Inconvenientes e Perigos da mediunidade na infância

        6. Há inconvenientes em desenvolver a mediunidade nas crianças?

        “Certamente, e asseguro que é muito perigoso, porque seus organismos frágeis e delicados seriam muito abalados, e sua imaginação jovem, muito excitada. Além disso, os pais prudentemente devem afastá-las dessas idéias ou pelo menos lhes falar apenas do ponto de vista das conseqüências morais.”

        7. Entretanto, há crianças que são médiuns naturalmente, seja de efeitos físicos, de escrita ou de visões; isso tem o mesmo inconveniente?

        “Não; quando a faculdade é espontânea numa criança, é porque está na sua natureza e sua constituição física se presta a ela; não ocorre o mesmo quando é provocada e excitada. Notai que a criança que tem visões se impressiona pouco com isso; parecem-lhe uma coisa muito natural, a que presta pouca atenção e que muitas vezes esquece; mais tarde o fato lhe vem à memória, e o entenderá facilmente se conhecer o Espiritismo.”

        8. Com que idade se pode, sem inconveniente, praticar a mediunidade?

        “Não há uma idade precisa; isso depende inteiramente do desenvolvimento físico e ainda mais do desenvolvimento moral; há crianças com doze anos que são mais aptas do que pessoas adultas. Falo da mediunidade em geral, mas a de efeitos físicos é mais fatigante corporalmente; a da escrita tem um outro inconveniente que se relaciona à inexperiência da criança, e também no caso em que quisesse se ocupar dela sozinha e brincar com ela.”

        A prática do Espiritismo, como veremos à frente, exige muito tato para afastar a astúcia dos Espíritos enganadores; se os adultos podem se tornar seus joguetes, as crianças e os jovens estão ainda mais expostos, pela sua inexperiência. Por outro lado, sabe-se que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode ter relações com Espíritos sérios; as evocações feitas com imprudência e com gracejo são uma verdadeira profanação que abre fácil acesso aos Espíritos zombeteiros ou malfazejos; como não se pode esperar que uma criança compreenda a importância de um ato semelhante, seria de temer que fizesse dele uma brincadeira se ficasse entregue a si mesma. Mesmo nas condições mais favoráveis, deve-se cuidar para que a criança dotada da faculdade mediúnica a exerça apenas sob a orientação de pessoas experientes, que lhe ensinarão, pelo exemplo, o respeito que se deve às almas dos que viveram.

        Vê-se, além disso, que a questão da idade é subordinada às condições do seu desenvolvimento, tanto do temperamento quanto do caráter. Todavia, o que sobressai claramente das respostas acima é que não se deve incentivar o desenvolvimento da mediunidade em crianças quando esta não é espontânea e que, em todo caso, é preciso ser extremamente cuidadoso; que não se deve nem excitá-lo nem encorajá-lo nas pessoas débeis. É preciso afastar também, por todos os meios possíveis, os que tenham manifestado os menores sintomas de excentricidade nas idéias ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porque há neles predisposição evidente à loucura, que qualquer causa superexcitante pode desencadear. As idéias espíritas não têm, em relação à loucura, nenhuma influência, mas, se a loucura viesse a se constatar, tomaria um caráter religioso, caso a pessoa se entregasse, com excesso, às práticas de devoção, e o Espiritismo seria responsabilizado por isso. O que há de melhor a fazer com todo indivíduo que mostra uma tendência a idéias fixas é dirigir suas preocupações para um outro campo e proporcionar repouso aos seus órgãos enfraquecidos.

        Chamaremos, em relação a isso, a atenção de nossos leitores para o item no 12 da Introdução de O Livro dos Espíritos.

(O Livro dos Médiuns. Cap. 28. Item 221: Questões 6 a 8. Item 222. Allan Kardec).

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