Conselho Materno

        Certa vez, Moacir, o sobrinho e filho adotivo de dona Rita, "arranjou” uma ferida na perna que aos poucos ia piorando, causando mal-estar às pessoas que a viam. Tornava-se crônica, para tristeza de sua mãe.
        Um dia, uma amiga, passando pela porta da casa de dona Ritinha, não fugindo ao enraizado hábito de todo brasileiro de receitar alguma coisa, ensinou-lhe uma “simpatia”. Ela devia procurar uma criança para lamber a ferida de Moacir três sexta-feiras de manhã, em jejum; se assim fizesse, ele ficaria curado.
        Bem pertinho delas estava o menino Chico que a tudo ouvia e, que intimamente já estava apavorado em pensar que poderia ser o “eleito” para missão tão horrenda... Dona Ritinha, mulher sem instrução, pensou um pouco, olhou para os lados e, ao ver Chico, foi logo perguntando para a amiga:
        — O Chico serve?
        E lá veio a resposta:
        — Ótimo, utilize o Chico...
        O menino empalideceu ao olhar a ferida tão grande e repugnante, mas não disse uma só palavra; ficou com medo de apanhar uma daquelas surras, pior do que as costumeiras provocadas por coisas insignificantes. Não revoltado e sim apavorado, pediu ao espírito de sua mãe, através de preces, que o orientasse. Na véspera da primeira sexta-feira, orava debaixo da bananeira quando para seu alivio aparece a mãe e lhe diz:
        — Meu filho, porque estás com medo, com tanta aflição?
        — A senhora não sabe? Dona Ritinha pediu-me para ser instrumento da cura do Moacir.
        — Lamba com paciência, disse ela, porque é melhor do que levar outra daquelas surras que acabarão lhe desajustando o corpo para o resto da vida; pode lambê-la que vamos ajudá-lo.
        No dia seguinte, Chico aguardou ser chamado para iniciar o "trabalho”, confiante nas palavras da mãe. Moacir, à pedido de D. Ritinha, colocou a perna em cima de um tamborete que, chamando o Chico, ordenou que lambesse a ferida. Ele fechou os olhos para executar tão triste tarefa e, qual não foi a sua emoção ao iniciar o trabalho e ver, mesmo com os olhos fechados, sua mãe lançando um pozinho multicolorido na ferida, e carinhosamente ordenar que a lambesse. Obediente cumpriu a missão, por três sexta-feiras, findando com a cura de Moacir.
        Voltando a conversar com sua mãe, já salvo de outra surra, ela lhe falou:
        — Não lhe disse que nada aconteceria e o menino ficaria curado?
        Chico retrucou:
        —-...mas peço à senhora não deixar ninguém ter outra ferida; deixe-me ficar só com esta.
        Consolando-o, sua mãe informou-lhe que breve surgiria um “Anjo Bom” que iria ajudá-lo.
        Os anos se passaram, e até hoje ele conta que ficou preocupado com alguma inflamação que surgisse. Naquela época não existiam antibióticos, diz ele, e o gosto da ferida, jamais esqueceu. Era muito amarga...(Nosso amigo Chico Xavier. Sua Família.  Luciano Napoleão da Costa e Silva)
****
MORAL: "O homem crédulo é dotado de boa-fé; a si mesmo se engana inconscientemente e torna-se vítima de sua própria imaginação. Aceita as coisas mais inverossímeis e muitas vezes as afirma e propaga com entusiasmo  extravagante. É isso um dos maiores estorvos para o Espiritismo, uma das causas que dele afastam muitas pessoas sensatas, muitos sinceros investigadores, que não podem tomar a sério uma doutrina e fatos tão mal apresentados. É preciso não aceitar cegamente coisa alguma. Cada fato deve ser objeto de minucioso e aprofundado exame." (No invisível. Cap. 9. Léon Denis)

Passatempo Espírita © 2013 - 2024. Todos os direitos reservados. Site sem fins lucrativos.

Desenvolvido por Webnode