NA PRÁTICA DA CARIDADE DEVEMOS ACEITAR OS DESVIOS DE CONDUTA?

Segundo os Espíritos Superiores, o verdadeiro sentido da palavra caridade conforme Jesus entendia significa: "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas." (O Livro dos Espíritos. Questão 886. Allan Kardec)

Sendo assim, será que na prática da caridade devemos aceitar todas as ofensas, as agressões físicas, os desvios de conduta, ou seja, aceitar tudo?  Muitas pessoas confundem os conceitos das palavras "perdoar" e " aceitar", considerando-as equivalentes. Entretanto, "perdoar" as ofensas significa "não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; (...) é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar" (O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Cap. 12. Item 3. Allan Kardec), mas  isto não quer dizer que devemos "aceitar" e aprovar tudo.

O Espírito André Luiz esclarece sobre este assunto e diz: "Frequente encontramos companheiros de excelente formação moral convictos de que atender à caridade será aceitar tudo e que a paciência deve tudo aguentar.

A evolução, no entanto, para crescer, exige muito mais a supressão que a conservação.

(...)Todos os seres existentes na Terra se aprimoram à medida que o tempo lhes subtrai as imperfeições.

 Na experiência cotidiana, os exemplos são ainda mais flagrantes.

Compra-se de tudo para a alimentação no instituto familiar, mas não se aproveita indiscriminadamente o que se adquire.

 O corpo, a serviço do Espírito encarnado, às vezes se nutre com tudo, mas nunca retém tudo. Expulsa mecanicamente o que não serve.

 No plano da alma, a lógica não é diferente. Podemos ver, ouvir e aprender tudo, mas se é aconselhável destacar a boa parte de cada cousa, não é compreensível concordar com tudo.

Necessário ver, ouvir e aprender com discernimento. Imprescindível observar um companheiro mentalmente desequilibrado com caridade e paciência, mas em nome da caridade e da paciência não se lhe deve assimilar a loucura.

Devemos tratar com benevolência e brandura quantos não pensem por nossa cabeça, entretanto, a pretexto de lhes ser agradáveis não se lhes abraçará os preconceitos, enganos, inexatidões ou impropriedades.

 A Doutrina Espírita está alicerçada na lógica e para sermos espíritas é impossível fugir dela.

 Há que auxiliar a todos, como nos seja possível auxiliar, mas tudo analisando para que o critério nos favoreça...

 Paulo de Tarso, escrevendo aos coríntios, afirmou que "a caridade tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Coríntios 13:7), mas não se esqueceu de recomendar aos tessalonicenses que examinassem tudo, retendo o bem (1 Tessalonicenses 5:21).  Admitamos assim, com o máximo respeito ao texto evangélico que o apóstolo da gentilidade ter-se-ia feito subentender naturalmente, explicando que a caridade tudo sofre de maneira a ser útil, tudo crê para discernir, tudo espera de modo a realizar o melhor e tudo suporta a fim de aprender, mas não para estar em tudo e tudo aprovar." (Opinião Espírita.  Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier / Waldo Vieira)

Jesus Cristo, certa vez, fez a seguinte recomendação: "Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão."(Mateus 18:15)

"Diante de críticas recebidas, observa até que ponto são verídicas e aceitáveis, para que venhamos a retificar em nós aquilo que nos desagrada nos outros." (Livro: Calma. Intrigas e acusações. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

No entanto, o Espírito André Luiz esclarece que é importante "deduzir, pelo estudo de nós próprios, se possuímos suficientes recursos para corrigir sem ofender". (Livro: Passos da vida. Dez sugestões. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)

Por exemplo, antes de censurar o irmão, que bate na sua porta para pedir algo e traz consigo a prova da miséria, sai de ti mesmo e auxilia o próximo que, muitas vezes, espera simplesmente uma palavra de entendimento e de reconforto, para transferir-se da treva à luz.

"É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância." (Fonte viva. Esmola. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

"O reproche lançado à conduta de outrem pode obedecer a dois móveis: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos se criticam. Não tem escusa nunca este último propósito, porquanto, no caso, então, só há maledicência e maldade. O primeiro pode ser louvável e constitui mesmo, em certas ocasiões, um dever, porque um bem deverá daí resultar, e porque, a não ser assim, jamais, na sociedade, se reprimiria o mal. Não cumpre, aliás, ao homem auxiliar o progresso do seu semelhante? Importa, pois, não se tome em sentido absoluto este princípio: "Não julgueis se não quiserdes ser julgado", porquanto a letra mata e o espírito vivifica.

Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito, até, em termos enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo que condena noutrem é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de repressão. "(O Evangelho Segundo Espiritismo. Cap. 10. Item 13. Allan Kardec)

"(...) a conclusão a tirar-se, porquanto cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possível. Ao demais, a censura que alguém faça a outrem deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se não a terá merecido. "(O Evangelho Segundo Espiritismo. Cap. 10. Item 19. São Luís/Allan Kardec)

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