Segundo Allan Kardec, "As sociedades religiosas meditam as Escrituras. As sociedades espíritas devem fazer o mesmo e grande proveito tirarão daí para seu progresso, instituindo conferências em que seja lido e comentado tudo o que diga respeito ao Espiritismo, pró ou contra. Dessa discussão, a que cada um dará o tributo de suas reflexões, saem raios de luz que passam despercebidos numa leitura individual. (O Livro dos Médiuns. Segunda parte. Cap. 29. Allan Kardec)
De acordo com Carlos Torres Pastorino, "Cada Escritura pode apresentar diversas interpretações, no mesmo trecho. A vantagem disso é que, de acordo com a escala evolutiva em que se acha a criatura que lê, pode a interpretação ser menos ou mais profunda. Os principiantes compreendem, de modo geral, a letra e a ela se apegam. Mas, além do sentido literal, temos o alegórico, o simbólico e o espiritual ou místico. " (Sabedoria do Evangelho. Volume 1. Diversos sentidos. Carlos Torres Pastorino).
Portanto, para compreendermos certos trechos das Escrituras, não devemos interpretar literalmente (ao pé da letra), é necessário extrair "o espírito" da letra, pois o trecho, muitas vezes, é simbólico ou alegórico. Segundo o Espírito Emmanuel, " em todas as traduções dos ensinamentos do Mestre Divino, se torna imprescindível separar da letra o espírito." (O Consolador. Questão 321. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
"A linguagem simbólica de Jesus favoreceu singularmente as interpretações mais contraditórias. "(Revista Espírita. Abril de 1866. Da Revelação. Allan Kardec)
"As interpretações que os homens deram da lei do Cristo geraram lutas que são contrárias ao seu espírito. Deus não quer mais que a lei de amor seja um pretexto de desordem e de lutas fratricidas. Exprimindo-se sem rodeios e sem alegorias, o Espiritismo está destinado a restabelecer a unidade da crença. "( Revista Espírita. Abril de 1861. Correspondência. Allan Kardec)
"O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz mais brilhante, porque surgiu de todos os pontos do globo através daqueles que viveram. Tornando evidente o que era obscuro, põe fim às interpretações errôneas, e deve unir os homens em uma mesma crença, porque não há senão um Deus, e suas leis são as mesmas para todos; ele marca enfim a era dos tempos preditos pelo Cristo e pelos profetas." (O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples. Resumo do ensinamento dos Espíritos. Item 30. Allan Kardec)
"O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 1. Item 6. Allan Kardec)
Portanto, o Espírita deve interpretar as antigas Escrituras, conforme os ensinamentos dos Espíritos Superiores, que possuem um conhecimento científico superior, bondade e moral elevada. Os erros de interpretação ocorrem quando os homens não fazem um estudo aprofundado das antigas Escrituras, utilizando-se da razão, ou quando não conseguem captar psiquicamente a inspiração dos Espíritos Superiores, enviados pelo Cristo, e resolvem misturar suas crenças pessoais, tradições e costumes rudimentares, com os ensinamentos divinos.
"Em suas instruções os Espíritos superiores têm sempre o objetivo de despertar nos homens o amor do bem pela prática dos preceitos evangélicos..."(Revista Espírita. Janeiro de 1858. Introdução. Allan Kardec)
"Deus envia seus bons Espíritos para lembrar o sentido verdadeiro de sua lei. Eles não vêm para destruir o Cristianismo, mas para libertá-lo das falsas interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens." (Revista Espírita. Setembro de 1864. O novo bispo de Barcelona. Allan Kardec)
De acordo com Carlos Toledo Pastorino, "Aceitamos que a Bíblia, e de modo particular o Novo Testamento, tenham sido inspirados, direta e sensivelmente, por espíritos, se bem que nem todos com a mesma elevação.
Pedro, com toda a sua autoridade de Chefe do Colégio Apostólico, afirma categoricamente, referindo-se aos escritores do Velho Testamento: homens que falaram da parte de Deus, e que foram movidos por algum espírito santo (2 Pedro 1 :21) . E ainda: o Espírito de Cristo, que estava neles, testificou (1 Pedro 1: 11) .
E no discurso de Estevão, narrado em Atos 7:53, o proto-mártir afirma: vós que recebestes a Lei por ministério de anjos", isto é, por intermédio de espíritos." (Sabedoria do Evangelho. Volume 1. Inspiração. Carlos Toledo Pastorino)
Portanto, Paulo de Tarso faz seguinte orientação:
“Examinai tudo: abraçai o que é bom.” (1 Tessalonicenses 5:21)
"Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo."(Colossenses 2:8)
“Onde há o espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Coríntios, 3:17)
Segundo Léon Denis, "A doutrina de Jesus, tal como se expressa nos Evangelhos e nas Epístolas, é doutrina de liberdade.
(...) O direito de pensar é o que de mais nobre e de maior existe em nós. Ora, a Igreja sempre se esforçou por impedir o homem de usar desse direito. E lhe disse: “Crê e não raciocines; ignora e submete-te; fecha os olhos e aceita o jugo.” Não é isso ordenar que renunciemos ao divino privilégio?
Porque a razão, desdenhada pela Igreja, é de fato o instrumento mais seguro que o homem recebeu de Deus para descobrir a verdade.
A verdade, simples e clara, é apresentada e compreendida pelos espíritos mais humildes, quando sabem utilizar-se da razão, ao passo que os sofistas que a excluem, afastam-se cada vez mais da verdade, para se emaranharem num dédalo de teorias, de dogmas, de afirmações, em que se perdem." (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 8. Léon Denis)
Sendo assim, "Para interpretar com segurança um trecho da Escritura, é mister:
a) isenção de preconceitos;
b) mente livre, não subordinada a dogmas;
c) inteligência humilde, para entender o que realmente está escrito, e não querer impor ao escrito o que se tem em mente;
d) raciocínio perquiridor e sagaz;
e) cultura ampla e polimorfa, mas sobretudo:
f) CORAÇÃO DESPRENDIDO (PURO) E UNIDO A DEUS." (Sabedoria do Evangelho. Volume 1. Interpretação. Carlos Torres Pastorino).
Segundo J. Herculano Pires, "O único manual possível de evolução espiritual é o Evangelho de Jesus compreendido em espírito e verdade, sem as interpretações dogmáticas do sectarismo religioso." (Evolução Espiritual do homem. As tentativas de fuga para o espaço sideral. J. Herculano Pires)
Léon Denis afirma: "Se os Evangelhos são aceitáveis em muitos pontos, é, todavia, necessário submeter o seu conjunto à inspeção do raciocínio. Todas as palavras, todos os fatos que neles estão consignados não poderiam ser atribuídos ao Cristo.
Através dos tempos que separam a morte de Jesus da redação definitiva dos Evangelhos, muitos pensamentos sublimes foram esquecidos, muitos fatos contestáveis aceitos como reais, muitos preceitos, mal interpretados, desnaturaram o ensino primitivo. Para servir às conveniências de uma causa, foram decotados os mais belos, os mais opulentos ramos dessa árvore de vida. Sufocaram, antes do seu desabrochar, os fortalecedores princípios que teriam conduzido os povos à verdadeira crença, à que eles hoje em dia inda procuram.
O pensamento do Cristo subsiste no ensino da Igreja e nos sagrados textos, mesclado, porém, de vários elementos, de opiniões ulteriores, introduzidos pelos papas e concílios, cujo intuito era assegurar, fortalecer, tornar inabalável a autoridade da Igreja." (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 2. Léon Denis)