De manhãzinha, ao despertar, os pensamentos da véspera voltaram-me ao cérebro e adquiriram uma forma positiva: eu não estava sendo grato a Deus.
Mamãe, chamando-me para o café, me fez pular da cama:
e como ela estava muito atarefada com a limpeza da casa, passei o dia a ajudá-la. À noitinha, com a permissão de meus pais, fui para a casa de dona Leonor. E antes de dona Lina começar a história, expus-lhe sinceramente minhas dúvidas.
— É certo, disse-me ela, que pouquíssimas pessoas sabem ser gratas. A humanidade se habituou tanto a receber o auxílio divino, que já não se lembra da fonte suprema de tudo, que é Deus. O que você fez durante o dia?
— Ajudei minha mãe nas lidas da casa, respondi.
— Pela ajuda que você prestou a ela, você demonstrou-lhe gratidão. Assim, sempre que contribuímos com uma parcela, pequenina embora, de nossos esforços para que o sofrimento diminua na face da Terra, por esse simples esforço, estamos demonstrando nossa gratidão a Deus. Além disso, podemos elevar a ele nossas preces e agradecer-lhe por tudo quanto nos dá.
Ora, continuou dona Lina, Jesus também notou que havia pouca gratidão no coração dos homens, quando curou os dez leprosos.
Sucedeu que indo Jesus para Jerusalém, passava pelo meio da Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e gritando:
— “Tende compaixão de nós, Mestre”.
Jesus, logo que os viu, disse-lhes:
— “Vão ao templo e mostrem-se aos sacerdotes”.
E resultou que, quando iam no caminho, ficaram limpos da lepra e curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou e atirou-se aos pés de Jesus, agradecendo a Deus em altas vozes.
— “Não é assim que todos ficaram curados? Onde estão os outros nove? Só este é que soube glorificar a Deus? Levanta-te e vai que a tua fé te salvou”, disse Jesus.
Como vocês vêem, em dez pessoas, apenas uma soube ser grata.
Ainda hoje é bem pequena a porcentagem de gratidão que há no coração dos homens.
(O Evangelho da Meninada. Cap. 76. Eliseu Rigonatti)