O Espírito Erasto responde esta pergunta, dizendo: "Em virtude mesmo da lei do progresso. É fácil compreender a economia desta lei. Aquele que marcha está no movimento, isto é, na lei da atividade humana; aquele que não progride, que em essência se acha estacionário, incontestavelmente não pertence à gradação ou à hierarquia humanitária. Explico-me. O homem que nasce numa posição mais ou menos elevada, acha em sua situação nativa um dado estado de ser. Ora! Ele está certo de que se sua vida inteira decorresse nessa situação, sem que ele lhe tivesse trazido modificações por sua ação ou pela de outrem, ele declararia que a sua existência é monótona, aborrecida, fatigante, numa palavra, insuportável. Acrescento que ele teria perfeita razão, visto que o bem só é bem relativamente ao que lhe é inferior. Isto é tão certo que se puserdes o homem num paraíso terrestre, num paraíso onde não se progride mais, em dado tempo ele achará a existência insustentável e aquela morada um impiedoso inferno. Daí resulta, de maneira absoluta, que a lei imutável dos mundos é o progresso ou o movimento para a frente, isto é, que todo Espírito que é criado está inevitavelmente submetido a essa grande e sublime lei da vida. Consequentemente, assim é a própria lei humana." (Revista Espírita. Março de 1864. Sobre a não perfeição dos seres criados. Médium: Sr. D'Ambel/ Allan Kardec)
Em outras palavras, poderíamos dizer: Se tudo fosse criado perfeito, nenhum ser vivo precisaria trabalhar para o seu sustento, a existência seria monótoma, entediante e insuportável, pois ninguém teria motivação para fazer nada, visto que, por exemplo, o ser humano teria todas as coisas materiais que necessita e toda sabedoria divina...Não seria necessário fazer esforços para progredir...
Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?
"Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não os criou maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria." (O Livro dos Espíritos. Questão 121. Allan Kardec)
"Se fora criado perfeito, o homem fatalmente penderia para o bem. Ora, em virtude do seu livre-arbítrio, ele não pende fatalmente nem para o bem, nem para o mal. Quis Deus que ele ficasse sujeito à lei do progresso e que o progresso resulte do seu trabalho, a fim de que lhe pertença o fruto deste, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. " (A Gênese. Cap. 3. Item 9. Allan Kardec).
"Sem o livre-arbítrio, o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. "(O Livro dos Espíritos. Item 872. Allan Kardec)
"Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina." (O Livro dos Espíritos. Item 843. Allan Kardec)
"Se tal fosse a ordem das coisas, o homem seria qual máquina sem vontade. De que lhe serviria a inteligência, desde que houvesse de estar invariavelmente dominado, em todos os seus atos, pela força do destino? Semelhante doutrina, se verdadeira, conteria a destruição de toda liberdade moral; já não haveria para o homem responsabilidade, nem, por conseguinte, bem, nem mal, crimes ou virtudes. Não seria possível que Deus, soberanamente justo, castigasse suas criaturas por faltas cujo cometimento não dependera delas, nem que as recompensasse por virtudes de que nenhum mérito teriam.
Demais, tal lei seria a negação da do progresso, porquanto o homem, tudo esperando da sorte, nada tentaria para melhorar a sua posição, visto que não conseguiria ser mais nem menos. "(O Livro dos Espíritos. Item 872. Allan Kardec)
Sendo assim...Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?
"Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta."
"A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza." (O Livro dos Espíritos. Questão 132. Allan Kardec)
"A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: Ao progresso intelectual, pela atividade que ele é obrigado a desenvolver no trabalho; ao progresso moral, pela necessidade que os homens têm uns dos outros. A vida social é a pedra de toque das boas e das más qualidades. A bondade, a maldade, a suavidade, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, numa palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o homem perverso, tem por móvel, por objetivo e por estimulante as relações do homem com os seus semelhantes. Por isto, quem vivesse sozinho não teria vícios nem virtudes. Se, pelo isolamento, ele se preserva do mal, anula a possibilidade de fazer o bem.
Uma única existência corporal é manifestamente insuficiente para que o Espírito possa adquirir tudo o que lhe falta em bem e se desfazer de tudo o que em si é mau. O selvagem, por exemplo, poderia, numa só encarnação, atingir o nível moral e intelectual do mais adiantado europeu? Isto é materialmente impossível. Deve ele ficar eternamente na ignorância e na barbárie, privado dos prazeres que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar? O simples bom-senso repele tal suposição, que seria, ao mesmo tempo, a negação da justiça e da bondade de Deus e a da lei progressiva da Natureza. Eis por que Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao Espírito do homem tantas existências quantas forem necessárias para que ele atinja o objetivo, que é a perfeição. Em cada nova existência, ele traz o que adquiriu nas precedentes em aptidão, em conhecimentos intuitivos, em inteligência e em moralidade. Cada existência é, assim, um passo à frente na via do progresso, a menos que, pela preguiça, por sua despreocupação ou por sua obstinação no mal, ele não a aproveite, caso em que deve recomeçar. Dele depende, pois, aumentar ou diminuir o número de suas encarnações, sempre mais ou menos penosas e laboriosas.
(...) Assim é que o Espírito, progredindo gradualmente, à medida que se desenvolve, chega ao apogeu da felicidade. Entretanto, antes de haver atingido o ponto culminante da perfeição, ele goza de uma felicidade relativa ao seu adiantamento, assim como a criança, que gosta dos prazeres da primeira infância, mais tarde aprecia os da juventude, e finalmente os mais sólidos da idade madura.
A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não está na ociosidade contemplativa, que seria, como muitas vezes já foi dito, uma eterna e fastidiosa inutilidade. Em todos os graus, a vida espiritual é, ao contrário, uma atividade constante, mas isenta de fadigas. A suprema felicidade consiste no gozo de todos os esplendores da criação, que nenhuma linguagem humana poderia pintar, e que a mais fecunda imaginação não poderia conceber; no conhecimento e na penetração de todas as coisas; na ausência de todo cansaço físico e moral; numa satisfação íntima, uma serenidade de alma, que nada altera; no amor que une todos os seres, devido à ausência de todo atrito pelo contacto dos maus; e acima de tudo pela visão de Deus e pela compreensão de seus mistérios revelados aos mais dignos. Ela está também nas funções por cujo encargo se sentem felizes. Os puros Espíritos são os messias ou mensageiros de Deus, para transmissão e execução de suas vontades. Eles realizam as grandes missões, presidem à formação dos mundos e à harmonia geral do Universo, encargo glorioso ao qual só se chega pela perfeição. Somente os da ordem mais elevada compreendem os segredos de Deus e se inspiram em seu pensamento, do qual são os representantes diretos." (Revista Espírita. Março de 1865. Onde é o céu? Allan Kardec)
"Evidentemente, a felicidade da criatura deve ser a finalidade de sua criação, de outro modo Deus não seria bom. Ela atinge a felicidade por seu próprio mérito ; adquirido o mérito , ela não pode perder o seu fruto, de outro modo degeneraria; a eternidade da felicidade é então a consequência de sua imortalidade.
Mas, antes de chegar à perfeição, ela tem lutas a sustentar, combates a travar com as paixões más. Não a tendo Deus criado perfeita, mas susceptível de se tornar perfeita, a fim de que ela tenha o mérito de suas obras, ela pode falhar. Suas quedas são as consequências de sua fraqueza natural. Se, por uma queda, ela devesse ser punida eternamente, poder-se-ia perguntar por que Deus não a criou mais forte. A punição que ela sofre é um aviso de que agiu mal, e que deve ter por resultado conduzi-la de volta ao bom caminho. Se a pena fosse irremissível, seu desejo de fazer melhor seria supérfluo; desde logo a finalidade providencial da criação não poderia ser alcançada, pois haveria seres predestinados à felicidade e outros à desgraça. Se uma alma culpada se arrepende, pode tornar-se boa; podendo tornar-se boa, ela pode aspirar à felicidade; Deus seria justo recusando-lhe os meios para isso?
Sendo o bem a meta final da criação, a felicidade, que é seu prêmio, deve ser eterna; o castigo, que é um meio de lá chegar, deve ser temporário. A mais vulgar noção de justiça, mesmo entre os homens, diz que não se pode castigar perpetuamente aquele que tem o desejo e a vontade de fazer o bem. "(O Céu e o inferno. Cap.6. Item 16. Allan Kardec)
Pois que Deus tudo sabe, não ignora se um homem sucumbirá ou não em determinada prova. Assim sendo, qual a necessidade dessa prova, uma vez que nada acrescentará ao que Deus já sabe a respeito desse homem?
"Isso equivale a perguntar por que não criou Deus o homem perfeito e acabado; por que passa o homem pela infância, antes de chegar à condição de adulto. A prova não tem por fim dar a Deus esclarecimentos sobre o homem, pois que Deus sabe perfeitamente o que ele vale, mas dar ao homem toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que tem a liberdade de fazer ou não fazer. Dotado da faculdade de escolher entre o bem e o mal, a prova tem por efeito pô-lo em luta com as tentações do mal e conferir-lhe todo o mérito da resistência. Ora, conquanto saiba de antemão se ele se sairá bem ou não, Deus não o pode, em sua justiça, punir, nem recompensar, por um ato ainda não praticado." (O Livro dos Espíritos. Questão 871. Allan Kardec)
Não podia Deus isentar os Espíritos das provas que lhes cumpre sofrer para chegarem à primeira ordem?
"Se Deus os houvesse criado perfeitos, nenhum mérito teriam para gozar dos benefícios dessa perfeição. Onde estaria o merecimento sem a luta? Demais, a desigualdade entre eles existente é necessária às suas personalidades. Acresce ainda que as missões que desempenham nos diferentes graus da escala estão nos desígnios da Providência, para a harmonia do Universo." (O Livro dos Espíritos. Questão 119. Allan Kardec)
"O progresso dos Espíritos é fruto de seu próprio trabalho. Mas, como são livres, eles trabalham por seu adiantamento com maior ou menor intensidade ou negligência, conforme sua vontade. Assim, eles apressam ou retardam seu progresso, e, por isto mesmo, sua felicidade. Enquanto uns avançam rapidamente, outros se arrastam por longos séculos nas categorias inferiores. Eles são, portanto, os próprios artífices de sua situação, feliz ou infeliz, conforme as palavras do Cristo: "A cada um segundo as suas obras." Todo Espírito que fica para trás não pode lamentar-se senão de si mesmo, da mesma forma que aquele que avança tem todo o mérito do próprio esforço. A felicidade que ele conquistou tem mais valor aos seus olhos." (Revista Espírita. Março de 1865. Onde é o céu? Allan Kardec)
Diante do exposto, podemos concluir que se fôssemos criados perfeitos, não teríamos propósito de existir...Ninguém precisaria ajudar o próximo ou a si mesmo, conforme Jesus recomendou, pois todos nós estaríamos no mesmo grau de desenvolvimento moral, intelectual e material. Além disso, já teríamos alcançado a meta de ficar próximos de Deus, pois estaríamos seguindo as suas leis divinas. Então, não haveria nada para se fazer: os inferiores não precisariam trabalhar para o seu progresso e os superiores não precisariam auxiliar na instrução dos mais ignorantes. A nossa existência seria totalmente sem sentido...