Há quem diga que as crianças são adultos em miniatura, apenas possuem menos experiências que os mais velhos. Essa suposição não poderia estar mais errada: tente ensinar a fórmula de Bhaskara a uma criança de 5 anos e acabará frustrado.
Por mais que ela já saiba que 2 + 2 = 4 e tenha vivenciado a resolução de problemas mais complexos, ela ainda não é capaz de compreender conceitos abstratos como os adultos, pois ainda não desenvolveu essa capacidade.
O que isso significa? Pois bem, isso quer dizer que a criança passa por todo um processo de desenvolvimento, ou seja, melhora das funções e habilidades, até se tornar um adulto. Não são apenas as estruturas internas cerebrais que amadurecem, mas também o social tem um papel importante nessa construção de habilidades.
Desenvolvimento se difere de crescimento, pois este último está relacionado ao tamanho e à fisiologia do corpo físico, ou seja, abrange o comprimento e altura da criança, assim como seu peso e o tamanho de seus órgãos internos. Já o desenvolvimento está mais relacionado ao aprendizado: a criança aprende a andar, falar, carregar objetos etc.
Quer entender um pouco mais de como se dá esse processo de desenvolvimento? Continue lendo!
O que é desenvolvimento infantil?
O desenvolvimento infantil é um processo pelo qual todas as crianças passam desde o nascimento até mais ou menos 6 anos de idade. Está relacionado ao desenvolvimento de habilidades específicas que garantem a autossuficiência da criança.
Esse processo é caracterizado por marcos, nos quais certos comportamentos são esperados das crianças a partir de uma certa idade. Que pais não ficam ansiosos para ouvir a primeira palavra do bebê? E quantos pais não ficam extremamente felizes quando o filho dá os primeiros passos?
Pois bem, esses são exemplos evidentes do que é e como se dá o desenvolvimento das crianças. São os pequenos aprendizados do dia a dia que fazem com que elas se tornem cada vez mais adultas.
Tipos de desenvolvimento
O desenvolvimento das crianças não se limita apenas ao desenvolvimento das habilidades motoras, mas ocorre em várias esferas ao mesmo tempo. Muitas vezes, é necessário uma integração entre todos os tipos de desenvolvimento que a criança passa. Entenda:
Desenvolvimento físico
Refere-se à melhora das habilidades físicas da criança, como a capacidade de engatinhar, manter-se em pé, andar, correr, pular e até mesmo fazer atividades mais precisas como desenhar e escrever, que muitas vezes necessitam que a área mental esteja bem desenvolvida também.
Desenvolvimento cognitivo
A palavra “cognição” remete às habilidades que garantem a capacidade do cérebro de processar informações e obter conhecimentos sobre o mundo. Sendo assim, ela engloba processos como pensamento, raciocínio, memória, linguagem, atenção, resolução de problemas, entre outros.
Sabemos que os bebês não nascem sabendo fazer tudo isso. De fato, muitos acreditam que os bebês já nascem capazes de pensar, mas de uma maneira muito diferente da nossa. Por isso, com o tempo, essas habilidades precisam ser desenvolvidas.
Você consegue se lembrar de algo que aconteceu antes dos seus 3 anos de idade? Quase nenhum de nós consegue, porque até então o cérebro ainda não é muito capaz de armazenar memórias. Com o tempo, a maturação desse órgão possibilita que a memória de longo prazo se estabeleça e, aos poucos, a cognição vai se desenvolvendo por completo.
Tudo isso demora um tempo e é importante para que a criança aprenda a viver no mundo. Por meio da aprendizagem contínua, a criança se adapta à realidade ao seu redor, aprendendo a se virar sozinha e a resolver os problemas que encontra durante a vida.
Desenvolvimento social
Com o aprendizado da linguagem, começa também o desenvolvimento social. A partir daí, a criança é capaz de trocar informações com outras crianças e adultos, possibilitando o aprendizado de normas sociais, cultura, tradições, entre outros.
Desenvolvimento afetivo
Relacionado às emoções, o desenvolvimento afetivo está presente desde os primeiros anos de vida da criança. Quem acha que bebê não sente amor está muito enganado: diversas abordagens da psicologia, incluindo a psicanálise, mostram como o amor e o carinho são importantes para que a criança cresça saudavelmente, logo nos primeiros meses.
Os sentimentos da criança em relação aos pais e adultos mais próximos são imprescindíveis para o desenvolvimento da inteligência emocional, evitando que a criança cresça sem ter dificuldades afetivas.
Fatores importantes para o bom desenvolvimento infantil
A base para um bom desenvolvimento é o vínculo afetivo com a mãe, o pai, os familiares e demais cuidadores. Quando há um ambiente acolhedor, a criança tem a oportunidade de crescer saudavelmente, desenvolvendo suas habilidades ao máximo.
Ambientes perturbados como casas em que moram muitas pessoas, presença de muitas brigas, violência, abuso psicológico e físico, entre outros, são fatores de risco para que as crianças tenham dificuldade em desenvolver suas habilidade plenamente. Não raramente, esses pequenos passam a sofrer de transtornos mentais mais tarde na vida e podem ter dificuldades no social, na carreira, nos estudos, entre outros.
Fatores que podem influenciar no desenvolvimento são:
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Hereditariedade: Se os pais começaram a falar mais tarde do que maior parte dos bebês, é provável que o filho também demore um pouco para aprender a falar;
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Nutrição: A alimentação é importante não apenas para o desenvolvimento do corpo, como também para a cognição, visto que o cérebro é um órgão como todos os outros e precisa estar nutrido para funcionar adequadamente;
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Ambiente: Quando há falta de estimulação no ambiente em que a criança vive, pode haver um retardo no desenvolvimento intelectual. Já ambientes com estímulos o suficiente, facilmente aceleram esse processo;
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Problemas físicos: Se a criança sofre de alguma condição médica, o desenvolvimento pode ser dificultado. Crianças surdas, por exemplo, podem demorar para desenvolver a linguagem.
Marcos do desenvolvimento infantil
Muitas mamães e papais sabem que seu filho está se desenvolvendo bem porque conhecem os marcos do desenvolvimento. Esses marcos são eventos nos quais a criança começa a demonstrar certos comportamentos e têm momentos certos para acontecerem.
Vale lembrar que as idades podem variar bastante, mas em geral é aconselhável procurar um pediatra ao desconfiar que seu filho não está se desenvolvendo tipicamente.
Marcos importantes até os 12 meses
No nascimento, o bebê:
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Dorme a maior parte do tempo;
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Suga com a boca com frequência;
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Chora quando é perturbado ou sente desconfortos.
4 semanas
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Leva as mãos aos olhos e à boca;
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Move a cabeça de um lado para o outro quando deitado;
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Segue um objeto em movimento em frente ao rosto com o olhar;
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Responde aos sons do ambiente (levando sustos, chorando etc.);
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Pode se virar na direção de vozes e sons familiares;
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É capaz de focar em um rosto.
6 semanas
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Observa objetos dentro do seu campo de visão;
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Passa a sorrir quando falam com ele;
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Fica deitado sobre a barriguinha.
3 meses
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Consegue manter a cabeça firme quando está sentado;
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Eleva a cabeça a 45º quando deitado de bruços;
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Abre e fecha as mãozinhas;
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Faz força com os pés quando é colocado sob uma superfície plana;
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Movimenta-se para alcançar brinquedos suspensos, como o móbile do berço;
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Segue, com o olhar, um objeto na frente do seu rosto, balançando a cabeça de um lado para o outro;
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Observa rostos atentamente;
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Sorri ao ouvir a voz do cuidador (mãe, pai, babá etc.);
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Começa a balbuciar, emitindo sons semelhantes à fala.
5—6 meses
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Mantém a cabeça firme quando está de pé;
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Consegue se sentar com apoio;
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Rola o corpo em um sentido, geralmente da posição deitado de bruços para deitado de costas;
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Tenta alcançar objetos;
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Reconhece pessoas à distância;
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Presta bastante atenção às vozes humanas;
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Sorri espontaneamente;
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Ao sentir prazer, expressa por meio de gritinhos;
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Balbucia para brinquedos.
7 meses
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Consegue se sentar sem apoio;
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Sustenta parte do seu peso corporal quando mantido de pé;
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Passa objetos de uma mão para a outra;
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Segura a própria mamadeira;
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Procura objetos que caíram;
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Responde ao próprio nome;
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Balbucia combinando vogais e consoantes;
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Responde à brincadeira do “cadê o bebê?”.
9 meses
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Consegue se sentar bem;
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Tenta pegar brinquedos que estão longe do seu alcance;
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Responde quando os brinquedos são tirados dele;
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Engatinha ou se mantém sobre os pés e as mãos;
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Consegue se colocar de pé;
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A partir da posição de bruços, consegue se sentar;
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Consegue ficar de pé se apoiando em algo ou alguém;
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Diz “mama” e “papa”.
12 meses
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Consegue andar se apoiando em móveis ou segurando a mão de pessoas;
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Pode dar um ou dois passos sem apoio;
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Fica em pé por poucos momentos de cada vez;
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Diz “mama” e “papa” para as pessoas corretas;
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Aprende a beber em copo;
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Bate palminhas e dá tchau;
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Consegue falar algumas palavras.
Marcos do desenvolvimento dos 18 meses aos 6 anos
Idade |
Habilidades motoras grossas |
Habilidades motoras finas |
18 meses |
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2 anos |
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2,5 anos |
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3 anos |
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4 anos |
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5 anos |
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6 anos |
Anda em linha reta usando toda a superfície do pé. |
Escreve seu próprio nome. |
Fases do desenvolvimento infantil segundo Piaget
O grande pesquisador das fases do desenvolvimento cognitivo infantil é Jean Piaget, psicólogo que começou a se interessar pelo raciocínio das crianças enquanto trabalhava em uma escola para meninos. Ele ficou curioso com o raciocínio usado pelos meninos quando erravam as respostas das perguntas que os professores faziam.
Ao observar diversas crianças durante o crescimento, inclusive seus próprios filhos, ele postulou 4 estágios (ou fases) do desenvolvimento cognitivo infantil.
Os dois primeiros estágios são bastante extensos, pois há uma grande quantidade de habilidades sendo aprendidas nessas fases. No entanto, os últimos dois estágios são extremamente importantes para a formação do pensamento encontrado no adulto e dependem muito das habilidades adquiridas nos estágios anteriores.
As fases do desenvolvimento infantil são:
Sensório-motor: de 0 a 2 anos
Nesta fase, a criança se concentra nas sensações e nos movimentos. Ela começa a entender o que as sensações significam e como os movimentos dela podem levar a alterações no mundo exterior.
Nos primeiros meses, o bebê ainda não tem controle consciente de suas ações motoras. No entanto, com o passar do tempo, ele vai gradualmente ganhando consciência de seus movimentos, e é aí que começa a festa: ele percebe que, se esticar o bracinho, consegue puxar o móbile em cima do berço. A partir daí, passa a testar as possibilidades de movimentação para ver aonde aquilo vai chegar.
Vale lembrar que, nessa fase, a criança ainda tem dificuldades com tudo aquilo que ela não pode ver, tocar ou sentir. A chamada permanência do objeto ainda não existe, pois a criança não admite sua existência fora do seu campo sensorial. Sendo assim, se os pais escondem um brinquedo, por exemplo, ela não vai procurar. Pra ela, o brinquedo deixou de existir.
O mesmo acontece com as pessoas: se o bebê não vê a mãe, ela automaticamente deixa de existir e começa a choradeira. A medida em que a criança vai recebendo estímulos, ela passa a ter uma vaga noção de que objetos fora de sua vista não necessariamente deixam de existir. É por isso que a brincadeira do “cadê o bebê?” é tão divertida e saudável!
Pré-operatório: de 2 a 7 anos
Esse estágio se inicia com a capacidade do pensamento representativo, ou seja, a criança começa a gerar representações da realidade no próprio pensamento. É isso que possibilita a aprendizagem da fala (que começa bem mais cedo, mas se desenvolve mais rapidamente aqui) e as brincadeiras de “faz de conta”.
Vale lembrar que essa fase é marcada por um egocentrismo evidente, mas isso não significa falha de caráter, fazendo parte do desenvolvimento cognitivo típico de qualquer criança. Ao falar, ela fala sozinha e poucas vezes considera aquilo que foi dito para ela.
Com isso, há também uma necessidade de “dar vida” às coisas: para as crianças nesse estágio, uma bola rolando faz isso porque tem vontade, não porque está em uma superfície íngreme ou porque uma força foi aplicada, tirando-a da inércia. Ela também acredita que as coisas acontecem para si mesma. Na mente das crianças dessa idade, o sol se põe para que elas vão dormir, não porque o dia acaba naturalmente.
Voltando ao pensamento representativo, é justamente ele que permite o desenvolvimento do pensamento lógico posteriormente. Nessa fase, a criança pode se confundir com números e quantidades.
Um exemplo é quando colocamos a mesma quantidade de suco em copos de formatos diferentes: um fino e longo, outro largo e curto. Por mais que seja a mesma quantidade, o nível do suco no copo fino fica acima do nível no copo curto. Para as crianças nesse estágio, isso quer dizer que tem mais suco no copo fino, mesmo que antes elas tenham visto que se trata da mesma quantidade!
Outro exemplo: se eu pegar dois biscoitos para mim e der apenas um biscoito para ela, a criança ficará chateada achando que tem menos. De fato, nesse caso, ela está certa. No entanto, se eu dividir o biscoito dela ao meio ao invés de dar um novo biscoito, ela achará isso justo. Isso acontece pois, para ela, parece que nós dois temos dois biscoitos, mesmo que as metades do biscoito dela sejam consideravelmente menores que os meus.
Por isso, se o seu filho pequeno dá respostas erradas em exercícios que medem quantidades, volumes e tamanhos, não se preocupe: ele está se desenvolvendo normalmente, apenas passando pelo período pré-operatório no qual a lógica ainda está sendo formada!
É também nesse estágio que as crianças começam a entender o que é certo e o que é errado, o que podem e o que não podem fazer. No entanto, ao serem apresentadas a uma nova situação inusitada, elas ainda não são capazes de julgar moralmente o problema, fazendo aquilo que têm vontade (independente de ser certo ou errado).
Por isso, pais e mães devem ter paciência com as crianças nessa fase. Ela ainda tem muito a aprender e não adianta brigar quando ela faz algo de errado: ela simplesmente não é capaz de perceber sozinha que não pode.
Operatório concreto: de 8 a 12 anos
Marcado pelo início do pensamento lógico concreto, as crianças passando por esse estágio começam a manipular mentalmente as representações das coisas que internalizou durante os estágios passados. O problema é que essa manipulação só pode ocorrer com coisas concretas, dispostas no mundo real. Conceitos abstratos ainda não são compreensíveis.
Lembrando do exemplo dos copos de suco, a criança nessa fase já compreende que os dois copos têm a mesma quantidade de suco, ou seja, ela tem a noção de conservação. Quanto ao biscoito, ela também entende que duas metades de um biscoito não equivale a dois biscoitos. Prepare-se para ter que dividir mais biscoitos com seu filho, porque essa desculpa não vai mais colar!
Aqui, já há uma maior compreensão do que é moral. As regras da sociedade começam a fazer sentido e, em situações simples, a criança já é capaz de, por si só, julgar o que seria correto fazer.
Operatório formal: a partir de 12 anos
O último estágio postulado por Piaget tem seu início já na pré-adolescência, quando a criança é capaz de manipular, também, representações abstratas, fazendo operações com conceitos que não possuem formas físicas, como certos conceitos matemáticos.
Nesse estágio, as crianças começam a entender o mundo pelos olhos de outras pessoas: elas passam a compreender experiências que elas mesmas não vivenciaram em primeira pessoa. Na verdade, esse processo já começa durante o período operatório concreto mas, como o nome já diz, só serve para objetos concretos. Já nesse novo estágio, a criança passa a entender o ponto de vista dos outros a respeito de conceitos abstratos.
Desenvolvimento da linguagem
Crianças não nascem sabendo falar, e isso não é surpresa para ninguém. A fala, assim como a cognição, não surge da noite para o dia: ela também vai chegando por meio de estágios.
Entretanto, não conseguir falar é diferente de não conseguir se comunicar. A comunicação entre cuidador e bebê é, na maioria das vezes, muito bem estabelecida. Quantas vezes você não viu uma mãe reconhecer a necessidade do pequeno só pelo choro? Pois bem, desde o começo ele já vai criando uma espécie de linguagem própria, ainda que não use as palavras.
O problema é que nem todo mundo entende essa linguagem do bebê e, a medida em que cresce, ele precisa aprender a se adaptar ao mundo à sua volta. Com isso, ele passa a aprender a língua do lugar em que vive ao longo de dois estágios: o pré-linguístico e o linguístico.
Estágio pré-linguístico
Este estágio ocorre antes da criança conseguir falar as primeiras palavras. Durante esse tempo, ela costuma usar muito o choro para se comunicar. Muitas vezes, nem o bebê sabe muito bem porque está chorando.
Para ele, a fome é apenas uma sensação desconfortável, não sendo muito diferente da dor da cólica. Com a ajuda da mãe, ele mesmo vai aprendendo o que é o que: se a sensação ruim passa depois de se alimentar, então é fome. Assim, ele cria um choro específico para essa sensação, a medida em que vai aprendendo a diferenciar o que sente.
Com o tempo, ele começa a produzir sons chamados “arrulhos”, sons guturais (saem diretamente da garganta) que dão a base para que ele aprenda a usar as cordas vocais. Por volta dos 6-10 meses, o bebê passa a balbuciar e repetir sons de consoantes e vogais.
É nessa fase que ele começa a falar “mama”, “papa” e “dada”. Não raramente, os pais confundem isso com suas primeiras palavras, quando na verdade o próprio bebê não faz muita ideia do que aquilo significa. Ou seja, nem sempre que a criança fala “mama”, ela está chamando a mãe. Muitas vezes, está só experimentando suas cordas vocais.
No final do primeiro ano de idade, a criança já tem uma noção básica dos sons usados na linguagem, o que dá a base para que ela possa efetivamente aprender a falar. É nessa hora que ela realmente começa a aprender suas primeiras palavras.
Estágio linguístico
Lá pela metade do segundo ano de vida (18 meses), a criança já consegue usar combinações de sons para se referir a pessoas, objetos, animais e até mesmo acontecimentos. Nessa época, estima-se que ela tenha um vocabulário de cerca de 50 palavras, mesmo que elas estejam erradas.
O curioso é que, nessa fase, uma única palavra tem o valor de uma frase inteira. Um exemplo é quando ela aponta para fora de casa dizendo “ua”. Os pais entendem que essas duas letrinhas significam “eu quero ir para a rua”, ou “quero ir passear”. A esse fenômeno dá-se o nome de “holófrases”.
Ainda nessa idade, são frequentes trocas e omissões de letras, como no exemplo citado da “rua sem r”.
Ao final dos 2 anos de idade, espera-se que a criança tenha um vocabulário de mais de 100 palavras e, entre os 2 e 3 anos, ela começa a aprender as regras gramaticais e a trocar menos as letras. Aos 6 anos, já consegue falar frases longas e busca sempre empregar as regras gramaticais corretamente.
Gênese da linguagem: como a criança aprende?
Apesar de sabermos que a linguagem está sendo desenvolvida pelo que a criança demonstra externamente, não sabemos muito bem como esse aprendizado se dá. No entanto, diversos teóricos tentaram explicar isso.
Um linguista chamado Chomsky acredita que parte do aprendizado é biologicamente determinado, ou seja, ocorre de maneira nativa. A criança vai aprendendo a falar porque seu organismo se desenvolve, possibilitando a fala.
Já Skinner, um grande psicólogo comportamental, defendia que a linguagem era obtida pela experiência. A medida em que a criança experimentava a linguagem com seus pais e com outros adultos, ela ia aprendendo.
Piaget, já citado, traz uma terceira visão que reflete melhor o que vemos na prática: o aprendizado da linguagem ocorre por meio das interações entre a criança e o mundo. Ele se dá juntamente com o desenvolvimento cognitivo, e é baseado tanto em pressupostos biológicos quanto interacionistas.
Com isso, fica mais claro que a criança precisa do estímulo dos pais para aprender a falar. Suas primeiras sílabas são, de fato, imitações dos sons que os pais emitem perto dela. Isso deixa claro como é preciso que haja alguém a estimulando para que a criança possa aprender a falar de fato.
O que fazer se meu filho não apresenta o desenvolvimento típico?
Para começar, devemos manter em mente que as idades, tanto do desenvolvimento cognitivo quanto motor, são aproximadas, com referência em uma média. Ou seja, a capacidade de pensamento representativo, característica marcante do estágio pré-operatório, pode não aparecer logo que a criança faz 2 anos de idade.
Outra coisa importante é perceber que, muitas vezes, os estágios se sobrepõem: entrar no estágio pré-operatório não necessariamente quer dizer que a criança aprendeu tudo que tinha para aprender no estágio sensório-motor.
Nesses casos, não há porque se preocupar, pois a passagem de um estágio para o outro não significa que ela não será capaz de desenvolver essas habilidades posteriormente. Pelo contrário, as habilidades já adquiridas continuam evoluindo sempre, independente do estágio.
Vale lembrar que crianças diferentes se desenvolvem de maneiras diferentes, mas, em linhas gerais, existe um tempo certo para que algumas habilidades apareçam.
Se, por acaso, uma criança de 3 anos ainda não consegue falar uma palavra, é sinal de que ela apresenta alguma disfunção no desenvolvimento e isso deve ser investigado. Por outro lado, bebês que não saem da fase do balbucio podem ser surdos, sendo esta apenas outra condição que precisa de atenção.
Na dúvida, consulte sempre um pediatra de confiança. Se necessário, ele poderá encaminhar o pequeno para um fonoaudiólogo, psicopedagogo, neurologista, entre outras especialidades que podem ajudar a trabalhar essas habilidades.
É importante compreender os estágios do desenvolvimento cognitivo infantil porque é justamente nessa fase que aparecem os primeiros sintomas de vários transtornos diagnosticados na infância, como é o caso do autismo e do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Além disso, dificuldades no aprendizado de uma criança podem ser um convite para a reflexão: o que está acontecendo no ambiente social e familiar dessa criança que pode estar atrapalhando seu desenvolvimento?
Como dito anteriormente, os vínculos afetivos são indispensáveis para um desenvolvimento pleno e de qualidade. Pais que brigam frequentemente ou que são ausentes, a presença de algum irmão com quem a criança é sempre comparada, situações nas quais ela é inferiorizada, entre outros, são todos fatores que prejudicam o desenvolvimento.
Por isso, às vezes o problema pode não estar na criança em si, mas na dinâmica familiar. Nesses casos, é importante prestar atenção nas atitudes que podem prejudicá-la, assim como buscar ajuda quando necessário.
(Referências: PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. 156p. Fonte: https://minutosaudavel.com.br/desenvolvimento-infantil/)