Carta aos intelectuais

  O tempo estranho que passa,

  Uma nota de amargura

  É a penosa decadência

  Dos bens da literatura.


  Explora-se no extremismo

  A senda espinhosa e vã.

  Assim como no cinema,

  Todo o mundo quer o “fã”.

 

  Vais mal, amigo, se vais

  Nas tristes explorações,

  Difundindo a sombra espessa

  Dos erros e das paixões.


  Pululam, por toda a parte,

  As notas sensacionais,

  Amargurados venenos

  De alguns intelectuais.


  Entretanto, meu amigo,

  No mundo, como ninguém,

  Tu podes criar nas almas

  Toda a tendência do bem.

  6 Podes dar à evolução

  Um grande sentido novo;

  De ti, muita vez, dependem

  O governo, a classe, o povo.


  Teu erro é dar preferência

  À mentira em que te cobres.

  A hipocrisia entorpece

  As faculdades mais nobres.


  Acautela-te no esforço.

  Cada artigo publicado

  É um reforço na balança

  Pela qual serás julgado.

 

  Um livro que veicule

  A treva, o crime, a paixão

  Pode exigir-te um resgate

  De séculos de aflição.

 

  A justiça do Infinito,

  Na grandeza que ela encerra,

  Tem também um tribunal

  Que julga os livros da Terra.

 

  Juízes retos e nobres

  Sabem todos os teus feitos,

  Mais tarde tu ganharás

  Ou sofrerás seus efeitos.

 

  A palavra é um dom sagrado.

  E a ciência da expressão

  Não deve ser objeto

  De mísera exploração.

 

  Põe tua pena a serviço

  Da grande causa do bem.

  Vive a verdade e o direito,

  Terás o auxílio do Além.

 

  Se há veneno em teus escritos,

  Meu amigo, volta atrás.

  Organiza o teu futuro

  No santo esforço da paz.

(Cartas do Evangelho e outros poemas. Casimiro Cunha. Psicografado por Chico Xavier)

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