O problema da paz

A atualidade do mundo recomenda a vigilância espiritual de quantos se preocupam com os problemas graves da vida.
Época de contradições dolorosas e de magnas questões, de cuja solução depende a estabilidade do surto evolutivo de vossa civilização, é necessário que o homem se revista de serenidade, encarando o complexo de problemas que o assoberbam, em todas as classes e em todas as situações.
Há dezessete anos, o planeta esperava uma paz duradoura com a ratificação do Tratado de Versalhes    pelas potências que haviam organizado o delírio universal de ruína e de sangue de 1914.
Não obstante os seus 440 artigos, apesar de sua magnitude e de sua importância, esse tratado, de cuja observância à execução dependia a tranquilidade dos povos, está, atualmente, quase reduzido a frangalhos de papel.
Ainda agora, em 1935, a Alemanha aboliu todas as suas cláusulas militares e, como a Itália expansionista, prepara-se para a reivindicação de suas colônias, à força de armas.
Nunca, como em vossos tempos, as conferências diplomáticas em favor do equilíbrio internacional valeram tão pouco.
O advento do instituto genebrino, com as suas disposições e seus artigos, representa hoje uma história maravilhosa, mas inverossímil dentro da civilização armamentista.
Os últimos anos se incumbiram de fornecer as maiores desilusões aos espíritos nobilíssimos que idealizaram a Liga de Genebra.   
Os pactos de Locarno    e de Kellog,    consequências do antigo documento de Versalhes, que visavam consolidar a concórdia entre os povos, estão, por sua vez, quase nulificados em sua força de ação.
A República Alemã, contrariando todos os seus compromissos anteriores, nada mais tem feito, durante os anos pós-guerra, que expressar a sua desesperação, culminanie na ocupação da zona desmilitarizada da Renânia.
A Turquia, sob a direção de Kemal Atatürk    e apoiada pela Rússia, ocupou os Dardanellos, falhando aos seus deveres para com o documento de Lausanne.
A França, contrariando as suas obrigações políticas, busca a proteção das repúblicas socialistas soviéticas, em face do perigo germânico.
A Itália coordena batalhões para novas cruzadas, a fim de conquistar de novo o seu império, lembrando as expedições dos antigos imperadores romanos.
As grandes potências não chegam a acordo para a necessária solução das chamadas “questões danubianas”, e cada nação volta-se para a intensificação do militarismo, buscando no reforço da guerra uma garantia de paz.
São nesses absurdos paradoxais que se baseiam as vossas conquistas e os vossos progressos, em matéria de Sociologia e de Política.
A Espanha do momento, saturada da suposta moral religiosa e exausta e oprimida, sob as comoções revolucionárias, é bem um exemplo das antinomias sociais de que sois vítimas, em virtude dos vossos próprios erros.
Consideramos inútil toda a tentativa de paz dentro do continente europeu.
A civilização do Ocidente, toda ela edificada à base das armas e da indústria da guerra, terá de se regenerar ao preço de suas próprias experiências. O futuro vo-lo dirá.
As nações europeias, no limiar das reformas precisas, se debatem entre dois caminhos: Comunismo e Fascismo. Qual das duas correntes sairá vitoriosa da luta?
Não poderemos determinar logicamente o desfecho dos fatos, todavia, as coletividades terão de ficar a salvo de quaisquer extremismos destruidores.
Nem o regionalismo antifraterno, nem certos ideais incendiários serão as leis de ouro do porvir para a direção da vida das massas.
O mundo atual, com os seus quadros desoladores, é um resultado da falsa distribuição econômica no amontoado das leis que regem a existência dos povos.
O problema da paz e da felicidade humana será resolvido à luz da espiritualidade e da direção esclarecida da economia, no seio das classes, equilibrando-as na sua vida comum.
Todos os estatutos políticos da nacionalidade requerem uma reforma no sentido de socialização.
O Socialismo cristão, à base do Evangelho de Jesus, que os grandes pensadores de todos os tempos ainda não conseguiram compreender, será a fórmula governamental do futuro.
Aquelas Lições divinas, de que foi teatro humilde a região do Tiberíades, serão as bases dos códigos do porvir.
Os homens hão de encontrar dentro delas um sentido novo.
Até lá, porém, quantos dramas dolorosos assistiremos no movimento das coletividades humanas?
Ignoramo-los. Mas Deus sabe e isso basta.
Basta para nós o saber que acima de todas as lutas e de todas as dores há de pairar sempre o Sol divino de Sua Providência e de Sua Misericórdia.
(Fé e vida. Espírito Emmanuel.  Psicografado por Chico Xavier)

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