnados, para endereçar-lhe algumas perguntas de suma importância para eles que militam no plano físico. Prossegue em sua ação espírita de outro tempo, não obstante residindo agora além da Terra?

- Sim, tanto quanto possível, dentro das minhas reduzidas possibilidades.

2. Que nos diz acerca do Espiritismo, na França?

- Não nos é lícito dizer haja alcançado o nível ideal...

3. Em se tratando do berço de Allan Kardec, ser-nos-á permitido indagar a razão disso?

- Não podemos esquecer que a França nos últimos vinte lustros sofreu a carga de três grandes guerras que lhe impuseram sofrimentos e provas terríveis.

4. Considera que isso tenha atrasado a macha do Espiritismo?

- De modo algum. Legiões de companheiros da obra de Allan Kardec reencarnaram, não só na França, mas igualmente em outros países, notadamente no Brasil, para a sustentação do edifício kardequiano.

5. Acredita que a Europa retomará a direção do movimento espírita?

- Antes de tudo, devemos considerar que a Europa assemelha-se, atualmente, a vasto campo de guerra ideológica, que está muito longe de terminar...

6. Admite que os princípios espíritas estão caminhando lentamente no mundo?

- Não penso assim... As atividades espíritas contam pouco mais de um século e um século é período demasiado curto em assuntos do espírito.

7. Muitos amigos ma Terra são de parecer que os Mensageiros da Espiritualidade Superior deveriam patrocinar mais amplas manifestações da mediunidade de efeitos físicos para benefício dos homens, como sejam materializações e vozes diretas. Que pensa a respeito?

- Creio que a mediunidade de efeitos físicos serve à convicção mas não adianta ao serviço indispensável da renovação espiritual. Os Espíritos Superiores agem acertadamente em lhe podando os surtos e as motivações, para que os homens, nossos irmãos, despertem à luz da Doutrina Espírita, entregando a consciência ao esforço do aprimoramento moral.

8. Conquanto tenha essa opinião, julga que o Espiritismo precisa atender ao incremento e melhoria da mediunidade?

- Não teríamos o Evangelho sem Jesus-Cristo e não teríamos Jesus-Cristo sem o socorro aos sofredores pelos processos mediúnicos que lhe caracterizaram a presença na Terra.

9. A Ciência terrestre de hoje se mostra ávida de contacto com outros mundos e, por isso, não seria interessante que os Espíritos fizessem por vários médiuns descrições da vida em outros planetas.

- Isso é útil, desde que o problema seja apreciado nas dimensões justas. Espíritos comunicantes podem descrever para os homens cidades prodigiosas e avançados sistemas sociais em planos de matéria que não aquela no estado em que é conhecida, medida e pesada na estância terrena. O homem físico, ainda mesmo de posse da mais avançada instrumentação, apenas vê ínfima parte do Universo.

10. A que atribuímos semelhante restrição?

- À estrutura do olho humano, formado para suportar apenas determinada quota de observação da vida em si.

11. Para que região devemos, nós, a seu ver, conduzir a pesquisa científica na Terra, de vez que a conquista da paisagem material de outros planetas não adiantará muito ao progresso moral das criaturas?

- Devemos estimular os estudos em torno da matéria e da reencarnação, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no exercício da mediunidade as obras da fraternidade, da orientação, do consolo e do alívio às múltiplas enfermidades das criaturas terrestres...

12. Que mais?

- Velar pelas atividades que possam, na realidade, melhorar a individualidade por dentro...

13. Onde os percalços maiores para a expansão da doutrina Espírita?

- Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridiculariza-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror.

14. Como vê semelhantes deformações?

Os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus médiuns. Impossível negar isso.

15. De que modo vencer no labirinto gigantesco em que opera a influência das sombras?

- Educando...

16. Como?

- Explicando-se, tanto nos sistemas religiosos do Ocidente, quanto nos do Oriente, que a pessoa humana em qualquer lugar e em qualquer tempo somente possui o que ela fez de si própria.

17. Exprimindo-se, desse modo, refere-se à necessidade da divulgação da Doutrina Espírita?

- Sim.

18. Mas, segundo o seu conceito, a divulgação terá de efetuar-se de pessoa a pessoa. Teremos entendido certo?

- Sim, de pessoa a pessoa, de consciência a consciência. A verdade a ninguém atinge através da compulsão. A verdade para a alma é semelhante à alfabetização para o cérebro. Um sábio por mais sábio não consegue aprender a ler por nós.

19. Não considerará, porém, que esse processo é moroso demais para a Humanidade?

- Uma obra-prima de arte exige, por vezes, existências para o artista que persegue a condição do gênio. Como acreditar que o esclarecimento ou o aprimoramento do espírito imortal se faça tão só por afirmações labiais de alguns dias?

20. Que advertência nos dá para a vitória de nosso esforço modesto na seara espírita?

- Compreender que esperança é sinônimo de paciência, estudando e servindo sempre, na certeza de que, se a eternidade é a nossa divina herança, cada dia é um tesouro de recursos infinitos que não podemos desprezar. (Entre irmãos de outras terras. Espírito André Luiz. Gabriel Delane. Chico Xavier/ Waldo Vieira. Paris, França. 20, Agosto, 1965)

Allan Kardec já dizia: " Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca  do  progresso em todas as coisas. Ele marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, e não peçamos a uma época mais  do que ela pode dar. Como acontece com as plantas, é preciso que as ideias amadureçam para serem colhidos os frutos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque nada na Natureza se opera de maneira brusca e instantânea. "(Revista Espírita. Dezembro 1864. Da comunhão  de pensamento. Allan Kardec)

Obs.(*): Sociedade parisense de estudos espíritas (SPEE). 

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