"A reencarnação é o retorno da alma ou Espírito à vida corporal, mas em um outro corpo, formado novamente para ele, e que não tem nada em comum com o que se desintegrou. " (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 4. Item 4. Allan Kardec).
Segundo Léon Denis, "A lei da reencarnação acha-se indicada em muitas passagens do Evangelho e deve ser considerada sob dois aspectos diferentes: à volta à carne, para os Espíritos em via de aperfeiçoamento; a reencarnação dos Espíritos enviados em missão à Terra.
Em sua conversação com Nicodemos, Jesus assim se exprime:
"EM VERDADE TE DIGO QUE, SE ALGUÉM NÃO RENASCER DE NOVO, NÃO PODERÁ VER O REINO DE DEUS." Objeta-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo já velho?" Jesus responde: "Em verdade te digo que, se um homem não renasce da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito. Não te maravilhes de te dizer: importa-vos nascer outra vez. O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do espírito." (João 3:3 -8)
Jesus acrescenta estas palavras significativas: "Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?" (João 3:10)
O que demonstra que não se tratava do batismo, que era conhecido pelos judeus e por Nicodemos, mas precisamente da reencarnação já ensinada no "Zohar", livro sagrado dos hebreus. Esse vento, ou esse espírito que sopra onde lhe apraz, é a alma que escolhe novo corpo, nova morada, sem que os homens saibam de onde vem, nem para onde vai. É a única explicação satisfatória. Na Cabala hebraica, a água era a matéria primordial, o elemento frutificado. "(Cristianismo e Espiritismo. Cap. 4. Léon Denis)
De acordo com Allan Kardec, " Segundo essa crença, a água se tornara o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. Estas palavras: "Se o homem não renasce da água e do Espírito, ou em água e em Espírito", significam pois: "Se o homem não renasce com seu corpo e sua alma." É nesse sentido que a princípio as compreenderam." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 4. Item 8. Allan Kardec)
Além disso, quando Nicodemos faz a seguinte pergunta: "Como pode um homem nascer, sendo já velho?", ele deixa bem claro que está questionando se um espírito velho pode entrar no ventre da mãe denovo e renascer, portanto, está se referindo, de fato, a reencarnação. Não é simbólico, conforme as igrejas católicas ou protestantes costumam interpretar, pois os próprios judeus acreditam na reencarnação.
De acordo com Allan Kardec, "A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas ti nham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. "(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 4. Item 4. Allan Kardec)
Segundo o Rabi Arieh Kaplan, " Não é possível entender a Cabala sem acreditar na eternidade da alma e suas reencarnações." ( Analisando as Traduções Bíblicas. Severino Celestino da Silva.)
O Rabino Philip S. Berg, em Reencarnação as Rodas da Alma, diz que: "A palavra hebraica para reencarnação é Guilgul Neshamot, que literalmente quer dizer "roda da alma". É para esta vasta roda metafísica, com sua coroa constelada de almas, como estrelas nas bordas de uma galáxia, que devemos dirigir nosso olhar, se desejamos ver além da aparência da inocência punida e da maldade recompensada. Guilgul Neshamot é uma roda em constante movimento e, ao girar, as almas vêm e vão diversas vezes, num ciclo de nascimento, evolução e morte e novo nascimento. " (Reencarnação. As Rodas da alma. Rabino Philip S. Berg)
A lei da reencarnação está escrita no Antigo Testamento e os o seus autores, que são os judeus, acreditam nestes fundamentos, especialmente as correntes ortodoxas - como o hassidismo e cabalistas. Vejamos os trechos bíblicos a seguir:
Moisés disse: "Quanto a ti, em paz, irás para os teus pais, serás sepultado numa velhice feliz. É na quarta geração que eles voltarão para cá, porque até lá a iniqüidade dos amorreus não terá atingido o seu cúmulo." (Gênesis 15:15,16).
Em outras palavras, o autor deste texto quis dizer: reencarnará na Terra novamente, porque até lá a falta, isto é, o erro dos amorreus não terá sido pago.
No livro Êxodo (20:3;5-6) também está escrito: "Não terás outros deuses além de mim.(...) Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor,o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos."
Neste trecho acima, o autor pensava que os filhos sofreriam pelos erros causados pelos seus pais, pois os povos antigos acreditavam que o bem e o mal que cada indivíduo praticava, acarretava a respectiva sanção para todo o povo.
Com o tempo, o imperfeito modo de pensar foi sendo corrigido por obra dos autores sagrados. O profeta Jeremias afirma: " Ao contrário, cada um morrerá por causa do seu próprio erro e pecado." (Jeremias 31:30)
O profeta Ezequiel é contrário a ideia da eternidade das penas e do pecado original, e diz: "O filho não levará a culpa do pai nem o pai levará a culpa do filho. A justiça do justo lhe será creditada, e a impiedade do ímpio lhe será cobrada. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. (...) Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?" (Ezequiel 18:20-21; 23)
Segundo o Rabino Benjamin Massé, "O dogma do pecado original está longe de se achar no número dos princípios do judaísmo. (...) A idéia indefectível e universal que temos da justiça do Criador, se recusa (...) a crer no comprometimento, pela falta de um só, dos seres livres criados sucessivamente por Deus na sucessão dos séculos. Se Adão e Eva pecaram, só a eles cabe a responsabilidade de seu erro; só a eles a degradação, a expiação, a redenção por meio de seus esforços pessoais para reconquistar a sua nobreza. (...) nascemos com a nossa pureza e a nossa inocência, de que somos os únicos donos, os únicos depositários, e cuja perda ou conservação não dependem absolutamente senão de nossa vontade e das determinações do nosso livre-arbítrio." (Revista Espírita. Novembro de 1868. O Pecado Original Segundo o Judaísmo. Rabino Benjamin Massé. Allan Kardec )
"O Espiritismo não admite, para cada um, senão a responsabilidade de seus próprios atos; segundo ele, o pecado original é pessoal; ele consiste nas imperfeições que cada indivíduo traz ao renascer, porque ainda não se despojou delas em suas existências precedentes, e cujas consequências ele naturalmente sofre na existência atual. "(Revista Espírita. Junho de 1868. Notícias Bibliográficas. Allan Kardec)
Noutra ocasião, a propósito de um cego de nascença, encontrado de passagem, os discípulos perguntam a Jesus:
"Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar." (João 9:1-4)
De acordo com Léon Denis, "A pergunta indica, antes de tudo, que os discípulos atribuíam a enfermidade do cego a uma expiação. Em seu pensamento, a falta precedera a punição; tinha sido a sua causa primordial. É a lei da conseqüência dos atos, fixando as condições do destino. Trata-se aí de um cego de nascença; a falta não se pode explicar senão por uma existência anterior." (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 4. Léon Denis)
Segundo Allan Kardec, "A pergunta dos discípulos (...) REVELA QUE ELES TINHAM A INTUIÇÃO DE UMA EXISTÊNCIA ANTERIOR, pois, do contrário, ela careceria de sentido, visto que um pecado somente pode ser causa de uma enfermidade de nascença, se cometido antes do nascimento, portanto, numa existência anterior. Se Jesus considerasse falsa semelhante ideia, ter-lhes-ia dito: "Como houvera este homem podido pecar antes de ter nascido?" Em vez disso, porém, diz que aquele homem estava cego, não por ter pecado , mas para que nele se patenteasse o poder de Deus, isto é, para que servisse de instrumento a uma manifestação do poder de Deus. Se não era uma expiação do passado, era uma provação apropriada ao progresso daquele Espírito, porquanto Deus, que é justo, não lhe imporia um sofrimento sem utilidade." (A Gênese. Cap. 15. Item 25. Allan Kardec)
Léon Denis faz também o seguinte esclarecimento: "Daí essa idéia da penitência, que reaparece a cada momento nas Escrituras: "Fazei penitência", dizem elas constantemente, isto é, praticai a reparação, que é o fim da vossa nova existência; retificai vosso passado, espiritualizai-vos, porque não saireis do domínio terrestre, do círculo das provações, senão depois de "haverdes pagado até o último ceitil." "(Mateus 5: 26).
(...) Elias, por exemplo, voltara à Terra na pessoa de João Batista. Jesus o afirma nestes termos, dirigindo-se à multidão: "Que saíste a ver? Um profeta? Sim, eu vo-lo declaro, e mais que um profeta. E, se o quereis compreender, ele é o próprio Elias que devia vir. - O que tem ouvidos para ouvir, ouça." (Mateus 11: 9, 14 e 15)
Mais tarde, depois da decapitação de João Batista, ele o repete aos discípulos:
"E seus discípulos o interrogam, dizendo: Porque, pois, dizem os escribas que importa vir primeiramente Elias? - Ele, respondendo, lhes disse:" "Elias, certamente, devia vir e restabelecer todas as coisas. Mas eu vo-lo digo: Elias já veio e eles não o conheceram, antes lhe fizeram quanto quiseram. - Então, conheceram seus discípulos que de João Batista é que ele lhes falara." (Mateus 27: 10 -12; 15).
Assim, para Jesus, como para os discípulos, Elias e João Batista eram a mesma e única individualidade. Ora, tendo essa individualidade revestido sucessivamente dois corpos, semelhante fato não se pode explicar senão pela lei da reencarnação. "(Cristianismo e Espiritismo. Cap. 4. Léon Denis)
Outro fato que comprova isto, é que o profeta Malaquias (por volta de 400 a.C) já havia dito: "Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Senhor "(Malaquias 3:23).
O profeta Elias matou os profetas de Baal pela espada (Vide:1Reis 18:40 / 1Reis 19:1) e, quando reencarnou como João Bastista , sofreu as consequências do seu ato e foi decapitado ( Vide: Mateus 14:6-10); por isso Jesus ensina a Pedro esta verdade e diz: "Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. "(Mateus 26:50-52)
Numa circunstância memorável, Jesus pergunta a seus discípulos: "Que dizem do filho do homem?"
E eles lhe respondem:
"Uns dizem: é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas." (Mateus 16:13, 14; Marcos 8:28)
"Jesus não protesta contra essa opinião como doutrina, do mesmo modo que não protestara no caso do cego de nascença. Ao demais, a idéia da pluralidade das vidas, dos sucessivos graus a percorrer para se elevar à perfeição, não se acha implicitamente contida nestas palavras memoráveis: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito." Como poderia a alma humana alcançar esse estado de perfeição em uma única existência? "(Cristianismo e Espiritismo. Cap. 4. Léon Denis)
Em outro ocasião Jesus Cristo disse: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. (...)Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a RESSURREIÇÃO da vida; e os que fizeram o mal para a RESSURREIÇÃO da condenação."(João 5:25,28-29)
"Jesus promete a vida aos mortos que ouvirem a voz do Filho de Deus, e acrescenta que todos os que estão nos sepulcros ouvi-la-ão; do que resulta que todos os mortos, sem exceção, estão chamados a renascer, a reviver. O renascimento, porém, não será em idênticas condições para todos os Espíritos; os que fizeram o bem, irão para a ressurreição da vida, irão continuar em outra existência o seu progresso pelo mérito, e, os que fizeram o mal, ressurgirão para a condenação, a fim de repararem o tempo perdido nos gozos impuros da matéria." (Roma e o Evangelho. Cap. 3. Compilado por D. José Amigo y Pellícer)
No Novo Testamento, Pedro afirma: "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9) " Quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. "( 1 Timóteo 2:4) Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição...( Hebreus 6:1)
"A transmigração das almas, diz o Sr. Chaseray, é uma idéia filosófica ao mesmo tempo das mais antigas e das mais novas. A metempsicose constitui o fundo da religião dos hindus, religião muito anterior ao judaísmo, e Pitágoras pôde receber esta crença dos Brâmanes, a ser verdade que ele tenha estado na Índia; mas é mais provável que a tenha trazido do Egito, onde viveu muito tempo. A civilização reinava às margens do Nilo alguns milhares de anos antes do nascimento de Moisés e, no dizer de Heródoto, os sacerdotes egípcios foram os primeiros a anunciar que a alma é imortal e que passa sucessivamente por todas as espécies de animais, antes de entrar num corpo humano. Por seu lado, os gregos jamais abandonaram completamente a metempsicose. Os que entre eles não admitiam por inteiro a doutrina de Pitágoras, acreditavam vagamente com Platão que a alma imortal tinha existido em algum lugar, antes de se manifestar sob a forma humana, ou acreditavam no rio Letes e no renascimento do homem na Humanidade. Entre os primeiros cristãos, muitos neófitos entendiam conservar de seus antigos dogmas o que lhes parecia bom; os maniqueus, por exemplo, tinham conservado os dois princípios do bem e do mal e a migração das almas; é assim que, vindo os heresiarcas a se multiplicarem, os Pais e os Concílios tiveram muito a fazer para reconduzir os espíritos a uma fé uniforme. Definitivamente vitoriosa, a Igreja apostólica baniu de seu império a metempsicose, que foi substituída pelo dogma do julgamento irrevogável e da divisão dos homens em eleitos e danados. O purgatório foi introduzido mais tarde, como corretivo de uma decisão extremamente inflexível. " (Revista Espírita. Setembro de 1868. Bibliografia. O regimento fantástico. Por Victor Dazur. Allan Kardec)
" Dentre os padres da Igreja, Orígenes é um dos que mais eloqüentemente se pronunciaram a favor da pluralidade das existências. (...) Em seu livro célebre, "Dos Princípios", Orígenes desenvolve os mais vigorosos argumentos que mostram, na preexistência e sobrevivência das almas noutros corpos, em uma palavra, na sucessão das vidas, o corretivo necessário à aparente desigualdade das condições humanas, uma compensação ao mal físico, como ao sofrimento moral que parece reinarem no mundo, se não se admite mais que uma única existência terrestre para cada alma. Orígenes erra, todavia, num ponto. É quando supõe que a união do espírito ao corpo é sempre uma punição. Ele perde de vista a necessidade da educação das almas e a laboriosa realização do progresso.
(...)Como a lei dos renascimentos, a pluralidade dos mundos acha-se indicada no Evangelho, em forma de parábola:
"Há muitas moradas na casa de meu Pai. Eu vou a preparar-vos o lugar e, depois que tiver ido e vos tiver preparado o lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver, vós estejais também." (João 14: 2-3)
A casa do Pai é o infinito céu; as moradas prometidas são os mundos que percorrem o espaço, esferas de luz ao pé das quais a nossa pobre Terra não é mais que mesquinho e obscuro planeta. É para esses mundos que Jesus guiará as almas que se ligarem a ele e à sua doutrina, mundos que lhe são familiares e onde nos saberá preparar um lugar, conforme os nossos méritos.
Orígenes comenta essas palavras em termos positivos:
"O Senhor faz alusão às diferentes estações que devem as almas ocupar, depois que se houverem despojado dos seus corpos atuais e se tiverem revestido de outros novos." (Cristianismo e Espiritismo. Cap. 4. Léon Denis)
No entanto, devido a interesses outros da Igreja, os seus ensinos foram condenados pelo Concílio de Alexandria de 400 d.C e pelo segundo Concílio de Constantinopla , em 533 d.C.
De acordo o Espírito Joanna de Ângelis, " A partir do Concílio de Constantinopla (553 d.C), a reencarnação tornou-se doutrina herética, graças à petulância do imperador Justiniano que convocou a assembléia, abrindo espaço para as perseguições que tiveram lugar mais tarde através da Inquisição e de todos os mecanismos da intolerância medieval, que se prolongaram até a idade Moderna." (Dias Gloriosos. Cap. 21. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco )