A tradição bíblica ensina que antes da chegada de João Batista houve um grande silêncio profético.
Por aproximadamente quatrocentos anos, nenhum profeta falou ao povo.
Finalmente, João Batista começou a pregar e causou grande comoção.
Muitos até achavam que ele era o Salvador longamente esperado.
Contudo, quando Jesus o procurou para ser batizado, João foi enfático em apontá-lO como O que haveria de vir.
Em um momento posterior, surgiu certa crise envolvendo os discípulos de João, a respeito da figura de Jesus.
O Batista novamente não titubeou e afirmou com clareza:
É necessário que ele cresça e que eu diminua .
É interessante observar que o famoso profeta não estava procurando um caminho fácil para seguir.
Ele não se tornou inerte, não fugiu de seus testemunhos.
Continuou a pregar com desassombro, até que seu falar claro fez com que os poderosos da época decidissem assassiná-lo.
Mas nem por isso deixou de reconhecer o lugar que lhe cabia na concretização de um ideal superior.
Essa postura de João Batista pode suscitar saudáveis reflexões.
Muitas criaturas se dispõem a fazer o bem ou a trabalhar por um ideal.
Entretanto, exigem ocupar lugares de importância.
Desejam servir, sim.
Mas, desde que isso lhes propicie brilho e reconhecimento.
Quando se apresenta alguém mais capacitado para o desempenho de uma tarefa considerada importante, relutam em ceder o lugar.
Se uma nova liderança surge, com grande potencial, tratam de boicotá-la.
Fazem-se severos críticos de tudo e de todos que podem lhes fazer sombra.
É como se o bem somente pudesse se realizar através delas.
Tal gênero de conduta sinaliza que a vontade de servir-se de uma causa é maior do que o desejo de servi-la.
Entretanto, na tarefa de construção de um mundo melhor há espaço para todos.
A verdadeira recompensa pelo amor do belo e do bem é a paz interior.
O reconhecimento do mundo é transitório e costuma representar principalmente um fardo a ser suportado.
Não compensa viver em função dele.
Importa aprender a servir, onde e como se fizer necessário.
Se a tarefa exigir alguma exposição, manter a modéstia.
Quando o momento de brilho passar, permanecer no serviço, ainda que em posição singela.
Assimilar que o bem não tem dono e que sua concretização é uma conquista da Humanidade inteira.
Rejubilar-se com o aparecimento de pessoas com grande potencial e desejosas de trabalhar.
Deixar que cresçam e alegrar-se mesmo com o crescimento delas.
No momento certo, saber tornar-se obscuro, a fim de que uma luz maior brilhe, em benefício de todos.
(Redação do Momento Espírita.
Em 18.1.2021.)