— Começaremos nossa história de hoje por uma aula de geografia, disse dona Lina sorrindo.
No centro da Galiléia existe um grande lago de água doce, chamado Mar da Galiléia; tem vinte quilômetros de comprimento e mede treze de largura em sua parte mais larga. As ondas que nele se formam cintilam à luz do sol e no fundo de suas águas há grande fartura de peixes. Suas margens são agradáveis e nelas se edificaram várias cidadezinhas e aldeias, das quais, por vezes, o mesmo Mar da Galiléia toma o nome, tais como: Cafarnaum, Genezaré, Tiberíades, Juiverete e outras. O Mar da Galiléia foi o cenário da maior parte da vida de Jesus. Havia por ali muitas colônias de pescadores e foi entre eles que Jesus foi buscar quase todos seus discípulos, como vocês verão. Jesus gostava muito desse lago e percorria constantemente suas margens ensinando ao povo o seu Evangelho e sempre que lhe deparava uma oportunidade curava os enfermos.
Outras vezes, quando o povo era muito, ele subia numa barca, afastava-se um pouco da praia onde o povo se acomodava e sentado na barca, ele pronunciava palavras de fé e de esperança, de conforto e de alívio, de paz e de resignação. E a tarde suave descia lenta e luminosa, espalhando serenidade sobre a Terra.
— Que beleza! exclamou dona Aninhas.
— Sim, era um quadro magnífico, cuja beleza ultrapassa tudo quanto os grandes pintores já criaram.
Uma vez Jesus viu duas barcas que estavam à beira do lago de Genezaré; e os pescadores haviam saltado em terra e levavam as redes. Enorme era a multidão que tinha vindo ouvir a palavra de Jesus e quase que o empurrava para a água. Jesus entrou numa das barcas que era de Simão e pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra. E estando sentado na barca, dali ensinava o povo:
— Quem era Simão? perguntou João André.
— Simão era o mesmo Pedro; o nome dele era Simão Pedro.
— E o que é que Jesus ensinava perguntou ainda João André.
— Jesus ensinava o povo a fazer o bem, respondeu prontamente a Joaninha.
E dona Lina continuou:
— Jesus notou que Pedro estava um tanto triste; e logo que acabou de falar, disse-lhe:
— “Vamos mais para o meio do lago e soltem as redes para pescar
Ao que Simão respondeu:
— “Mestre, depois de trabalharmos a noite inteira não apanhamos peixe algum. Mas para obedecer-te, soltarei a rede”.
Qual não foi o espanto deles quando viram a rede cheia de peixes a ponto de arrebentar, vocês não podem imaginar! Os peixes eram tantos e a rede estava tão pesada que tiveram de chamar os companheiros da outra barca para ajudálos. E sabem vocês que as duas barcas ficaram tão cheias que pouco faltou para afundarem?
— E Pedro ficou contente, dona Lina? perguntou Roberto.
— Certamente; mas olhava desconfiado para Jesus e quando as barcas abicaram à praia, Pedro lançou-se-lhe aos pés e disse-lhe:
— “Retira-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador”.
— Por que Pedro fez isso, dona Lina? Eu pensava que Pedro ia agradecer a Jesus com grandes palavras, falou o Juquinha.
— Pedro era um homem humilde, Juquinha. E dentro de sua humildade compreendeu que havia recebido uma graça de Deus por meio de Jesus e não se julgou merecedor de tamanho favor...
— Ato contrário de muitos que quanto mais recebem mais querem e sempre acham pouco! atalhou dona Aninhas.
— Ele e todos se admiraram muito de ver a pesca que tinham feito. E junto com Pedro estavam os filhos de Zebedeu que eram Tiago e João, os quais também fitavam Jesus, maravilhados.
Mas Jesus disse a Pedro:
— “Não tenhas medo; de agora em diante serás pescador de homens”.
Com isto Jesus quis dizer-lhe que ele o ajudaria a ensinar os homens como chegarem a Deus.
E depois de terem tratado do pescado, os três pescadores, Simão Pedro, Tiago e João seguiram Jesus. Estes foram seus primeiros discípulos.
Agora vão para casa depressa que parece que vai chover, disse dona Lina encerrando a história daquela noite.
De fato, nem bem cheguei em casa caiu o temporal.
(O Evangelho da meninada. Eliseu Rigonatti)