POR QUE EXISTEM POUCOS CENTROS ESPÍRITAS QUE REALIZAM O TRABALHO DE DESOBSESSÃO E PREFEREM APENAS REALIZAR AS REUNIÃOS MEDIÚNICAS?

De acordo com o livro "Os Mensageiros" psicografado por Chico Xavier, existe diferença em atender um espírito sofredor e um espírito obsessor, pois "é mais fácil remediar o que geme, que atender ao revoltado" (Os Mensageiros. Cap. 29. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier).

As Reuniãos Mediúnicas são destinadas para educação mediúnica e atender espíritos sofredores, e as Reuniãos de Desobsessão são voltadas para atender espíritos obsessores, por meio do trabalho de espíritas experientes.

Segundo Divaldo Franco, "As reuniões de educação mediúnica, como o próprio nome sugere, são as que agrupam pessoas sem experiência, procedentes tanto dos cursos básicos de Espiritismo como das diversas áreas de atividades estruturadas na Casa Espírita. Essas reuniões se formam, às vezes, em sequência aos currículos de estudos sistematizados da Doutrina Espírita, quando o interesse de uma determinada turma de alunos direciona-se para os estudos teórico-práticos específicos sobre mediunidade e o Centro Espírita resolve dar guarida a esse interesse.

(...) Na fase inicial de vida das reuniões de educação mediúnica costuma-se reservar a maior parte de seu tempo de duração para o estudo das disciplinas teóricas, ficando a parte menor para os exercícios práticos. Com o passar dos anos e à medida que os potenciais mediúnicos das pessoas vão sendo desvelados, a demanda de Espíritos sofredores atraídos para essas reuniões cresce, tornando-se necessário aumentar o tempo reservado para o intercâmbio espiritual...

(...) É nessa trajetória que chegará o momento para passar a se envolver com a desobsessão, primeiramente através de alguns médiuns que se adestraram e se fortaleceram mais rapidamente, depois com a maioria ou com todos.

O momento de começar a desobsessão não se dá por decreto humano. Queremos com isso dizer que não basta que o dirigente encarnado do grupo afirme: "A partir de hoje o nosso grupo será de desobsessão". Se o grupo não estiver maduro e preparado os Mentores não acatarão a vontade dos encarnados, prosseguindo a reunião conforme a capacidade da sua equipe. Havendo insistência dos dirigentes para se autopromoverem provocando atendimentos para os quais o grupo não tem suporte, a obsessão se instalará nos médiuns ou então fará enveredar pelo desserviço das mistificações."

Quem examinou a obra de Manoel Philomeno de Miranda, TRILHAS DA LIBERTAÇÃO, há de se lembrar da advertência do Espírito Carneiro de Campos, quando, textualmente, escreveu no capítulo intitulado A Luta Prossegue : "O labor de desobsessão é terapia avançada que exige equipes hábeis de pessoas e Espíritos adestrados nas suas realizações, de modo a se conseguir os resultados positivos e esperados. Não raro, candidatos apressados e desaparelhados aventuram-se em tentames públicos e privados de intercâmbio espiritual, desconhecendo as armadilhas e a astúcia dos desencarnados, procurando estabelecer contatos e procedimentos para os quais não se encontram preparados, comprometendo-se desastradamente com aqueles aos quais pretendem doutrinar ou impor suas ideias. Arrogantes uns, ingênuos outros, permitem-se a leviandade de abrir portas mediúnicas a intercâmbio desordenado, na pressuposição de que se podem fazer respeitados, obedecidos, em grande risco de natureza psíquica". (Qualidade na prática mediúnica. Questão 82. Divaldo Franco)

De acordo com a Allan Kardec, " Para os afastar, não basta pedir-lhes, nem mesmo ordenar-lhes que se vão; é preciso que o homem elimine de si o que os atrai. Os Espíritos maus farejam as chagas da alma, como as moscas farejam as chagas do corpo." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 28. Item 16. Allan Kardec)

Segundo Hermínio C. Miranda, "O Espírito que debate conosco sabe de nossas inúmeras fraquezas, tanto quanto nós, e até mais do que nós, às vezes, por serem, frequentemente, companheiros de antigas encarnações, em que fomos, talvez, comparsas de desacertos hediondos. Ele nos vigia, observa­nos, analisa­nos e estuda­nos, de uma posição vantajosa para ele: na invisibilidade. Tem condições de aferir nossa personalidade e nossos propósitos, pela maneira como agimos em nosso relacionamento com os semelhantes. Percebe mais as nossas intenções, a intensidade e a sinceridade do nosso sentimento, do que o mero som das palavras que pronunciamos. Se estivermos recitando lindos textos evangélicos, sem sustentação na afeição legítima, ele o saberá também. (...)É preciso que o doutrinador esteja preparado para estas situações. Não adianta exibir virtudes que não possui ainda. Deve lembrar­-se, porém, de que somos julgados e avaliados, não pelos resultados que obtemos, mas pelo esforço que realizamos para alcançá-­los. Não é preciso ser santo, para doutrinar. Aqueles que já se purificaram a esse ponto, dedicam-­se a tarefas mais complexas, de maior responsabilidade, compatíveis com o adiantamento espiritual que já alcançaram. Por outro lado, não podemos esperar a perfeição para ajudar o irmão que sofre. É exatamente porque ainda somos tão imperfeitos quanto ele, que estamos em condições de servi-­lo mais de perto." (Diálogo com as sombras.  Cap. 4. Hermínio C. Miranda)

"O obsessor não deve ser arrancado à força ou expulso. Ele precisa ser convencido a abandonar seus propósitos e levado ao arrependimento. Isto se faz buscando com ele um entendimento, um diálogo, pelo qual procure mos educá-­lo moralmente, mas sem a arrogância do mestre petulante, e sim com o coração aberto do companheiro que procura compreender as suas razões, o núcleo de sua problemática, o porquê da sua revolta, do seu ódio. Por mais violento e agressivo que seja, é invariavelmente um Espírito que sofre, ainda que não o reconheça. A argumentação que utilizarmos tem que ser convincente." (Diálogo com as sombras.  Cap. 10. Hermínio C. Miranda)

"Poderíamos dizer que cada grupo tem os guias e protetores que merece. Se o grupo empenha­se em servir desinteressadamente, dentro do Evangelho do Cristo, escorado na Doutrina Espírita, disposto a amar  incondicionalmente, terá como apoio e sustentação uma equipe correspondente, de companheiros desencarnados do mais elevado padrão  espiritual, verdadeiros técnicos da difícil ciência da alma. O trabalho desses amigos é silencioso e sereno. (...) Inspiram-nos através da intuição, acompanham­-nos até mesmo no desenrolar de nossas tarefas humanas. Guardam, porém, o cuidado extremo de não  interferir com o mecanismo do nosso livre-­arbítrio, pois não se encontram ao nosso lado para resolver por nós os nossos problemas, mas para dar-­nos a solidariedade do seu afeto. Mesmo no trabalho específico do grupo, interferem o mínimo possível, pois sabem muito bem que o Espírito desajustado precisa de ser abordado e tratado de um ponto de vista ainda bem humano. Se fosse possível resolver suas angústias no mundo espiritual, não precisariam trazê-­los até nós. (...)Frequentemente, os Espíritos atormentados nem sabem por  que se acham numa sessão, falando através de um médium. Ignoram como foram trazidos, ou se dizem convidados, julgando que vieram por livre e espontânea vontade. Muitas vezes admitem estar constrangidos, contidos, sob controle, mas não sabem de onde vem a força que os contém. Os benfeitores assistem à sessão, socorrem­nos com seus recursos, nos momentos críticos, fazem pequenas recomendações ou dão indicações sumárias, através da intuição ou da mediunidade ostensiva de algum companheiro. (...)Os Espíritos arrependidos e dispostos à recuperação são levados a centros de reeducação e tratamento, e entregues a outras equipes espirituais, já adestradas para esse tipo de encargo, enquanto a tarefa no grupo mediúnico prossegue. "(Diálogo com as sombras. Cap. 8. Hermínio C. Miranda)

Segundo Allan Kardec, "Os Espíritos sérios vão aonde  são  chamados seriamente, com fé, fervor e confiança. Eles não gostam de ser usados em experiências, nem de dar espetáculo." (Revista Espírita. Julho de 1859. Sociedade pariense de estudos Espíritas. Allan Kardec)

Por que , então, muitos não aceitam realizar este tipo de trabalho?

Porque é necessário ter conhecimento prévio do Espiritismo, dedicar-se ao estudo sistematizado e contínuo das obras espíritas, se esforçar no bem e ter muita disciplina.  Quando o Espírito Emmanuel  propôs à Chico Xavier o trabalho mediúnico com o Evangelho de Jesus , Ele recomendou  " disciplina, disciplina, disciplina " como sendo condição básica para o bom e ideal exercício da mediunidade. (Vide: Lindos casos de Chico Xavier. Ramiro Gama)

"A tarefa precisa ser desenvolvida com muita assiduidade e continuidade ininterrupta. Nem sempre estaremos fisicamente dispostos a ela, em virtude do cansaço, das lutas naturais da vida diária, do desgaste e das tensões provocados pela atividade profissional, dos inconvenientes oriundos de pequenas indisposições orgânicas. O dia destinado à reunião exige renúncias diversas, pequenas, mas às quais nem sempre estamos acostumados: moderação e vigilância, por  exemplo. Como os trabalhos são usualmente realizados à noite, não podemos destiná­-la ao convívio da família, aos passeios, às visitas, ao relaxamento, à leitura de livro recreativo ou  à novela de televisão. É um dia de recolhimento íntimo, ao qual temos que nos habituar, aos poucos. Estamos cientes disso. Da mesma forma, encontramo-­nos perfeitamente conscientizados das responsabilidades que assumimos. Vamos nos defrontar  com Espíritos desajustados que, no desespero em que se precipitaram, voltam-­se contra nós, muitas vezes sem razão alguma, senão a de que estamos tentando despertá-­los para realidade extremamente dolorosa, da qual se escondem aflitivamente. "(Diálogo com as sombras.  Cap. 1. Hermínio C. Miranda)

Além disso,  Herculano Pires explica um outro motivo, que justifica haver poucos interessados neste tipo de trabalho:  "Muitas criaturas perguntam se os espíritas não são pretensiosos e orgulhosos, ao se julgarem capazes de esclarecer espíritos desencarnados. Acham que esse é um serviço dos Espíritos Superiores e não dos homens. Chegam a fazer cálculos para demonstrar aos espíritas que esse trabalho é em vão, pois o número de espíritos que podem assistir em suas sessões é diminuto. Esquecem-­se de que toda atividade esclarecedora, em qualquer campo, vale mais pela sua possibilidade de propagação.

(...)Nas sessões espíritas não se pretende abranger todos os espíritos necessitados - o que seria impossível - mas cuidar daqueles que estão mais ligados a nós. A doutrinação de um espírito perturbado é quase sempre o pagamento de uma dívida nossa para aquele espírito. Se o prejudicamos ontem, hoje o socorremos. E ele, socorrido, torna­se um novo assistente da grande batalha pelo esclarecimento geral. Cada espírito que conquistamos para o bem representa um novo impulso na luta, o acréscimo de mais um companheiro, um aumento do bem. Devemos sempre lembrar que o bem é contagiante. Se libertarmos uma vítima da obsessão na Terra, libertamos outra no mundo espiritual que nos cerca. Essa multiplicação se processa num crescendo, atingindo progressivamente a centenas de pessoas e espíritos. Alegam alguns que os espíritos perturbados são assistidos no próprio plano espiritual. Mas Jesus, por acaso, deixou de assistir aos espíritos necessitados, aqui mesmo, na Terra?

Pelo contrário, os assistiu  e mandou  ainda os seus discípulos fazerem o mesmo (Vide: Mateus 10:8). A experiência espírita confirma o acerto do atendimento terreno, demonstrando cientificamente que os espíritos desencarnados, mas ainda muito apegados às condições da vida material, precisam de assistência mediúnica para se livrarem desse apego. Nas sessões, como observou o sábio francês Gustavo Geley, a emanação de ectoplasma forma um ambiente favorável às relações dos espíritos com os homens. Nesse ambiente mediúnico os espíritos apegados à matéria sentem a impressão de maior segurança, como se estivessem novamente encarnados . Muitas vezes, nas sessões , Espíritos orientadores servem­se de um médium para doutrinar mais facilmente essas entidades confusas.

(...) Os que hoje procuram diminuir o valor e a importância dessas sessões nos Centros não passam de palpiteiros. Os Centros Espíritas bem organizados e bem orientados não se deixam levar por esses palpites, pois possuem suficiente experiência nesse campo altamente melindroso de suas atividades doutrinárias. Da mesma maneira, os que pretendem que as sessões dos Centros sejam dedicadas apenas às manifestações de Espíritos Superiores, revelam egoísmo e falta de compreensão doutrinária. A parte mais importante e necessária das atividades mediúnicas, mormente em nossos dias, é precisamente a da prática doutrinária da desobsessão. Trabalhar nesse setor é dever constante dos médiuns esclarecidos e dedicados ao bem do próximo."(O Centro Espírita. Cap. 2. J. Herculano Pires)

"Ajudando as entidades em desequilíbrio, ajudarão a si mesmos; doutrinando, acabarão igualmente doutrinados." (Missionários da Luz. Cap. 17. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)

Segundo o Espírito André Luiz, "Nenhuma instituição de Espiritismo pode, a rigor, desinteressar-se desse trabalho imprescindível à higiene, harmonia, amparo ou restauração da mente humana, traçando esclarecimento justo, seja aos desencarnados sofredores, seja aos encarnados desprovidos de educação íntima que lhes sofram a atuação deprimente, conquanto, às vezes, involuntária.

Cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores da desobsessão, quando não seja destinada a socorrer  as vítimas da desorientação espiritual que lhes rondam as portas, para defesa e conservação de si mesma. (...) Recordemos, reconhecidamente, (...) que o Espiritismo é o Cristianismo Restaurado e que o pioneiro número um da desobsessão, esclarecendo Espíritos infelizes e curando obsidiados de todas as condições, foi exatamente Jesus."  (Desobsessão. Espírito André Luiz. Psicografado por Waldo Vieira/ Chico Xavier )

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