POR QUE O ESPIRITISMO CONDENA A PRÁTICA DA COLETA DO DÍZIMO OU DE OFERTAS, REALIZADA POR MUITAS IGREJAS ?

"Na lei moisaica, há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. "(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 1. Item 2. Allan Kardec)

Na sua época, Moisés estabeleceu as seguintes leis humanas, conforme os costumes dos povos antigos:

"Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem."(Deuteronômio 26:12)

"Todos os dízimos da terra - seja dos cereais, seja das frutas - pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. Se um homem desejar resgatar parte do seu dízimo, terá que acrescentar um quinto ao seu valor. O dízimo dos seus rebanhos, um de cada dez animais que passem debaixo da vara do pastor, será consagrado ao Senhor." (Levítico 27:30-32)

" E falou o Senhor a Moisés, dizendo:
Também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao Senhor, os dízimos dos dízimos." (Números 18:26)

O profeta Malaquias disse:

"Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova", diz o Senhor dos Exércitos, "e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derra­mar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las." (Malaquias 3:10)

Jesus Cristo fez a seguinte advertência:

"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho (1), mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas." (Mateus 23:23)

"O costume de dar o dízimo não se originou com a lei mosaica (Gênesis 14:17-20), nem era peculiar aos hebreus. Era praticada entre outros povos antigos.

(...) Sobre o que foi requerido que os judeus pagassem dízimos? A Torah legislava que "a semente da terra" (safras), "o fruto da árvore", e a "erva, ou... o rebanho" (Levítico 27:30-32) deveriam render dízimos. A maneira de pagar o dízimo do gado era como segue: o proprietário contava os animais conforme iam passando para o pasto, e cada décimo animal era dado a Deus. Dessa maneira não havia a possibilidade de selecionar animais inferiores para pagamento do dízimo dentre o gado vacum e o gado miúdo (Levítico 27:32). Se um hebreu preferisse dedicar a décima parte da produção de seus cereais e frutas, na forma de seu valor monetário, tinha a liberdade de fazê-lo, mas um quinto dessa soma tinha de ser adicionado. Não lhe era permitido redimir a décima parte de seus rebanhos de gado vacum e de gado miúdo dessa maneira (Levítico 27:31,33).

Para quem eram pagos os dízimos? Deviam ser entregues aos levitas (Números 18:21). Porém, em Hebreus 7:5 é dito que os filhos de Levi é que recebiam os dízimos por comporem "o sacerdócio". Esse desvio das prescrições da lei talvez se tenha devido ao fato da indisposição dos levitas em cumprir os seus deveres em Jerusalém, depois da volta dos exilados sob a liderança de Esdras (Esdras 8:15). Os levitas, por causa da natureza de sua posição e de suas funções na comunidade, não tinham meios de renda, nem gado, nem herança que lhes assegurasse o sustento; por conseguinte, em recompensa "pelo serviço que prestam, serviço na tenda da congregação", recebiam "os dízimos dos filhos de Israel" (Números 18:21,24). Essa passagem de Números 18 menciona apenas o dízimo dos cereais e das safras de frutas (v. 27). Os levitas, todavia, não tinham a permissão de conservar para si a totalidade dos dízimos recebidos. Mas receberam ordens de apresentar "uma oferta ao Senhor" que representava "os dízimos dos dízimos" (Números 18:26). Esses "dízimos dos dízimos" tinham de ser "de todas as vossas dádivas" (v. 29), e tinham de ser dados ao sacerdote (v. 28; Neemias 10:39)

(...)A essas leis comparativamente simples do Pentateuco que governavam os dízimos, foi adicionada uma hoste de minúcias que transformou um lindo princípio religioso numa carga insuportável. Essas complexas adições estão registradas na literatura mishnaica e talmúdica.

Essa infeliz tendência dos israelitas sem dúvida contribuiu para a convicção que a aceitação perante Deus podia ser merecida através de tais observâncias rituais como o pagamento dos dízimos (Lucas 11:42), mesmo sem a submissão à lei moral da justiça, da misericórdia e da fé (Mateus 23:23)." (Novo Dicionário da Bíblia. Dízimos. J. D. Douglas)

"Sempre houve pobres em Israel, em todos os estágios da sua história. A pobreza dos mesmos pode ter sido causada por meio de desastres naturais que conduziam a más colheitas, por meio de invasões de inimigos, por meio de opressão por parte de vizinhos poderosos, ou por meio da usúria extorsiva. Havia a obrigação, da parte dos membros mais ricos da comunidade, de apoiarem seus irmãos mais pobres (Deuteronômio 15:1-11). Aqueles que estavam mais sujeitos a sofrerem pobreza eram os órfãos e as viúvas, além dos estrangeiros sem terras (gerim). Esses eram frequentemente vítimas de opressão (Jeremias 7:6; Amós 2:6,7), mas Javé era o seu vindicador (Deuteronômio 10:17-19; Salmos 68:5,6). A lei recomendava que se devia fazer provisão para os tais (Deuteronômio 24:19-22), e entre eles estavam enumerados os levitas (Deuteronômio 14:28,29) devido o fato que não possuíam  terras. O indivíduo podia vender-se como escravo, porém, se fosse hebreu, tinha de ser tratado de modo diferente do tratamento dispensado aos estrangeiros (Levítico 25:39-46).

(...) Havia pesados tributos de várias espécies impostos aos judeus, nos tempos do NT. Provavelmente muitos se encontravam em apertos econômicos, enquanto outros tiravam considerável proveito de sua colaboração com os romanos.

Os saduceus, de mente voltada para as coisas materiais, eram geralmente ricos como também o eram os cobradores de impostos ou publicanos." (Novo Dicionário da Bíblia. Pobreza. J. D. Douglas)

"Nisso tudo, o Templo tem papel central:

 - Coleta de impostos, através da qual boa parte da produção do país volta para o Estado.

  - Comércio: para atenderá necessidade dos peregrinos e, principalmente, para manter o sistema de sacrifícios e ofertas do próprio Templo.

  - O Tesouro do Templo, administrado pelos sacerdotes, é o tesouro do Estado.

   Além de toda essa centralização econômica, o Templo emprega mão-de-obra qualificada, principalmente artesãos.

   Assim, o Templo se torna o grande centro de exploração e dominação do povo. "(Bíblia Sagrada Edição Pastoral - Edições Paulinas, 1990).

Por causa disso, Jesus disse aos seus discípulos: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais e gostam muito de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!" (Lucas 20:45-47)

"A prece é ato de caridade, é um arroubo do coração. Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem é transformar-se em intermediário assalariado.

(...) Deus não vende os benefícios que concede. Como, pois, um que não é, sequer, o distribuidor deles, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? Não é possível que Deus subordine um ato de clemência, de bondade ou de justiça, que da sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. Do contrário, se a soma não fosse paga, ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça. A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico. Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra, poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo?

Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas: é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. "(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.26. Item 4. Allan Kardec)

Por isso, o Espírito André Luiz faz a seguinte advertência: "Nas reuniões doutrinárias, jamais angariar donativos por meio de coletas, peditórios ou vendas de tômbolas, à vista dos inconvenientes que apresentam, de vez que tais expedientes podem ser tomados à conta de pagamento por benefício."(Conduta Espírita. Cap. 10 e 11. Espírito André Luiz. Psicografado por Waldo Vieira)

Jesus Cristo, que veio com a missão de revelar as verdadeiras leis divinas,  não recomendou a prática obrigatória do dízimo.  Quando Jesus se refere ao dízimo em  Mateus 23:23, quis nos trazer o ensinamento moral de que não adianta nada os fariseus e escribas doarem o dízimo, se continuavam cheios de maldade e injustiça. 

Jesus e os apóstolos tinham profissão e faziam caridade de graça, sem pedir nada em troca.  Jesus disse: "Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça."  (Mateus 10:8)  O apóstolo Paulo também trabalhava para o seu sustento e disse: "Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós." (2 Tessalonicenses 3:8) Com relação a oferta, ele fez a seguinte recomendação: "Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria." (2 Coríntios 9:7)

Jesus recomendou fazer a caridade material em secreto, de acordo com suas condições financeiras, sem a obrigatoriedade de doar o dízimo.  Ele disse:" (...)Que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente." (Mateus 6:4)

Quando contou a história do Óbolo da Viúva, Ele não afirmou que as pessoas deveriam fazer ofertas especificamente para o templo, Jesus apenas utilizava-se de fatos cotidianos da vida do povo judeu para  trazer um ensinamento moral, ou seja, quis ensinar que " A oferta de uma pessoa pobre pode ser de muito maior valor do que a grande oferta de um indivíduo rico (Marcos 12:41-44)".  (Novo Dicionário da Bíblia. Pobreza. J. D. Douglas)

Em outras palavras, " (...) O  óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma, (...) Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o  óbolo da viúva." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 13. Item 6. Allan Kardec)

Portanto, se quiserem realmente seguir os passos de Jesus, os pastores das igrejas evangélicas, os padres da igrejas católicas e os médiuns espíritas  deverão trabalhar para o seu próprio sustento. É fácil fazer caridade sendo sustentado pelo dinheiro do povo, porém difícil é trabalhar para ganhar o pão de cada dia e seguir o exemplo moral do óbolo da Viúva.

No Espiritismo, o Espírito Emmanuel faz a seguinte advertência: " A remuneração financeira, no trato das questões profundas da alma, estabelece um comércio criminoso, do qual o médium deverá esperar no futuro os resgates mais dolorosos." (O Consolador. Questão 402. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

"O médium, o conferencista, o doutrinador, todos os que dão assistência espiritual individualmente, em sentido religioso nada podem cobrar. Fora do campo espiritual e religioso não existe nem pode existir o princípio da gratuidade. A finalidade desse princípio é evitar a institucionalização religiosa do Espiritismo em forma de igreja, evitar o comércio religioso, a simonia das igrejas. Porque um pregador pago ou um médium pago expõe-se à tentação de transformar a doutrina em meio de vida. Dessa tentação pode nascer a profissionalização religiosa, que acabaria subordinando a própria doutrina aos interesses financeiros. Os interesses particulares excitam a ambição e anulam a espontaneidade e a sinceridade, abrindo brechas por toda parte para o aviltamento doutrinário. Onde entra o lucro, o interesse pessoal, desaparece a abnegação e com ela a mais alta virtude espírita que é a doação de si mesmo em favor da causa humanitária. (...) São poucos os que resistem a esse poder do dinheiro, que na verdade não está no dinheiro mas na alma gananciosa e vaidosa. Há casos espantosos de instituições que se enriqueceram e esqueceram as suas próprias finalidades, transformando-se em verdadeiras casas comerciais, onde o interesse financeiro se sobrepõe aos interesses sagrados da doutrina. "(Mediunidade. Cap. 9. J. Herculano Pires)

Sabendo disso, ao se despedir dos anciãos de Éfeso, Paulo de Tarso fez a seguinte advertência:

"Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho.  E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas.  Agora, eu os entrego a Deus e à palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados.  Não cobicei a prata, nem o ouro, nem as roupas de ninguém.  Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros.  Em tudo o que fiz, mostrei a vocês que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: 'Há maior felicidade em dar do que em receber' ". (Atos 20:29-35)

Entretanto, infelizmente, ainda vemos religiosos hipócritas e ambiciosos roubando as casas das pobres viúvas, explorando-as através das ideias distorcidas do pagamento do dízimo. 

Obs.(1): Cominho: (heb., kamon; gr., kyminon) - Uma semente aromática da Cuminum cyminum, uma planta indígena da Ásia Ocidental, cultivada desde os tempos mais antigos. Parecendo-se com a alcaravia quanto ao sabor e a aparência, era empregada para condimentar pratos, particularmente durante as festas, afirmando alguns que possui propriedades medicinais. A planta era batida com varas, para preservar as pequenas sementes moles (Isaías 28:27). Os escribas e fariseus, que escrupulosamente pagavam o dízimo do cominho, foram acusados por Jesus de estarem negligenciando as questões mais importantes (Mt 23:23) (Novo Dicionário da Bíblia. Cominho. J. D. Douglas)

Passatempo Espírita © 2013 - 2024. Todos os direitos reservados. Site sem fins lucrativos.

Desenvolvido por Webnode