“Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas ela não caiu, porque fora construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve essas minhas palavras e não as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, e ela caiu, e a sua ruína foi completa!” – Jesus (Mateus, 7,24).
Nossa casa é o nosso espaço, lugar onde sentimos seguros e com liberdade, o aconchego junto dos entes queridos. É o nosso “canto” para onde sempre voltamos para o descanso, soerguimento das forças, e o preparo para novas tarefas. Construir a nossa casa sobre a rocha, significa construirmos nossa segurança, o bem-estar íntimo, sobre algo sólido como a rocha, ou seja, sobre os valores do Espírito, este permanente, não sujeito às transformações, as mudanças da matéria. Em outras palavras, construir nossa felicidade sobre algo duradouro, firme como a rocha. Por outro lado, construir sobre a areia seria fazê-lo sobre algo movediço (como a areia), não durável, que sofre constantes modificações (os valores transitórios da matéria). Mas o detalhe importante é praticar, e não só “ouvir”. A alma e quintessência de toda sabedoria e felicidade da vida consiste em praticar, realizar as grandes verdades, e não somente em ouvi-las. Quem apenas ouve, mas não realiza, não pratica o que ouviu, é um “homem insensato”; quem ouve e realiza é um “homem sábio”. A diferença fundamental entre a insensatez e sabedoria está em ouvir sem realizar, e por outro lado, em realizar o que se ouviu.
Vale lembrar Paulo de Tarso ao afirmar: “Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos e não tiver caridade, sou como o metal que soa ou como o sino que tine”. Ele poderia fazer os mais belos discursos, usar as palavras mais apropriadas, com todo “engenho e arte” da oratória; se não tivesse caridade, ou seja, se não sentisse o que falava, se não praticasse o que dizia, nada significaria. Seria como um sino, que emite som forte, mas sem conteúdo.
Conta-se que Gandhi certa vez foi procurado por uma senhora, com um filho que tinha o péssimo hábito de comer açúcar. Aquela mãe tomou conhecimento do saber de Gandhi e de sua capacidade para ensinar, fazer com que as pessoas se transformassem para melhor, por isso o procurou, solicitando ajuda para o filho. Após ouvi-los, Gandhi recomendou que voltassem depois de 15 dias. Decorrido o tempo marcado, voltou a mãe com o filho. Foram bem recebidos, receberam toda a orientação sobre como dominar aquele mau hábito, e, ao se despedir, a mãe pediu permissão para fazer uma pergunta: Por que o senhor não nos atendeu da primeira vez que o procuramos? E Gandhi respondeu, com naturalidade: É que eu também possuía o hábito de comer açúcar. Preferi primeiro aplicar a orientação em mim próprio, para, só depois, transmiti-la a outrem…
Alguém poderá objetar: Se esperarmos alguém que aplique integralmente os ensinos para só depois transmiti-los aos outros, não teremos quem ensine. Concordamos, em parte, com o argumento, porém o que queremos dizer é que para falar, ou escrever, enfim aquele que se propõe divulgar a mensagem precisa estar consciente dessa responsabilidade. É necessário sinceridade, franqueza e muito empenho para vivenciar aquilo que se pretende transmitir aos outros, pois, como já disse alguém “aquele que está mergulhado no atoleiro não pode ajudar os outros a sair dali”. Há uma mensagem de Emmanuel, recebida pelo médium Francisco C. Xavier, em 1952, que se encontra no livro “Chico Xavier – 40 anos no mundo da mediunidade”, de Roque Jacintho, pela EDICEL, que diz: “A assistência social é a fraternidade em ação. Sem ela, indiscutivelmente, os nossos mais preciosos arrazoados verbalísticos não passariam de belos mostruários sonoros.
É necessário teorizar com o exemplo se desejamos argumentar com eficiência e segurança, no campo de nossas realizações.
Se é verdade que as obras sem ideal são primorosas esculturas da arte humana, sem o calor da vida, a fé sem obras, segundo já nos asseverava a palavra apostólica, há quase dois mil anos, não passa de um cadáver bem adornado.
A escola, a maternidade, a creche, o hospital, o refúgio de esperanças aos viajantes da amargura, o albergue, o posto de socorro, a visitação fraterna aos doentes e aos necessitados, a palestra amiga e confortadora, a casa de desobsessão, o auxílio de emergência aos companheiros de angústia, o amparo aos irmãos presidiários, a cooperação metódica nos centros especializados de tratamento, quais sejam os sanatórios,os hospitais, e os leprosários, a contribuição desinteressada, enfim a dor de todos os matizes e de todas as procedências, desafiam a nossa capacidade de imaginar, organizar e fazer, a fim de que possamos monumentalizar a nossa Doutrina de Amor e Luz no mundo vivo dos corações.
Trabalhemos, auxiliando-nos uns aos outros. Somos associados de uma só empresa de redenção, usando o sentimento, o raciocínio, as mãos , a palavra, a tribuna, a imprensa e o livro para o mesmo glorioso desiderato. Conscientes, pois, de nossas responsabilidades, marchemos para diante, sob a inspiração do Cristo, Nosso Senhor e Mestre, entrelaçando braços e corações na mesma vibração de otimismo e esperança, serviço e sublimação. Hoje é o nosso dia. Agora é o nosso momento. A luta é a nossa oportunidade. Ajudar é a honra que nos compete. Sigamos assim, destemerosos e firmes na certeza de que o Senhor permanece conosco e, indubitavelmente, alcançaremos amanhã a alegria e a paz do mundo melhor”.
Página maravilhosa que nos faz sérias advertências: “(…) sem a fraternidade em ação, os nossos mais preciosos arrazoados verbalísticos não passam de belos mostruários sonoros”. E “é necessário teorizar com o exemplo se desejarmos argumentar com eficiência segurança, no campo de nossas realizações”.
(Jornal Verdade e Luz Nº 188 de Setembro de 2001)