Utilize o conteúdo da aula, designado por "Subsídio para o Evangelizador", para desenvolver palestras espíritas para jovens e adultos.
Aula 122 - Oferecer a outra face
Ciclo 1 - História: O bolo de lama - Atividade: ESE - Cap. 12 - 3. Se alguém te ferir na face direita, apresentai também a outra ou/e ESE - Cap. 12 - 5 - O ódio (Para os menores que não sabem ler, faça um pontinho vermelho ao lado dos sentimentos bons para que possam identificar as partes que deverão ser pintadas)
Ciclo 2 - História: Pagar o mal com o bem - Atividade: LE - L3 - Cap. 6 - O duelo ou/e ESE - Cap. 12 - 6 - O duelo.
Ciclo 3 - História: Mesmo ferido - Atividade: ESE - Cap. 12 - 4 - A vingança
Mocidade - História: Deixar secar primeiro ou/e 16 - Filmes ou documentários espíritas ou não: exibir o filme Gandhi (1983) completo ou parte dele - Atividade: 2 - Dinâmica de grupo: Reação emocional ou 7 - Debate de opiniões contrárias: Se os cidadãos comuns começarem a comprar armas para se defenderem, isto poderá aumentar ou diminuir a violência? Após o debate leia: Reação imprevista.
Dinâmicas: Oferecer a outra face; O obstáculo para o perdão.
Mensagens espíritas: Vingança; Defesa.
Sugestão de vídeos: - Música espírita: Perdoa - Caca Rezende (Dica: pesquise no Youtube)
- Mensagem: A outra face - Arte em vídeo (Dica: pesquise no Youtube)
Sugestão de livro infantil: Coleção -Valores para a vida - Cada Macaco tem o galho que merece – Respeito . Cida Lopes. Editora Brasileitura.
Leitura da Bíblia: Mateus - Capítulo 5
5.38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
5.39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
5.40 E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
5.41 E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
5.42 Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Romanos - Capítulo 12
12.19 Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei", diz o Senhor.
12.20 Ao contrário: "Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele".
12.21 Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.
Tópicos a serem abordados:
- Quando Jesus falou que se alguém nos batesse numa face, deveríamos oferecer a outra, expressou um grandioso ensinamento que, se levado em conta, teríamos a solução para todas as situações desagradáveis que surgem em nossa vida. Entretanto , oferecer a outra face não quer dizer que devemos dar o rosto para o ofensor bater, isto é uma linguagem simbólica. O Cristo quis ensinar, com estas palavras, que devemos retribuir o mal com o bem e jamais revidar com ódio, pois a justiça pertence a Deus. Se fosse permitido a cada qual fazer justiça por suas próprias mãos, agindo ao sabor de sua vontade pessoal, a vida em sociedade seria muito difícil.
- Além disso, quando Jesus disse: "Não resistam ao que vos fizer mal ", não quis proibir os meios de defesa para se livrar do agressor, mas quis condenar a vingança. Seria uma insensatez permitir que as pessoas más façam tudo o que quiserem com suas vítimas, deixando que a maldade prevaleça sobre o bem. O nosso próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, faz com que diante de um agressor procuremos sempre nos proteger para que possamos preservar a nossa vida.
- Entretanto, é preciso saber de que modo podemos nos defender, pois muitos têm usado da violência e inventado inúmeros recursos para justificar a chamada "legítima defesa". Muitos têm esquecido que, no fracasso de todas as tentativas pacificas, o cristão sincero, nunca deverá cair ao nível do agressor, pois a verdadeira defesa provém de Deus. E que, se houver necessidade, a criatura humana deverá reprimir (corrigir os atos) com doçura, discutir sem ódio , julgar todas as coisas com benevolência e moderação , enfim, não utilizar a violência para resolver os conflitos .
- Cairbar Schutel, um grande estudioso do Espiritismo, nos fez a seguinte recomendação : " É melhor deixar a capa ( a roupa que foi roubada) e não pensar mais na capa, do que discutir ou brigar dois dias, dois meses ou dois anos para reaver a capa e perder esse tempo que poderia ser aplicado nos nossos deveres espirituais. " É melhor receber o tapa e preparar a outra face para receber outro tapa, do que ferir gravemente o vosso agressor atrasado e ignorante, e perder um mês de estudo por ter sido expulso da escola ou sofrer uma punição maior.
- Sejamos benevolentes para com os maus e seremos felizes. Lembrem-se: O amor nos aproxima de Deus e o ódio nos distancia Dele. Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, pois ele não compreende que haja mais coragem em suportar uma ofensa do que realizar uma vingança. Não entende que há maior mérito de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros, pois o homem deve aceitar com humildade tudo o que lhe sirva de molde para destruir o seu orgulho.
- O Nosso Querido Mestre trouxe o maior exemplo de humildade para a humanidade . Jesus jamais se perturbava com aqueles que O ofediam. Ele mostrou que a nossa força está na serenidade , na tolerância e no perdão. Quando foi preso, de forma injusta e cruel, cuspiram-lhe na face , mas não revidou o ultraje; recebeu vários açoites, porém não amaldiçou os que o feriam; aceitou o cruxifixo entre ladrões e disse ainda : “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem, o que fazem!”
- É difícil amar àqueles que nos ultrajam e perseguem; mas este sacrifício é que nos torna superiores a eles. Se os odiássemos, como nos odeiam, não valeríamos mais do que eles. A vingança, qualquer que seja a maneira de que se revista, revela baixeza e maldade, constituindo, sempre, prova da inferioridade moral de quem a exerce. A vingança sob todas as formas, o duelo, a guerra são vestígios da selvageria primitiva, a herança de um mundo bárbaro e atrasado, que um dia irá desaparecer da face da Terra.
- Sabe-se hoje, que os estados de tensão muito prolongados (tais como: a ansiedade, a frustração , o ódio e a vingança) provocam inúmeras doenças no corpo físico e que o único remédio eficaz contra semelhantes calamidades da alma é o sentimento do perdão, que é o fruto do amor . Amar ao próximo é um dos mais sábios conselhos médicos de todos os tempos. O sentimento do amor mantém a mente e o corpo sadios. Aquele que ama, diz as escrituras, “não se irrita e nem se azeda com coisa alguma”; antes “tudo suporta e tudo sofre”, porque “é paciente, brando e benevolente". (I Cor 13:4-7). O Evangelho de Jesus é um verdadeiro código de medicina para prevenção de doenças. Quanto aos que erram, a Providência Divina, muito melhor do que nós, saberá quando e como corrigi-los, de modo a que, de futuro, não mais tornem a fazer aos outros o que não desejariam que lhes fizessem.
Perguntas para fixação:
1. Quando Jesus disse que deveríamos oferecer a outra face, o que Ele quis ensinar?
2. Quem deve aplicar a justiça quando somos ofendidos?
3. Pra que serve o nosso instinto de conservação?
4. Como devemos nos defender diante do agressor?
5. Por que, segundo Cairbar Schutel, não devemos ficar perdendo o nosso tempo para reaver algo que nos foi roubado?
6. Por que é mais corajoso aquele que suporta uma ofensa do que realiza uma vingança?
7. Qual foi o maior exemplo que Jesus trouxe para humanidade?
8. Onde está a nossa força maior?
9. Por que não devemos ser vingativos?
10. Qual é o remédio eficaz contra o sentimento de ódio?
11. Qual é o sentimento que devemos cultivar para manter a nossa mente e corpo sadios?
12. Onde podemos encontrar o verdadeiro código de medicina para prevençãode doenças?
Subsídio para o Evangelizador:
A ocupação da Palestina, naquele tempo, ensejava constantes motivos de irritação para os judeus.
É que ali, como em todas as regiões que havia conquistado, a soldadesca romana impunha aos vencidos uma dependência odiosa e intolerável, tantas as humilhações e os vexames por que os faziam passar.
Era comum, por exemplo, um oficial romano dirigir-se de um ponto a outro da Judeia ou da Galileia e, nessas viagens, obrigar os camponeses judeus que trabalhavam no campo a interromperem seus afazeres para carregar-lhe pesados fardos.
Da mesma sorte, quem saísse de casa com um destino qualquer, nunca poderia ter a certeza de que chegaria ao local desejado, pois, se lhe acontecesse encontrar pelo caminho algum representante das autoridades dominantes, poderia ser obrigado a retroceder ou a mudar completamente de direção, para prestar qualquer serviço que lhe fosse exigido.
Tentasse alguém reagir contra essas arbitrariedades e conheceria logo o preço de sua ousadia: o sarcasmo e crueldades inomináveis.
É de calcular-se, portanto, a amargura com que os judeus tinham de curvar-se em homenagem às bandeiras romanas, sempre que as viam passar conduzidas pelas tropas de César, e com que ardor aguardavam o dia em que pudessem sacudir o jugo do opressor.
Achava-se Jesus ensinando ao povo, nas cercanias de uma cidade que era sede de uma guarnição romana, quando a vista de uma companhia de soldados fez que seus ouvintes evocassem a lembrança do infortúnio que pesava sobre o povo israelita.
O Mestre relanceou o olhar pelos que o circundavam e, em suas faces, viu estampado, de forma indisfarçável, o anseio de vingança que se aninhava em cada coração.
Percebendo que todos o fitavam ansiosamente, esperando fosse Ele aquele que houvesse de lhes dar o poder, a fim de esmagarem seus dominadores, contristou-se, pois bem diferente era a sua missão, e, retomando a palavra, disse-lhes com brandura:
“Tendes ouvido o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao que vos fizer mal. Se alguém te ferir na face direita, oferece-lhe também a outra; ao que quer demandar contigo em juízo, para tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e se qualquer te obrigar a caminhar com ele mil passos, vai com ele ainda mais outros dois mil”. (Mateus, 5:38 a 41.)
Expressando-se dessa maneira, é claro que Jesus não estava a endossar as violências com que a tirania militar da época acostumara-se a supliciar os subjugados. Longe disso.
O que Ele quis ensinar nessa oportunidade, como aliás o fez durante toda a sua vida terrestre, foi que, malgrado a regra estatuída por Moisés — “olho por olho e dente por dente”, a Lei do Amor que viera revelar proibia terminantemente as desforras, as vinditas, não sendo lícito a ninguém vingar-se a si mesmo.
Unicamente a Deus pertence punir, assim os indivíduos como as nações que transgridam os mandamentos de sua Lei. Melhor do que nós, sabe Ele como obrigar os que erram a corrigir o erro cometido contra os semelhantes.
A oportunidade e a importância desses princípios estabelecidos pelo Mestre incomparável ressaltam ainda hoje. Fosse permitido a cada qual fazer justiça por suas próprias mãos, agindo ao sabor de sua vontade pessoal, e a vida em sociedade seria muito difícil, tais os desmandos e excessos que se verificariam.
Talvez se indague: pessoalmente, teve o Cristo ocasião de exemplificar tão sublime ensinamento?
Sim! Foi oprimido e não teve uma expressão de revolta; cuspiram-lhe na face e não revidou o ultraje; teve as costas lanhadas, sem malquerer os que o feriam, e, através dos séculos, chega até nós, da cruz do Calvário, a oração que proferiu por aqueles que lhe davam a morte: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem, o que fazem!”. (O Sermão da Montanha. Não resistais ao que vos fizer mal. Rodolfo Calligaris )
O preceito evangélico – “se alguém te bater numa face, apresenta-lhe a outra” – deve ser observado pelo cristão, mesmo quando seja vítima de agressão corporal não provocada?
- O homem terrestre, com as suas taras seculares, tem inventado numerosos recursos humanos para justificar a chamada “legítima defesa”, mas a realidade é que toda a defesa da criatura está em Deus.
Somos de parecer que, agindo o homem com a chave da fraternidade cristã, pode-se extinguir o fermento da agressão, com a luz do bem e da serenidade moral.
Acreditando, contudo, no fracasso de todas as tentativas pacificas, o cristão sincero, na sua feição individual, nunca deverá cair ao nível do agressor, sabendo estabelecer, em todas as circunstâncias, a diferença entre os seus valores morais e os instintos animalizados da violência física. (O Consolador. Questão 345. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )
No livro " Paulo e Estevão", o Espírito Emmanuel relata que certa vez Paulo de Tarso foi obrigado a pernoitar no relento em uma de suas viagens, e demonstrou verdadeiro exemplo de coragem e serenidade diante de um ladrão e de seu companheiro Barnabé:
Dois homens armados precipitaram -se sobre ambos, à fraca luz de uma tocha acesa em resinas.
— A bolsa! — gritou um dos malfeitores.
Barnabé empalideceu ligeiramente, mas Paulo estava sereno e impassível.
— Entreguem o que têm ou morrem — exclamou o outro bandido, alçando o punhal.
Olhando fixamente o companheiro, o ex -rabino ordenou:
— Dá-lhes o dinheiro que resta, Deus suprirá nossas necessidades de outro modo.
Barnabé esvaziou a bolsa que trazia entre as dobras da túnica , enquanto os malfeitores recolhiam, ávidos, a pequena quantia.
Reparando nos pergaminhos do Evangelho que os missionários consultavam à luz da tocha improvisada, um dos ladrões interrogou desconfiado e irônico:
— Que documentos são esses? Faláveis de um p ríncipe opulento...
Ouvimos referências a um tesouro... Que significa tudo isso?
Com admirável presença de espírito, Paulo explicou:
— Sim, de fato estes pergaminhos são o roteiro do imenso tesouro que nos trouxe o Cristo Jesus, que há de reinar sobre os príncipes da Terra.
Um dos bandidos, grandemente interessado, examinou o rolo das anotações de Levi.
— Quem encontrar esse tesouro — prosseguia Paulo, resoluto —, nunca mais sentirá necessidades.
Os ladrões guardaram o Evangelho cuidadosamente.
— Agradecei a Deus não vos tirarmos a vida — disse um deles.
E apagando a tocha bruxuleante, desapareceram na escuridão da noite.
Quando se viram a sós, Barnabé não conseguiu dissimular o assombro.
— E agora? — perguntou com voz trêmula.
— A missão continua bem — glosou Paulo cheio de bom ânimo —, não contávamos com a excelente oportunidade de transmitir a Boa Nova aos ladrões.
O discípulo de Pedro, admirando-se de tamanha serenidade, voltou a dizer:
— Mas, levaram-nos, também, os derradeiros pães de cevada, bem como as capas...
— Haverá sempre alguma fruta na estrada — esclarecia Paulo, decidido — e, quanto às coberturas, não tenhamos maior cuidado, pois não nos faltará o musgo das árvores.
E, desejoso de tranqüilizar o companheiro, acrescentava:
— De fato, não temos mais dinheiro, mas julgo não será difícil conseguir trabalho com os tapeceiros de Antioquia de Pisídia. Além disso, a região está muito distante dos grandes centros e posso levar certas novidades aos colegas do ofício. Esta circunstância será vantajosa para nós. (Paulo e Estevão. Cap. 4. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )
Segundo Cairbar Schutel, um grande estudioso do espiritismo," É melhor deixar a capa e não pensar mais na capa, do que discutir ou brigar dois dias, dois meses ou dois anos para reaver a capa e perder esse tempo que poderia ser aplicado nos vossos deveres espirituais.
E melhor receber o tapa e preparar a outra face para receber outro tapa, sem vos preocupardes com os tapas, do que ferir o vosso agressor atrasado e ignorante, e perder um mês na prisão com prejuízo de vossa missão. Sede benevolentes para com os maus e o seu número diminuirá ao menos para convosco.
Dai, emprestai, porque o Pai Celestial, que é misericordioso até para com os ingratos, porá no vosso regaço uma medida transbordando e recalcada.
Não vos detenhais ante as fragilidades da vida, não percais tempo a seguir o cão que vos feriu, mas procurai meios de dominar-lhe a ferocidade com uma talhada de pão, ou um pedaço de carne.
A Deus pertence a justiça e os que riem hoje, chorarão amanhã; os potentados de agora, sem amor e sem benevolência, que se acham consolados com o seu ouro, serão vazios; os fartos, egoístas e varentos terão fome.
Não apresseis os acontecimentos que vos penalizarão mais tarde, ao ver os que tiveram bens em farrapos, e os que foram injustos, escravizados! "(O Espírito do Cristianismo. Cap. 6. Cairbar Schutel)
O própro Chico Xavier fez a seguinte recomendação: " Não revidemos qualquer ofensa, qualquer agressão... O tempo passa. Todos estamos na Terra para aprender — aprender com os nossos próprios erros. O que façamos de mal a alguém é sentença lavrada contra nós mesmos. " (O Evangelho de Chico Xavier. Item 346. Chico Xavier / Carlos A. Baccelli )
A vingança sob todas as formas, o duelo, a guerra são vestígios da selvageria primitiva, a herança de um mundo bárbaro e atrasado. Aquele que entreviu o encadeamento grandioso das leis superiores, desse princípio de justiça cujos efeitos se repercutem através dos tempos, poderá pensar em vingar-se?
Vingar-se é fazer de uma só falta, de um só crime, dois; é tornar-se tão culpado quanto o próprio ofensor. Quando o ultraje ou a injustiça nos atingir, imponhamos silêncio à nossa dignidade ferida, pensemos naqueles que, no passado sombrio, nós mesmos ofendemos, ultrajamos, espoliamos, e suportemos a injúria como uma reparação. Não percamos de vista o objetivo da existência, que esses acidentes nos fariam esquecer. Não deixemos o caminho reto e seguro; não nos deixemos arrastar pela paixão nos declives perigosos que nos conduziriam à bestialidade; escalemo-los, de preferência, com redobrada coragem. A vingança é uma loucura que faria perder o fruto de muitos progressos, recuar sobre o caminho percorrido. Um dia, quando tivermos deixado a Terra, talvez abençoemos aqueles que tenham sido duros, impiedosos para conosco, que nos tenham roubado, enchido de mágoa; nós os abençoaremos, pois de suas iniquidades surgirá nossa felicidade espiritual. Acreditavam fazer-nos o mal, e facilitaram nosso adiantamento, nossa elevação, dando-nos a oportunidade de sofrer esmesuradamente, de perdoar e de esquecer.
A paciência é essa qualidade que nos ensina a suportar com calma todos os aborrecimentos. Não consiste em apagar em nós qualquer sensação, em nos tornar indiferentes, inertes, mas em procurar, além dos horizontes do presente, as consolações que nos fazem considerar fúteis e secundárias as tribulações da vida material.
A paciência conduz à benevolência. Como espelhos, as almas nos devolvem o reflexo dos sentimentos que nos inspiram. A simpatia atrai a simpatia, e a indiferença engendra o amargor.
Aprendamos, quando for necessário, a reprimir com doçura, a discutir sem arrebatamento, a julgar todas as coisas com benevolência e moderação: fujamos de tudo o que apaixona e sobre-excita. (Depois da morte. Cap. 48 - Paciência e bondade. Léon Denis )
Sabe-se hoje, depois das experiências do Prof. Hans Selye, que os estados de tensão muito prolongados originam lesões graves em vários órgãos. Informa Selye que as piores tensões são: ansiedade, frustração e ódio, capazes de produzirem úlceras gastroduodenais, arteriosclerose e hipertensão arterial, por exemplo. Ora, esse conhecimento é experimental, adquirido pelo homem no laboratório de pesquisa, utilizando ratos, cobaias e camundongos. É muito para estimar e admirar que o querido instrutor André Luiz, em Sinal Verde, afirme exatamente a mesma coisa: “Quanto mais avança, a ciência médica mais compreende que o ódio em forma de vingança, condenação, ressentimento, inveja ou hostilidade está na raiz de numerosas doenças e que o único remédio eficaz contra semelhantes calamidades da alma é o específico do perdão no veículo do amor.” Por incrível que pareça, essa última assertiva do espírito fora antes formulada pelo citado cientista ao declarar que: “Amar ao próximo é um dos mais sábios conselhos médicos de todos os tempos.” Percebe-se que a acentuação deslocou-se da religião para a ciência: o Evangelho é também um código de medicina profilática...
Tal é a causa principal dos nossos males físicos e mentais: as lesões do corpo espiritual, enquanto não houver reparação das condutas malfazejas e mudança nas inclinações, serão transferidas para o corpo material, que renascerá doente de mil maneiras diferentes. (Evolução para o terceiro milênio. Cap. 5. Carlos Toledo Rizzini)
Disse Jesus: Quem matou com a espada, pela espada perecerá. Estas palavras não consagram a pena de talião e, assim a morte dada ao assassino não constitui uma aplicação dessa pena?
“Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras. A pena de talião é a justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Mas, não vos disse ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vós mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?” (O Livro dos Espíritos. Questão 764. Allan Kardec)
É crime aos olhos de Deus o assassínio?
Grande crime, pois que aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão. Aí é que está o mal.(O Livro dos Espíritos. Questão 746. Allan Kardec)
Há crime no homicídio em duelo; a vossa própria legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante: é um crime aos olhos de Deus, que vos traçou a linha de conduta que tendes de seguir. Nisso, mais do que em qualquer outra circunstância, sois juizes em causa própria. Lembrai-vos de que somente vos será perdoado, conforme perdoardes; pelo perdão vos acercais da Divindade, pois a clemência e irmã do poder. Enquanto na Terra correr uma gota de sangue humano, vertida pela mão dos homens, o verdadeiro reino de Deus ainda se não terá implantado aí, reino de paz e de amor, que há de banir para sempre do vosso planeta a animosidade, a discórdia, a guerra. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 11. Adolfo, bispo de Argel. Marmande, 1861. Allan Kardec)
É sempre do mesmo grau a culpabilidade em todos os casos de assassínio?
Já o temos dito: Deus é justo, julga mais pela intenção do que pelo fato. (O Livro dos Espíritos. Questão 747. Allan Kardec)
Em caso de legítima defesa, escusa Deus o assassínio?
Só a necessidade o pode escusar. Mas, desde que o agredido possa preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo. (O Livro dos Espíritos. Questão 748. Allan Kardec)
Paulo de Tarso, que conheceu tão profundamente os assédios do mal, que lhe suportou as investidas permanentes, dentro e fora dele mesmo, recomendou usemos o escudo da fé, acima de todos os elementos da defensiva.
Somente a confiança no Poder Maior, na Justiça Vitoriosa, na Sabedoria Divina consegue anular os dardos invisíveis, inflamados no veneno que intoxica os corações. Todo trabalhador sincero do Cristo movimenta-se na frente de longa e porfiada luta na Terra. Golpes da sombra e estiletes da incompreensão cercam-no em todos os lugares. E, se a bondade conforta e a esperança ameniza, é imprescindível não esquecer que só a fé representa escudo bastante forte para conservar o coração imune das trevas. (Vinha de luz. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )
O livro "Os Mensageiros", relata a importância da prece no lar como método de defesa interior e exterior: " Toda vez que se ora num lar, prepara-se a melhoria do ambiente doméstico. Cada prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um curso de iluminação interior, mas também processo avançado de defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. O homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a prece transforma-se em fortaleza... As entidades da sombra experimentam choques de vulto, em contato com as vibrações luminosas deste santuário doméstico, e é por isso que se mantêm a distância, procurando outros rumos..."(Os Mensageiros. Cap. 37. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)
No entanto, no livro " Os Mensageiros " o Espírito André Luiz relata também que no plano espiritual existem métodos de defesa pessoal através de armas, porém não extingue a alma do agressor, segundo informações do administrador do local. Ele descreve este fato da seguinte maneira:
"Via a torre de mensagem, consagrada, por certo, ao serviço de resistência; o baluarte agudo, elevando-se acima dos fossos que deixavam transbordar a água corrente; a torre de vigia, esbelta e alterosa. Observei o caminho da ronda, a cisterna, as seteiras e, em seguida, as paliçadas e barbacãs, refletindo na complexidade de todo aquele aparelhamento defensivo. E as armas? Identificava-lhes a presença na maquinaria instalada ao longo dos muros, copiando os pequenos canhões conhecidos na Terra. Entretanto, vi com emoção, no cume da torre de vigia, a enorme bandeira de paz, muito alva, tremulando ao vento como largo penacho de neve...
O administrador percebeu a estranheza que se apossara de Vicente e de mim.
— Já sei a impressão que a nossa defesa lhes causa — disse Alfredo, detendo-se para explicar.
Fixando-nos com o olhar muito lúcido, continuou:
— Naturalmente, não imaginavam necessárias tantas fortificações. Conforme veem, nossa bandeira é de concórdia e harmonia; no entanto, é imprescindível considerar que estamos em serviço que precisaremos defender, em qualquer circunstância. Enquanto não imperar a lei universal do amor, é indispensável persevere o reinado da justiça. Nosso Posto está colocado, aqui, igualmente, como “ovelha em meio de lobos”, e, embora não nos caiba efetuar o extermínio das feras, necessitamos defender a obra do bem contra os assaltos indébitos. As organizações dos nossos irmãos consagrados ao mal são vastíssimas. Não admitam a hipótese de serem, todos eles, ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de perversos e criminosos. São entidades verdadeiramente diabólicas. Não tenham disso qualquer dúvida.
(...) — Mas, como explicar as bases de semelhante atitude? Na Terra, compreendemos certos enganos, mas aqui...
O generoso interlocutor não me deixou terminar e prosseguiu:
— Na Crosta, nossos irmãos menos felizes lutam pela dominação econômica, pelas paixões desordenadas, pela hegemonia de falsos princípios. Nestas zonas imediatas à mente terrestre, temos tudo isso em identidade de condições. Entre as entidades perversas e ignorantes, há cooperativas para o mal, sistemas econômicos de natureza feudalista, baixa exploração de certas forças da Natureza, vaidades tirânicas, difusão de mentiras, escravização dos que se enfraquecem pela invigilância, doloroso cativeiro dos Espíritos falidos e imprevidentes, paixões talvez mais desordenadas que as da Terra, inquietações sentimentais, terríveis desequilíbrios da mente, angustiosos desvios do sentimento. Em todo o lugar, meu amigo, as quedas espirituais, perante o Senhor, são sempre as mesmas, embora variem de intensidade e coloração.
— Mas... e as armas? — perguntei — acaso são utilizadas?
— Como não? — disse Alfredo, pressuroso — não temos balas de aço, mas temos projéteis elétricos. Naturalmente, a ninguém atacaremos. Nossa tarefa é de socorro e não de extermínio.
— No entanto — aduzi, sob forte impressão —, qual o efeito desses projéteis?
— Assustam terrivelmente — respondeu ele, sorrindo — e, sobretudo, demonstram as possibilidades de uma defesa que ultrapassa a ofensiva.
— Mas apenas assustam? — tornei a interrogar.
Alfredo sorriu mais significativamente e acrescentou:
— Poderiam causar a impressão de morte.
— Que diz! — exclamei com insofreável espanto.
O administrador meditou alguns instantes, e, ponderando, talvez, a gravidade dos esclarecimentos, obtemperou:
— Meu amigo! meu amigo! se já não estamos na carne, busquemos desencarnar também os nossos pensamentos. As criaturas que se agarram, aqui, às impressões físicas, estão sempre criando densidade para os seus veículos de manifestação, da mesma forma que os Espíritos dedicados à região superior estão sempre purificando e elevando esses mesmos veículos. Nossos projéteis, portanto, expulsam os inimigos do bem através de vibrações do medo, mas poderiam causar a ilusão da morte, atuando sobre o corpo denso dos nossos semelhantes menos adiantados no caminho da vida. A morte física, na Terra, não é igualmente pura impressão? Ninguém desaparece. O fenômeno é apenas de invisibilidade ou, por vezes, de ausência. Quanto à responsabilidade dos que matam, isto é outra coisa. E além desta observação, que é da alçada da Justiça Divina, temos a considerar, igualmente, que, nesta Esfera, o corpo denso modificado pode ressurgir todos os dias, pela matéria mental destinada à produção dele, enquanto que, para obter o corpo físico, almas há que trabalham, por vezes, durante séculos... (Os Mensageiros. Cap. 20. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier)
Tem o homem culpa dos assassínios que pratica durante a guerra?
Não, quando constrangido pela força; mas é culpado das crueldades que cometa, sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda. ( O Livro dos Espíritos. Questão 749. Allan Kardec )
No livro, " Ação e reação " o Espírito André Luiz relata um caso em que dois homens foram assassinados, sem necessidade, após uma guerra e que os autores do crime tiveram que expiar da mesma forma, apesar dos seus créditos adquiridos posteriormente. O instrutor espiritual narra a história, dizendo:
''Ascânio e Lucas possuíam créditos extensos, adquiridos em quase cinco séculos sucessivos de aprendizado digno, somando as cinco existências últimas nos círculos da carne e as estações de serviço espiritual, nas vizinhanças da arena física; no entanto, quando a gradativa auscultação lhes alcançou as atividades do século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa meditação... Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente no espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram nas fichas mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d'Arc...
Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza no território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes remorsos além do sepulcro.
(...) Em vez de continuarem insistindo na elevação a níveis mais altos, suplicaram, ao revés, o retorno ao campo dos homens, no qual acabam de pagar o débito a que aludimos.
(...) Já que podiam escolher o gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados no mundo íntimo ,(...) optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja evolução ofereceram as suas vidas. Há dois meses regressaram às nossas linhas de ação, depois de haverem sofrido a mesma queda mortal que infligiram aos companheiros de luta no século XV. ''(Ação e Reação. Cap. 18. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier )
Por que razão a crueldade forma o caráter predominante dos povos primitivos?
Nos povos primitivos, como lhes chamas, a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam e é o que os torna, em geral, cruéis. Demais, os povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa influência. ( O Livro dos Espíritos. Questão 753. Allan Kardec )
A crueldade não derivará da carência de senso moral?
Dize - da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.
Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A sobreexcitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais. ( O Livro dos Espíritos. Questão 754. Allan Kardec )
Quando algo acontece perturbador, gerando sofrimento no indivíduo, ou a sua imaturidade psicológica se sente ameaçada por algo muito forte, mesmo raciocinando conscientemente, não se furta às manifestações desconhecidas do seu inconsciente que exige reparação, desforço, o aniquilamento do opositor. O seu lado racional procura resistir, por identificar essa falha do caráter, mas aqueloutro, o sombrio e desconhecido da personalidade, que tem manifestações inesperadas e de todo inconsequentes, arma ciladas, estabelece ardis e atira o ser nos desvarios da vingança de consequências sempre perturbadoras.
Os impulsos irrompem-lhe de áreas desconhecidas do ego, que não consegue identificação com o Si-mesmo, e induzem-no a um trabalho perseverante de odiosidade, instaurando-lhe no imo revolta e desconforto ante esse que se lhe apresenta como perigo para sua segurança, merecendo, portanto, ser destruído.
O fenômeno ocorre, tanto no indivíduo como nas massas, em pessoas como em nações, dando surgimento às guerras nefastas e hediondas, nas quais todos são prejudicados por gerações que se sucedem, tais as sequelas que ficam após o armistício...
No indivíduo, esse transtorno recorrente é perverso mecanismo conflitivo que somente induz ao desespero, e mesmo quando o outro, aquele a quem é inamistoso se rende ou é aniquilado, não desaparecem os efeitos desastrosos dos seus sentimentos perversos, frustrando a quem aparentemente estaria vitorioso.
Invariavelmente neurótico, o enfermo que assim age, vitimado pela repressão sexual infantil ou dominado pela necessidade do poder e da ambição, compete com os demais, aos quais passa a invejar, por se encontrarem em melhores condições psicológicas do que ele. Pode aceitá-los como amigos, enquanto os manipula, sentindo-se beneficiado pela sua dependência, jamais quando se erguem, tornando-se dons quixotes em suas lutas desiguais contra os gigantes simbolizados nos moinhos dos ventos da insensatez.
A vingança é transtorno neurótico soez, que liberta do inconsciente as forças desordenadas aí adormecidas, irrompendo com ferocidade e ligeireza sob o estímulo do combate ao inimigo.
É curioso notar que o inimigo não é aquele que se torna combatido, mas o inconsciente transfere dos seus arcanos a inferioridade do ser, que é inimigo do progresso, do bem, da ordem, para atirar noutrem, em fenômeno de projeção e que guarda internamente, detestando-o.
Ao armar-se de calúnia e de mecanismos de perseguição contra aquele a quem passa a odiar, está realizando uma luta inconsciente contra si mesmo, aquele outro que está escondido no lado escuro da sua personalidade, que se lhe demora oculto na sombra.
Fixa-se no adversário com implacabilidade, e suas metas se reduzem a essa inglória batalha pela sua extinção, do que dependerá a sua liberdade, a partir desse momento. Assim, transtornado, emite ondas deletérias contra o outro, estabelecendo uma comunicação psíquica, se encontra receptividade em quem lhe padece a campanha, que termina por minar as forças daquele que considera seu opositor.
Além da inferioridade moral que tipifica o vingador, o seu primarismo emocional elabora razões ponderosas que lhe surgem na mente em desalinho para dar prosseguimento à façanha, nascidas no inconsciente pessoal profundo, que remanescem de outras existências do Self quando se desarmonizou com este a quem ora enfrenta e desafia para o duelo covarde. Em outras situações, a inferioridade se levanta, e não se sentindo possuidor de recursos para competir mediante valores significativos, cultiva a antipatia que se avoluma e a transforma em fúria, que somente se aplaca quando está lutando contra aquele que o atormenta, mesmo que esse não o saiba, que não tenha a intenção de assim proceder, pois que ignora a situação infeliz do seu adversário.
Se, por acaso, for levado ao sentido de harmonização com o inimigo, não o perdoa interiormente, embora seja quem merece ser perdoado, ruminando o que considera a sua derrota até encontrar novos argumentos para dar prosseguimento à sanha doentia da sua libido atormentada.
Aqueles que se apoiam em mecanismos vingativos sempre foram vítimas de repressão infantil e juvenil, sentiram-se desprezados pelo grupo social e transferem agora suas frustrações para quaisquer outros, desde que isso os transforme em pessoas portadoras de poder e ambiciosos dirigentes de qualquer coisa, em que a personalidade doentia passa a ser homenageada, fruindo de destaque, embora a conduta esquizoide, maneirosa, falsamente humilde ou pretensiosamente dominadora.
Sujeitos a esgares ou a convulsões epilépticas, ou a simples ausências, são personalidades psicopatas perigosas, porque traiçoeiras, que sabem simular muito bem os sentimentos íntimos e urdem planos macabros sob o açodar da psique ambivalente, doentia, dissociada e com predomínio da faceta mórbida.
Todo um trabalho psicoterapêutico profundo deve ser apresentado como proposta de recuperação para pacientes dessa natureza, remontando-se a uma psicanálise que lhes chegue à infância, de forma a erradicar pela catarse os traumas e conflitos arraigados, assim alterando-lhes a conduta pessoal com base em novos valores que lhes serão apresentados de maneira afável e duradoura, não raro com ajuda também de terapia psiquiátrica para a remoção de possíveis extratos epilépticos ou esquizofrênicos, que se fazem necessitados de fármacos e barbitúricos específicos.
O amor — que tudo fazem para não conseguir — igualmente é-lhes muito valioso, embora reajam por desconfiança e ambivalência de conduta, gerando no enfermo um clima de simpatia e amizade, normalmente difícil de estruturado, em razão dos muitos tormentos que o avassalam. (Triunfo pessoal. Cap. 7. Vingança. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco)
A fatalidade da vida é alcançar a harmonia plena, mediante o equilíbrio do amor a si mesmo, ao próximo e a Deus.
Qualquer desvio do sentimento do amor que se tenha, e tomba-se em desequilíbrio, em inarmonia, postergando o processo da evolução e retardando a marcha do progresso na qual todos os seres se encontram colocados.
O amor, portanto, é o hálito de sustentação da vida, enquanto a sua ausência expressa-se como estágio embrionário do ser, aguardando os fatores propiciatórios ao seu surgimento e exteriorização.
A vingança constitui-se numa patologia do ego insubordinado ante as ocorrências do mecanismo de crescimento.
Nem sempre todas as ocorrências podem ser favoráveis, e, não poucas vezes, surgem fenômenos perturbadores pela agressividade, por meio do desvio de conduta, através do erro, mediante a ação indébita, que geram reações profundamente infelizes, que se convertem em anseio de vingança como recurso de liberação do ódio, que é a mais grave enfermidade da alma.
O ódio envenena os sentimentos e entorpece a razão. Dando vitalidade à vingança, conduz a transtornos comportamentais mórbidos de recuperação difícil.
Na Sua condição humana entre os homens-pigmeus que O detestavam, Jesus enfrentou as suas agressões e diatribes, sem permitir-se vincular-se-lhes por meio do ressentimento, menos do ódio, jamais por qualquer expressão de vingança.
Nunca se poupou aos enfrentamentos, não obstante, jamais sintonizou com a ira dos atormentados-atormentadores que sempre O buscavam para afligi-lo e testá-lo.
Não resistia contra eles, desafiando-os ou com eles entabulando discussões estéreis quão venenosas.
Suave, passeava a Sua presença entre os seus bafios pestosos e os seus doestos, sem os vitalizar com qualquer tipo de vinculação emocional.
Agia, incorruptível, mantendo a serenidade, enquanto eles blasfemavam e espumavam, iracundos, ferozes.
O mundo dos homens é também a paisagem dos desenfreios morais, da vulgaridade e das ânsias do primarismo.
O Homem-Jesus jamais se perturbava com aqueles que O buscavam para pleitear uma postura igual ou superior à d'Ele.
Não vivesse a Sua humanidade e fosse somente angelical, estaria fraudando a confiança daqueles que se Lhe entregavam, por ser diferente, destituído de sentimentos tanto quanto de vulnerabilidade.
A Sua superioridade fora conquistada através de experiências multifárias e se expressava natural, porque vitoriosa aos embates antes travados.
Oferecer o outro lado, quando se é esbofeteado na face, é quase inverossímil para a cultura ocidental, acostumada ao revide pela honra, ao duelo, com armas no passado, verbal em todos os tempos, através da justiça igualmente em todas as épocas.
Ele demonstrou que era possível fazê-lo, e viveu a experiência pessoal.
Trata-se, à luz da Psicologia Profunda, de provar que o Bem é mais forte do que o Mal, que a não violência é o antídoto para a ferocidade, a paciência é o remédio para a irritação, a esperança é o recurso para o desalento... (Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda. Cap. 15 . Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco )
Pode-se considerar o duelo como um caso de legítima defesa?
Não; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Com uma civilização mais adiantada e mais moral, o homem compreenderá que o duelo (1) é tão ridículo quanto os combates que outrora se consideravam como o juízo de Deus. ( O Livro dos Espíritos. Questão 757. Allan Kardec )
O homem do mundo, o homem venturoso, que por uma palavra chocante, uma coisa ligeira, joga a vida que lhe veio de Deus, joga a vida do seu semelhante, que só a Deus pertence, esse é cem vezes mais culpado do que o miserável que, impelido pela cupidez, algumas vezes pela necessidade, se introduz numa habitação para roubar e matar os que se lhe opõem aos desígnios. Trata-se quase sempre de uma criatura sem educação, com imperfeitas noções do bem e do mal, ao passo que o duelista pertence, em regra, à classe mais culta. Um mata brutalmente, enquanto que o outro o faz com método e polidez, pelo que a sociedade o desculpa. Acrescentarei mesmo que o duelista é infinitamente mais culpado do que o desgraçado que, cedendo a um sentimento de vingança, mata num momento de exasperação.
O duelista não tem por escusa o arrebatamento da paixão, pois que, entre o insulto e a reparação, dispõe ele sempre de tempo para refletir. Age, portanto, friamente e com premeditado desígnio; estuda e calcula tudo, para com mais segurança matar o seu adversário. E certo que também expõe a vida e é isso o que reabilita o duelo aos olhos do mundo, que nele então só vê um ato de coragem e pouco caso da vida. Mas, haverá coragem da parte daquele que está seguro de si? O duelo, remanescente dos tempos de barbárie, em os quais o direito do mais forte constituía a lei, desaparecerá por efeito de uma melhor apreciação do verdadeiro ponto de honra e à medida que o homem for depositando fé mais viva na vida futura. ( O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 15. Agostinho. Bordéus, 1861. Allan Kardec )
Que valor tem o que se chama ponto de honra, em matéria de duelo?
Orgulho e vaidade: dupla chaga da Humanidade.
Mas, não há casos em que a honra se acha verdadeiramente empenhada e em que uma recusa fora covardia?
Isso depende dos usos e costumes. Cada país e cada século tem a esse respeito um modo de ver diferente. Quando os homens forem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando, nem se deixando matar, que repararão agravos.
Há mais grandeza e verdadeira honra em confessar-se culpado o homem, se cometeu falta, ou em perdoar, se de seu lado esteja a razão, e, qualquer que seja o caso, em desprezar os insultos, que o não podem atingir. ( O Livro dos Espíritos. Questão 759 - a). Allan Kardec )
Segundo o Santo Agostinho, " Em certos casos, sem dúvida, pode o duelo constituir uma prova de coragem física, de desprezo pela vida, mas também é, incontestavelmente, uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida; o duelista não tem a de suportar as ofensas. Não vos disse o Cristo que há mais honra e valor em apresentar a face esquerda aquele que bateu na direita, do que em vingar uma injúria? Não disse ele a Pedro, no jardim das Oliveiras: "Mete a tua espada na bainha, porquanto aquele que matar com a espada perecerá pela espada?" Assim falando, não condenou, para sempre, o duelo? Efetivamente, meus filhos, que é essa coragem oriunda de um gênio violento, de um temperamento sangüíneo e colérico, que ruge à primeira ofensa? Onde a grandeza dalma daquele que, à menor injúria, entende que só com sangue a poderá lavar? Ah! que ele trema! No fundo da sua consciência, uma voz lhe bradará sempre: Caim! Caim! que fizeste de teu irmão? Foi-me necessário derramar sangue para salvar a minha honra, responderá ele a essa voz, Ela, porém, retrucará: Procuraste salvá-la perante os homens, por alguns instantes que te restavam de vida na Terra, e não pensaste em salvá-la perante Deus! Pobre louco! Quanto sangue exigiria de vós o Cristo, por todos os ultrajes que recebeu! Não só o feristes com os espinhos e a lança, não só o pregastes num madeiro infamante, como também o fizestes ouvir, em meio de sua agonia atroz, as zombarias que lhe prodigalizastes, Que reparação a tantos insultos vos pediu ele? O último brado do cordeiro foi unia súplica em favor dos seus algozes! Oh! como ele, perdoai e oral pelos que vos ofendem.
Amigos, lembrai-vos deste preceito: "Amai-vos uns aos outros" e, então, a um golpe desferido pelo ódio respondereis com um sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo, sem dúvida, se levantará furioso e vos tratará de covardes; erguei bem alto a fronte e mostrai que também ela se não temeria de cingir-se de espinhos, a exemplo do Cristo, mas, que a vossa mão não quer ser cúmplice de um assassínio autorizado por falsos ares de honra, que, entretanto, não passa de orgulho e amor-próprio. Dar-se-á que, ao criar-vos, Deus vos outorgou o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, só à Natureza conferiu ele esse direito, para se reformar e reconstruir; quanto a vós, não permite, sequer, que disponhais de vós mesmos. Como o suicida, o duelista se achará marcado com sangue, quando comparecer perante Deus, e a um e outro o Soberano Juiz reserva rudes e longos castigos. Se ele ameaçou com a sua justiça aquele que disser raca a seu irmão, quão mais severa não será a pena que comine ao que chegar à sua presença com as mãos tintas do sangue de seu irmão! " (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 12. Santo Agostinho. Paris, 1862. Allan Kardec )
Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra" produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 8. Allan Kardec )
A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: "Perdoai aos vossos inimigos", que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza.
Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno, Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em conseqüência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 9. Allan Kardec )
Segundo Rodolfo Calligaris, "A vingança, qualquer que seja a forma de que se revista, revela baixeza e vilania, constituindo, sempre, prova da inferioridade moral de quem a exerce.
Há muitos que “não levam desaforo para casa” e, a um desacato, revidam na hora com outro ultraje ou com um desforço físico.
Existem também os que, por serem mais fracos ou se encontrarem em situação de subalternidade relativamente aos ofensores, acovardam-se e recalcam seus ímpetos vingativos; tão logo, porém, se invertam as condições, não deixam de tirar a forra, muitas vezes com requintes de crueldade, como que a cobrar juros de mora de uma dívida antiga.
Bem piores são os que cultivam um ódio surdo aos desafetos, disfarçando hipocritamente esse mau sentimento, a fim de atingi-los sem correr qualquer perigo. Seguem-lhes os passos, às escondidas, ou então lhes preparam ciladas, sorrateiramente, e, em se oferecendo a ocasião oportuna, desferem-lhes o golpe mortal, friamente premeditado.
Outros não chegam a tanto, mas, cheios de rancor, envolvem as pessoas de quem se fizeram inimigos nas teias da calúnia ou da intriga, de sorte que, depois de algum tempo, sem que elas atinem com o porquê de tais mudanças, onde antes eram acolhidas com agrado, agora são evitadas; parentes e amigos que se honravam com sua amizade, agora se lhes mostram indiferentes, quando não francamente hostis.
Há, por último, verdadeiros monstros, que, em face de uma desavença, não podendo desforrar-se diretamente dos adversários, descarregam suas armas contra os familiares deles, embora os saibam inocentes e sem a menor parcela de culpa nos acontecimentos que lhes excitaram o desejo de vindita.
Talvez nos digam: as vítimas de agravos ou violências têm o direito de vingar-se, pois não seria justo ficarem impunes os que agem contra o próximo.
Pela lei de Moisés, que prescrevia: “Olho por olho, dente por dente”, era essa, exatamente, a ética em vigor. Trinta séculos de civilização, entretanto, separam-nos daqueles caliginosos tempos de barbaria e de ignorância espiritual.
Hoje, quem quer que pretenda ser cristão, não pode invocar esse “direito”, porquanto, pela Doutrina de Jesus, um único sentimento deve presidir às relações dos homens entre si: o Amor, inclusive aos que nos ferem ou prejudicam.
Ora, quem ama “não se agasta nem se azeda com coisa alguma”; antes “tudo suporta e tudo sofre”, porque “é paciente, brando e benfazejo” (I Cor., 13:4-7).
O que nos cumpre fazer, qualquer que seja a ofensa recebida, é perdoar, perdoar sempre, reconhecendo, em nossos ofensores, não inimigos aos quais devamos fulminar com nosso ódio, mas infelizes criaturas necessitadas de que as amparemos com nossas orações.
Quanto aos que erram, a Providência Divina, muito melhor do que nós, saberá quando e como corrigi-los, de modo a que, de futuro, não mais tornem a fazer aos outros o que não desejariam que lhes fizessem.
E porque assim é, realmente, Paulo, o extraordinário apóstolo dos gentios, em sua Epistola aos Romanos, recomenda:
“Não vos vingueis a vós mesmos, ó caríssimos, pois está escrito: a mim pertence a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor. Antes, pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber, porque, se isto fizeres, amontoarás brasas sobre a cabeça dele. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (12:19-21.) (Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 60. A vingança. Rodolfo Calligaris)
O “amar ao próximo” deve ser levado até mesmo à sujeição, às ousadias e brutalidades das criaturas menos educadas na lição evangélica, sendo que o ofendido deve tolera-lo humildemente, sem o direito de esclarece-las, relativamente aos seus erros?
- O amor ao próximo inclui o esclarecimento fraterno, a todo tempo em que se faça útil e necessário. A sujeição passiva ao atrevimento ou à grosseria pode dilatar os processos da força e da agressividade; mas, ao receber as suas manifestações, saiba o crente pulveriza-las com o máximo de serenidade e bom senso, a fim de que sejam exterminada em sua fonte de origem, sem possibilidades de renovação.
Esclarecer é também amar.
Toda a questão reside em bem sabermos explicar, sem expressões de personalismo prejudicial, ainda que com a maior contribuição de energia, para que o erro ou o desvio do bem não prevaleça.
Quanto aos processos de esclarecimentos, devem eles dispensar, em qualquer tempo e situação, o concurso da força física, sendo justo que demonstrem as nuanças de energia, requeridas pelas circunstâncias, variando, desse modo, de conformidade com os acontecimentos e com fundamento invariável no bem geral. (O Consolador. Questão 344. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )
O Espírito Fénelon nos faz a seguinte recomendação: "Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento, Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele." ( O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 10. Fénelon, Bordéus, 1861. Allan Kardec )
Quando a caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a esta máxima: “Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam." Em se verificando isso, desaparecerão todas as causas de dissensões e, com elas, as dos duelos e das guerras, que são os duelos de povo a povo. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 14. Francisco Xavier, Bordéus, 1861. Allan Kardec)
Observação (1): Os duelos se vão tornando cada vez mais raros e, se de tempos a tempos alguns de tão dolorosos exemplos se dão, o número deles não se pode comparar com o dos que ocorriam outrora. Antigamente, um homem não saía de casa sem prever um encontro, pelo que tomava sempre as necessárias precauções. Um sinal característico dos costumes do tempo e dos povos se nos depara no porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas ou defensivas. A abolição de semelhante uso demonstra o abrandamento dos costumes e é curioso acompanhar-lhes a gradação, desde a época em que os cavaleiros só cavalgavam bardados de ferro e armados de lança, até a em que uma simples espada à cinta constituía mais um adorno e um acessório do brasão, do que uma arma de agressão. Outro indício da modificação dos costumes está em que, outrora, os combates singulares se empenhavam em plena rua, diante da turba, que se afastava para deixar livre o campo aos combatentes, ao passo que estes hoje se ocultam. Presentemente, a morte de um homem é acontecimento que causa emoção, enquanto que, noutros tempos, ninguém dava atenção a isso.
O Espiritismo apagará esses últimos vestígios da barbárie, incutindo nos homens o espírito de caridade e de fraternidade. ( O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Item 16. Allan Kardec)
Bibliografia:
- O Livro dos Espíritos. Questão 746, 747, 748, 749, 753, 754, 759, 759-a), 764. Allan Kardec .
- O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 12. Itens 8, 9, 10,11, 14, 15, 16. Allan Kardec.
- O Consolador. Questões 344 e 345. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.
- Paulo e Estevão. Cap. 4. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier .
- Os Mensageiros. Cap. 20 e 37. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier.
- Ação e Reação. Cap. 18. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier.
- Vinha de luz. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier .
- O Evangelho de Chico Xavier. Item 346. Chico Xavier / Carlos A. Baccelli.
- Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda. Cap. 15 . Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco .
- Triunfo pessoal. Cap. 7. Vingança. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco.
- Páginas de Espiritismo Cristão. Cap. 60. A vingança. Rodolfo Calligaris.
- O Sermão da Montanha. Não resistais ao que vos fizer mal. Rodolfo Calligaris.
- O Espírito do Cristianismo. Cap. 6. Cairbar Schutel.
- Depois da morte. Cap. 48 - Paciência e bondade. Léon Denis.
- Evolução para o terceiro milênio. Cap. 5. Carlos Toledo Rizzini.