A águia abriu as grandes asas e ergueu vôo. E viu na Floresta Maravilhosa vários porquinhos brincando de rolar pela grama.
- “Onde estará a mãe deles? – pensou ela. E, como não visse Dona Porca pelas redondezas, voou com rapidez em direção aos porquinhos e .....zás! levou um para o seu ninho na montanha azul.
- Pare de chorar, disse a águia. Não vou lhe fazer mal. Eu vivo sozinha e você será tratado como se fosse filho meu.
Mas, o porquinho continuava a chorar, cada vez mais alto, chamando pela verdadeira mãe.
- Já lhe disse para não chorar nem gritar. Não quero ficar irritada e castigar você.
Enquanto isso, lá em baixo, Dona Porca e seus filhinhos continuavam desesperados com o que acontecera. Foi quando vários animais, ouvindo lamentações, aproximaram-se, perguntando o que houve.
- A águia levou para o pico da montanha um de meus filhinhos! Ajudem-me! Por favor, ajudem-me....Quero meu filhinho mais novo de volta!
Os animais entreolharam-se.
- Eu gostaria de ajudá-la, disse o tamanduá. Mas, não posso; não tenho forças para subir a montanha, ela é muito alta!
- E o senhor Quati?
- Eu?
- Sim. Pode me ajudar?
O quati sacudiu a cabeça, negativamente.
- Ah, não posso.....Tenho medo de Dona Águia!
Nesse momento, aproximou-se, devagarzinho, o jabuti conhecido pelo apelido de “Capacete”, devido a sua casca. E foi logo dizendo:
- Se a Dona Porca quiser estou aqui para ajudá-la.
Os animais deram uma gargalhada.
- Ajudar com essas pernas curtinhas e esse corpo pesado? Exclamou o tamanduá, rindo.
- Você não conseguirá com essas perninhas e com esse peso chegar ao pico da montanha! É melhor desistir, acrescentou o quati, achando, graça também.
O jabuti, muito sério, respondeu:
- Deus ajuda quem tem boa vontade. Eu sou pesado e tenho as pernas curtas, é verdade; mas, com minha vontade hei de trazer de volta o filhotinho de Dona Porca.
E começou, lentamente, a subir a montanha. Gastou muito tempo para chegar no alto. A águia, felizmente, fora buscar alimentos, longe...O porquinho, ao ver o jabuti, saiu do ninho e correu ao seu encontro.
Graças a Deus, alguém veio me salvar! Rezei tanto para isso! Como está minha mãezinha?
- Sua mãe e seus irmãos estão bem, respondeu o jabuti, respirando com dificuldade. Eu é que não estou....Deixe-me respirar um pouco....Pronto! Agora, sim, estou ótimo!
- Como fugir daqui? Não sei o caminho de volta e você, Capacete, não consegue correr. A águia nos pegará...E ela vai voltar de uma momento para outro!
- Tenha fé em Deus e encontraremos uma solução.
- Olhe! Exclamou, de repente, o porquinho, arregalando os olhos. Veja aquela nuvem negra....É a águia! Ela chegará dentro de pouco tempo....O que fazer?
_ Orar, meu amiguinho. A prece remove montanhas! E nós estamos em uma montanha....Oremos, já.
E começaram a orar o “Pai Nosso”.
Após a prece, ambos viram aparecer o espírito muito luminoso do pai do jabuti, que disse:
- Ouvi o pedido de socorro e vou ajudá-los. Ao pé desta montanha existe um grande lago de águas azuis. Vocês devem mergulhar nele.
- Eu sei nadar muito bem. Foi o senhor quem me ensinou! respondeu o jabuti.
- Depressa, meu filho. Faça o que eu disse! A águia já esta chegando. Mergulhe no lago com seu amiguinho....Coragem!
O jabuti pediu que o porquinho se agarrasse firme em seu casco.
- Segure com mais força. Assim!
E, ambos se atiraram no lago...tchibum! exatamente quando a águia pousava no ninho.
Dona Porca, quando viu o filhinho chegar carregado pelo jabuti, correu ao seu encontro, chorando de alegria.
O jabuti, humilde, olhava os dois.
- Deus lhe pague pelo que fez! Disse Dona Porca. Realizou uma façanha que muitos animais grandes e ligeiros não seriam capazes! Como conseguiu?
- Com a minha fé! Respondeu o jabuti.
E, lentamente, afastou-se, enquanto pensava:
“Eu nada sou; mas, estando com Deus, que pode o mundo contra mim?
(Iracema Sapucaia. O Besouro Casca Dura)