Duas Formiguinhas, muito conhecidas pela inveja que sempre tinham de todos, estavam suando numa desabalada carreira para fugir do tamanduá faminto.
Finalmente pararam ao pé de pequeno arbusto.
Mal haviam botado a lingüinha dentro da boca e puxado um fôlego, uma delas exclamou:
-Veja! - apontava para cima do arbusto.
Ambas, então, viram num dos galhos a delicada Abelha a extrair gostas de uma das flores. Depois, zunindo, rumava para a sua colméia.
Zium... voltava logo depois.
-Ora, sim - resmungou uma das Formiguinhas desgostosas com a Abelha - a intrujona a beber o mel, enquanto nós nos esfregamos na língua do Tamanduá!
-Isso não pode continuar! - completava a outra, demonstrando ainda maior inveja. -Só porque tem asas, não pode ter privilégios.
A Abelhinha, que tudo ouvira, baixou seu vôo e veio, ao pé do arbusto, justificar-se num entendimento fraterno.
-Minhas amiguinhas - explicou a Abelha -, o mel, que transporto para a colméia, não será por mim consumido. O Homem é quem o utiliza. E, nos meus vou-e-volto, levo nas patinhas um pozinho que se chama pólen e que serve para transformar as flores em frutos, em benefício do Homem.
Mal se calara, as Formiguinhas a enxotaram:
-Fora! Fora com a faladeira!
E, sem outra alternativa, a Abelha recolheu mais algumas gostas de mel e zuniu na direção da sua colméia.
As Formiguinhas, porém, tão logo se viram a sós, maquinaram uma tola vingança contra a Abelha. Afiaram os seus ferrões e atacaram impiedosamente o arbusto, de cujas flores a Abelha extraía mel.
Quando o arbusto caiu, ambas estavam cansadas.
Resfolegavam, sem conseguir arredar pé.
E justamente nessa hora, o Tamanduá faminto reapareceu. Encontrou as duas tão exaustas que nem ofereceram resistência.
Caíram ambas prisioneiras.
A Abelhinha, que vira o final da cena, pode apenas lamentá-las:
-Pobrezinhas! Quem utiliza as forças, na obra da destruição, não tem energias para garantir a própria sobrevivência.
Quem busque felicidade
Viva e lute pelo bem,
Abençoe tudo o que exista,
Não pense mal de ninguém.
(Livro: O peixinho azul e outras histórias. Roque Jacintho)