A tentação de Jesus

Eis o que ouvimos de dona Lina na noite seguinte:
        —    Depois que Jesus se retirou das margens do rio Jordão, dirigiu-se ao deserto para meditar.
        —    Meditar no quê? perguntou Cecilia.
        —    Na elevada missão que o tinha trazido á Terra e nos meios de cumpri-la, explicou dona Lina.
        —    Dona Lina, o que é meditar? perguntei.
        —    Meditar é pensar com sinceridade no que se fez e no que se pretende fazer. É um hábito salutar que devemos adquirir; se todos o tivessem, muitos males seriam evitados.
        —    Ensina-nos a meditar, Lina, pediu o sr. António.
        - Com prazer, titio. Como lhes disse, meditar é pensar em nossas ações, tanto nas já praticadas como nas que vamos praticar. Nas ações praticadas para verificar se não cometemos algum mal; e nas que vamos praticar, para que sejam corretas e dignas. Se durante nossa meditação, descobrirmos que cometemos uma ação má, devemos tratar de corrigi-la imediatamente.
        A meditação se divide em duas partes: a parte moral e a parte material. Pela parte moral, procuraremos os vícios e os defeitos que porventura possuimos; assim evitaremos os vícios e corrigiremos os defeitos. Pela parte material, meditaremos em nossas obrigações diárias, que sejam baseadas em absoluta honestidade e rigorosamente cumpridas.
        Consagrem alguns minutos à meditação antes de dormirem. A sós em seu quarto, pensem no que fizeram durante o dia; se não fizeram nada de mau e se cumpriram bem seus deveres, agradeçam a Deus; se perceberem que cometeram alguma coisa má ou errada, peçam ao Pai celeste que lhes dê forças para corrigi-la logo no dia seguinte. Compreenderam?
        —    Sim, senhora, respondemos.
        —    E no deserto, prosseguiu dona Lina, muitas tentações se apresentaram a Jesus.
        —    Não foi o demônio que o tentou? perguntou dona Aninhas.
        —    Não senhora; o demônio ou diabo não existe. O que existe são irmãos nossos inferiores que ainda não sabem fazer o bem e que dão aos homens pensamentos maus. Nós também sempre que aconselhamos ou fazemos o mal, somos diabos, demônios, ou irmãos inferiores.
        —    Então, dona Lina, o Juquinha hoje foi um irmão inferior ou um demônio, porque ele matou um passarinho perto da porteira da chácara do sr. Gabriel, disse Antoninho.
        —    Que horror, Juquinha, e que demônio você foi! exclamou dona Lina. Pois você não sabe que é proibido pelas leis de Deus matar passarinhos?
        —    Vendo o tico pousado tão a jeito, não resisti à tentação, dona Lina. Mas ele não morreu, respondeu Juquinha.   Levei-o para casa atordoado e dei-lhe um banho de água e sal; reanimou-se e pouco depois voou para o alto da laranjeira no quintal; logo mais tomou o rumo da chácara.
        —    Ainda bem, disse dona Lina. É preciso resistir às tentações do mal. E no deserto, como Jesus tivesse fome; foi-lhe sugerido que transformasse as pedras em pão. Porém, Jesus afastou a tentação dizendo que não somente de pão vive o homem mas de toda palavra de Deus.
        E depois afigurou-se a Jesus que ele estava no alto de um monte e que, se obedecesse aos irmãos inferiores, ganharia todos os reinos da Terra. Jesus repeliu a tentação dizendo que só a Deus devemos obedecer, servir e adorar.
Outra ocasião pareceu a Jesus estar no cimo da torre do templo de Jerusalém e um irmão inferior lhe sugeria que se atirasse da torre abaixo, que nenhum mal lhe sucederia, uma vez que ele era o filho de Deus. Jesus sorriu e respondeu que não devemos tentar a Deus, nosso Pai e Senhor.
        E daquele dia em diante os irmãos inferiores se afastaram dele e passaram a respeitá-lo.
        —    Por que os irmãos inferiores se afastaram de Jesus, dona Lina? perguntou o João André.
        —    Porque viram que Jesus não dava ouvidos às sugestões do mal. Vocês também poderão ficar livres dos irmãozinhos inferiores, comportando-se direitinho e nunca pensando em prejudicar ninguém.
        E agora todos para casa. Amanhã lhes contarei mais um bonito episódio da vida de Jesus, nosso Mestre muito amado.
(O Evangelho da meninada. Cap. 10. Eliseu Rigonatti)

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