Morando numa pequena casa em um bairro humilde, Toninho vivia inconformado.
Na escola via colegas mais bem vestidos, calçando tênis caros, e sentia-se triste. Gostaria de ser como um deles, ter casa bonita, passear no “Shopping Center”, ter brinquedos sofisticados, “vídeo games”. Ouvia o relato dos amigos sobre programação de final de semana, e ficava humilhado.
Porque só ele tinha uma vida tão chata e tão sem atrativos?
Nunca podia comprar nada de diferente, usava o par de tênis que não servia mais para o seu irmão, e suas roupas estavam velhas e surradas. É bem verdade que a mamãe as trazia sempre limpa e bem passadas, mas Toninho sentia-se mal por usar sempre as mesmas roupas.
Ao chegar em casa para o almoço, reclamava. A comidinha era simples e nunca tinha pratos diferentes.
- Outra vez feijão com arroz?
O pai, operário de uma fábrica, respondia com paciência:
- E não está bom? Tem muita gente que não tem o que comer, meu filho! Vamos agradecer a Deus, pois nunca passamos fome.
Toninho não respondia. Baixava a cabeça e punha-se a comer, de má-vontade.
Certo dia, Toninho saiu de casa chateado. Brigara com os pais, pois queria uma calça jeans que tinha visto numa loja no centro da cidade e seu pai lhe dissera que era impossível naquele momento. Não tinha dinheiro.
Nervoso, engolindo as lágrimas e chutando uma lata, Toninho foi para a rua. Andou bastante, sem destino. Cansado aproximou-se dele e pediu uma moeda.
Ele olhou admirado para a garota, afirmando:
- Não tenho dinheiro!
- Mas você parece rico. Deveria ter dinheiro.
Espantado, Toninho olhou melhor para a menina, achando graça.
- Então, acha que sou rico?
- Pois não é? Está limpo, bem vestido, bem calçado. Aposto que tem até uma casa!
Toninho, que sempre se considerara muito pobre, perguntou:
- Tenho. Por quê? Você não tem uma casa?
A menina respondeu, apontando para um lugar ali perto:
- Não. Moro debaixo daquele viaduto ali.
Toninho, que nunca se dera conta da verdadeira pobreza, estava horrorizado. A menina, cujo nome era Júlia, convidou-o para conhecer “sua casa” e ele a acompanhou.
Lá chegando, Toninho viu um casal simpático acendendo o fogo num fogão improvisado com tijolos. Também havia outras famílias dividindo o local.
Os pais de Júlia o receberam com um sorriso. Haviam alguns gêneros alimentícios e estavam contentes. Teriam o que comer naquele dia e poderiam até ajudar outras famílias que ali estavam.
- Não se assuste – disse a mãe de Júlia a Toninho -, sem sempre estivemos nessa situação. Acontece que há alguns meses meu marido foi dispensado na indústria onde trabalhava e está desempregado até hoje. Não pudemos mais pagar o aluguel e fomos despejados. Para comprar o que comer, fomos vendendo os móveis e eletrodomésticos que possuímos. Assim, perdemos o jogo de sofá, a geladeira, o fogão, o aparelho de som, as camas. Agora, estamos morando aqui debaixo deste viaduto. Mas, não pense que estamos tristes. Não, de modo algum! Sempre agradecemos a Deus por termos onde nos abrigar. Existem pessoas que nem isso possuem!
Toninho sentiu um nó na garganta. Despediu-se, emocionado.
Chegando em casa, Toninho sentiu a segurança e o aconchego do ambiente doméstico. Entrou na cozinha e um cheiro bom de comida veio do fogão.
Seu pai chegou da fábrica e sentaram-se para comer. Toninho pediu para fazer a oração de agradecimento.
- Muito obrigado, Senhor, por tudo que nos concedeste. Pela nossa casa, pela família, pela comida. E que nunca nos falte o necessário para viver. Assim seja.
Notando que o filho estava emotivo e diferente, o pai explicou:
- Meu filho, amanhã eu irei receber um dinheiro extra e poderei comprar aquela calça jeans que você tanto deseja.
Para sua surpresa, Toninho respondeu:
- Não, papai, não precisa. Isso agora já não tem qualquer importância.
Vendo o espanto dos pais, que nada estavam entendo, o menino contou-lhe a história da Júlia, sua nova amiga.
Os pais de Toninho também quiseram conhecer a família de Júlia, que tanto bem fizera a seu filho, e tornaram-se amigos. O pai de Toninho explicou o caso na fábrica e, dentro de poucos dias, surgindo uma vaga, o pai de Júlia foi contratado.
Na escola, agora o comportamento de Toninho era completamente diferente. O exemplo de otimismo e resignação daquela família havia tocado seu coração. Mostrava-se mais alegre, satisfeito e nunca mais se sentiu infeliz, reconhecendo que a vida é um bem muito precioso e que Deus dá a cada um o necessário para poder viver.
(Célia Xavier de Camargo - Revista Semanal ''O Consolador'' - Fonte: https://www.oconsolador.com.br)