OS ESPÍRITOS PODEM SENTIR SENSAÇÕES DE SOFRIMENTO CORPORAL APÓS A MORTE?

Sobre este assunto, Allan Kardec esclarece que o sofrimento não é corporal, pois o Espírito não possui mais órgãos, mas pode haver uma sensação geral, que dependerá do grau de evolução deles, isto é, quanto mais denso é o seu perispírito mais eles sofrem e sentem necessidades, pois ainda estão apegados aos bens materiais.

Vejamos o comentário de Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos":  "A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor.

(...)Liberto do corpo, O ESPÍRITO PODE SOFRER, MAS ESSES SOFRIMENTO NÃO É CORPORAL, EMBORA NÃO SEJA EXCLUSIVAMENTE MORAL, como o remorso, POIS QUE ELE SE QUEIXA DE FRIO E CALOR.

(...) DIZENDO QUE OS ESPÍRITOS SÃO INACESSÍVEIS ÀS IMPRESSÕES DA MATÉRIA QUE CONHECEMOS REFERIMO-NOS AOS ESPÍRITOS MUITO ELEVADOS, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. OUTRO TANTO NÃO ACONTECE COM OS DE PERISPÍRITO MAIS DENSO, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos.

Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção.

(...)A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semimaterial se eteriza.

(...)Os sofrimentos por que passa são sempre a conseqüência da maneira por que viveu na Terra. (...) VIMOS QUE SEU SOFRER RESULTA DOS LAÇOS QUE AINDA O PRENDEM À MATÉRIA; que quanto mais livre estiver da influência desta, ou, por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. "(O Livro dos Espíritos. 257. Allan Kardec)

"A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou menos o da libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, em chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns, suicidas." (O Livro dos Espíritos. Questão 155 e 155-a. Allan Kardec)

Allan Kardec afirma: "Os exemplos desta natureza são muito numerosos. Um dos mais expressivos é o do suicida da Samaritana, que relatamos no nosso número de junho de 1858. Evocado alguns dias depois de sua morte, também afirmava estar vivo e dizia:
"Entretanto sinto que os  vermes me roem". Como fizemos notar no relato, não se tratava de uma lembrança, desde que em vida não era roído pelos vermes . Era então um sentimento atual, uma espécie de repercussão transmitida do corpo ao Espírito pela comunicação fluídica ainda existente entre eles.
Essas comunicações nem sempre se traduzem da mesma maneira, entretanto, são sempre mais ou menos penosas e como um primeiro castigo para quem, quando vivo, muito se identificou com a matéria." (Revista Espírita. Dezembro de 1859. Um Espírito que não se acredita morto. Allan Kardec)

"Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. (...) Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados."(O Livro dos Espíritos. Item 257. Allan Kardec)

Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro. " (O Livro dos Espíritos. Item 257. Allan Kardec)

"A espécie de fadiga que os Espíritos são suscetíveis de sentir guarda relação com a inferioridade deles. Quanto mais elevados sejam, tanto menos precisarão de repousar." (O Livro dos Espíritos. Questão. 254. Allan Kardec)

"A dor que sentem não é, pois, uma dor física, propriamente dita. É um vago sentimento íntimo, de que o próprio Espírito nem sempre se dá conta com precisão, porque a dor não é localizada e não é produzida por agentes externos. É mais uma lembrança do que uma realidade, posto seja uma lembrança realmente penosa. Há, entretanto, algo mais que uma lembrança, como passaremos a ver.
Ensina-nos a experiência que no momento da morte o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes o Espírito não se dá conta da situação; não se julga morto; sente-se vivo; vê seu o corpo ao lado; sabe que é o dele, mas não compreende que do mesmo esteja separado. Esse estado dura enquanto existe uma ligação entre o corpo e o perispírito. "(Revista Espírita. Dezembro 1858. Sensações dos Espíritos. Allan Kardec)

Na obra "Nosso lar", o Espírito André Luiz, após a sua desencarnação, enquanto permanecia em zonas inferiores (umbral),  faz as seguintes alegações: "meus pulmões respiravam a longos haustos", "gargalhadas sarcásticas feriam-me os ouvidos, enquanto os vultos negros desapareciam na sombra", "torturava-me a fome, a sede me escaldava"...Apesar de não ter mais órgãos físicos, ainda sentia sensações confusas, nos primeiros instantes. No entanto, após ser acolhido na colônia espiritual Nosso Lar, disse que serviram-lhe "caldo reconfortante, seguido de água muito fresca, que me pareceu portadora de fluidos divinos" para se adaptar a fase de transição. Entretanto, afirma que há possibilidade dos Espíritos se alimentarem  através da "respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera". Segundo o autor, "o alimento físico, (...) propriamente considerado, é simples problema de materialidade transitória...(...)A alma, em si, apenas se nutre de amor", ou seja, os Espíritos elevados não sentem necessidades materiais, conforme esclarece as obras publicadas por Allan Kardec (Nosso Lar. Cap. 1, 2, 3,  9  e 18. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

Cairbar Schutel confirma estas informações, dizendo: "Aos entes muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem a transformação porque passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em que iniciaram a nova vida, compreendam que não têm mais necessidades desses alimentos, que julgavam precisos para sua manutenção.   Naturalmente, os alimentos assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas são feitos de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de acordo com o corpo fluídico, ou seja, o organismo perispiritual de cada um." (A vida no outro mundo. Cap. 13. Perturbação da morte. Cairbar Schutel)

Aliás, como já fora dito por Allan Kardec, a sensação de fome, pode ser também apenas uma lembrança criada pela própria mente, conforme descreve a médium Yvonne A. Pereira, em sua obra: "A própria fome que os tortura nada mais representa do que o estado de suas consciências feridas pelos atos passados: estes pobres sofredores de hoje, quando encarnados, assassinaram pais de família para roubar, e, como obsessores, uma vez desencarnados, levaram outros tantos ao suicídio, ao homicídio, etc. Ora, muitas das suas vítimas deixaram viúvas e órfãos na miséria, padecendo necessidades extremas. Eles sabem disso e, recordando os órfãos famintos, sentem o reflexo consciencial e padecem mil torturas e ultrajes, a fome inclusive, enquanto veem, em visões macabras, os despojos que suas armas assassinas levaram ao túmulo..." (Devassando o invisível. Cap. 4. Yvonne A. Pereira)

Na obra "Obreiros da vida Eterna", psicografada por Chico Xavier, temos a seguinte explicação: "Segundo sabemos, em plano algum a Natureza age aos saltos. O perispírito, formado à base de matéria rarefeita, mobiliza igualmente trilhões de unidades unicelulares da nossa esfera de ação, que abandonam o campo físico saturadas da vitalidade que lhe é peculiar. Daí os sofrimentos e angústias de determinadas criaturas, além do decesso. Os suicidas costumam sentir, durante longo tempo, a aflição das células violentamente aniquiladas, enquanto os viciados experimentam tremenda inquietação pelo desejo insatisfeito." (Obreiros da vida Eterna. Cap. 19. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

Na Revista Espírita, Allan Kardec faz uma evocação de um espírito gastrônomo, que foi cozinheiro, no qual mostra sua insatisfação, quando diz:

"Resp. - Meus amigos, eis-me ante uma grande mesa, mas, infelizmente, vazia!

Esta mesa está vazia, é verdade; mas quereis dizer-nos de que vos serviria se estivesse repleta de alimentos?

Resp. - Sentiria o seu aroma, como outrora lhes saboreava o gosto.

Resposta - Esta resposta encerra todo um ensinamento. Sabemos que os Espíritos têm as nossas sensações e percebem os odores tão bem quanto os sons. Não podendo comer, um Espírito material e sensual se repasta da emanação dos alimentos; saboreia os pelo olfato, como em vida o fazia pelo paladar. Há, pois, algo de verdadeiramente material em seu prazer; porém, como há, na verdade, mais desejo do que realidade, este mesmo prazer, aguilhoando os desejos, torna-se um suplício para os Espíritos inferiores que ainda conservam as paixões humanas. "(Revista Espírita. Novembro de 1860. Palestras familiares de além-túmulo - Baltazar, o Espírito gastrônomo. Allan Kardec)

Na obra "Missionários da luz", psicografada por Chico Xavier o instrutor espiritual de André Luiz, confirma este fato, dizendo:

"Os que desencarnam em condições de excessivo apego aos que deixaram na Crosta, neles encontrando as mesmas algemas, quase sempre se mantêm ligados à casa, às situações domésticas, aos fluidos vitais da família. Alimentam-se com a parentela e dormem nos mesmos aposentos onde se desligaram do corpo físico." (Missionários da luz. Cap. 11. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)

Portanto, depois da morte, os sentidos orgânicos são destruídos mas, restando o perispírito, o Espírito continua a perceber pelo sentido  espiritual, sensações gerais, através do perispírito.

De acordo com Allan Kardec, "Os sofrimentos que padece são sempre consequência da maneira como viveu na Terra. Certamente não sofrerá mais de gota ou de reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não são menores. Vimos que seus sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre ele e a matéria; que quanto mais desvinculado da influência da matéria ou, por outras palavras, quanto mais desmaterializado, menos sensações penosas terá. Ora, dele depende libertar-se de tal influência, já nesta vida. Ele possui o livre-arbítrio e, consequentemente, a escolha entre fazer ou deixar de fazer. Que domine as suas paixões animais; que não tenha ódio, inveja, ciúme e orgulho; que não se deixe dominar pelo egoísmo; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não atribua às coisas deste mundo senão a importância que merecem e então, mesmo que ainda esteja em seu envoltório corporal, já estará depurado e desprendido da matéria. Quando deixar esse envoltório, não sofrerá mais sua influência. Os sofrimentos físicos que houver experimentado não lhe deixarão uma lembrança penosa. Não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque elas terão afetado o corpo, mas não o Espírito; será feliz por ter-se libertado e a calma de consciência o livrará de qualquer sofrimento moral.

(...)Os sofrimentos de além-túmulo têm um termo. Sabemos que aos mais inferiores Espíritos é permitido elevar-se e purificar-se por novas provas. Isto pode ser demorado, muito demorado, mas dele depende abreviar esse tempo penoso, porque Deus o escuta sempre, desde que se submeta à sua vontade. Quanto mais desmaterializado é o Espírito, mais vastas e lúcidas são as suas percepções; quanto mais se acha sob o império da matéria, o que depende inteiramente do seu gênero de vida terrena, mais limitadas e veladas serão elas. Quanto mais a visão moral de um se estende para o infinito, tanto mais a do outro se restringe.

Assim, pois, os Espíritos inferiores têm apenas uma noção vaga, confusa, incompleta e por vezes nula do futuro. Eles não veem o termo de seus sofrimentos e por isso pensam sofrer eternamente, o que é para eles um castigo. "(Revista Espírita. Dezembro 1858. Sensações dos Espíritos. Allan Kardec)

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