Eis o que dona Lina nos contou na noite seguinte:
E dizia também Jesus a seus discípulos:
— “Havia um homem rico que tinha um administrador, que foi acusado de gastar os bens de seu patrão.
O patrão chamou-o e disse-lhe:
— Ouvi dizer que tens gastado os meus bens. Quero que prestes contas de tua administração, pois já não podes ser meu administrador”.
O administrador disse lá entre si:
— “O que farei, visto que vou perder o emprego? Cavar não posso, de mendigar tenho vergonha. Mas já sei o que hei de fazer para que ache quem me ajude quando eu estiver desempregado”.
E assim pensando, chamou cada um dos devedores de seu patrão e disse ao primeiro:
— “Quanto deves ao meu patrão?”
— “Cem medidas de azeite”, respondeu-lhe o devedor.
— “Vou marcar nos livros apenas cinqüenta. E você?”
— “Cem sacos de trigo”.
— “Perdoo-lhe vinte, marcando nos livros apenas oitenta”.
E assim fez com outros. Quando o patrão soube de tudo aquilo, louvou aquele administrador.
— Pensei que fosse mandá-lo para a cadeia, falou o sr. Antônio. Explique-nos essa parábola, Lina, que não a compreendi bem.
— O patrão é Deus e os administradores de sua riqueza são os homens. Como raramente os homens empregam bem as riquezas que Deus lhes confia, tornam-se maus administradores. Com a morte, Deus lhes tira a administração. Alguns, mais avisados, fazem com as riquezas de Deus um pouco de benefícios e desse modo não ficam desamparados no mundo espiritual. Agora o senhor compreendeu, titio?
— Sim, sua explicação foi muito clara.
— Por isso é que Jesus nos aconselha que com as riquezas injustas da Terra, arranjemos amigos para a eternidade. Porque não podemos servir a Deus e às riquezas ao mesmo tempo.
— Por que a riqueza é injusta, Lina? perguntou dona Leonor.
— Porque o homem a transforma num instrumento de seus caprichos e de opressão aos pobrezinhos. Quando a Terra for um mundo bem organizado, não haverá ricos nem pobres, mas haverá de tudo para todos. É para organizar a Terra em bases verdadeiramente cristãs que devemos trabalhar.
(O evangelho da meninada. Cap. 73. Eliseu Rigonatti)