PODEMOS PEDIR QUALQUER TIPO DE CONSELHO AOS ESPÍRITOS NO CENTRO ESPÍRITA?

Em "O Livro dos Médiuns" de Allan Kardec, encontramos algumas repostas sobre este assunto:

Podem pedir-se conselhos aos Espíritos?

"Certamente. Os bons Espíritos jamais recusam auxílio aos que os invocam com confiança, principalmente no que concerne à alma. Repelem, porém, os hipócritas, os que simulam pedir a luz e se comprazem nas trevas ."

Podem os Espíritos dar conselhos sobre coisas de interesse privado?

"Algumas vezes, conforme o motivo. Isso também depende daqueles a quem tais conselhos são pedidos. Os que se relacionam com a vida privada são dados com mais exatidão pelos Espíritos familiares, que são os que se acham mais ligados à pessoa que os pede e se interessam pelo que lhes diz respeito; é o amigo, o confidente dos vossos mais secretos pensamentos. Mas, é tão freqüente os cansardes com perguntas banais, que eles vos deixam. Tão absurdo fora perguntardes, sobre coisas íntimas, Espíritos que vos são estranhos, como seria o vos dirigirdes, para isso, ao primeiro indivíduo que encontrásseis no vosso caminho. Jamais deveríeis esquecer que a puerilidade das perguntas é incompatível com a superioridade dos Espíritos. "

Podem os Espíritos familiares favorecer os interesses materiais por meio de revelações?

"Podem e algumas vezes o fazem, de acordo com as circunstâncias; mas, ficai certos de que os bons Espíritos nunca se prestam a servir à cupidez. Os maus vos fazem brilhar diante dos olhos mil atrativos, a fim de vos espicaçarem e, depois, mistificarem, pela decepção. Ficai também sabendo que, se é da vossa prova passar por tal ou tal vicissitude, os vossos Espíritos protetores poderão ajudar-vos a suportá-la com mais resignação, poderão mesmo, às vezes, suavizá-la; mas, no próprio interesse do vosso futuro, não lhes é lícito isentar-vos dela. Um bom pai não concede ao filho tudo o que este deseja."

Podem os Espíritos dar-nos a conhecer o futuro?

"Se o homem conhecesse o futuro, descuidar-se-ia do presente.

"É esse ainda um ponto sobre o qual insistis sempre, no desejo de obter uma resposta precisa. Grande erro há nisso, porquanto a manifestação dos Espíritos não é um meio de adivinhação. Se fizerdes questão absoluta de uma resposta, recebê-la-eis de um Espírito doidivanas, temo-lo dito a todo momento."

Podem os Espíritos dar-nos a conhecer as nossas existências passadas?

"Deus algumas vezes permite que elas vos sejam reveladas, conforme o objetivo. Se for para vossa edificação e instrução, as revelações serão verdadeiras e, nesse caso, feitas quase sempre espontaneamente e de modo inteiramente imprevisto. Ele, porém, não o permite nunca para satisfação de vã curiosidade."

Podem os Espíritos dar conselhos relativos à saúde?

"A saúde é uma condição necessária para o trabalho que se deve executar na Terra, pelo que os Espíritos se ocupam de boa vontade com ela. Mas, como há ignorantes e sábios entre eles, convém que, para isso, como para qualquer outra coisa, ninguém se dirija ao primeiro que apareça."

Podem os Espíritos guiar os homens nas pesquisas científicas e nas descobertas?

"A ciência é obra do gênio; só pelo trabalho deve ser adquirida, pois só pelo trabalho é que o homem se adianta no seu caminho. Que mérito teria ele, se não lhe fosse preciso mais do que interrogar os Espíritos para saber tudo?

A esse preço, qualquer imbecil poderia tornar-se sábio. O mesmo se dá com as invenções e descobertas que interessam à indústria. Há ainda uma outra consideração e é que cada coisa tem que vir a seu tempo e quando as idéias estão maduras para a receber. Se o homem dispusesse desse poder, subverteria a ordem das coisas, fazendo que os frutos brotassem antes da estação própria."  (O Livro dos Médiuns. Itens 291, 289, 290, 293 e 294. Allan Kardec)

"O Espiritismo afirma expressamente que não se podem dirigir aos Espíritos toda sorte de perguntas; que eles vêm para nos instruir e nos tornar melhores, e não para se ocuparem de interesses materiais; que é equivocar-se quanto ao objetivo das manifestações nelas ver um meio de conhecer o futuro, descobrir tesouros ou heranças, fazer invenções e descobertas científicas para ilustrar-se ou enriquecer sem trabalho; numa palavra, que os Espíritos não vêm ler a buena-dicha." (Revista Espírita. Abril de 1863. Suicídio falsalmente atribuído ao Espiritismo. Allan Kardec)

Segundo Herculano Pires, "Um dos fatores mais freqüentes de decepções, na prática espírita, é o utilitarismo dos praticantes. Há pessoas que só compreendem as coisas do ponto de vista da utilidade imediata. Essas pessoas não se dirigem ao Espiritismo na procura de uma visão mais ampla da vida, de melhor compreensão, de maior equilíbrio psíquico. Desejam, pelo contrário, obter benefícios imediatos: cura, solução de problemas financeiros ou amorosos, arranjo da vida.

Pretendem fazer do Espiritismo um meio de conquista de vantagens pessoais. Os resultados dessa atitude só podem ser negativos. Não é missão do Espiritismo "arranjar a vida" de quem quer que seja. Os Espíritos superiores não estão a serviço dos pequeninos e passageiros interesses humanos. Dessa maneira, a pessoa que deseja benefícios acaba perdendo a assistência dos Espíritos superiores e sofrendo o assédio dos inferiores. Estes, sim, estão sempre prontos a atender a todos os pedidos, mesmo os mais injustos. E, se às vezes fazem alguns benefícios imediatos, não raro cobram muito caro o que fizeram, causando, mais tarde, amargas decepções.

O que se deve buscar no Espiritismo é a elevada compreensão do processo da vida, que ele oferece a todos os estudiosos. Buscando essa compreensão, colocamo-nos em sintonia espiritual com os Mensageiros do Alto, que por sua própria benevolência nos atendem e nos socorrem em tudo o que é possível. Cumpre-se aquele ensinamento de Jesus, que todos os cristãos estudiosos conhecem: "Busca primeiramente o Reino de Deus e a sua Justiça, e tudo o mais te será dado por acréscimo".

Os interesses, as paixões e as angústias humanas servem, muitas vezes, como meios de condução da criatura ao Espiritismo. Mas, não podem transformar-se em finalidade da prática espírita.

É justo que a mão angustiada procure um Centro, um médium ou um doutrinador espírita, para solucionar o problema do filho enfermo. É justo que o homem de negócios, aturdido pelos insucessos, busque uma orientação no meio espírita, como é justo que a criatura atormentada por questões amorosas procure uma palavra de consolo na comunicação mediúnica. Mas, uma vez socorridas pelos Espíritos do Senhor, essas criaturas devem beneficiar-se com as luzes da doutrina, em vez de permanecerem na estagnação dos sentimentos comuns.

Não é somente no Espiritismo que isso acontece. Nas várias religiões, os sacerdotes enfrentam o mesmo problema, com os crentes interessados em transformar as práticas do culto em instrumentos de benefícios pessoais.

(...) O Espiritismo ensina que a vida tem um objetivo e, esse objetivo é o aperfeiçoamento espiritual. O que importa, pois, do ponto de vista espírita, como ensinava Jesus, é o Reino e sua Justiça, e não o bem-estar imediato, a felicidade passageira e ilusória. Pessoas que se aproximam do Espiritismo, tangidas por necessidades e interesses, mas não lhe absorvem os ensinamentos superiores, são as que acabam por decepcionar-se com a doutrina. Elas mesmas causam as suas decepções. De outro lado, como são felizes as que se servem da oportunidade de uma angústia ou de uma dificuldade, para assimilarem a mensagem renovadora do Espiritismo! " (O mistério do bem e do mal. Assistência dos espíritos nas dificuldades da vida. J. Herculano Pires)

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