Bem-aventurados os aflitos, desde que não convertam a própria dor em azorrague de recriminações sobre a face alheia.
Bem-aventurados os que choram, desde que não transformem as próprias lágrimas em venenosa indução à preguiça.
Bem-aventurados os sedentos de justiça, desde que se abstenham de demandas domésticas ou de querelas nos tribunais, que apenas lhes agravariam os próprios débitos, ante a Lei.
Bem-aventurados os humildes de espírito, desde que não conduzam a própria modéstia ao caminho do orgulho em que se entregarão, desvairados, à crítica desairosa e à condenação sistemática dos companheiros que lhes partilham a senda.
Bem-aventurados os misericordiosos, desde que não façam da compaixão simples peça verbal, para discurso brilhante.
Aflição com revolta chama-se desespero. Pranto com rebeldia é poço de fel.
Sede de justiça, com reivindicações apressadas, é destrutiva exigência.
Singeleza com reproches à conduta alheia é sistema de crueldade.
Misericórdia sem esforço de auxílio é simples ornamento na boca.
Cogitemos de assimilar as bem-aventuranças divinas, sem nos esquecermos, porém, de que todas elas traduzem atitudes da consciência e gestos do coração, porque só no coração e na consciência é que se fundamentam os alicerces do glorioso Reino de Deus.
(O Evangelho por Emmanuel — Volume I. Comentários ao Evangelho segundo Mateus /Reformador, dezembro de 1959, p. 284. Psicografado por Chico Xavier)