"O Espiritismo não admite, para cada um, senão a responsabilidade de seus próprios atos; segundo ele, o pecado original é pessoal; ele consiste nas imperfeições que cada indivíduo traz ao renascer, porque ainda não se despojou delas em suas existências precedentes, e cujas consequências ele naturalmente sofre na existência atual." (Revista Espírita. Junho de 1868. Notícias bibliográficas. Allan Kardec)
De acordo com o Rabino Benjamin Massé, o dogma do pecado original surgiu a partir da interpretação falsa que fizeram do relato da Gênese:
"Escravos da letra, afirmam que a primeira mulher foi seduzida pela serpente, que comeu um fruto proibido por Deus, que fez o seu esposo comê-lo, e que, por esse ato de revolta aberta contra a vontade divina, o primeiro homem e a primeira mulher incorreram na maldição do céu, não só para si, mas para os seus filhos, para a sua raça, para a Humanidade inteira, para a Humanidade cúmplice, seja qual for a distância no tempo em que se encontre dos culpados, cúmplice de seu crime, do qual é, por conseqüência, responsável em todos os seus membros presentes e futuros.
Segundo essa doutrina, a queda e a condenação de nossos primeiros pais foram uma queda e uma condenação para a sua posteridade; daí, para o gênero humano, males inumeráveis, que teriam sido sem-fim, sem a mediação de um Redentor, tão incompreensível quanto o crime e a condenação para o qual foi convocado. Assim como o pecado de um só foi cometido por todos, a expiação de um só será a expiação de todos; perdida por um só, a Humanidade será salva por um só. A redenção é a conseqüência inevitável do pecado original.
Compreende-se que não discutamos essas premissas com suas conseqüências, que para nós não são mais aceitáveis, do ponto de vista dogmático, do que do ponto de vista moral.
Nossa razão e nossa consciência jamais se acomodarão com uma doutrina que apaga a personalidade humana e a justiça divina, e que, para explicar as suas pretensões, nos faz viver todos juntos na alma como no corpo do primeiro homem, ensinando-nos que, por mais numerosos que sejamos no curso das idades, fazemos parte de Adão em espírito e em matéria, que participamos de seu crime e que devemos ter nossa parte na sua condenação.
O sentimento profundo de nossa liberdade moral se recusa a essa assimilação fatal, que tiraria a nossa iniciativa, que nos acorrentaria, mau grado nosso, num pecado distante, misterioso, do qual não temos consciência, e que nos faria sofrer um castigo ineficaz, pois que, aos nossos olhos, não seria merecido.
A idéia indefectível e universal que temos da justiça do Criador, se recusa ainda mais energicamente a crer no comprometimento, pela falta de um só, dos seres livres criados sucessivamente por Deus na sucessão dos séculos.
Se Adão e Eva pecaram, só a eles cabe a responsabilidade de seu erro; só a eles a degradação, a expiação, a redenção por meio de seus esforços pessoais para reconquistar a sua nobreza. Mas nós, que viemos após eles, que, como eles, fomos objeto de um ato idêntico da parte do poder criador, e que devemos, a esse título, ter um preço igual ao de nosso primeiro pai aos olhos do nosso Criador, nascemos com a nossa pureza e a nossa inocência, de que somos os únicos donos, os únicos depositários, e cuja perda ou conservação não dependem absolutamente senão de nossa vontade e das determinações do nosso livre-arbítrio. "(Revista Espírita. Novembro de 1868. O Pecado Original Segundo o Judaísmo. Rabino Benjamin Massé/ Allan Kardec )
Segundo Léon Denis, "Não é admissível houvesse Deus criado o homem e a mulher com a condição de não se instruírem. Menos admissível, ainda, é que ele tenha, por uma única desobediência, condenado a sua posteridade e a Humanidade inteira à morte e ao inferno.
Que pensar, (...) de um juiz que condenasse um homem sob o pretexto de que, há milhares de anos, um seu antepassado cometera um crime?" É, entretanto, esse odioso papel que o Catolicismo atribui ao juiz supremo - Deus!
(...) Se considerarmos o dogma do pecado original e da queda qual o é, realmente, isto é, como um mito, uma lenda oriental, exatamente como se depara em todas as cosmogonias antigas; se destruirmos com um sopro tais quimeras, todo o edifício dos dogmas e mistérios imediatamente se desmorona.
Todos os homens, perdidos pelo pecado de Adão, seriam votados à condenação eterna, se Deus, em sua misericórdia, não tivesse encontrado um meio de os salvar. Esse meio é a redenção. O filho de Deus se faz homem. Em sua vida terrestre, cumpriu a vontade do Pai e satisfez sua justiça, oferecendo-se em holocausto para salvação de todos os que se ligam à sua igreja.
Desse dogma resulta que os fiéis não são salvos por um exercício da sua livre vontade, nem por seus próprios merecimentos, porque não há livre-arbítrio em face da soberania de Deus, mas por efeito de uma graça que Deus concede a seus eleitos. Levando esse argumento a todas as suas conseqüências lógicas, poder-se-ia dizer: É Deus quem atrai os escolhidos e quem endurece os pecadores. Tudo se faz pela predestinação divina. Adão, por conseguinte, não pecou por seu livre-arbítrio. Foi Deus, absoluto soberano, que o predestinou à queda. Esse dogma conduz a tão deploráveis resultados..."(Cristianismo e Espiritismo. Cap. 7. Os dogmas - Os sacramentos, o Culto. Léon Denis)
"O pecado original é o egoísmo e o orgulho, que presidem a todos os atos da vida do homem;
É o demônio da inveja e do ciúme, que roem o seu coração;
É a ambição que perturba o seu sono;
É a cupidez, que não pode saciar a avidez de lucro;
É o amor e a sede de ouro, este elemento indispensável para dar satisfação a todas as exigências do luxo, do conforto, do bem-estar, que persegue o século com tanto ardor.
Eis o pecado original proclamado pelo Gênesis, que o homem sempre ocultou em si.& (Revista Espírita. Novembro de 1867. Notícias bibliográficas. Michel Bonnamy / Allan Kardec)
"A alma é criada simples e ignorante , isto é, nem boa nem má, porém suscetível, em razão do seu livre-arbítrio, de seguir o bom ou o mau caminho, ou, por outra, de observar ou infringir as Leis de Deus. " (O que é o Espiritismo. Cap. 3. Questão 130. Allan Kardec)
"Os maus pendores naturais são os restos das imperfeições do Espírito, das quais ele não se despojou inteiramente; são também os indícios das faltas que ele cometeu, e o verdadeiro pecado original . A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas. "(O Espiritismo em sua expressão mais simples. Item 21. Allan Kardec)