"Como já o dissemos em muitas ocasiões, os Espíritos inferiores dizem tudo aquilo que queremos, sem preocupação com a verdade. Os Espíritos superiores calam-se ou se recusam a responder, quando lhes fazemos uma pergunta indiscreta ou sobre a qual não têm permissão para explicar-se. "Nesse caso", disseram-nos, "não insistais nunca, porque então os Espíritos levianos respondem e vos enganam; pensais que somos nós e chegais a admitir que caímos em contradição. Os Espíritos sérios não se contradizem nunca. Sua linguagem é sempre a mesma com as mesmas pessoas. Se algum deles diz coisas contrárias tomando o mesmo nome, ficai certos de que não é o mesmo Espírito que fala ou, pelo menos, que não é um bom Espírito. Reconhecereis o bom pelos princípios que ele ensina, pois todo Espírito que não ensina o bem não é um bom Espírito. E vós deveis repeli-lo."
Querendo dizer a mesma coisa em dois lugares diferentes, o mesmo Espírito não se servirá literalmente das mesmas palavras. Para ele o pensamento é tudo. Infelizmente, o homem é mais levado a prender-se à forma do que ao fundo. É essa forma que frequentemente interpreta conforme suas ideias e suas paixões e dessa interpretação podem nascer contradições aparentes que, também elas, se originam na insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas extra-humanas. Estudemos o fundo; perscrutemos o pensamento íntimo e veremos que muitas vezes há analogia onde o exame superficial nos induziria a ver um disparate.
As causas das contradições da linguagem dos Espíritos podem, pois, ser assim resumidas:
1º. ─ O grau de ignorância ou de saber dos Espíritos aos quais nos dirigimos;
2º. ─ O embuste dos Espíritos inferiores que podem, por malícia, ignorância ou malevolência, tomando um nome de empréstimo, dizer coisas contrárias às que alhures foram ditas pelo Espírito cujo nome usurparam;
3º. ─ As falhas pessoais do médium, que podem influir sobre as comunicações e alterar ou deformar o pensamento do Espírito;
4º. ─ A insistência por obter uma resposta que um Espírito se recusa a dar, e que é dada por um Espírito inferior;
5º. ─ A própria vontade do Espírito, que fala conforme o momento, o lugar e as pessoas e pode julgar conveniente nem tudo dizer a toda gente;
6º. ─ A insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo;
7º. ─ A interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, de acordo com as suas ideias, os seus preconceitos ou o ponto de vista sob o qual encara o assunto." (Revista Espírita. Agosto de 1858. Contradições na linguagem dos Espíritos. Allan Kardec)
Em " O Livro dos Médiuns" obtemos outros esclarecimentos sobre este assunto, através das perguntas elaboradas por Allan Kardec. Vejamos:
O Espírito encarnado no médium exerce alguma influência sobre as comunicações que deva transmitir, provindas de outros Espíritos?
"Exerce, porquanto, se estes não lhe são simpáticos, pode ele alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias idéias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete."
Os Espíritos só têm a linguagem do pensamento; não dispõem da linguagem articulada, pelo que só há para eles uma língua. Assim sendo, poderia um Espírito exprimir-se, por via mediúnica, numa língua que jamais falou quando vivo? E, nesse caso, de onde tira as palavras de que se serve?
"Acabaste tu mesmo de responder à pergunta que formulaste, dizendo que os Espíritos só têm uma língua, que é a do pensamento. Essa língua todos a compreendem, tanto os homens como os Espíritos. O Espírito errante, quando se dirige ao Espírito encarnado do médium, não lhe fala francês, nem inglês, porém, a língua universal que é a do pensamento. Para exprimir suas idéias numa língua articulada, transmissível, toma as palavras ao vocabulário do médium."
(...) "Assim, quando encontramos em um médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores, de natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de preferência nos servimos, porque com ele o fenômeno da comunicação se nos torna muito mais fácil do que com um médium de inteligência limitada e de escassos conhecimentos anteriormente adquiridos. "( O Livro dos Médiuns. Cap. 19. Item 223 e 225. Allan Kardec)
"São muitas as dificuldades, das quais não se triunfa senão por um estudo longo e assíduo. Também nunca dissemos que a Ciência espírita é fácil. O observador sério, que tudo aprofunda maduramente, com paciência e perseverança, apreende uma porção de nuanças delicadas que escapam ao observador superficial. É por tais detalhes íntimos que ele se inicia nos segredos desta ciência. A experiência ensina a conhecer os Espíritos, como nos ensina a conhecer os homens." (Revista Espírita. Agosto de 1858. Contradições na linguagem dos Espíritos. Allan Kardec)
"Foi perguntado a Chico Xavier, e publicado no livro No Mundo de Chico Xavier(1), se alguma vez ele teria sido alvo de mistificação da parte de espíritos. Ele disse que sim. E quando foi inquirido sobre qual a razão porque Emmanuel lhe permitira essa vivência de algum espírito comunicar-se e dizer-se quem não era, ele afirmou que aquilo se destinava a que ele visse que não estava invulnerável à insuflação negativa.
Jesus Cristo teve ensejo de dizer que, se Possível fosse, essas entidades, os falsos profetas, enganariam aos próprios eleitos, costumamos nos indagar: "E nós que ainda somos apenas candidatos?"" (Diretrizes de segurança. Item 95. Raul Teixeira. Obs. (1): XAVIER, F.C. No mundo de Chico Xavier, Elias Barbosa, itens 35, 36 e 37)