Utilize o conteúdo da aula, designado por "Subsídio para o Evangelizador", para desenvolver palestras espíritas para jovens e adultos.
Aula 138 - Moral estranha - Não vim trazer a paz, mas a espada*
Ciclo 2 - História: Moral estranha - Atividade: ESE - Cap. 23 - 1. Aborrecer pai e mãe ou/e 2. Abandonar pai, mãe e filhos ou/e 3. Deixai os mortos enterrar os seus mortos.
Ciclo 3 - História: Parábola acerca da providência - Atividade: ESE - Cap. 23 - 4. Não vim trazer a paz, mas a espada.
Ciclo 3 - História: Parábola acerca da providência - Atividade: ESE - Cap. 23 - 4. Não vim trazer a paz, mas a espada.
Mocidade - História: Amor e auxílio - Atividade: 1 - Perguntas após a narração de histórias, crônicas ou contos: Perguntas sobre a história " Amor e auxílio" ou/e 4 - Interpretação de textos ou de parábolas de Jesus: Tentar interpretar o significado simbólico da palavra "espada" do trecho bíblico (Mateus 10:34-36).
Dinâmicas: Algo estranho; Política e Religião; Interpretação da Bíblia.
Mensagens espíritas: Moral estranha.
Leitura da Bíblia: Lucas - Capítulo 14
14.25 Como nas suas pegadas caminhasse grande massa de povo, Jesus, voltando-se, disse-lhes:
14.26 Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
14.27 E quem quer que não carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo.
14.33 Assim, aquele dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo.
Mateus - Capítulo 10
10.37 Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe, mais do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim não é digno.
Mateus - Capítulo 19
19.29 Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna.
Lucas - Capítulo 18
18.28 E disse Pedro: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.
18.29 E ele lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus,
18.30 Que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.
Lucas - Capítulo 9
9.61 Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa.
9.62 Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus.
9.59 Disse a outro: Segue-me; e o outro respondeu: Senhor, consente que, primeiro, eu vá enterrar meu pai.
9.60 Jesus lhe retrucou: Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reino de Deus.
Mateus - Capítulo 10
10.34 Não penseis que eu tenha vindo trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada;
10.35 porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora;
10.36 e o homem terá por inimigos os de sua própria casa.
Lucas - Capítulo 12
12.49 Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo senão que ele se acenda?
12.50 Tenho de ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra!
12.51 Julgais que eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão;
12.52 pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra três.
12.53 O pai estará em divisão com o filho e o filho com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra.
Tópicos a serem abordados:
- A moral é a regra da boa conduta, ou seja, é saber diferenciar o bem do mal, observar a lei de Deus e fazer o bem para todos. Jesus Cristo é modelo de conduta moral que devemos seguir. No entanto, vemos algumas palavras no Evangelho, atribuidas ao Divino Mestre, que parecem estranhas ao seu grau de elevação. Isto, provavelmente aconteceu, pois nenhum dos Evangelhos foi escrito por Jesus enquanto ele vivia, e o seu pensamento não foi bem expresso; ou ainda, por ter sido passado de uma língua para outra, algumas palavras podem ter sofrido alteração do significado durante a tradução.
- O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: "Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, (...) não pode ser meu discípulo", está incluso nesta hipótese. A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com vários significados. Em grego, por exemplo, não quer dizer odiar, porém, amar menos, ou seja, não amar igualmente. Em outras palavras, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, pratica um ato contrário aos seus ensinos ( por exemplo: mente, rouba ou mata) não é digno do Mestre, portanto não pode ser considerado seu discípulo.
- No entanto, se devemos honrar pai e mãe, respeitá-los, dar-lhes carinho e socorrê-los nas suas necessidades, como deveríamos interpretar um outro trecho estranho do Evangelho em que diz assim: "Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos (...), ou seu pai, ou sua mãe, (...) receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna?"Sem discutir as palavras, deve-se aqui compreender o pensamento, que era, evidentemente, este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas".
- Por acaso, censura-se os filhos que deixam os seus pais para defender o seu país? Não existem aqueles que precisam afastar -se do seu lar para trabalhar em locais onde possa exercer a sua profissão? Não é dever da filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo, quando se casa? Há deveres que se sobrepõe a outros deveres. Existem no mundo diversos casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem o carinho dos filhos para com os pais. Muitas vezes, a própria separação é necessária ao progresso dos indivíduos e dos povos.
- Para muitos, também causa estranheza quando Jesus disse: "não vim trazer a paz, mas a espada”. Não estarão essas palavras em contradição com os seus ensinos? Não, elas não estão em desacordo! O Querido Mestre usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e humildes, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas.
- A espada, referida por Jesus, não seria utilizada pelos adeptos da sua doutrina. Jesus jamais usou uma espada ou incentivou a ferir alguém com tal instrumento. Esta espada seria usada por aqueles que lhes são contrários, separando uns dos outros pelas suas respectivas crenças, inclusive os membros da sua própria família. Não vemos, por aí, o pai em divisão com o filho, a nora contra a sogra, a irmã contra o irmão? Aliás, os próprios seguidores do Cristo, infelizmente , não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, que, na maioria das vezes, eram simbólicas. A igreja católica, por exemplo, em nome do Cristo, utilizou a espada na guerra santa contra os muçulmanos para conquistar Jerusalém. Além disso, tempos depois, instaurou o tribunal da inquisição para punir os infiéis ou hereges com outros instrumentos de violência.
- Cabe culpar à doutrina do Cristo? Não, pois, ela condena todo tipo de violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Ide, golpeiai, matai, massacrai os que não crerem como vós? Não; pelo contrário. Ele lhes disse: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos perseguem. Disse-lhes, também: Quem matar com a espada pela espada morrerá. A responsabilidade, portanto, não pertence à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram em instrumento próprio a lhes satisfazer às paixões.
- O Divino Mestre ensinou-nos claramente que devemos ser construtores da paz, e para isto, é preciso fazer o bem, em favor dos outros, conservando, bastas vezes, a "espada renovadora", com a qual o indivíduo deve lutar consigo mesmo, eliminando os velhos inimigos do seu coração, tais como o egoísmo, o orgulho , a vaidade e a ignorância.
Perguntas para fixação:
1. O que é moral?
2. Quem é o modelo de conduta moral que devemos seguir?
3. Porque alguns palavras no Evangelho, atribuidas ao Divino Mestre, parecem estranhas ?
4. Qual é o significado da palavra odiar, quando Jesus disse: "Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, (...) não pode ser meu discípulo"?
5. Por que há situações em que é necessário afastar-se do seu lar?
6. O afastamento do lar diminui o respeito e carinho dos filhos pelos pais?
7. Quando Jesus disse: "não vim trazer a paz, mas a espada”, o que ele quis dizer com isto?
8. Por que a Igreja católica, em nome do Cristo, utilizou a espada na guerra santa contra os muçulmanos?
9. Deve-se culpar a doutrina do Cristo pelo uso da violência nas guerras santas e na inquisição?
10. O que Jesus havia recomendado para os seus discípulos?
11. O que devemos eliminar do nosso coração com a espada renovadora?
Subsídio para o Evangelizador:
Segundo o Livro dos Espíritos, “A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.” (O Livro dos Espíritos. Questão 629. Allan Kardec)
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava. (O Livro dos Espíritos. Questão 625. Allan Kardec)
Certas palavras, aliás muito raras, atribuídas ao Cristo, fazem tão singular contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele o sentido literal, sem que a sublimidade da sua doutrina sofra qualquer dano. Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar-se que, em casos como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de ter experimentado alguma alteração. Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os copiadores o tenham repetido, como se dá freqüentemente com relação aos fatos históricos.
O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe (1), está compreendido nessa hipótese. A ninguém acudirá atribuí-la a Jesus. Será então supérfluo discuti-la e, ainda menos, tentar justificá-la. Importaria, primeiro, saber se ele a pronunciou e, em caso afirmativo, se, na língua em que se exprimia, a palavra em questão tinha o mesmo valor que na nossa. Nesta passagem de S. João: "Aquele que odeia sua vida, neste mundo, a conserva para a vida eterna", é indubitável que ela não exprime a idéia que lhe atribuímos.
A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com várias significações.
Tal, por exemplo, a que no Gênese, designa as fases da criação: servia, simultaneamente, para exprimir um período qualquer de tempo e a revolução diurna. Daí, mais tarde, a sua tradução pelo termo dia e a crença de que o mundo foi obra de seis vezes vinte e quatro horas. Tal,também, a palavra com que se designava um camelo e um cabo, uma vez que os cabos eram feitos de pêlos de camelo. Daí o haverem-na traduzido pelo termo camelo, na alegoria do buraco de uma agulha.
Cumpre, ao demais, se atenda aos costumes e ao caráter dos povos, pelo muito que influem sobre o gênio particular de seus idiomas. Sem esse conhecimento, escapa amiúde o sentido verdadeiro de certas palavras. De uma língua para outra, o mesmo termo se reveste de maior ou menor energia. Pode, numa, envolver injúria ou blasfêmia, e carecer de importância noutra, conforme a idéia que suscite. Na mesma língua, algumas palavras perdem seu valor com o correr dos séculos. Por isso é que uma tradução rigorosamente literal nem sempre exprime perfeitamente o pensamento e que, para manter a exatidão, se tem às vezes de empregar, não termos correspondentes, mas outros equivalentes, ou perífrases.
Estas notas encontram aplicação especial na interpretação das Santas Escrituras e, em particular, dos Evangelhos. Se se não tiver em conta o meio em que Jesus vivia, fica-se exposto a equívocos sobre o valor de certas expressões e de certos fatos, em conseqüência do hábito em que se está de assimilar os outros a si próprio. Em todo caso, cumpre despojar o termo odiar da sua acepção moderna, como contrária ao espírito do ensino de Jesus. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 3. Allan Kardec)
Jesus veio dar cumprimento ao Decálogo e confirmar as profecias que lhe eram relativas. Veio congraçar a Humanidade, fazendo-lhe ver que os seus membros devem unir-se pela amizade, pelo afeto, pelo carinho, que produzem a concórdia, pelo amor paterno e filial.
Veio, enfim, mostrar-lhe que a vida real é a do Espírito liberto da escravidão da matéria, isto é, purificado, e que o Espírito só se depura na adversidade, que é o crisol das grandes obras.
Ele, portanto, jamais poderia ter dito o que quer que importasse em condenação do amor da família. O que, com relação a esta, como a respeito de tudo mais, condenou foi o excesso, que em todas as coisas prejudica o ser humano e o transvia. É dever do homem consagrar-se à família e preencher para com esta todas as obrigações que lhe impõem as leis divinas, cuja síntese é a lei do amor.
Não deve, porém, fazer do cumprimento dessas obrigações um culto. Não lhe deve sacrificar o amor ao próximo, nem os interesses superiores e a felicidade real de seus outros irmãos em Deus, pois que isso seria egoísmo e o egoísmo contravém aos ensinos do Filho de Deus.
Assim, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, praticar um ato contrário a esses ensinos não é digno do Mestre, não pode ser seu discípulo.
Essa a lição constante dos versículos acima, para cuja compreensão cumpre não constituam obstáculo os termos odiar e aborrecer, porqüanto nenhum desses vocábulos traduz com exatidão a palavra correspondente no texto hebraico, a qual não tem a significação violenta daquelas outras e carece de equivalente nos modernos idiomas. (Elucidações evangélicas. Cap. 65. Antônio Luiz Sayão)
Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar- se aos ideais superiores, e julgando-os incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e os irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do Cristo.
Em verdade, porém, essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.
Abandonar aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por isso.
Talvez seja até pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da família, que não lhe faltam com o apoio material e moral, estão cultivando o sentimento essencial do dever, e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados da realização espiritual enquanto não haja aprendido as lições mais simples da vivência comum.
Assim, quem abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando ainda lhes seja indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos espirituais, será forçado a voltar à pauta de seus deveres, porque ninguém pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de credores de sua melhor atenção e carinho. (Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 1. Rodolfo Calligaris)
No livro " O Espírito de verdade", o Espírito Emmanuel faz a seguinte recomendação e esclarecimento:
"Se teus pais não procuram a intimidade do Cristo, renuncia à felicidade de vê-los comungar contigo o divino banquete da Boa Nova, e ajuda teus pais.
Se teus filhos permanecem distantes do Evangelho, renuncia ao contentamento de sentir-lhes o coração com o teu coração na senda redentora, e ajuda teus filhos.
Se teus amigos não conseguem, ainda, perceber o amor de Jesus, renuncia à ventura de guardá-los no calor de tua alma, ante o Sol da Verdade, e ajuda teus amigos.
Renúncia com Jesus não quer dizer deserção. Expressa devotamento maior.
Nele mesmo, o Senhor, vamos encontrar o sublime exemplo.
Esquecido de muitos e por muitos relegado às agonias da negação, nem por isso se afastou dos companheiros que lhe deram as angústias do amor-não-amado.
Ressurgindo da cruz, Ele, que atravessara sozinho os pesadelos da ingratidão e as torturas da morte, volta ao convívio deles e lhes diz confiante:
– ”Eis que estarei convosco, até o fim dos séculos.” (O Espírito da verdade. Cap. 59- Renúncia. Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Se não devemos abandonar pai e mãe, como se deve interpretar o trecho do Evangelho em que diz:
"Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus." ( Lucas 9:61-62)
Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era, evidentemente, este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas", porque esse pensamento está de acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina.
Não temos, aliás, sob as vistas a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições de família aos da Pátria? Censura-se, porventura, aquele que deixa seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, para marchar em defesa do seu país? Não se lhe reconhece, ao contrário, grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever? E que, então, há deveres que sobrelevam a outros deveres. Não impõe a lei à filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo?
Formigam no mundo os casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem a solicitude do filho para com os pais, nem a ternura destes para com aquele. Vê-se, portanto, que, mesmo tomadas ao pé da letra, excetuado o termo odiar, aquelas palavras não seriam uma negação do mandamento que prescreve ao homem honrar a seu pai e a sua mãe, nem do afeto paternal; com mais forte razão, não o seriam, se tomadas segundo o espírito. Tinham elas por fim mostrar, mediante uma hipérbole, quão imperioso é para a criatura o dever de ocupar-se com a vida futura. Aliás, pouco chocantes haviam de ser para um povo e numa época em que, como conseqüência dos costumes, os laços de família eram menos fortes, do que no seio de uma civilização moral mais avançada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. A própria separação é necessária ao progresso. Assim as famílias como as raças se abastardam, desde que se não entrecruzem, se não enxertem umas nas outras. É essa uma lei da Natureza, tanto no interesse do progresso moral, quanto no do progresso físico.
Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 6. Allan Kardec)
Que podem significar estas palavras: "Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos"? As considerações precedentes mostram, em primeiro lugar, que, nas circunstâncias em que foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar seu pai. Tem, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais completo da vida espiritual podia tomar perceptível.
A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho ensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23 . Item 8. Allan Kardec)
A afirmativa do Mestre: - “Porque eu vim pôr em dissensão o filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra” – como deve ser compreendida em espírito e verdade?
- Ainda aqui, temos de considerar a feição antiga do hebraico, com a sua maneira vigorosa de expressão.
Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabelecer a perturbação no sagrado instituto da família humana, nas suas elevadas expressões afetivas, mas, sim, que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento divino das opiniões, estabelecendo os movimentos naturais das idéias renovadoras, fazendo luz no íntimo de cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de todos os corações. (O Consolador. Questão 305. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Qual o espírito destas letras: - “Não cuideis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada”?
-Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos.
Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os planos divinos.
E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser conhecida como a “espada" renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho. (O Consolador. Questão 304. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Segundo Paulo Alves Godoy, "Deriva-se dessas palavras do grande mentor espiritual que a espada significa o instrumento renovador que não tergiversa com os erros humanos e nem contemporiza com as falhas voluntárias daqueles que desejam manter o mundo acorrentado a inócuas tradições, vivendo sob a égide da superstição, do medo e do fanatismo. "
Se o Messias viesse contemporizar com as nossas falhas descuidaríamos da nossa própria evolução, e passaríamos a aguardar, ansiosamente, que Ele voltasse de novo à Terra, fosse novamente crucificado e “arcasse outra vez com os nossos pecados”, no dizer dos antigos teólogos.
O Mestre não veio para nos livrar das nossas faltas, mas ensinar-nos o caminho para nos livrar delas. Não veio tomar sobre seus ombros os encargos das nossas transgressões, mas indicar-nos, através das palavras edificantes dos Evangelhos, como aprimorar nossas qualidades e nos aproximarmos da perfeição.
Jesus usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e os pobres de espírito, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas. A mesma boca que havia prometido a bem-aventurança aos aflitos, aos famintos e aos sequiosos de justiça, verberava acerbamente o procedimento dos fariseus que mantinham o povo na ignorância e no fanatismo. O Mestre que prometia a recompensa aos pacificadores, aos mansos e aos pobres de espírito, também acenava com os rigores dos sofrimentos expiatórios aos falsos mentores religiosos da época “que nem entravam no Reino dos Céus e nem deixavam que os outros entrassem” e que “colocavam pesados fardos nos ombros dos seus discípulos, mas que não ousavam sequer tocá-los com os dedos”. (Os padrões evangélicos. A paz? Não, espada. Paulo Alves Godoy)
Logicamente, surgiriam opositores ferrenhos ao enunciado revolucionário inserto nos discursos d'Ele. Esses opositores não seriam apenas os externos, representados pelos detentores do poder terreno que o temeriam perder; pelos exploradores da credulidade geral, receando ser desmascarados; pelos usurpadores dos bens e dos recursos do próximo, que se veriam a braços com o impositivo da devolução da rapina; pelos famigerados perseguidores de todos os ideais de enobrecimento humano. Também estariam no imo das criaturas que desejassem a vinculação com Ele, inscrevendo-se nas fileiras do idealismo, entregando-se ao movimento em instalação na Terra. E, sem dúvida, esses oponentes interiores, ocultos pelo ego, seriam muito mais impiedosos, necessitando ser passados pelo fio da espada, do que aqueles outros, que vêm de fora e podem ser contornados, vencidos ou suportados, porque são de rápida persistência. Os adversários, porém, internos, cuidados pelos sentimentos egoicos, esses constituiriam sempre impedimentos mais difíceis de vencidos pela espada da decisão de os superar e deles libertar-se.
Literalmente, Jesus separa pais de filhos, cônjuges, irmãos, momentaneamente, quando alguns se opõem à decisão daqueles que se entregarem às transformações morais apresentadas, ao trabalho de abnegação em favor do próximo, aos compromissos de construir o mundo de solidariedade que surgirá dos escombros da sociedade rica de moedas e pobre de sentimentos de fraternidade. Mas essa ocorrência seria também a ponte que traria de volta aqueles mesmos que os expulsassem, quando a sua sombra cedesse lugar ao conhecimento dos legítimos valores humanos e sociais, auxiliando-os na lídima fraternidade que, em vez de impor os laços de família consanguínea, estabelecem como fundamentais aqueles da fraternidade universal.
A espada, por fim, favorecerá a verdadeira paz.
(...) Não penseis, pois, que eu vim trazer paz à Terra, essa modorrenta paz que é feita de ócio e de cansaço, mas a paz dinâmica e gloriosa que é conquistada com a espada flamejante da autoconsciência que dilui a sombra teimosa. (Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco)
Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, Jesus, que não cessou de pregar o amor do próximo, haja dito: "Não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar do pai o filho, do esposo a esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa de que ele se acenda"? Não estarão essas palavras em contradição flagrante com os seus ensinos?
Não haverá blasfêmia em lhe atribuírem a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia, nem contradição nessas palavras, pois foi mesmo ele quem as pronunciou, e elas dão testemunho da sua alta sabedoria. Apenas, um pouco equivoca, a forma não lhe exprime com exatidão o pensamento, o que deu lugar a que se enganassem relativamente ao verdadeiro sentido delas. Tomadas à letra, tenderiam a transformar a sua missão, toda de paz, noutra de perturbação e discórdia, conseqüência absurda, que o bom-senso repele, porquanto Jesus não podia desmentir-se.
Toda idéia nova forçosamente encontra oposição e nenhuma há que se implante sem lutas. Ora, nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, porque, quanto maior ela é, tanto mais numerosos são os interesses que fere. Se for notoriamente falsa, se a julgam isenta de conseqüências, ninguém se alarma; deixam-na todos passar, certos de que lhe falta vitalidade. Se, porém, é verdadeira, se assenta em sólida base, se lhe prevêem futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que constitui um perigo para eles e para a ordem de coisas em cuja manutenção se empenham.
Atiram-se, então, contra ela e contra os seus adeptos.
Assim, pois, a medida da importância e dos resultados de uma idéia nova se encontra na emoção que o seu aparecimento causa, na violência da oposição que provoca, bem como no grau e na persistência da ira de seus adversários.
Jesus vinha proclamar uma doutrina que solaparia pela base os abusos de que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Imolaram-no, portanto, certos de que, matando o homem, matariam a idéia. Esta, porém, sobreviveu, porque era verdadeira; engrandeceu-se, porque correspondia aos desígnios de Deus e, nascida num pequeno e obscuro burgo da Judéia, foi plantar o seu estandarte na capital mesma do mundo pagão, à face dos seus mais encarniçados inimigos, daqueles que mais porfiavam em combatê-la, porque subvertia crenças seculares a que eles se apegavam muito mais por interesse do que por convicção. Lutas das mais terríveis esperavam aí pelos seus apóstolos; foram inumeráveis as vítimas; a idéia, no entanto, avolumou-se sempre e triunfou, porque, como verdade, sobrelevava as que a precederam. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 11, 12 e 13. Allan Kardec)
A espada, referida por Jesus, não seria utilizada pelos adeptos da doutrina, mas por aqueles que se lhes oporiam, separando-os de tudo quanto amassem, de todos os laços e raízes emocionais, inclusive os da afetividade. Aqueles que antes lhes partilhavam as ideias, a convivência, os exprobariam em face da decisão tomada, se separariam, abririam feridas profundas nas suas almas, dilacerando-lhes as carnes dos sentimentos... E eles a tudo aceitariam por honra e dedicação ao ideal abraçado.
Porque a sombra coletiva governasse os destinos humanos por muito tempo, alguns dos discípulos, desassisados e violentos, atormentados pelas compulsões obsessivas, empunharam-na através de diferentes épocas para impor o pensamento de Jesus, quando Ele preferiu sofrer as consequências da Sua decisão, deixando-se martirizar. Ele sabia que o sacrifício é mais poderoso do que o comando de um exército equipado para matar. A voz silenciosa do martírio conclama com mais vigor do que os brados de vitória sobre os cadáveres daqueles que deveriam ser conquistados e não vencidos, havendo estabelecido o período negro e perturbador do desenvolvimento histórico desenhado para a disseminação do amor.
As marcas da alucinação ficariam na trajetória do pensamento cristão como fruto apodrecido da sombra coletiva e do impositivo psicológico; numa visão mais profunda, a espada teria que ferir fortemente a ignorância, o orgulho, os preconceitos de cada adepto novo. (Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco)
É de notar-se que o Cristianismo surgiu quando o Paganismo já entrara em declínio e se debatia contra as luzes da razão. Ainda era praticado pro forma; a crença, porém, desaparecera; apenas o interesse pessoal o sustentava. Ora, é tenaz o interesse; jamais cede à evidência; irrita-se tanto mais quanto mais peremptórios e demonstrativos de seu erro são os argumentos que se lhe opõem. Sabe ele muito bem que está errado, mas isso não o abala, porquanto a verdadeira fé não lhe está na alma. O que mais teme é a luz, que dá vista aos cegos. É-lhe proveitoso o erro; ele se lhe agarra e o defende.
Sócrates, também, não ensinara uma doutrina até certo ponto análoga à do Cristo? Por que não prevaleceu naquela época a sua doutrina, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? É que ainda não chegara o tempo. Ele semeou numa terra não lavrada; o Paganismo ainda se não achava gasto. O Cristo recebeu em propício tempo a sua missão. Muito faltava, é certo, para que todos os homens da sua época estivessem à altura das idéias cristãs, mas havia entre eles uma aptidão mais geral para as assimilar, pois que já se começava a sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão haviam aberto o caminho e predisposto os espíritos.
Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, veladas, as mais das vezes, pela alegoria e pelas figuras da linguagem. Daí o nascerem, sem demora, numerosas seitas, pretendendo todas possuir, exclusivamente, a verdade e o não bastarem dezoito séculos para pô-las de acordo. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 14 e 15. Allan Kardec)
Os chefes eclesiásticos, guindados à mais alta preponderância política, não se lembravam da pobreza e da simplicidade apostólicas, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu reino ainda deste mundo.
(...) Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que ameaçavam todas as consciências.
Muitos emissários do Alto tomam corpo entre as falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja. Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços do Cristo, conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no penoso trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras.
Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas delegações do plano invisível.
Entre esses missionários, veio aquele que se chamou Maomé, ao nascer em Meca no ano 570.
Filho da tribo dos Coraixitas, sua missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da Europa. Maomé, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que deveria ser de sacrifício e exemplificação, torna-se rico após o casamento com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra, traindo nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos, muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades humanas. É por essa razão que o missionário do Islã deixa entrever, nos seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume cristão que se evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no Alcorão, existe a doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro transviado do seu verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma vitória das Trevas contra a Luz e cujas raízes era necessário extirpar.
Maomé, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando os trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para Jesus, vulgarizou a palavra “infiel”, entre as várias famílias do seu povo, designando assim os árabes que lhe eram insubmissos, quando a expressão se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo.
Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava submetida à sua doutrina, pela força da espada; e todavia os seus continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes conquistas.
“Iniciaram no exterior as guerras santas”, subjugando toda a África setentrional, no fim do século VII. (A caminho da luz. Cap. 17 - Os mensageiros de Jesus. O islamismo. As guerras do islã. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Apesar dos numerosos desvios da Igreja romana, que esquecera os princípios cristãos tão logo que chamada aos gabinetes da política do mundo, nunca o Catolicismo foi de todo abandonado pelas potências do bem, no mundo espiritual. Advertências inúmeras lhe foram enviadas em todos os tempos da sua vida histórica, pela misericórdia do Cristo, condoído da impiedade de quantos, sob o seu nome, manchavam o altar dos templos. (A caminho da luz. Cap. 18 - Fases da igreja católica. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Segundo o Espírito Miramez, " Foram as Cruzadas o embalo execrável das trevas, como advento da Inquisição, e João Evangelista, como vigilante da Espiritualidade Maior, regressou como Francisco de Assis, com a missão sagrada de aliviar, por misericórdia, o fardo pesado que estava sendo imposto pelas Cruzadas aos ombros dos homens. " (Francisco de Assis.Cap. 2. Espírito Miramez. João Nunes Maia)
Entretanto, de acordo com o Espírito Emmanuel, "Muito pouco valeram as lições do bem, diante do mal triunfante, porque em 1231 o Tribunal da Inquisição estava consolidado com Gregório IX. Esse instituto, ironicamente, nesse tempo não condenava os supostos culpados diretamente à morte – pena benéfica e consoladora em face dos martírios infligidos aos que lhe caíssem nos calabouços –, mas podia aplicar todos os suplícios imagináveis.
A repressão das “heresias” foi o pretexto de sua consolidação na Europa, tornando-se o flagelo e a desdita do mundo inteiro.
Longo período de sombras invadiu os departamentos da atividade humana. A penumbra dos templos era teatro de cenas amargas e sacrílegas. Crimes tenebrosos foram perpetrados ao pé dos altares, em nome d’Aquele que é amor, perdão e misericórdia. A instituição sinistra da Igreja ia cobrir a estrada evolutiva do homem com um sudário de trevas espessas. "(A caminho da luz. Cap. 18 - A Inquisição. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Olvidando o mais importante dos preceitos divinos, o que Jesus colocou por pedra angular do seu edifício e como condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo, aquelas seitas lançaram anátema umas sobre as outras, e umas contra as outras se atiraram, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, aniquilando-as nas torturas e nas chamas das fogueiras. Vencedores do Paganismo, os cristãos, de perseguidos que eram, fizeram-se perseguidores. A ferro e fogo foi que se puseram a plantar a cruz do Cordeiro sem mácula nos dois mundos. E fato constante que as guerras de religião foram as mais cruéis, mais vítimas causaram do que as guerras políticas; em nenhumas outras se praticaram tantos atos de atrocidade e de barbárie.
Cabe a culpa à doutrina do Cristo? Não, decerto, que ela formalmente condena toda violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Ide, matai, massacrai, queimai os que não crerem como vós? Não; o que, ao contrário, lhes disse, foi: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos persigam. Disse-lhes, outrossim: Quem matar com a espada pela espada perecerá. A responsabilidade, portanto, não pertence à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram em instrumento próprio a lhes satisfazer às paixões; pertence aos que desprezaram estas palavras: "Meu reino não é deste mundo."
Em sua profunda sabedoria, ele tinha a previdência do que aconteceria. Mas, essas coisas eram inevitáveis, porque inerentes à inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se repentinamente. Cumpria que o Cristianismo passasse por essa longa e cruel prova de dezoito séculos, para mostrar toda a sua força, visto que, mau grado a todo o mal cometido em seu nome, ele saiu dela puro. Jamais esteve em causa. As invectivas sempre recaíram sobre os que dele abusaram. A cada ato de intolerância, sempre se disse: Se o Cristianismo fosse mais bem compreendido e mais bem praticado, isso não se daria.
Quando Jesus declara: "Não creais que eu tenha vindo trazer a paz, mas, sim, a divisão", seu pensamento era este:
"Não creais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente; ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido, ou não me terão querido compreender. Os irmãos, separados pelas suas respectivas crenças, desembainharão a espada um contra o outro e a divisão reinará no seio de uma mesma família, cujos membros não partilhem da mesma crença. Vim lançar fogo à Terra para expungi-la dos erros e dos preconceitos, do mesmo modo que se põe fogo a um campo para destruir nele as ervas más, e tenho pressa de que o fogo se acenda para que a depuração seja mais rápida, visto que do conflito sairá triunfante a verdade. A guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida. Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, isto é, que, dando a conhecer o sentido verdadeiro das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porá termo à luta fratricida que desune os filhos do mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que consigo traz unicamente a desolação e a perturbação até ao seio das famílias, reconhecerão os homens onde estão seus verdadeiros interesses, com relação a este mundo e ao outro. Verão de que lado estão os amigos e os inimigos da tranqüilidade deles. Todos então se porão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios que vos tenho ensinado."
O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições.
Também ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo. As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.
Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua doutrina provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 15, 16, 17 e 18. Allan Kardec)
A revolução operada pelo Cristianismo é tão substancial e maravilhosa que chegou a fechar uma época da História pois antes dele predominou, durante centenas de anos, a Lei Mosaica, mal interpretada pelos detentores do poder, representados pelos doutores da Lei, os escribas, os fariseus, os sacerdotes do Judaísmo.
A palavra de Jesus revolucionou os espíritos, a luta se fez e até hoje prossegue a sua ação benéfica, expurgando da religião os conceitos e preconceitos funestos que têm prejudicado a família, dividido a sociedade e estabelecido a guerra entre as nações.
As velhas Idéias, acendradas de orgulho e falso saber, continuam até hoje a endeusar o vício e a oprimir a virtude. Entretanto, se o Grande Missionário não tivesse deliberado baixar à Terra, para trazer a Nova Lei do Amor, que começa a ser compreendida por muitos espíritos de boa vontade, permaneceríamos ainda em plena escuridão e sob o despotismo dos escravizadores de consciências.
A Revolução Cristã, não há dúvida, tem ocasionado carnificinas e tem feito correr rios de sangue, porque o batismo do fogo e da espada é o emblema que ornamenta a fronte de todos os que, tirando a Humanidade do círculo vicioso que tem por costume limitá-la, provoca reação tenaz e homicida nos que materializaram os seus princípios e cristalizaram as suas virtudes.
Não que a Revolução Cristã seja uma revolução cruenta, nem que seus Apóstolos, armados de espada e bacamarte, dizimem populações e incendeiem cidades.
Muito ao contrário, eles são os cordeiros atacados por lobos vorazes sem alma, sem coração e prontos sempre a beberem o sangue das suas vítimas. Prova disso é a Tragédia do Gólgota, o mais horripilante atentado que a História registra com letras de sangue.
A Revolução Cristã é a execração do ódio e a proclamação do Amor; é a bandeira da Fraternidade Universal, flutuando na Inteligência, sob a paternidade de Deus.
(...)A sentença de Jesus: "Não vim trazer a paz, mas a guerra, a espada - vim lançar fogo à Terra e quero que ele se acenda", pode-se muito bem traduzir na outra sentença - "si vis pacem, para bellum" ("Quereis a paz? Preparai-vos para a guerra"), porque os princípios cristãos, que nós espíritas relembramos e propagamos, como Jesus o fazia, provocam a luta acirrada dos sacerdotes conservantistas, das religiões sectárias, dos fanáticos e das beatas supersticiosas, que não conhecem outra religião além dos cultos, saltérios, ritos e formalismos que desnaturam, obscurecem e aniquilam a Pura Religião de Jesus Cristo, emblema luminoso da Fé que ilumina e do Amor que salva.
E o que representa essa divisão na família e dissensão social, se não a ignorância da Lei de Deus e a guerra sem trégua que o espírito sectário move contra a Religião Universal da Ordem da Harmonia, da Caridade, do Perdão, da Humildade, instituída na terra pelo Cristo?
A Grande Revolução começou em Belém, estendeu-se pelo mundo todo, mas estamos certos de que o maior Revolucionário de todos os tempos - Jesus Cristo - sairá triunfante, porque o Bem há de forçosamente vencer o Mal, e o Progresso, agitando as massas, lhes abrirá os olhos para o cumprimento dos supremos desígnios.
"Si vis pacem, para bellum" - se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra e armados da espada da Fé, Com a couraça da Caridade, e a chama sagrada da Esperança, lancemos o fogo do Amor do Próximo nos corações, porque é chegado o tempo dos Espíritos do Senhor serem conosco e fazerem brilhar em todas as almas a verdade da Imortalidade. (O Espírito do Cristianismo. Cap. 21 - A grande revolução. Cairbar Schutel)
Observação (1): Non odit, em latim: Kaï ou miseï em grego, não quer dizer odiar, porém, amar menos. O que o verbo grego miseïn exprime, ainda melhor o expressa o verbo hebreu, de que Jesus se há de ter servido. Esse verbo não significa apenas odiar, mas, também amar menos, não amar igualmente, tanto quanto a um outro. No dialeto siríaco, do qual, dizem, Jesus usava com mais freqüência, ainda melhor acentuada é essa significação. Nesse sentido é que o Gênese (capítulo XXIX, vv. 30 e 31) diz: “E Jacob amou também mais a Raquel do que a Lia, e Jeová, vendo que Lia era odiada...” É evidente que o verdadeiro sentido aqui é: menos amada. Assim se deve traduzir. Em muitas outras passagens hebraicas e, sobretudo, siríacas, o mesmo verbo é empregado no sentido de não amar tanto quanto a outro, de sorte que fora contra-senso traduzi-lo por odiar, que tem outra acepção bem determinada. O texto de S. Mateus, aliás, afasta toda a dificuldade. - ( Nota do Sr.Pezzani.) (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 3. Allan Kardec)
Bibliografia:
- O Livro dos Espíritos. Questões 625 e 629. Allan Kardec.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Itens 3, 6, 8, 11, 12, 13, 14,15, 16, 17 e 18. Allan Kardec.
- O Espírito da verdade. Cap. 59- Renúncia. Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- O Consolador. Questões 304 e 305. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- A caminho da luz. Cap. 17 e 18. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- Elucidações evangélicas. Cap. 65. Antônio Luiz Sayão.
- Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 1. Rodolfo Calligaris.
- Francisco de Assis.Cap. 2. Espírito Miramez. João Nunes Maia.
- Os padrões evangélicos. A paz? Não, espada. Paulo Alves Godoy.
- Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco.
- O Espírito do Cristianismo. Cap. 21 - A grande revolução. Cairbar Schutel.
- Bíblia: Lucas 9:61-62.
Dinâmicas: Algo estranho; Política e Religião; Interpretação da Bíblia.
Mensagens espíritas: Moral estranha.
Leitura da Bíblia: Lucas - Capítulo 14
Mateus - Capítulo 10
Mateus - Capítulo 19
Lucas - Capítulo 18
Lucas - Capítulo 9
Mateus - Capítulo 10
Lucas - Capítulo 12
Tópicos a serem abordados:
- A moral é a regra da boa conduta, ou seja, é saber diferenciar o bem do mal, observar a lei de Deus e fazer o bem para todos. Jesus Cristo é modelo de conduta moral que devemos seguir. No entanto, vemos algumas palavras no Evangelho, atribuidas ao Divino Mestre, que parecem estranhas ao seu grau de elevação. Isto, provavelmente aconteceu, pois nenhum dos Evangelhos foi escrito por Jesus enquanto ele vivia, e o seu pensamento não foi bem expresso; ou ainda, por ter sido passado de uma língua para outra, algumas palavras podem ter sofrido alteração do significado durante a tradução.
- O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: "Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, (...) não pode ser meu discípulo", está incluso nesta hipótese. A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com vários significados. Em grego, por exemplo, não quer dizer odiar, porém, amar menos, ou seja, não amar igualmente. Em outras palavras, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, pratica um ato contrário aos seus ensinos ( por exemplo: mente, rouba ou mata) não é digno do Mestre, portanto não pode ser considerado seu discípulo.
- No entanto, se devemos honrar pai e mãe, respeitá-los, dar-lhes carinho e socorrê-los nas suas necessidades, como deveríamos interpretar um outro trecho estranho do Evangelho em que diz assim: "Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos (...), ou seu pai, ou sua mãe, (...) receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna?"Sem discutir as palavras, deve-se aqui compreender o pensamento, que era, evidentemente, este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas".
- Por acaso, censura-se os filhos que deixam os seus pais para defender o seu país? Não existem aqueles que precisam afastar -se do seu lar para trabalhar em locais onde possa exercer a sua profissão? Não é dever da filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo, quando se casa? Há deveres que se sobrepõe a outros deveres. Existem no mundo diversos casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem o carinho dos filhos para com os pais. Muitas vezes, a própria separação é necessária ao progresso dos indivíduos e dos povos.
- Para muitos, também causa estranheza quando Jesus disse: "não vim trazer a paz, mas a espada”. Não estarão essas palavras em contradição com os seus ensinos? Não, elas não estão em desacordo! O Querido Mestre usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e humildes, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas.
- A espada, referida por Jesus, não seria utilizada pelos adeptos da sua doutrina. Jesus jamais usou uma espada ou incentivou a ferir alguém com tal instrumento. Esta espada seria usada por aqueles que lhes são contrários, separando uns dos outros pelas suas respectivas crenças, inclusive os membros da sua própria família. Não vemos, por aí, o pai em divisão com o filho, a nora contra a sogra, a irmã contra o irmão? Aliás, os próprios seguidores do Cristo, infelizmente , não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, que, na maioria das vezes, eram simbólicas. A igreja católica, por exemplo, em nome do Cristo, utilizou a espada na guerra santa contra os muçulmanos para conquistar Jerusalém. Além disso, tempos depois, instaurou o tribunal da inquisição para punir os infiéis ou hereges com outros instrumentos de violência.
- Cabe culpar à doutrina do Cristo? Não, pois, ela condena todo tipo de violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Ide, golpeiai, matai, massacrai os que não crerem como vós? Não; pelo contrário. Ele lhes disse: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos perseguem. Disse-lhes, também: Quem matar com a espada pela espada morrerá. A responsabilidade, portanto, não pertence à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram em instrumento próprio a lhes satisfazer às paixões.
- O Divino Mestre ensinou-nos claramente que devemos ser construtores da paz, e para isto, é preciso fazer o bem, em favor dos outros, conservando, bastas vezes, a "espada renovadora", com a qual o indivíduo deve lutar consigo mesmo, eliminando os velhos inimigos do seu coração, tais como o egoísmo, o orgulho , a vaidade e a ignorância.
Perguntas para fixação:
1. O que é moral?
2. Quem é o modelo de conduta moral que devemos seguir?
3. Porque alguns palavras no Evangelho, atribuidas ao Divino Mestre, parecem estranhas ?
4. Qual é o significado da palavra odiar, quando Jesus disse: "Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, (...) não pode ser meu discípulo"?
5. Por que há situações em que é necessário afastar-se do seu lar?
6. O afastamento do lar diminui o respeito e carinho dos filhos pelos pais?
7. Quando Jesus disse: "não vim trazer a paz, mas a espada”, o que ele quis dizer com isto?
8. Por que a Igreja católica, em nome do Cristo, utilizou a espada na guerra santa contra os muçulmanos?
9. Deve-se culpar a doutrina do Cristo pelo uso da violência nas guerras santas e na inquisição?
10. O que Jesus havia recomendado para os seus discípulos?
11. O que devemos eliminar do nosso coração com a espada renovadora?
Subsídio para o Evangelizador:
Segundo o Livro dos Espíritos, “A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.” (O Livro dos Espíritos. Questão 629. Allan Kardec)
Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava. (O Livro dos Espíritos. Questão 625. Allan Kardec)
Certas palavras, aliás muito raras, atribuídas ao Cristo, fazem tão singular contraste com o seu modo habitual de falar que, instintivamente, se lhes repele o sentido literal, sem que a sublimidade da sua doutrina sofra qualquer dano. Escritas depois de sua morte, pois que nenhum dos Evangelhos foi redigido enquanto ele vivia, lícito é acreditar-se que, em casos como este, o fundo do seu pensamento não foi bem expresso, ou, o que não é menos provável, o sentido primitivo, passando de uma língua para outra, há de ter experimentado alguma alteração. Basta que um erro se haja cometido uma vez, para que os copiadores o tenham repetido, como se dá freqüentemente com relação aos fatos históricos.
O termo odiar, nesta frase de S. Lucas: Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe (1), está compreendido nessa hipótese. A ninguém acudirá atribuí-la a Jesus. Será então supérfluo discuti-la e, ainda menos, tentar justificá-la. Importaria, primeiro, saber se ele a pronunciou e, em caso afirmativo, se, na língua em que se exprimia, a palavra em questão tinha o mesmo valor que na nossa. Nesta passagem de S. João: "Aquele que odeia sua vida, neste mundo, a conserva para a vida eterna", é indubitável que ela não exprime a idéia que lhe atribuímos.
A língua hebraica não era rica e continha muitas palavras com várias significações.
Tal, por exemplo, a que no Gênese, designa as fases da criação: servia, simultaneamente, para exprimir um período qualquer de tempo e a revolução diurna. Daí, mais tarde, a sua tradução pelo termo dia e a crença de que o mundo foi obra de seis vezes vinte e quatro horas. Tal,também, a palavra com que se designava um camelo e um cabo, uma vez que os cabos eram feitos de pêlos de camelo. Daí o haverem-na traduzido pelo termo camelo, na alegoria do buraco de uma agulha.
Cumpre, ao demais, se atenda aos costumes e ao caráter dos povos, pelo muito que influem sobre o gênio particular de seus idiomas. Sem esse conhecimento, escapa amiúde o sentido verdadeiro de certas palavras. De uma língua para outra, o mesmo termo se reveste de maior ou menor energia. Pode, numa, envolver injúria ou blasfêmia, e carecer de importância noutra, conforme a idéia que suscite. Na mesma língua, algumas palavras perdem seu valor com o correr dos séculos. Por isso é que uma tradução rigorosamente literal nem sempre exprime perfeitamente o pensamento e que, para manter a exatidão, se tem às vezes de empregar, não termos correspondentes, mas outros equivalentes, ou perífrases.
Estas notas encontram aplicação especial na interpretação das Santas Escrituras e, em particular, dos Evangelhos. Se se não tiver em conta o meio em que Jesus vivia, fica-se exposto a equívocos sobre o valor de certas expressões e de certos fatos, em conseqüência do hábito em que se está de assimilar os outros a si próprio. Em todo caso, cumpre despojar o termo odiar da sua acepção moderna, como contrária ao espírito do ensino de Jesus. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 3. Allan Kardec)
Jesus veio dar cumprimento ao Decálogo e confirmar as profecias que lhe eram relativas. Veio congraçar a Humanidade, fazendo-lhe ver que os seus membros devem unir-se pela amizade, pelo afeto, pelo carinho, que produzem a concórdia, pelo amor paterno e filial.
Veio, enfim, mostrar-lhe que a vida real é a do Espírito liberto da escravidão da matéria, isto é, purificado, e que o Espírito só se depura na adversidade, que é o crisol das grandes obras.
Ele, portanto, jamais poderia ter dito o que quer que importasse em condenação do amor da família. O que, com relação a esta, como a respeito de tudo mais, condenou foi o excesso, que em todas as coisas prejudica o ser humano e o transvia. É dever do homem consagrar-se à família e preencher para com esta todas as obrigações que lhe impõem as leis divinas, cuja síntese é a lei do amor.
Não deve, porém, fazer do cumprimento dessas obrigações um culto. Não lhe deve sacrificar o amor ao próximo, nem os interesses superiores e a felicidade real de seus outros irmãos em Deus, pois que isso seria egoísmo e o egoísmo contravém aos ensinos do Filho de Deus.
Assim, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, praticar um ato contrário a esses ensinos não é digno do Mestre, não pode ser seu discípulo.
Essa a lição constante dos versículos acima, para cuja compreensão cumpre não constituam obstáculo os termos odiar e aborrecer, porqüanto nenhum desses vocábulos traduz com exatidão a palavra correspondente no texto hebraico, a qual não tem a significação violenta daquelas outras e carece de equivalente nos modernos idiomas. (Elucidações evangélicas. Cap. 65. Antônio Luiz Sayão)
Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar- se aos ideais superiores, e julgando-os incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e os irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do Cristo.
Em verdade, porém, essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.
Abandonar aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por isso.
Talvez seja até pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da família, que não lhe faltam com o apoio material e moral, estão cultivando o sentimento essencial do dever, e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados da realização espiritual enquanto não haja aprendido as lições mais simples da vivência comum.
Assim, quem abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando ainda lhes seja indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos espirituais, será forçado a voltar à pauta de seus deveres, porque ninguém pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de credores de sua melhor atenção e carinho. (Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 1. Rodolfo Calligaris)
No livro " O Espírito de verdade", o Espírito Emmanuel faz a seguinte recomendação e esclarecimento:
"Se teus pais não procuram a intimidade do Cristo, renuncia à felicidade de vê-los comungar contigo o divino banquete da Boa Nova, e ajuda teus pais.
Se teus filhos permanecem distantes do Evangelho, renuncia ao contentamento de sentir-lhes o coração com o teu coração na senda redentora, e ajuda teus filhos.
Se teus amigos não conseguem, ainda, perceber o amor de Jesus, renuncia à ventura de guardá-los no calor de tua alma, ante o Sol da Verdade, e ajuda teus amigos.
Renúncia com Jesus não quer dizer deserção. Expressa devotamento maior.
Nele mesmo, o Senhor, vamos encontrar o sublime exemplo.
Esquecido de muitos e por muitos relegado às agonias da negação, nem por isso se afastou dos companheiros que lhe deram as angústias do amor-não-amado.
Ressurgindo da cruz, Ele, que atravessara sozinho os pesadelos da ingratidão e as torturas da morte, volta ao convívio deles e lhes diz confiante:
– ”Eis que estarei convosco, até o fim dos séculos.” (O Espírito da verdade. Cap. 59- Renúncia. Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Se não devemos abandonar pai e mãe, como se deve interpretar o trecho do Evangelho em que diz:
"Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus." ( Lucas 9:61-62)
Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era, evidentemente, este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas", porque esse pensamento está de acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina.
Não temos, aliás, sob as vistas a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses e das afeições de família aos da Pátria? Censura-se, porventura, aquele que deixa seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, para marchar em defesa do seu país? Não se lhe reconhece, ao contrário, grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever? E que, então, há deveres que sobrelevam a outros deveres. Não impõe a lei à filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo?
Formigam no mundo os casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem a solicitude do filho para com os pais, nem a ternura destes para com aquele. Vê-se, portanto, que, mesmo tomadas ao pé da letra, excetuado o termo odiar, aquelas palavras não seriam uma negação do mandamento que prescreve ao homem honrar a seu pai e a sua mãe, nem do afeto paternal; com mais forte razão, não o seriam, se tomadas segundo o espírito. Tinham elas por fim mostrar, mediante uma hipérbole, quão imperioso é para a criatura o dever de ocupar-se com a vida futura. Aliás, pouco chocantes haviam de ser para um povo e numa época em que, como conseqüência dos costumes, os laços de família eram menos fortes, do que no seio de uma civilização moral mais avançada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. A própria separação é necessária ao progresso. Assim as famílias como as raças se abastardam, desde que se não entrecruzem, se não enxertem umas nas outras. É essa uma lei da Natureza, tanto no interesse do progresso moral, quanto no do progresso físico.
Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 6. Allan Kardec)
Que podem significar estas palavras: "Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos"? As considerações precedentes mostram, em primeiro lugar, que, nas circunstâncias em que foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar seu pai. Tem, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais completo da vida espiritual podia tomar perceptível.
A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho ensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá transcorre a verdadeira vida. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23 . Item 8. Allan Kardec)
A afirmativa do Mestre: - “Porque eu vim pôr em dissensão o filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra” – como deve ser compreendida em espírito e verdade?
- Ainda aqui, temos de considerar a feição antiga do hebraico, com a sua maneira vigorosa de expressão.
Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabelecer a perturbação no sagrado instituto da família humana, nas suas elevadas expressões afetivas, mas, sim, que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento divino das opiniões, estabelecendo os movimentos naturais das idéias renovadoras, fazendo luz no íntimo de cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de todos os corações. (O Consolador. Questão 305. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Qual o espírito destas letras: - “Não cuideis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada”?
-Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos.
Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os planos divinos.
E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser conhecida como a “espada" renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho. (O Consolador. Questão 304. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Segundo Paulo Alves Godoy, "Deriva-se dessas palavras do grande mentor espiritual que a espada significa o instrumento renovador que não tergiversa com os erros humanos e nem contemporiza com as falhas voluntárias daqueles que desejam manter o mundo acorrentado a inócuas tradições, vivendo sob a égide da superstição, do medo e do fanatismo. "
Se o Messias viesse contemporizar com as nossas falhas descuidaríamos da nossa própria evolução, e passaríamos a aguardar, ansiosamente, que Ele voltasse de novo à Terra, fosse novamente crucificado e “arcasse outra vez com os nossos pecados”, no dizer dos antigos teólogos.
O Mestre não veio para nos livrar das nossas faltas, mas ensinar-nos o caminho para nos livrar delas. Não veio tomar sobre seus ombros os encargos das nossas transgressões, mas indicar-nos, através das palavras edificantes dos Evangelhos, como aprimorar nossas qualidades e nos aproximarmos da perfeição.
Jesus usava de palavras meigas e tolerantes para com os pequeninos e os pobres de espírito, mas também sabia empregar palavras cortantes e incisivas quando se dirigia aos escribas e fariseus hipócritas. A mesma boca que havia prometido a bem-aventurança aos aflitos, aos famintos e aos sequiosos de justiça, verberava acerbamente o procedimento dos fariseus que mantinham o povo na ignorância e no fanatismo. O Mestre que prometia a recompensa aos pacificadores, aos mansos e aos pobres de espírito, também acenava com os rigores dos sofrimentos expiatórios aos falsos mentores religiosos da época “que nem entravam no Reino dos Céus e nem deixavam que os outros entrassem” e que “colocavam pesados fardos nos ombros dos seus discípulos, mas que não ousavam sequer tocá-los com os dedos”. (Os padrões evangélicos. A paz? Não, espada. Paulo Alves Godoy)
Logicamente, surgiriam opositores ferrenhos ao enunciado revolucionário inserto nos discursos d'Ele. Esses opositores não seriam apenas os externos, representados pelos detentores do poder terreno que o temeriam perder; pelos exploradores da credulidade geral, receando ser desmascarados; pelos usurpadores dos bens e dos recursos do próximo, que se veriam a braços com o impositivo da devolução da rapina; pelos famigerados perseguidores de todos os ideais de enobrecimento humano. Também estariam no imo das criaturas que desejassem a vinculação com Ele, inscrevendo-se nas fileiras do idealismo, entregando-se ao movimento em instalação na Terra. E, sem dúvida, esses oponentes interiores, ocultos pelo ego, seriam muito mais impiedosos, necessitando ser passados pelo fio da espada, do que aqueles outros, que vêm de fora e podem ser contornados, vencidos ou suportados, porque são de rápida persistência. Os adversários, porém, internos, cuidados pelos sentimentos egoicos, esses constituiriam sempre impedimentos mais difíceis de vencidos pela espada da decisão de os superar e deles libertar-se.
Literalmente, Jesus separa pais de filhos, cônjuges, irmãos, momentaneamente, quando alguns se opõem à decisão daqueles que se entregarem às transformações morais apresentadas, ao trabalho de abnegação em favor do próximo, aos compromissos de construir o mundo de solidariedade que surgirá dos escombros da sociedade rica de moedas e pobre de sentimentos de fraternidade. Mas essa ocorrência seria também a ponte que traria de volta aqueles mesmos que os expulsassem, quando a sua sombra cedesse lugar ao conhecimento dos legítimos valores humanos e sociais, auxiliando-os na lídima fraternidade que, em vez de impor os laços de família consanguínea, estabelecem como fundamentais aqueles da fraternidade universal.
A espada, por fim, favorecerá a verdadeira paz.
(...) Não penseis, pois, que eu vim trazer paz à Terra, essa modorrenta paz que é feita de ócio e de cansaço, mas a paz dinâmica e gloriosa que é conquistada com a espada flamejante da autoconsciência que dilui a sombra teimosa. (Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco)
Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, Jesus, que não cessou de pregar o amor do próximo, haja dito: "Não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar do pai o filho, do esposo a esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa de que ele se acenda"? Não estarão essas palavras em contradição flagrante com os seus ensinos?
Não haverá blasfêmia em lhe atribuírem a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia, nem contradição nessas palavras, pois foi mesmo ele quem as pronunciou, e elas dão testemunho da sua alta sabedoria. Apenas, um pouco equivoca, a forma não lhe exprime com exatidão o pensamento, o que deu lugar a que se enganassem relativamente ao verdadeiro sentido delas. Tomadas à letra, tenderiam a transformar a sua missão, toda de paz, noutra de perturbação e discórdia, conseqüência absurda, que o bom-senso repele, porquanto Jesus não podia desmentir-se.
Toda idéia nova forçosamente encontra oposição e nenhuma há que se implante sem lutas. Ora, nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, porque, quanto maior ela é, tanto mais numerosos são os interesses que fere. Se for notoriamente falsa, se a julgam isenta de conseqüências, ninguém se alarma; deixam-na todos passar, certos de que lhe falta vitalidade. Se, porém, é verdadeira, se assenta em sólida base, se lhe prevêem futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que constitui um perigo para eles e para a ordem de coisas em cuja manutenção se empenham.
Atiram-se, então, contra ela e contra os seus adeptos.
Assim, pois, a medida da importância e dos resultados de uma idéia nova se encontra na emoção que o seu aparecimento causa, na violência da oposição que provoca, bem como no grau e na persistência da ira de seus adversários.
Jesus vinha proclamar uma doutrina que solaparia pela base os abusos de que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Imolaram-no, portanto, certos de que, matando o homem, matariam a idéia. Esta, porém, sobreviveu, porque era verdadeira; engrandeceu-se, porque correspondia aos desígnios de Deus e, nascida num pequeno e obscuro burgo da Judéia, foi plantar o seu estandarte na capital mesma do mundo pagão, à face dos seus mais encarniçados inimigos, daqueles que mais porfiavam em combatê-la, porque subvertia crenças seculares a que eles se apegavam muito mais por interesse do que por convicção. Lutas das mais terríveis esperavam aí pelos seus apóstolos; foram inumeráveis as vítimas; a idéia, no entanto, avolumou-se sempre e triunfou, porque, como verdade, sobrelevava as que a precederam. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 11, 12 e 13. Allan Kardec)
A espada, referida por Jesus, não seria utilizada pelos adeptos da doutrina, mas por aqueles que se lhes oporiam, separando-os de tudo quanto amassem, de todos os laços e raízes emocionais, inclusive os da afetividade. Aqueles que antes lhes partilhavam as ideias, a convivência, os exprobariam em face da decisão tomada, se separariam, abririam feridas profundas nas suas almas, dilacerando-lhes as carnes dos sentimentos... E eles a tudo aceitariam por honra e dedicação ao ideal abraçado.
Porque a sombra coletiva governasse os destinos humanos por muito tempo, alguns dos discípulos, desassisados e violentos, atormentados pelas compulsões obsessivas, empunharam-na através de diferentes épocas para impor o pensamento de Jesus, quando Ele preferiu sofrer as consequências da Sua decisão, deixando-se martirizar. Ele sabia que o sacrifício é mais poderoso do que o comando de um exército equipado para matar. A voz silenciosa do martírio conclama com mais vigor do que os brados de vitória sobre os cadáveres daqueles que deveriam ser conquistados e não vencidos, havendo estabelecido o período negro e perturbador do desenvolvimento histórico desenhado para a disseminação do amor.
As marcas da alucinação ficariam na trajetória do pensamento cristão como fruto apodrecido da sombra coletiva e do impositivo psicológico; numa visão mais profunda, a espada teria que ferir fortemente a ignorância, o orgulho, os preconceitos de cada adepto novo. (Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco)
É de notar-se que o Cristianismo surgiu quando o Paganismo já entrara em declínio e se debatia contra as luzes da razão. Ainda era praticado pro forma; a crença, porém, desaparecera; apenas o interesse pessoal o sustentava. Ora, é tenaz o interesse; jamais cede à evidência; irrita-se tanto mais quanto mais peremptórios e demonstrativos de seu erro são os argumentos que se lhe opõem. Sabe ele muito bem que está errado, mas isso não o abala, porquanto a verdadeira fé não lhe está na alma. O que mais teme é a luz, que dá vista aos cegos. É-lhe proveitoso o erro; ele se lhe agarra e o defende.
Sócrates, também, não ensinara uma doutrina até certo ponto análoga à do Cristo? Por que não prevaleceu naquela época a sua doutrina, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? É que ainda não chegara o tempo. Ele semeou numa terra não lavrada; o Paganismo ainda se não achava gasto. O Cristo recebeu em propício tempo a sua missão. Muito faltava, é certo, para que todos os homens da sua época estivessem à altura das idéias cristãs, mas havia entre eles uma aptidão mais geral para as assimilar, pois que já se começava a sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão haviam aberto o caminho e predisposto os espíritos.
Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, veladas, as mais das vezes, pela alegoria e pelas figuras da linguagem. Daí o nascerem, sem demora, numerosas seitas, pretendendo todas possuir, exclusivamente, a verdade e o não bastarem dezoito séculos para pô-las de acordo. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 14 e 15. Allan Kardec)
Os chefes eclesiásticos, guindados à mais alta preponderância política, não se lembravam da pobreza e da simplicidade apostólicas, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu reino ainda deste mundo.
(...) Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que ameaçavam todas as consciências.
Muitos emissários do Alto tomam corpo entre as falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja. Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços do Cristo, conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no penoso trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras.
Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas delegações do plano invisível.
Entre esses missionários, veio aquele que se chamou Maomé, ao nascer em Meca no ano 570.
Filho da tribo dos Coraixitas, sua missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da Europa. Maomé, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que deveria ser de sacrifício e exemplificação, torna-se rico após o casamento com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra, traindo nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos, muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades humanas. É por essa razão que o missionário do Islã deixa entrever, nos seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume cristão que se evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no Alcorão, existe a doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro transviado do seu verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma vitória das Trevas contra a Luz e cujas raízes era necessário extirpar.
Maomé, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando os trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para Jesus, vulgarizou a palavra “infiel”, entre as várias famílias do seu povo, designando assim os árabes que lhe eram insubmissos, quando a expressão se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo.
Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava submetida à sua doutrina, pela força da espada; e todavia os seus continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes conquistas.
“Iniciaram no exterior as guerras santas”, subjugando toda a África setentrional, no fim do século VII. (A caminho da luz. Cap. 17 - Os mensageiros de Jesus. O islamismo. As guerras do islã. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Apesar dos numerosos desvios da Igreja romana, que esquecera os princípios cristãos tão logo que chamada aos gabinetes da política do mundo, nunca o Catolicismo foi de todo abandonado pelas potências do bem, no mundo espiritual. Advertências inúmeras lhe foram enviadas em todos os tempos da sua vida histórica, pela misericórdia do Cristo, condoído da impiedade de quantos, sob o seu nome, manchavam o altar dos templos. (A caminho da luz. Cap. 18 - Fases da igreja católica. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Segundo o Espírito Miramez, " Foram as Cruzadas o embalo execrável das trevas, como advento da Inquisição, e João Evangelista, como vigilante da Espiritualidade Maior, regressou como Francisco de Assis, com a missão sagrada de aliviar, por misericórdia, o fardo pesado que estava sendo imposto pelas Cruzadas aos ombros dos homens. " (Francisco de Assis.Cap. 2. Espírito Miramez. João Nunes Maia)
Entretanto, de acordo com o Espírito Emmanuel, "Muito pouco valeram as lições do bem, diante do mal triunfante, porque em 1231 o Tribunal da Inquisição estava consolidado com Gregório IX. Esse instituto, ironicamente, nesse tempo não condenava os supostos culpados diretamente à morte – pena benéfica e consoladora em face dos martírios infligidos aos que lhe caíssem nos calabouços –, mas podia aplicar todos os suplícios imagináveis.
A repressão das “heresias” foi o pretexto de sua consolidação na Europa, tornando-se o flagelo e a desdita do mundo inteiro.
Longo período de sombras invadiu os departamentos da atividade humana. A penumbra dos templos era teatro de cenas amargas e sacrílegas. Crimes tenebrosos foram perpetrados ao pé dos altares, em nome d’Aquele que é amor, perdão e misericórdia. A instituição sinistra da Igreja ia cobrir a estrada evolutiva do homem com um sudário de trevas espessas. "(A caminho da luz. Cap. 18 - A Inquisição. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)
Olvidando o mais importante dos preceitos divinos, o que Jesus colocou por pedra angular do seu edifício e como condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo, aquelas seitas lançaram anátema umas sobre as outras, e umas contra as outras se atiraram, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, aniquilando-as nas torturas e nas chamas das fogueiras. Vencedores do Paganismo, os cristãos, de perseguidos que eram, fizeram-se perseguidores. A ferro e fogo foi que se puseram a plantar a cruz do Cordeiro sem mácula nos dois mundos. E fato constante que as guerras de religião foram as mais cruéis, mais vítimas causaram do que as guerras políticas; em nenhumas outras se praticaram tantos atos de atrocidade e de barbárie.
Cabe a culpa à doutrina do Cristo? Não, decerto, que ela formalmente condena toda violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Ide, matai, massacrai, queimai os que não crerem como vós? Não; o que, ao contrário, lhes disse, foi: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos persigam. Disse-lhes, outrossim: Quem matar com a espada pela espada perecerá. A responsabilidade, portanto, não pertence à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram em instrumento próprio a lhes satisfazer às paixões; pertence aos que desprezaram estas palavras: "Meu reino não é deste mundo."
Em sua profunda sabedoria, ele tinha a previdência do que aconteceria. Mas, essas coisas eram inevitáveis, porque inerentes à inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se repentinamente. Cumpria que o Cristianismo passasse por essa longa e cruel prova de dezoito séculos, para mostrar toda a sua força, visto que, mau grado a todo o mal cometido em seu nome, ele saiu dela puro. Jamais esteve em causa. As invectivas sempre recaíram sobre os que dele abusaram. A cada ato de intolerância, sempre se disse: Se o Cristianismo fosse mais bem compreendido e mais bem praticado, isso não se daria.
Quando Jesus declara: "Não creais que eu tenha vindo trazer a paz, mas, sim, a divisão", seu pensamento era este:
"Não creais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente; ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido, ou não me terão querido compreender. Os irmãos, separados pelas suas respectivas crenças, desembainharão a espada um contra o outro e a divisão reinará no seio de uma mesma família, cujos membros não partilhem da mesma crença. Vim lançar fogo à Terra para expungi-la dos erros e dos preconceitos, do mesmo modo que se põe fogo a um campo para destruir nele as ervas más, e tenho pressa de que o fogo se acenda para que a depuração seja mais rápida, visto que do conflito sairá triunfante a verdade. A guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida. Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, isto é, que, dando a conhecer o sentido verdadeiro das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porá termo à luta fratricida que desune os filhos do mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que consigo traz unicamente a desolação e a perturbação até ao seio das famílias, reconhecerão os homens onde estão seus verdadeiros interesses, com relação a este mundo e ao outro. Verão de que lado estão os amigos e os inimigos da tranqüilidade deles. Todos então se porão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios que vos tenho ensinado."
O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições.
Também ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo. As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.
Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua doutrina provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.23. Itens 15, 16, 17 e 18. Allan Kardec)
A revolução operada pelo Cristianismo é tão substancial e maravilhosa que chegou a fechar uma época da História pois antes dele predominou, durante centenas de anos, a Lei Mosaica, mal interpretada pelos detentores do poder, representados pelos doutores da Lei, os escribas, os fariseus, os sacerdotes do Judaísmo.
A palavra de Jesus revolucionou os espíritos, a luta se fez e até hoje prossegue a sua ação benéfica, expurgando da religião os conceitos e preconceitos funestos que têm prejudicado a família, dividido a sociedade e estabelecido a guerra entre as nações.
As velhas Idéias, acendradas de orgulho e falso saber, continuam até hoje a endeusar o vício e a oprimir a virtude. Entretanto, se o Grande Missionário não tivesse deliberado baixar à Terra, para trazer a Nova Lei do Amor, que começa a ser compreendida por muitos espíritos de boa vontade, permaneceríamos ainda em plena escuridão e sob o despotismo dos escravizadores de consciências.
A Revolução Cristã, não há dúvida, tem ocasionado carnificinas e tem feito correr rios de sangue, porque o batismo do fogo e da espada é o emblema que ornamenta a fronte de todos os que, tirando a Humanidade do círculo vicioso que tem por costume limitá-la, provoca reação tenaz e homicida nos que materializaram os seus princípios e cristalizaram as suas virtudes.
Não que a Revolução Cristã seja uma revolução cruenta, nem que seus Apóstolos, armados de espada e bacamarte, dizimem populações e incendeiem cidades.
Muito ao contrário, eles são os cordeiros atacados por lobos vorazes sem alma, sem coração e prontos sempre a beberem o sangue das suas vítimas. Prova disso é a Tragédia do Gólgota, o mais horripilante atentado que a História registra com letras de sangue.
A Revolução Cristã é a execração do ódio e a proclamação do Amor; é a bandeira da Fraternidade Universal, flutuando na Inteligência, sob a paternidade de Deus.
(...)A sentença de Jesus: "Não vim trazer a paz, mas a guerra, a espada - vim lançar fogo à Terra e quero que ele se acenda", pode-se muito bem traduzir na outra sentença - "si vis pacem, para bellum" ("Quereis a paz? Preparai-vos para a guerra"), porque os princípios cristãos, que nós espíritas relembramos e propagamos, como Jesus o fazia, provocam a luta acirrada dos sacerdotes conservantistas, das religiões sectárias, dos fanáticos e das beatas supersticiosas, que não conhecem outra religião além dos cultos, saltérios, ritos e formalismos que desnaturam, obscurecem e aniquilam a Pura Religião de Jesus Cristo, emblema luminoso da Fé que ilumina e do Amor que salva.
E o que representa essa divisão na família e dissensão social, se não a ignorância da Lei de Deus e a guerra sem trégua que o espírito sectário move contra a Religião Universal da Ordem da Harmonia, da Caridade, do Perdão, da Humildade, instituída na terra pelo Cristo?
A Grande Revolução começou em Belém, estendeu-se pelo mundo todo, mas estamos certos de que o maior Revolucionário de todos os tempos - Jesus Cristo - sairá triunfante, porque o Bem há de forçosamente vencer o Mal, e o Progresso, agitando as massas, lhes abrirá os olhos para o cumprimento dos supremos desígnios.
"Si vis pacem, para bellum" - se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra e armados da espada da Fé, Com a couraça da Caridade, e a chama sagrada da Esperança, lancemos o fogo do Amor do Próximo nos corações, porque é chegado o tempo dos Espíritos do Senhor serem conosco e fazerem brilhar em todas as almas a verdade da Imortalidade. (O Espírito do Cristianismo. Cap. 21 - A grande revolução. Cairbar Schutel)
Observação (1): Non odit, em latim: Kaï ou miseï em grego, não quer dizer odiar, porém, amar menos. O que o verbo grego miseïn exprime, ainda melhor o expressa o verbo hebreu, de que Jesus se há de ter servido. Esse verbo não significa apenas odiar, mas, também amar menos, não amar igualmente, tanto quanto a um outro. No dialeto siríaco, do qual, dizem, Jesus usava com mais freqüência, ainda melhor acentuada é essa significação. Nesse sentido é que o Gênese (capítulo XXIX, vv. 30 e 31) diz: “E Jacob amou também mais a Raquel do que a Lia, e Jeová, vendo que Lia era odiada...” É evidente que o verdadeiro sentido aqui é: menos amada. Assim se deve traduzir. Em muitas outras passagens hebraicas e, sobretudo, siríacas, o mesmo verbo é empregado no sentido de não amar tanto quanto a outro, de sorte que fora contra-senso traduzi-lo por odiar, que tem outra acepção bem determinada. O texto de S. Mateus, aliás, afasta toda a dificuldade. - ( Nota do Sr.Pezzani.) (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Item 3. Allan Kardec)
Bibliografia:
- O Livro dos Espíritos. Questões 625 e 629. Allan Kardec.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 23. Itens 3, 6, 8, 11, 12, 13, 14,15, 16, 17 e 18. Allan Kardec.
- O Espírito da verdade. Cap. 59- Renúncia. Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- O Consolador. Questões 304 e 305. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- A caminho da luz. Cap. 17 e 18. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- Elucidações evangélicas. Cap. 65. Antônio Luiz Sayão.
- Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 1. Rodolfo Calligaris.
- Francisco de Assis.Cap. 2. Espírito Miramez. João Nunes Maia.
- Os padrões evangélicos. A paz? Não, espada. Paulo Alves Godoy.
- Jesus e o Evangelho à luz da psicologia profunda. Cap. 30 - Espada e paz. Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo P. Franco.
- O Espírito do Cristianismo. Cap. 21 - A grande revolução. Cairbar Schutel.
- Bíblia: Lucas 9:61-62.