Era uma vez uma Tartaruguinha Verde.
Ela vivia no fundo de uma baía. Queria, porém, sair da lama.
Suspirava por chegar à superfície das águas e encontrar um mundo novo.
Procurou os conselhos do rei Caranguejo:
-- Ora, ora... Tenho eu lá tempo para querer outro mundo? Esse já me basta...
A Tartaruguinha, depois de ouviu dizer que o Cação era representante do mundo da superfície, foi procurá-lo:
-- É preciso ter muito juízo e cumprir algumas obrigações para chegar lá em cima.
E o Cação meteu-a numa toca e amarrou-a em fitas, para que ficasse longe das tentações da lama - Se quiser é assim!
Algum tempo passou e a Tartaruguinha, cansada, sentia-se amarrada demais. E acabou abandonando aquele buraco.
Ela procurou o Peixe Estrela. Ele ajeitou os óculos e disse:
-- É preciso decorar palavras mágicas. Sem elas não há salvação.
A Tartaruguinha decorou livros e livros e nunca se sentia a caminho da superfície.
Abandonou tudo.
Já meio desanimada, falou com o Peixe Espada:
-- Olá, Tartaruguinha. Ouvi dizer que você quer salvar-se da lama. Não há mistério nenhum para isso. A regra é uma só para todos:
Ajude os que sofrem e se ajude estudando.
A Tartaruguinha não perdeu tempo. Correu a socorrer um Peixe reumático. Dali foi medicar um corte no tentáculo de um velho Polvo. Depois foi cuidar dos dentes do Ouriço.
Socorrendo e estudando, sentiu-se feliz. Passou a dar conselhos de paz ao Tubarão.
Falou à Baleia sobre o mal da gula...E... De repente... Sem a Tartaruguinha perceber, estava na superfície da baía. Um mundo maravilhoso à sua frente!
Depois, ao encontrar com o Peixe Espada disse:
-- Cheguei no mundo novo, seu Espadinha!
-- Você notou, Tartaruguinha, que para salvar-se da lama era preciso ajudar, ajudar e ajudar sempre.
Feliz, ela continuou a servir.
(Roque Jacinto. Adaptações Patrícia Boldt)