Decorridos alguns dias, estando o Mestre a ensinar aos companheiros uma nova lição referente ao impulso natural da prece, Simão lhe observou:
– Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.
– E o que tens pedido a Deus? – Interrogou o Mestre, sem se perturbar.
– Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.
Jesus contemplam longamente o discípulo, como se examinasse a fragilidade dos elementos intelectuais de que podia dispor para a realização da obra evangélica. Contudo, evidenciando mais uma vez o seu profundo amor e boa vontade, esclareceu com brandura e convicção:
– Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, afim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás,pela oração os bens divinos do consolo e da paz.
O apóstolo guardou silêncio, demonstrando haver, afinal, compreendido. Um dos filhos de Alfeu, porém, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo :
– Senhor, ensina-nos a orar!...
Dispondo-os então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à humanidade.
Elevando o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas as coisas, Jesus nos ensinou a orar:
- “Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.”
E, ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas, continuou:
- “Venha a nós o teu reino.”
Dando a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as circunstâncias, acrescentou:
- “Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos céus.”
Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam invariavelmente, para os homens, da fonte sagrada da proteção divina, prosseguiu:
- “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
Mostrando que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma precisa desvencilhar-se das penosas algemas obscuro pela exemplificação sublime do amor, acentuou:
- “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” Conhecedor, porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com simplicidade:
- “Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo o mal, porque teus são o reino, o poder e a glória para sempre”.
“Assim seja.”
Levi, o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do Cristianismo nascente.
Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos céus pelo mundo inteiro.
(Boa nova. Humberto de Campos. Psicografado por Chico Xavier)