Era uma vez...
Zezito era um galante sapinho.
Pulava alegre, dando saltos que eram verdadeiros malabarismos.
Tinha vocação artística.
Era gamado por ver-se espelhado nas águas do riacho.
Achava-se o maioral.
Tudo nele era perfeito.
Era esbelto, elegante, sua pele brilhante e lisa. Era de fazer inveja aos outros.
Teve inúmeras pretendentes a sua mão, mas escolheu a Zefinha, a sapinha mais charmosa do riacho.
Zezito era um sapo legal. Simpático e amável, fazia amigos em todos os cantos.
Sorria, fazia gracinhas.
Parava para conversar com todos os animais.
Todos acreditavam que ele era o sapo mais inteligente e bondoso do mundo.
Porém, ninguém era capaz de imaginar o que nosso sapinho era em casa.
Mal punha os pés dentro de seu lar se transformava.
O galante sapinho sofria uma metamorfose.
Sua testa se enrugava a procura de algo que não estivesse a seu gosto e logo berrava:
_Zefinha, aonde anda esta sapa desajeitada?
Será que você nunca está no lugar certo?
Onde já se viu tanta desordem nesta casa!
Que de a “bóia”?
Que não seja a repetição do almoço.
Acho que eu devia estar completamente louco quando casei com você.
E lá vinha a Zefinha correndo, apavorada, limpando as mãos no seu aventalzinho.
Olá querido! Já chegou?
Eu estava lá no fundo lavando uma roupinha do juninho.
_Lavando roupa a esta hora?
E o que você fez durante o dia?
Aposto que ficou dormindo.
Por isto esta cada vez mais gorda e desengonçada.
E aposto que se não fico dormindo, ficou fuxicando com as sapas desocupadas que enchem esta casa dia e noite.
Juro, se você não ficou fuxicando deve ter saído para bater pernas pelo riacho.
Já lhe disse: você é imprestável.
Com tantas sapinhas bonitas e inteligentes eu fui logo me casar com você.
E o sapo tão galante para todos, passou dando um grande empurrão em sua mulherzinha.
Zefinha, enxugou as lágrimas furtivas e soluçando baixinho retirou-se para junto do fogão, correndo para colocar na mesa a comidinha cheirosa e
fresquinha.
Zefinha não entendia como era possível isto acontecer.
Aquele seu marido tão amado, tão querido, parecia não gostar mais dela.
O que mais ela poderia fazer?
Cada dia ele estava mais ranzinza.
E os dias foram passando, e a Zefinha guardando em seu coração aquela tristeza.
O sapinho tão correto para todos era um verdadeiro tormento em casa.
Zefinha que era uma sapinha de boa índole, punha-se a meditar:
“Terei paciência e terei confiança em Deus, que um dia o meu sapinho vai entender quanto eu o quero, e ele voltará a ser de novo o meu sapinho tão
carinhoso e respeitoso como já foi um dia”.
O tempo corria e tudo na mesma.
Certo dia, depois de almoçar uma grande e apetitosa torta de minhocas fresquinhas, ele já colocava seus óculos para ler o jornal da tarde...
Como era seu costume, ia começando a resmungar e reclamar, quando uma grande sonolência o invadiu.
De repente viu-se sentado em um banquinho e alguém lhe dizia:
_Zezito, o que andas fazendo de tua vida?
Pensas enganar a todos com tuas atitudes gentis, gestos delicados e palavras doces, mas tirano cruel em seu lar.
Olhe como te apresentas agora.
Olhe neste espelho.
O sapinho olhou; e, que horror?
Viu-se crivado de chagas asquerosas e purulentas que o deixavam totalmente deformado. Sentiu um grande mal cheiro se desprender delas.
Horrorizado gritou:
_Como, o que tenho eu? Será que estou com alguma doença contagiosa?
Vai ver que foi aquela sem vergonha de Zefinha que me jogou alguma praga.
Esta mulher imprestável:
Mas de longe começou a ouvir uma melodia suave e uma luz muito branca foi crescendo e se aproximando dele. Começou a divisar alguém vestido com roupas alvíssima que lhe sorria estendendo as mãos.
_Não é possível! O que é isto?
_Calma querido vou lhe ajudar, você não vai mais sofrer.
Espere! Você? Zefinha, onde você andou?
Como pode você estar tão transformada?
Daí ouviu uma voz que lhe explicou.
_Zezito veja como você é realmente.
Este é você, seu perispirito.
De tanto reclamar, maldizer a vida, você deformou seu perispirito.
Todos nós possuímos um perispirito, que é semelhante ao corpo físico.
Você é assim, cheio de fístulas podres, mal cheirosas, purulentas.
Seu corpo, espiritual tem este aspecto. É realmente assim.
E sua mulher, sua companheira, seu anjo tutelar que lhe acompanha com tanto
amor e paciência, é assim como estás vendo.
É belíssima, pois vive por amor, age com sabedoria e só de tolerar você, ela enfeitou tanto seu espírito que já está tão maravilhosa.
Zezito abismado escutava.
_Quero que você pense bem se deseja continuar assim ou aproveitar a ventura de ter a seu lado, esta bondosa companheira e caminhar com ela espalhando bondade e amor ao invés de agir apenas com falsidade, perante os outros que com você não convive.
Zezito envergonhada chorava.
E a voz ia lhe apontando seus defeitos e mostrando as qualidades de Zefinha.
E daí Zefinha foi ficando leve e com um lencinho começou a desaparecer agitando-o e dizendo-lhe adeus. Zezito apavorado gritou:
_Espere Zefinha, não vá. Eu agora compreendo seu valor, não me deixe
Zefinha, voltou a gritar o aturdido sapinho.
Preciso de você! Prometo não ser mais ranzinza, vou mudar.
E a sorridente Zefinha ia se afastando, afastando...
Com um grande pavor Zezito gritou:
_Volte Zefinha volte.
Aterrado ele gritava como um doido.
Daí foi sacudido levemente.
_Volte de onde, Zezito? Não saí daqui!
O que você quer?
Ainda atordoado o sapinho abriu os olhos e deu com sua sapinha que lhe segurava carinhosamente as mãos.
Acordado deu um pulo e foi correndo olhar-se no espelho.
_Puxa, graças a Deus foi tudo um sonho.
_Sonho! Que sonho Zezito?
O sapinho, olhou de novo para a sapinha e disse:
_Zefinha, tive um sonho. Depois lhe conto.
Porém, uma coisa lhe prometo.
De hoje em diante eu lhe tratarei como você merece.
Com todo carinho, respeito e atenção.
(Espírito Rafael psicografado por Zoleima Antonia Rodrigues de Almeida)