Se Jesus disse: "Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes." (S. Marcos, 11:24), por que nem sempre recebemos o que desejamos?
Será que é porque não sabemos pedir o que realmente necessitamos? Temos vistos muitas solicitações de preces em grupos espíritas virtuais, sem que o indivíduo faça o mínimo esforço para frequentar um Centro Espírita, realizar a reforma íntima, entrar em sintonia com os bons espíritos e utilizar a sua faculdade intelectual. Essas pessoas supõem que todo o mérito está na maneira como o pedido da prece foi realizado, porém fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Talvez, este seja um dos principais motivos para a ineficácia da prece.
Uma vez, um Espírito protetor disse: "Imaginais quase sempre que o que pedis na prece deve realizar-se por uma espécie de milagre. Esta crença errônea é fonte de uma porção de práticas supersticiosas e de muitas decepções." (Revista Espírita. Maio de 1866. Dissertações espíritas. Aquiescência à prece. Um Espírito protetor. Allan Kardec)
Na atualidade, temos visto uma prática muito comum sendo realizada nas redes sociais: indivíduos tem feito publicações diárias em grupos virtuais espíritas ou espiritualistas inserindo uma imagem de um Espírito iluminado ou de uma entidade da umbanda ou de algum santo católico com alguns dizeres que prometem cura, prosperidade ou bençãos. Devido a disseminação desta prática supersticiosa, muitos têm se iludido com falsas promessas de milagres, acreditando que irá se realizar, apenas inserindo um comentário na publicação. Na realidade, há séculos, práticas semelhantes já existiam, onde os fiéis respondem "amém" às autoridades religiosas, após estes realizarem promessas nos templos que não se pode cumprir.
Grande parte dos indivíduos, infelizmente, estão ainda apegados aos dogmas e rituais, sem saberem o real significado da prece. Tornou-se um hábito as pessoas fazerem pedidos de prece ou responderem automaticamente "amém", sem se esforçarem para estudar o Evangelho do Cristo, realizar a melhoria íntima e cumprir suas tarefas para buscar os seus objetivos na vida.
De acordo com Allan Kardec, "Deus não lhe outorgou a razão e a inteligência, para que ele as deixasse sem serventia; a vontade, para não querer; a atividade, para ficar inativo. Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe acarretam, e aos demais, conseqüências subordinadas ao que ele faz ou não.
(...)Desta máxima: "Concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece", fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem. É como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses. Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura.
O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: "Ajuda-te, que o Céu te ajudará"; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 27. Item 6 e 7. Allan Kardec)
Podem as preces que por nós mesmos fizermos mudar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?
"As vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas há que têm de ser suportadas até ao fim; mas Deus sempre leva em conta a resignação. A prece traz para junto de vós os Espíritos bons e, dando-vos estes a força de suportá-las corajosamente, menos rudes elas vos parecem. Dissemos que a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque fortalece aquele que ora, o que já constitui grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará, bem o sabes. Ademais, não é possível que Deus mude a ordem da natureza ao sabor de cada um, porquanto o que, do vosso ponto de vista estreito e na perspectiva da vossa vida efêmera, vos parece um grande mal, frequentemente é um grande bem na ordem geral do universo. Além disso, de quantos males não se constitui o homem o próprio autor, pela sua imprevidência ou pelas suas faltas? Ele é punido naquilo em que pecou. Todavia, as súplicas justas são atendidas mais vezes do que supondes. Julgais, de ordinário, que Deus não vos ouviu, porque não fez a vosso favor um milagre, enquanto que vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do acaso ou da força das coisas. Muitas vezes também, as mais das vezes mesmo, ele vos sugere a ideia que vos fará sair da dificuldade pelo vosso próprio esforço."
(O Livro dos Espíritos. Questão 663. Allan Kardec)
Segundo Herculano Pires, "Podemos pedir a Deus o que quisemos, mas só receberemos aquilo de que realmente carecemos. A prece nos ajuda, estabelece a nossa sintonia com os Espíritos Benevolentes, mas se deixarmos de lado o bomsenso e a perspicácia, se não nos mantivermos em vigilância, esperando tudo do Céu e não usado o nosso discernimento, só a experiência por mais dura que seja, poderá corrigirnos. Analisemos bem este problema para não chorarmos mais tarde sobre a nossa incúria. Os Espíritos Bons nos amparam, assistem e ajudam, dandonos orientação e conselhos intuitivos, mas não tomam o nosso lugar naquilo que só a nós pertence." (O Centro Espírita. Cap. 10. J. Herculano Pires)
Portanto, ao invés de pedir preces virtuais para desconhecidos, que mal lhe conhecem, faça um esforço próprio e aprenda a entrar em sintonia com os bons Espíritos, por meio do silêncio e recolhimento. Realize a sua própria oração, que será ouvida, conforme suas necessidades, pois todos nós temos nosso anjo da guarda e espíritos protetores ao nosso redor. Jesus disse: " (...) quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará." (Mateus 6:6)
Obs.: Geralmente, somente é necessário recorrer a intervenção de terceiros no Centro Espírita, quer pela prece, quer pela ação magnética, em casos que o indivíduo esteja sofrendo obsessão grave ou esteja precisando de cura, que poderá ser realizada por intermédio de um médium.