EXISTE O RISCO DO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO TRANSFORMAR-SE NUMA NOVA RELIGIÃO, DIFERENTE DO ESPIRITISMO?

        "O Movimento Espírita é o conjunto das atividades que têm por objetivo estudar, divulgar e praticar a Doutrina Espírita, contida nas obras básicas de Allan Kardec, colocando-a ao alcance e a serviço de toda a Humanidade. As atividades que compõem o Movimento Espírita são realizadas por pessoas, isoladamente ou, em conjunto, e por Instituições Espíritas." (Divulgue o Espiritismo, uma nova era para a humanidade. Documento aprovado pelo Conselho Federativo Nacional em 1996 e pelo Conselho Espírita Internacional em 1998. Brasília: FEB, p. 2.)

        "O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos (Superiores), que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Cap. 1. Item 6. Allan Kardec)
        Segundo Allan Kardec, "O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar." (Obras Póstumas. 2° parte. Futuro do Espiritismo. Allan Kardec)

        No entanto, devido a falta de estudo aprofundado da obras básicas de Allan Kardec, o Movimento Espírita Brasileiro está se desviando da proposta principal, que é manter-se unificado, preservar a pureza dos ensinamentos revelados pelos Espíritos Superiores e divulgar os verdadeiros princípios do Espiritismo.
        Na sua época, Allan Kardec já previa que isto poderia ocorrer e disse: "Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade. O único meio de evitá-la, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mais mínimos detalhes, com tanta precisão e clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.
        Se a doutrina do Cristo deu lugar a tantas controvérsias, se ainda agora tão mal compreendida se acha e tão diversamente praticada, é isso devido a que o Cristo se limitou a um ensinamento oral e a que seus próprios apóstolos apenas transmitiram princípios gerais, que cada um interpretou de acordo com suas ideias ou interesses. Se ele houvesse formulado a organização da Igreja cristã com a precisão de uma lei ou de um regulamento, é incontestável que houvera evitado a maior parte dos cismas e das querelas religiosas, assim como a exploração que foi feita da religião, em proveito das ambições pessoais. Resultou que, se o Cristianismo constituiu, para alguns homens esclarecidos, uma causa de séria reforma moral, não foi e ainda não é para muitos senão objeto de uma crença cega e fanática, resultado que, em grande número de criaturas, gerou a dúvida e a incredulidade absoluta.
        Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme disseram os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir. Mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de serem evitados no futuro consiste em assentar o Espiritismo sobre as bases sólidas de uma doutrina positiva que nada deixe ao arbítrio das interpretações. As dissidências que possam surgir se fundirão por si mesmas na unidade principal que se estabeleceria sobre as bases mais racionais, desde que essas bases sejam claras e não vagamente definidas. Também ressalta destas considerações que essa marcha, dirigida com prudência, representa o mais poderoso meio de luta contra os antagonistas da Doutrina Espírita. Todos os sofismas quebrar-se-ão de encontro a princípios aos quais a sã razão nada acharia para opor. "(Obras Póstumas. Projeto 1868. Allan Kardec)

        De acordo com Herculano Pires, "Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil – e isso é um consenso universal –  o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do  planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e portanto fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: “Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! “E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda. Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. (...) Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões.  (...)Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afrobrasileiro, em que os deuses ingênuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem os antigos e cansados deus cristãos. (O Centro Espírita.  Introdução. J. Herculano Pires)

        Além disso, outros desvios também ocorrem, pois, segundo Herculano Pires, "As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem, nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados.
        (...)Se no Brasil sofremos os prejuízos dos religiosismo ingênuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas." (O Centro Espírita.  Introdução. J. Herculano Pires)
        De acordo com Allan Kardec, as divergências entre os Espíritas acontecem, porque, " Todas as vezes que alguns homens se congregam em nome de uma ideia vaga jamais chegam a entender-se, porque cada um apreende essa ideia de maneira diferente. Toda reunião formada de elementos heterogêneos traz em si os germens da sua dissolução, porque se compõe de interesses divergentes, materiais, ou de amor-próprio, tendentes a fins diversos que se entrechocam e rarissimamente se mostram dispostos a fazer concessões ao interesse comum, ou mesmo à razão; que suportam a opinião da maioria, se outra coisa não lhes é possível, mas que nunca se aliam francamente." (Obras Póstumas. Constituição do Espiritismo. VIII - Do programa das crenças. Allan Kardec)

        "Uma questão que desde logo se apresenta é a dos cismas que poderão nascer no seio da Doutrina. Estará preservado deles o Espiritismo?
        Não, certamente, porque terá, sobretudo no começo, de lutar contra as ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes,refratárias a se amalgamarem com as ideias dos demais; e contra a ambição dos que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer; dos que criam novidades só para poderem dizer que não pensam ou agem como os outros, pois lhes sofre o amor-próprio por ocuparem uma posição secundária. "(Obras Póstumas. Constituição do Espiritismo. II - Dos cismas. Allan Kardec)

        Todos os espíritas deveriam saber que as obras de Kardec não estão ultrapassadas, pois as leis divinas (a verdade) reveladas pelos Espíritos Superiores e presididas pelo "Espírito de Verdade", que é o Cristo, não se modificam. Jesus e Kardec são a base da Doutrina Espírita. O próprio Codificador fez a seguinte afirmação:  " Dizemos que o Cristianismo, tal qual saiu da boca de Jesus, mas apenas tal qual saiu, é invulnerável, porque é a lei de Deus. " (Revista Espírita. Julho de 1864. A religião e o progresso. Allan Kardec)

         "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. "(A Gênese. Cap. 1. Allan Kardec)  

        Segundo o Espírito Emmanuel, "Na Doutrina Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi ultrapassado, de vez que os nossos princípios avançam com o fluxo evolutivo da própria vida e, à maneira da árvore que para mostrar a excelência do fruto não dispensa a raiz, tanto quanto o edifício vulgar para crescer em nova pavimentação não prescinde do alicerce, o Espiritismo não fugirá das diretrizes primeiras, a fim de ampliar-se em construções mais elevadas, com a segurança precisa." (Doutrina e vida. Em honra a Kardec. Espírito Emmanuel.  Psicografado por Chico Xavier)           

        "Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. (...) Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer  que os espíritas estão no  momento exato em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se atualizarem nela." (O Centro Espírita.  Introdução. J. Herculano Pires)

        Diante dos obstáculos que o Movimento Espírita Brasileiro têm enfrentado, em 1978, o Espírito Angel Aguarod fez a seguinte  advertência: " Não é possível erigir um monumento doutrinário, como é o da Revelação Espírita, deixando-nos levar, a cada dia, por ideias que sopram de todos os lados, sem direção, qual vendaval que tudo derruba na sua passagem. Estamos sendo alertados do plano Mais Alto sobre esse aspecto do nosso Movimento, pois, dizem nossos superiores, se não nos fizermos vigilantes nesse sentido, em pouco tempo o Movimento Espírita, embora conservando o nome, nada terá de Espiritismo. Reiterando despretensiosa sugestão, recomendaríamos uma grande campanha, para usar nomenclatura moderna, em torno da importância do estudo das obras básicas da Doutrina Espírita.” (Angel Aguarod – mensagem recebida, pela médium Cecília Rocha, na FERGS, em 1978)

        De acordo com Léon Denis, " O Espiritismo será o que o fizerem os homens. Similia similibus!  Ao contacto da Humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Pode constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo. É com desgosto que observamos a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar a feição elevada do Espiritismo, a fonte dos puros ensinamentos e das altas inspirações, para se restringirem ao campo da experimentação terraaterra, à investigação exclusiva do fenômeno físico." (No invisível. Introdução. Léon Denis)

        Certa vez, perguntaram ao Dr. Inácio Ferreira:
        - O senhor acredita que o Espiritismo possa vir a se complicar?
        - O Espiritismo, não. A codificação em todo tempo, poderá ser consultada. A codificação e a sua obra complementar, que é a obra da lavra mediúnica de Chico Xavier(*). Agora, não nos esqueçamos do que aconteceu ao próprio Cristianismo. (O pensamento vivo do Dr. Inácio. Pág. 149. Espírito Inácio Ferreira. Psicografado por Carlos A. Baccelli) 

        Na época de Allan Kardec, um padre, que era adversário do Espiritismo, disse: "Já se operaram divisões entre vós. Existem duas grandes seitas entre os espíritas: os espiritualistas da escola americana e os espíritas da escola francesa. Mas consideremos apenas esta última. Ela é una? Não. Eis, de um lado, os  puristas   ou   kardecistas,   que só admitem uma verdade depois de um exame atento e da concordância com todos os dados; é o núcleo principal, mas não está só; diversos ramos, depois de se haverem penetrado pelos grandes ensinamentos do centro, separam-se da mãe comum para formar seitas particulares; outros, não inteiramente destacados do tronco, emitem opiniões subversivas. Cada chefe de oposição tem os seus aliados; os campos ainda não estão delineados, mas se formam e em breve rebentará a cisão. Eu vos digo que o Espiritismo, como as doutrinas filosóficas que o precederam, não poderia ter uma longa duração. "(Revista Espírita. Outubro de 1865. Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos Espíritos. Allan Kardec)

      Entretanto, Allan Kardec refutou o argumento dele e disse: "Cada um vê a coisa de seu ponto de vista. Daí a diversidade de sistemas surgidos em seu começo, a maioria dos quais já ruíram diante da força do ensino geral. Dar-se-á o mesmo com os que não estiverem com a verdade, porque, ao ensino divergente de um Espírito, dado por um médium, opor-se-á sempre o ensino de milhões de Espíritos, dado por milhões de médiuns. Eis a razão pela qual certas teorias excêntricas viveram apenas alguns dias e não saíram do círculo onde nasceram. Privadas de sanção, elas não encontram eco nem simpatia na opinião das massas e se, além disso, chocam a lógica e o senso comum, provocam um sentimento de repulsa que lhes precipita a queda.

    (...) O Espiritismo possui um elemento de estabilidade e de unidade tirado de sua natureza e de sua origem, o que não é próprio de nenhuma das doutrinas filosóficas de concepção puramente humana; é o escudo contra o qual sempre virão quebrar-se todas as tentativas feitas para derrubá-lo ou dividi-lo. Essas divisões jamais podem ser senão parciais, circunscritas e momentâneas.

     (...) Falais de seitas que, em vossa opinião, dividem os espíritas, de onde concluís pela próxima ruína de sua doutrina. Mas esqueceis todas as que dividiram o Cristianismo desde seu nascimento, que o ensanguentaram, que o dividem ainda, e cujo número, até hoje, não se eleva a menos de trezentos e sessenta. Contudo, a despeito das dissidências profundas sobre os dogmas fundamentais, o Cristianismo ficou de pé, prova de que é independente dessas questões de controvérsia. Por que quereríeis que o Espiritismo, que se liga, por sua própria base, aos princípios do Cristianismo, e que só é dividido em questões secundárias que dia a dia se esclarecem, sofresse com a divergência de algumas opiniões pessoais, quando tem um ponto de ligação tão poderoso como o controle universal?

       Assim, mesmo que o Espiritismo fosse hoje dividido em vinte seitas, o que não é nem será, isto não teria qualquer consequência, porque é o trabalho de parto. Se fossem suscitadas divisões por ambições pessoais, por homens dominados pela ideia de se fazerem chefes de seita, ou de explorar a ideia em proveito de seu amor próprio ou de seus interesses, sem a menor dúvida seriam as menos perigosas. As ambições pessoais morrem com os indivíduos, e se os que tiverem querido elevar-se não tiverem por si a verdade, suas ideias morrerão com eles, e talvez antes deles. Mas a verdade verdadeira não poderá morrer.

     Estais certo, senhor padre, dizendo que haverá ruínas no Espiritismo, mas não como entendeis. As ruínas serão as de todas as opiniões errôneas, que fervem e surgem. Se todas estiverem em erro, cairão todas, o que é inevitável, mas se houver uma só verdadeira, ela infalivelmente sobreviverá.

       (...) O Espiritismo é uma criança que cresce e cujos primeiros passos naturalmente são vacilantes; mas, como as crianças precoces, cedo ela fez pressentir a sua força." (Revista Espírita. Outubro de 1865. Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos Espíritos. Allan Kardec)

        " Se os ensinamentos que aí são dados nem sempre seguiram o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não realizam todos os  progressos ao mesmo tempo. O que eles não fazem num período , fazem em outro. À medida que se esclarecem, eles veem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem; eles compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau da civilização, torna-se insuficiente numa etapa mais adiantada, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca  do  progresso em todas as coisas. Ele marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, e não peçamos a uma época mais  do que ela pode dar. Como acontece com as plantas, é preciso que as ideias amadureçam para serem colhidos os frutos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque nada na Natureza se opera de maneira brusca e instantânea. "(Revista Espírita. Dezembro 1864. Da comunhão  de pensamento. Allan Kardec)

Obs.(*): Chico Xavier não se considerava infalível, portanto os Espíritas devem seguir a sua recomendação,  que diz:  (...) "Que se um dia, Emmanuel aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que deveria PERMANECER COM JESUS E KARDEC, procurando esquecê-lo." (Livro: No mundo de Chico Xavier. Elias Barbosa)

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