Objetivo: Analisar os trechos bíblicos e mostrar que o Espiritismo baseia os seus fundamentos numa fé raciocinada, ou seja, na ciência, portanto não possui dogmas, cada um dos seus princípios pode e deve ser discutido, julgado, submetido ao exame da razão.
Participantes: Máximo 21 alunos (grupos com 3 integrantes).
Tempo Estimado: 50 min.
Material: textos.
Descrição: O Evangelizador deverá iniciar a dinâmica,fazendo o seguinte comentário: Vocês sabiam que alguns princípios do Cristianismo ao longo dos séculos foram deturpados pelo igreja e transformados em Dogmas, por falta de conhecimento das leis da natureza? Vocês sabem o que é um dogma? Segundo o dicionário é, "Ponto fundamental ou mais importante de uma doutrina religiosa que se apresenta como algo indiscutível ou inquestionável."( https://www.dicio.com.br/dogma/) A palavra grega dogma equivale apenas a opinião, mas as religiões lhe deram o sentido de veredicto intocável. Kardec se refere ao dogma da reencarnação, mas não com o sentido religioso, esclarecendo que não se trata de dogma de fé, mas de razão. Todos os princípios da doutrina estão sujeitos à crítica e à reformulação, desde que uma prova científica, prova comprovada, seja reconhecida como tal pelo consenso universal dos sábios. (Evolução Espiritual do homem. Pureza e impureza, na concepção espiritual da vida. J. Herculano Pires) O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência, não cogita de questões dogmáticas. Esta ciência tem consequências morais como todas as ciências filosóficas. (O que é o Espiritismo. Cap. 1. Allan Kardec) (...) a fé deve repousar sobre o fundamento sólido que lhe oferecem o livre exame e a liberdade de pensar. Ao invés de dogmas e de mistérios, deve apenas reconhecer os princípios decorrentes da observação direta, do estudo das leis naturais. Tal é o caráter da fé espírita. (Depois da morte. Cap. 44. Fé, esperança, consolações. Léon Denis) (...) No Espiritismo, nunca é demais dizê-lo, não há dogmas e cada um dos seus princípios pode e deve ser discutido, julgado, submetido ao exame da razão." (O problema do ser, do destino e da dor. Cap. 2. Léon Denis). O Espiritismo é contrário a toda questão dogmática. Aos materialistas, prova a existência da alma; aos que não creem senão no nada, prova a vida eterna; aos que pensam que Deus não se ocupa das ações do homem, prova as penas e recompensas futuras. Destruindo o materialismo, destrói a maior chaga social." (Revista Espírita. Novembro de 1861.Reunião geral dos espíritas bordeleses - 14 de outubro de 1861. Erasmo/ Allan Kardec)
Sendo assim, hoje vamos conhecer alguns dogmas da igreja e analisá-los...Cada grupo formado por três integrantes (total: 7 grupos), deverá receber um dogma, o questionamento de um aprendiz (alguém que esteja querendo aprender sobre o Espiritismo), os fundamentos na Bíblia sobre o assunto, e deverá fazer uma análise com base no seu conhecimento doutrinário (que já adiquiriu nas aulas de Evangelizaçãoinfantojuvenil) e explicar porque estaria contrário a lei da Natureza, lembrando que não devemos impor a ninguém a nossa crença, apenas esclarecer, caso alguém nos questione um dia.
Portanto, os alunos deverão ler os textos , analisá-los, discutí-los entre si , e pensar numa resposta ,elaborando um argumento com base na fé raciocinada para contestar o dogma da igreja, ou seja, deverão usar a base dos ensinamentos Espíritas e ensinamentos da Bíblia que aprenderam nas aulas de Evangelização infantojuvenil. Depois deverão fazer uma apresentação em grupo diante da turma: um dos integrantes do grupo deverá ler o dogma, o outro o questionamento do aprendiz, e o outro deverá dizer o argumento elaborado com base na fé raciocinada. Após feito isto , o Evangelizador deverá ler o argumento da fé raciocinada, que está nos livros espíritas.
1.DOGMA DA RESSURREIÇÃO DA CARNE: "Também os nossos corpos mortais retornarão um dia à vida”.
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: É possível um corpo morto, que está em entrando em decomposição, voltar a vida?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: "Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Senhor" (Malaquias 3:23) "Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó..."(Isaías 26:19)
Novo Testamento: Jesus Cristo disse: "Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles. Então entenderam os discípulos que lhes falara de João o Batista." (Mateus 17:12,13)" Digo a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". (João 3:3)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. (...) Com efeito, a ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 4. Item 4. Allan Kardec)
2. DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE: "Em Deus há três pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma."
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: É possível Deus, Nosso Pai, o criador do universo, ser ao mesmo tempo Jesus Cristo e o Espírito Santo, sendo que estes foram criados por Ele mesmo?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: "No princípio criou Deus o céu e a terra. (...)
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. ( Gênesis 1:1, 27) "Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. "(Deuteronômio 6:4)
Novo Testamento: Jesus disse: Por que você me chama bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus. (Marcos 10:18) "(...) os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. ( João 4:23) Vocês, orem assim: "Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome." (Mateus 6:9)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: Essa declaração está em contradição formal com as opiniões dos apóstolos. Ao passo que todos acreditavam o Filho criado pelo Pai, os bispos do século IV proclamavam o Filho igual ao Pai, “eterno como ele, gerado e não criado”, opondo assim (...) ao próprio Cristo, que dizia e repetia: “meu Pai é maior do que eu” (João 14:28).Para justificar essa afirmação, apóia-se a Igreja em certas palavras do Cristo, que, se exatas, foram mal compreendidas, mal interpretadas. Em João (X, 33), por exemplo, se diz: “Nós te apedrejamos porque, sendo homem, te fazes Deus a ti mesmo”. A resposta de Jesus destrói essa acusação e revela o seu pensamento íntimo: “Não está escrito na vossa lei: – Eu disse: vós sois deuses?” (João 10:34). “Se ele chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida...” (João 10:35). Todos sabem que os antigos, latinos e orientais, chamavam deuses a todos quantos, por qualquer motivo, se tornavam superiores ao comum dos homens. O Cristo preferia a essa qualificação abusiva, a de filho de Deus para designar os que investigavam e observavam os divinos ensinamentos. (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 6. Léon Denis) (...) Jesus é Filho de Deus, como todas as criaturas, que ele chama a Deus Pai, como nós aprendemos a tratá-lo de nosso Pai. (Obras Póstumas. 9. O Filho de Deus e O Filho do homem. Allan Kardec)
3. DOGMA DO PECADO ORIGINAL: "Pecado, que é morte da alma, se propaga de Adão a todos seus descendentes por geração e não por imitação, e que é inerente a cada indivíduo."
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: É possível transferir o erro de alguém para outra pessoa, e ele se tornar responsável pelo pecado que o outro cometeu, por exemplo, sofrer as consequências do pecado de Adão e Eva?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: "Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais; cada um morrerá pelo seu próprio pecado." (Deuteronômio 24:16) "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele." (Ezequiel 18:20)
Novo Testamento: Jesus disse: "Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão." (Mateus 26:52) " Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras." ( Mateus 16:27)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: Ninguém é responsável pelas faltas de outrem, se nelas não tomou alguma parte. Apresentado em seu aspecto dogmático, o pecado original, que pune toda a posteridade de Adão, isto é, a Humanidade inteira, pela desobediência do primeiro par, para depois salvá-la por meio de uma iniqüidade ainda maior – a imolação de um justo – é um ultraje à razão e à moral, consideradas em seus princípios essenciais – a bondade e a justiça. (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 7. Léon Denis) Segundo o Espírito Emmanuel, "(...) O autor de uma falta, naturalmente, responderá por ela. Nos tribunais da imortalidade, cada Espírito devedor resgata as suas próprias contas." (Justiça Divina. Na luz da justiça. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier) "O arrependimento, embora seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. (...) A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal. A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. (...) Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. " (O Céu e o inferno. Cap. 7. Allan Kardec)
4. DOGMA DO BATISMO: "Pelo batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado. "
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: Será possível que a água do batismo tenha o poder de nos purificar e limpar de todos os pecados, ou seja, perdoar os nossos pecados?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Novo Testamento: Jesus disse: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado." (Marcos 16:15-16) "Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo". (Atos 1:5) Paulo de Tarso disse: "Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho." (1 Coríntios 1:17)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA:
O pecado original, a culpa de que o homem tem a responsabilidade, é a de suas anteriores existências que lhe cumpre extinguir por seus méritos, resignação e intrepidez nas provações. (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 7. Léon Denis) A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas. (O Espiritismo em sua mais simples expressão. Allan Kardec) O que dissemos do pecado original nos conduz a considerar o batismo como simples cerimônia iniciática, ou de consagração, porque a água é impotente para limpar de suas máculas a alma. (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 7. Léon Denis) João Batista dizia: ‘‘E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.’’ (Mateus 3:11). O batismo de fogo, pois, com o qual Jesus nos batiza, é o esforço que ele nos convida a fazer para que nos livremos das paixões inferiores, que nos dominam; livres delas, estaremos batizados, isto é,puros diante de Deus, nosso Pai. O Espírito Santo é a denominação dada à coletividade dos espíritos desencarnados, que lutam pela implantação do reino de Deus na face da terra. Batizar-se no Espírito Santo significa receber-se a mediunidade. (O Evangelho dos Humildes. O batismo de Jesus. Eliseu Rigonatti) Alguns poderão indagar: neste caso o batismo ministrado pelas Igrejas não tem nenhum valor? Certamente que não, porque não consta dos Evangelhos que Jesus, ou qualquer dos seus apóstolos, batizassem crianças ou adultos pela forma que elas o fazem. Eles batizavam, sim, mas com os ensinamentos evangélicos, e não com água dos rios, dos mares ou das cisternas." (O Batismo. Cap. 5. Cairbar Schutel).
5. DOGMA DA CONFISSÃO SACRAMENTAL: "Quando alguém confessa, sinceramente, seus pecados ao sacerdote, estando arrependido de os haver cometido, tendo ao mesmo tempo o propósito de não tornar a cometê-los, todos os seus pecados lhe são plenamente perdoados."
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: Será que um sacerdote que também comete pecados tem o poder de perdoar os nossos pecados, apenas através da nossa confissão?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: "Sou eu, eu mesmo, aquele que apaga suas transgressões, por amor de mim, e que não se lembra mais de seus pecados. ( Isaías 43:25). "Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados."( Jeremias 31:34)
Novo Testamento: E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seus corações, dizendo:Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? (...)Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico), A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa. ( Marcos 2:5-7,10,11) " (...)se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." ( 1 João 2:1) Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. ( 1 Timóteo 2:5) Examine-se, pois, o homem a si mesmo ( 1 Coríntios 11:28).
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: Se consultarmos todos os textos em que se funda a instituição da confissão neles só encontramos uma coisa: é que o homem deve reconhecer as ofensas cometidas contra o próximo; é que ele deve confessar diante de Deus as suas faltas. Desses textos antes resulta esta consideração: a consciência individual é sagrada; só depende de Deus diretamente. Nada aí autoriza a pretensão do padre, de se erigir em julgador. (...)A confissão auricular nunca foi praticada nos primeiros tempos do Cristianismo; não foi instituída por Jesus, mas pelos homens. Quanto à remissão dos pecados, deduzida destas palavras do Cristo: “O que for ligado na terra será ligado nos céus”, parece que este modo de exprimir se aplica, de preferência, aos hábitos, aos apetites materiais contraídos pelo Espírito durante a vida terrestre, e que o prendem, fluidicamente à Terra depois da morte. (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 7. Léon Denis)
6. DOGMA DA PENA ETERNA: " O castigo do inferno destinado aos pecadores é eterno”.
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: Se Deus é bom e misericordioso como pode condenar alguém eternamente ao inferno, sem dar uma nova oportunidade de se corrigir e reparar o erro?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: “Quem é um Deus como Tu, perdoando a iniqüidade e passando a transgressão do remanescente de Sua herança? Ele não retém a Sua ira para sempre, porque Ele se deleita em misericórdia. Ele voltará a ter compaixão de nós, e subjugará as nossas iniqüidades. Você lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.” (Miquéias 7:18-19). "A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra." ( Salmos 62:12)
Novo Testamento: Jesus disse: "Mas eu digo a vocês que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: 'Racá', será levado ao tribunal. E qualquer que disser: 'Louco!', corre o risco de ir para o fogo do inferno." (Mateus 5:22) "Sejam misericordiosos, assim como o vosso Pai também é misericordioso.” (Lucas 6:36). Pedro disse: "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento". (2 Pedro 3:9) " Quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. "( 1 Timóteo 2:4) Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição...( Hebreus 6:1)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: Seria lógico dizer-se, de um soberano, que é muito bom, muito magnânimo, muito indulgente, que só quer a felicidade dos que o cercam, mas que ao mesmo tempo é cioso, vingativo, de inflexível rigor e que pune com o castigo extremo as três quartas partes dos seus súditos, por uma ofensa, ou uma infração de suas leis, mesmo quando praticada pelos que não as conheciam? Não haveria aí contradição? Ora, pode Deus ser menos bom do que o seria um homem? Outra contradição. Pois que Deus tudo sabe, sabia, ao criar uma alma, se esta viria a falir ou não. Ela, pois, desde a sua formação, foi destinada à desgraça eterna. Será isto possível, racional? Com a doutrina das penas relativas, tudo se justifica. Deus sabia, sem dúvida, que ela faliria, mas lhe deu meios de se instruir pela sua própria experiência, mediante suas próprias faltas. É necessário, que expie seus erros, para melhor se firmar no bem, mas a porta da esperança não se lhe fecha para sempre e Deus faz que, dos esforços que ela empregue para o conseguir, dependa a sua redenção. (...) Na linguagem vulgar, a palavra eterno é muitas vezes empregada figuradamente, para designar uma coisa de longa duração, cujo termo não se prevê, embora se saiba muito bem que esse termo existe. (...) A Teologia reconhece hoje que a palavra fogo é usada figuradamente e que se deve entender como significando fogo moral. (O Livro dos Espíritos. Parte 4. Cap. 2. Allan Kardec) Deus é soberanamente justo. A soberana justiça não é a justiça mais inexorável , nem aquela que deixa toda falta impune; é aquela que tem em conta rigorosamente o bem e o mal, que recompensa um e pune o outro na proporção mais equitativa, e nunca se engana. (...)Ora, a alma progride ou não? Eis a questão: Se progride, a eternidade das penas é impossível. (O céu e o inferno. Primeira parte. Cap. 6. Item 13 e 18. Allan Kardec)
7. DOGMA DA EXISTÊNCIA DE ANJOS: “Deus, com sua virtude onipotente, no início dos tempos, simultânea e igualmente, criou uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a material e depois a humana; esta, composta de espírito e de corpo”.
QUESTIONAMENTO DO APRENDIZ: Será possível que Deus, sendo justo, tenha criado anjos perfeitos, desde o princípio e homens imperfeitos?
FUNDAMENTOS NA BÍBLIA:
Antigo Testamento: Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado. (Êxodo 23:20) E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do Senhor . Então, os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito mau, da parte do Senhor, te assombra. (1 Samuel 16:14-15)
Novo Testamento: Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.( 1 João 4:1)" Tendo saído, Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado como para uma viagem. Sem saber que se tratava de um anjo de Deus, ele o saudou e disse-lhe: “De onde és tu, ó bom jovem?” Ele respondeu: “Sou israelita”. (Tobias 5: 5 -6)
ARGUMENTO DA FÉ RACIOCINADA: A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a lei do progresso, mas vendo todavia seres de diversos graus, concluiu que seriam produto de outras tantas criações especiais. E assim foi que chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo concedendo a alguns de seus filhos, e a outros impondo o mais rude trabalho. (O céu e o inferno. Primeira parte. Cap. 9. Item 23. Allan Kardec) Sem progresso ulterior para a alma, chega-se a conclusões absurdas...Progredindo a alma, qual o limite do progresso? Não há razão para não atingir por ele o grau dos anjos ou puros Espíritos. Ora, com tal possibilidade não se justificaria a criação de seres especiais e privilegiados, isentos de qualquer labor, gozando incondicionalmente de eterna felicidade, ao passo que outros seres menos favorecidos só obtêm essa felicidade a troco de longos, de cruéis sofrimentos e rudes provas. Sem dúvida que Deus poderia ter assim determinado, mas, admitindo-lhe o infinito de perfeição sem o qual não fora Deus, força é admitir que coisa alguma criaria inutilmente, desmentindo a sua justiça e bondade soberanas. (O céu e o inferno. Primeira parte. Cap. 8. Item 8. Allan Kardec) Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. (O Livro dos Espíritos. Questão 115. Allan Kardec) Os seres designados sob o nome de anjos ou de demônios não são criações especiais, distintas da Humanidade. Os anjos são Espíritos saídos da Humanidade e chegados à perfeição; os demônios são Espíritos ainda imperfeitos, mas que melhorarão. (Revista Espírita. Abril de 1869. Profissão de fé Espírita americana. Allan Kardec).
Para evitar qualquer equívoco, conviria reservar a qualificação de anjos para os Espíritos puros e chamar os demais simplesmente de Espíritos bons ou maus. (Revista Espírita. Janeiro de 1862. Ensaio de Interpretação sobre a Doutrina dos Anjos Decaídos. Allan Kardec).
Comentário final: Em todas as épocas, o homem não foi capaz de conhecer todas as leis da Natureza. A descoberta sucessiva dessas leis constitui o progresso. Daí, para as religiões, a necessidade de pôr as suas crenças e os seus dogmas em harmonia com o progresso, sob pena de receberem o desmentido dos fatos constatados pela Ciência. Só com esta condição uma religião é invulnerável. Em nosso entender, a religião deveria fazer mais do que se pôr a reboque do progresso, que ela só acompanha constrangida e forçada. Ela deveria ser a sentinela avançada, porque proclamar a grandeza e a sabedoria de suas leis é honrar a Deus. A contradição existente entre certas crenças religiosas e as leis naturais produziu a maioria dos incrédulos, cujo número aumenta à medida que se populariza o conhecimento dessas leis. (...)Pela revelação das leis que regem as relações entre o mundo visível e o invisível, o Espiritismo será o traço de união que lhes permitirá olhar-se face a face...É pela concordância da fé e da razão que ele diariamente reconduz tantos incrédulos a Deus. (Revista Espírita. Julho de 1894. A religião é o progresso. Allan Kardec)